Por Lino Teles (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB)
Outubro 1962
Eliza Orzeszko é uma das maiores
glórias da literatura mundial. Viveu na Polônia, de 1843 a 1910.
Em seu excelente romance “Marta”,
que teve a honra de ser traduzido para o Esperanto pelo Dr. L. L. Zamenhof e
que assim se tornou um dos clássicos da língua internacional, narra ela a
dolorosa situação de uma pobre mulher nascida na melhor sociedade varsoviana,
onde viveu feliz até aos 24 anos, ficou viúva, pobre e sofreu horrores até a
morte violenta, debaixo de um bonde.
Marta era de moral irrepreensível e
de fina educação social; ficou viúva com uma filhinha de quatro anos e não se
pode adaptar a nenhuma profissão: todas as tentativas neste sentido lhe falharam,
porque não tinha qualquer educação profissional. Todo o seu cabedal de
conhecimentos era apenas para ornamentação de salões, e isso não basta como
meio de vida.
Em plena miséria, numa água-furtada,
está ela meditando junto à filha condenada à fome e discute consigo mesma.
Leiamos na página 104:
“Então és tu – dizia Marta
mentalmente ao seu fantasma que nascera de seu próprio espírito – então és tu
aquela mesma mulher que tão heroicamente prometeu a si mesma e à sua filhinha
trabalhar, por sua perseverança e energia varar caminho ente os homens e
conquistar um lugar ao sol? Que fizeste,
pois, desde o tempo em que tomaste essas resoluções? Como cumpriste a promessa
que fizeste das profundezas de teu espírito à sombra querida do pai de tua
filhinha?
“A figura de mulher começou a oscilar
no ar como um ramo flexível sacudido pelos vendavais; em vez de qualquer
resposta, ela bateu mais fortemente as mãos uma contra a outra e murmurou com
lábios trêmulos: - Eu não tinha aptidões” Eu sou uma ignorante!
“Ó criatura inepta! – exclamou Marta
de si para si – es assim digna do nome de ser humano, se sua cabeça é tão
néscia que não sabe bem o que pensar de si mesma, se tuas mãos são tão fracas que não se podem
resguardar com seus desvelos nem a cabecinha minúscula de uma pobre criança!
Porque então te estimavam outrora? Poderias agora estimar-te a ti mesma?
“A figura de mulher descruzou as
mãos e com elas cobriu o rosto que se curvou profundamente”.
Mais adiante, na página 220, a
Autora descreve a cena tétrica da meninazinha exânime, sem tratamento, que, num
delírio, estendendo os bracinhos para o espaço vazio, para o pai que morrera um
ano antes, exclama: “Papai! Papai!, gemendo, sorrindo e rogando socorro. Esta
cena é realmente espírita e de fatos semelhantes tratou Bozzano em “Aparições no Leito de Moribundos”.
Repitamos: “Marta”, de Eliza Orzeszko,
é uma das obras imortais da literatura universal, tendo-se, por felicidade,
tornado obra clássica do Esperanto, estudada em todos os países.
Do ponto de vista social, a educação
da mulher progrediu muito depois do tempo em que Eliza Orzeszko escreveu esse
livro de combate aos defeitos de nossa civilização contra o sexo feminino. A
mulher hoje frequenta escolas profissionais, aprende a trabalhar, a ser
economicamente livre, e não uma eterna criança indefesa ou escrava, como era há
um século.
A autora de ‘Marta” foi uma das
preparadoras da sociedade futura.
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