Aconteceu na FEB - 1
João Repórter (Antonio Wantuil de Freitas)
Reformador (FEB) Setembro 1955
Sobrecarregado de serviços na FEB, que lhe tomam de
catorze a dezesseis horas diárias, o presidente de nossa instituição, a não ser
em casos excepcionais ou de urgência, só atende aos sábados.
E exatamente num desses sábados é
que foi procurado por uma senhora simples, modestamente vestida, que, acanhada
e humildemente, lhe começou a falar:
- Trago-lhe, senhor presidente, para
o seu exame, alguns livros por mim recebidos. O primeiro me veio há quase
trinta anos. Se agradarem à Federação, desde já pertencem a ela. Se não
merecerem ser publicados, continuarei, como sempre, a mesma amiga desta Casa.
Muito agradecido, minha Senhora,
pela sua gentileza. Peço-lhe, porém, que tenha um pouco de paciência, pois que
presentemente estamos com dezenove originais de obras a serem lidas.
Não tenho pressa – disse ele –
Apenas lhe pedia que marcasse o dia em que deverei voltar à sua presença.
Poderá telefonar-me dentro de um
prazo razoável ou, então, esperar que eu lhe dirija um telegrama, convidando-a
a vir até aqui – respondeu-lhe o presidente da FEB.
E os meses forram correndo,
correndo, até que em outro sábado volta a médium:
- O senhor já tem alguma notícia
sobre os meus trabalhos?
- Ainda não, minha senhora – foi-lhe
informado. - - Poderá ficar tranquila em sua casa. Quando menos esperar,
chegar-lhe-á às mãos o telegrama em que lhe rogaremos um vir até cá, para lhe
darmos a opinião que nos solicitou.
E lá se foi ela, humilde, simples, e
toda bondade, na voz, nos gestos, no olhar, no todo.
Novos meses se escoaram até que
chegou a vez de ser lido o primeiro dos volumes. E palavra por palavra, frase
por frase, tudo foi examinado. E tudo isso, após leituras e mais leituras de livros
outros, mediúnicos ou não, quase todos rejeitados.
Terminada a leitura, lá seguiu o
telegrama convidando médium a comparecer à residência do presidente.
- Minha senhora - foi-lhe dito – o seu
primeiro livro merece publicado e a FEB terá muito prazer em apresentá-lo ainda
este ano.
E a médium que durante quase trinta guardou
para a FEB aquele trabalho, mas que por todo esse tempo se sentia acanhada, pelo
seu gênio retraído, como que se transformou à frente do presidente,
estampando-se lhe nos olhos sempre tão tristes, e revelando-se lhe na voz
sempre doce e cheia de ternura evangélica, uma alegria toda espiritual.
- Sinto-me satisfeita. Que esse trabalho possa, de alguma
forma ser útil e que agrade a quantos a lerem. Os outros, os que o senhor ainda
não leu, espero que também agradem. São mais recentes e a minha afinidade com os
Espíritos já era maior. Se a Federação resolver publicar o terceiro, peço que
só o faça em 1957, o ano do primeiro centenário da Codificação. Este, muito,
muito me agradou.
A palestra, já se vê, já sentiu o
leitor desta crônica, versou agora sobre vida da médium, desde o seu nascimento
em terras fluminenses, num lar espírita, sua passagem por várias cidades de
Minas, sua vinda para o Rio, onde é humilde costureira, fatos ocorridos na sua infância,
sua ida a Pedro Leopoldo, em 1985, e
onde não se pode encontrar com o Chico, sua veneração por Vinícius, sua admiração
por André Luiz:, enfim, sobre os mais variados assuntos relacionados com médiuns
mineiros e fluminenses, etc. etc.
Que me perdoem os leitores desta
crônica escrita à última hora, já quase no momento de o “Reformador” entrar em
máquina.
O espaço que me foi dado Já não
comporta mais, e mais também não quero dizer. Se tantos meses ficou o livro
dela na fila deixarei o meu querido leitor, com essa curiosidade por saber lhe
o nome.
Dir-lhe-ei apenas: - Seu nome, por
enquanto, é simples e abreviadamente - Senhorita Y.
Paciência, meu amigo, paciência. Fique
tranquilo e você, qual aconteceu a ela, terá também o se dia de júbilo, quando aparecer
o livro, cujo título é: “'Nas Teias do lnfinito”.
Aconteceu na FEB - 2
João
Repórter
(Antonio
Wantuil de Freitas)
Reformador
(FEB) Outubro 1955
Com a minha croniqueta anteriores, publicada em “Reformador”
de Setembro deixei na fila os leitores desta muito lida e relida revista, mas, em
compensação, igualmente fiquei na fila, à espera de que também chegue o dia, em
que os velhos amigos deixem de estar aborrecidos comigo, por me manter inabalável
não lhes dizendo o nome real por inteiro da Senhorita Y.
