A
Prece e a Lei
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Março 1966
Tudo quanto se
relaciona com a vida espiritual e a vida humana está intimamente ligado à Lei
de Causa e Efeito; Portanto, a prece não pode escapar à influência cármica,
comprovando o asserto de que é o Espírito, encarnado ou desencarnado que traça
mesmo o seu destino, que elabora suas alegrias e suas dores, através do que
pensa e faz. Deus é a maior expressão da Lei, porque Ele é a própria Lei. Se as
nossas preces forem amparadas por um quadro cármico razoável, mais facilmente
se revestirão da força suficiente para promover o reconhecimento das nossas
pretensões, consoante a justiça impessoal do Carma.
Às vezes ficamos
surpreendidos com o poder da prece proferida por certas pessoas bastantes
espiritualizadas. Outra vezes, decepcionamo-nos com o malogro das nossas
preces, que parecem destituídas de eco, porque não encontram ressonância no
Alto e se perdem na esterilidade dos nossos esforços. Porquê? É que a nossa
situação cármica não dá passagem às nossas pretensões. Como será possível
satisfazer da mesma maneira duas pessoas com painéis cármicos diametralmente opostos?
Um indivíduo cheio de débitos morais e espirituais não pode ter o mesmo crédito
de outro indivíduo que busca invariavelmente melhorar a sua condição em face da
lei.
Já
ouvimos queixas assim: “Nada obtenho com as preces que faço”, “De nada adianta
fazer preces, porque raramente consigo alguma coisa”, “Tenho uma prece bonita e
infalível. Quando me vejo em apuros, peço o que quero e obtenho.”
Convém não levar
muito a sério aqueles que consideram a prece como uma gazua para arrombar as
portas da Espiritualidade. O que dá eficiência à prece é o mérito moral. Quanto
maior o merecimento, maior alcance terá a prece proferida com sinceridade. A
primeira condição de quem ora deve ser a humildade, porque o merecimento não dá
a ninguém autoridade para despir-se dessa importante condição. A prece deve ser
sincera, deve traduzir a pureza do nosso sentimento. O merecimento, o
sentimento e a fortalecem a oração, assegurando-lhe o êxito, sempre que não
contrariar disposições fatais Lei de Causa e Efeito.
A prece não
precisa seguir um modelo especial. Há preces lindas e inócuas. Agradam a quem
as ouve, mas não produzem resultados, se não animá-las o sentimento puro de
quem as profere. É Kardec quem esclarece: “Os Espíritos tem dito sempre: “A
forma da prece nada significa, o pensamento é tudo. Cada um que ore, de
conformidade com as suas convicções e da maneira que mais lhe toque o íntimo.
Um bom pensamento vale mais do que um grande número de palavras, com as quais
nada tenha de comum o coração.” (ob. cit., pág. 67)
Conta-se que um
homem, vendo-se em estrema aflição e não sabendo orar, caiu de joelhos, quase
desesperado, e exclamou repentinamente: “Deus! Deus! Deus!” E caiu em pranto.
Aquilo que ele almejava viesse a suceder, verificou-se para o refrigério de sua
alma. Então, disseram: “Milagre!” Nada. Não houve milagre algum. O homem,
embora não soubesse expressar-se em palavras, traduziu em seu pensamento o que
desejava. Isto foi o suficiente, porque as mensagens do pensamento são mais rápidas
e profundas do que as mensagens verbais. Estas têm a vantagem de exercer sobre
nós uma influência psicológica imediata e benéfica. Parece que nos deixemos
sugestionar por nossas próprias palavras, quando nos entregamos de coração à
prece.
Kardec diz também
que “são boas as preces de todos os cultos, desde que sejam proferidas com o
coração e não com os lábios somente. Não impõe nenhuma e a nenhuma condena”.
O essencial é
compreendermos que nossa vida é regulada pela lei cármica. Somos produto dos
nossos pensamentos e atos. Se devemos ter queixas de nossas dores e insucessos,
queixamo-nos, na maior parte dos casos, de nós mesmos.
Tenhamos, pois,
cuidado com o que dizemos, pensamos e fazemos. O nosso futuro é feito do nosso
passado e do nosso presente. Somos escravos de nós mesmos. A Lei de Causa e
Efeito é o juiz inexorável do nosso comportamento, levando com alto espírito de
justiça o que tivermos a lançar no Crédito e no Débito da contabilidade
espiritual.
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