Para amenizar essa justa queixa que
passaram a ter de mim, vou contar alguma coisa um pouco apenas, do que desejam,
saber:
A Senhorita Y apresenta uma mediunidade
bem original. Seus livros não são propriamente psicográficos e, muito menos
psicofônicos. São recebidos por uma forma diferente. Audiente e vidente, ela recebe
ordem para se deitar e dormir. E dorme. Desprende-se lhe o Espírito. Vê o seu
próprio corpo somático estendido na cama, com a aparência de morto. Chega-se a
ela, em Espírito, o Guia. Trocam cumprimentos e seguem, seguem pelo Espaço à
fora.
Tudo que vê, tudo que se lhe
desenrola à frente, é visto e observado como se encarnada estivesse. E o Guia
lhe vai dando explicações e lhe descreve o que se passa até que recebe ordens
de voltar à Terra, com a recomendação de lembrar-se do que via, ou de tudo esquecer.
Acorda. Sensação desagradável. Ansiedade,
saudade, um não sei que lhe faz lamentar o haver voltado ao corpo.
Dias depois, ou mesmo alguns anos,
recebe ordem para concentrar-se. Obedece. O Guia se aproxima e lhe fala: “Vais
escrever sobre o que te foi mostrado em, tal época”.
Lápis, papel, e inicia-se o trabalho
sem que ela mesma saiba como começar. O lápis corre, vai correndo. Para. O Guia
lhe recorda que não foi bem assim. Risca o que escreveu. Escreve de novo. E assim, sem que uma vírgula
deva ser mudada, as frases e os períodos vão se sucedendo, tudo perfeito, tudo
concatenado, numa sequência admirável, prendendo o leitor, instruindo-o,
espiritualizando-o, elevando-o e... doutrinando-o.
De colégio, a Senhorita Y só conheceu
o curso primário, todavia, sua instrução, conseguida por esforço próprio e pelo
convívio com Espíritos de grande cultura, como o grande Camilo e o inolvidável
Léon Denis, é bem acima da classe primária.
Ao professor Paulo de 0liveira Ludka,
que já me telefonou algumas vezes, curioso por saber o nome da Senhorita Y, aqui
fica uma informação que ela me deu:
- Há muitos e muitos anos, os
Espíritos me aconselharam a estudar o Esperanto para
que eles me
pudessem utilizar no setor. Nunca pude satisfazer-lhes o pedido. No meu segundo
livro, porém, o senhor encontrará referências ao Esperanto.
Que o meu companheiro Ludka fique também
na fila, agora mais zangado comigo, porque não lhe contarei sequer o titulo
desse segundo livro, que igualmente já tive a satisfação de ler.
É possível que eu volte para o mês
e, então, quem sabe ?, lhes direi todo o nome da Senhorita Y. A. P..
Aconteceu na FEB - 3
João
Repórter
(Antonio
Wantuil de Freitas)
Reformador
(FEB) Novembro 1955
Porque me meti eu nesta reportagem referente à mediunidade
da Senhorita Y? Porquê? - Não sei. O certo, porém, é que venho pagando caro por
haver abusado da paciência dos leitores da nossa querida revista. Já fui
censurado inúmeras vezes, já vi muito nariz torcido por me negar a oferecer logo
de vez, todas as informações exigidas pela
ansiedade desses milhares e milhares
de leitores de “Reformador”. Visitas de amigos, telefonemas, cartas, telegramas
e até cabogramas me deixam um pouco atrapalhado.
Todos querem
porque querem saber o nome todo do médium, os títulos dos livros e muita coisa
mais.
Devagar, meus amigos... Se ela, a
médium, a autora dessa alegria que todo o meio espírita irá sentir, esperou tantos
meses, não há razão de nos “revoltarmos” contra a “maldade” do repórter.
O primeiro livro – “Nas
Telas do Infinito” – consta de “Uma História Triste”, contada pelo nosso
querido Bezerra, e de uma novela. – “O Tesouro
do Castelo” do grande escritor português, Camilo Castelo Branco. Dentro em
pouco estará nas livrarias.
O segundo, mais volumoso, foi
organizado por Léon Denis, baseando-se em notas fornecidas por um suicida cujo nome nos é
muito querido.
O terceiro, esse, só em 1957 virá a
público. Dele falaremos mais tarde.
A médium nasceu em Santa Teresa de Valença, no Estado
do Rio, residiu, em várias cidades mineiras (Brasópolis, S. João D’EL Rei, Belo
Horizonte, Itajubá, Lavras e Juiz de Fora) e há onze anos mora aqui, no Rio de
Janeiro. Chama-se Yvonne A. Pereira.
Sob muitos pontos de vista,
assemelha-se ao nosso queridíssimo Chico: - simples, humilde, sem nenhuma vaidade,
solteira e desprendida dos bens materiais.
Creio haver satisfeito grande parte
da curiosidade dos meus amigos. Que não me peçam mais. Esperem pelos livros.
Tenham paciência.
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