quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Aconteceu na FEB

 

Aconteceu na FEB - 1

João Repórter (Antonio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Setembro 1955

 

            Sobrecarregado de serviços na FEB, que lhe tomam de catorze a dezesseis horas diárias, o presidente de nossa instituição, a não ser em casos excepcionais ou de urgência, só atende aos sábados.

            E exatamente num desses sábados é que foi procurado por uma senhora simples, modestamente vestida, que, acanhada e humildemente, lhe começou a falar:

            - Trago-lhe, senhor presidente, para o seu exame, alguns livros por mim recebidos. O primeiro me veio há quase trinta anos. Se agradarem à Federação, desde já pertencem a ela. Se não merecerem ser publicados, continuarei, como sempre, a mesma amiga desta Casa.

            Muito agradecido, minha Senhora, pela sua gentileza. Peço-lhe, porém, que tenha um pouco de paciência, pois que presentemente estamos com dezenove originais de obras a serem lidas.

            Não tenho pressa – disse ele – Apenas lhe pedia que marcasse o dia em que deverei voltar à sua presença.

            Poderá telefonar-me dentro de um prazo razoável ou, então, esperar que eu lhe dirija um telegrama, convidando-a a vir até aqui – respondeu-lhe o presidente da FEB.

            E os meses forram correndo, correndo, até que em outro sábado volta a médium:

            - O senhor já tem alguma notícia sobre os meus trabalhos?

            - Ainda não, minha senhora – foi-lhe informado. - - Poderá ficar tranquila em sua casa. Quando menos esperar, chegar-lhe-á às mãos o telegrama em que lhe rogaremos um vir até cá, para lhe darmos a opinião que nos solicitou.

            E lá se foi ela, humilde, simples, e toda bondade, na voz, nos gestos, no olhar, no todo.

            Novos meses se escoaram até que chegou a vez de ser lido o primeiro dos volumes. E palavra por palavra, frase por frase, tudo foi examinado. E tudo isso, após leituras e mais leituras de livros outros, mediúnicos ou não, quase todos rejeitados.

            Terminada a leitura, lá seguiu o telegrama convidando médium a comparecer à residência do presidente.

            - Minha senhora - foi-lhe dito – o seu primeiro livro merece publicado e a FEB terá muito prazer em apresentá-lo ainda este ano.  

            E a médium que durante quase trinta guardou para a FEB aquele trabalho, mas que por todo esse tempo se sentia acanhada, pelo seu gênio retraído, como que se transformou à frente do presidente, estampando-se lhe nos olhos sempre tão tristes, e revelando-se lhe na voz sempre doce e cheia de ternura evangélica, uma alegria toda espiritual.

            - Sinto-me satisfeita. Que esse trabalho possa, de alguma forma ser útil e que agrade a quantos a lerem. Os outros, os que o senhor ainda não leu, espero que também agradem. São mais recentes e a minha afinidade com os Espíritos já era maior. Se a Federação resolver publicar o terceiro, peço que só o faça em 1957, o ano do primeiro centenário da Codificação. Este, muito, muito me agradou.

            A palestra, já se vê, já sentiu o leitor desta crônica, versou agora sobre vida da médium, desde o seu nascimento em terras fluminenses, num lar espírita, sua passagem por várias cidades de Minas, sua vinda para o Rio, onde é humilde costureira, fatos ocorridos na sua infância, sua  ida a Pedro Leopoldo, em 1985, e onde não se pode encontrar com o Chico, sua veneração por Vinícius, sua admiração por André Luiz:, enfim, sobre os mais variados assuntos relacionados com médiuns mineiros e fluminenses, etc.  etc.

            Que me perdoem os leitores desta crônica escrita à última hora, já quase no momento de o “Reformador” entrar em máquina.

            O espaço que me foi dado Já não comporta mais, e mais também não quero dizer. Se tantos meses ficou o livro dela na fila deixarei o meu querido leitor, com essa curiosidade por saber lhe o nome.  

            Dir-lhe-ei apenas: - Seu nome, por enquanto, é simples e abreviadamente - Senhorita Y.

            Paciência, meu amigo, paciência. Fique tranquilo e você, qual aconteceu a ela, terá também o se dia de júbilo, quando aparecer o livro, cujo título é:  “'Nas Teias do lnfinito”.


 Aconteceu na FEB - 2

João Repórter (Antonio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Outubro 1955

 

            Com a minha croniqueta anteriores, publicada em “Reformador” de Setembro deixei na fila os leitores desta muito lida e relida revista, mas, em compensação, igualmente fiquei na fila, à espera de que também chegue o dia, em que os velhos amigos deixem de estar aborrecidos comigo, por me manter inabalável não lhes dizendo o nome real por inteiro da Senhorita Y.

            Para amenizar essa justa queixa que passaram a ter de mim, vou contar alguma coisa um pouco apenas, do que desejam, saber:

            A Senhorita Y apresenta uma mediunidade bem original. Seus livros não são propriamente psicográficos e, muito menos psicofônicos. São recebidos por uma forma diferente. Audiente e vidente, ela recebe ordem para se deitar e dormir. E dorme. Desprende-se lhe o Espírito. Vê o seu próprio corpo somático estendido na cama, com a aparência de morto. Chega-se a ela, em Espírito, o Guia. Trocam cumprimentos e seguem, seguem pelo Espaço à fora.

            Tudo que vê, tudo que se lhe desenrola à frente, é visto e observado como se encarnada estivesse. E o Guia lhe vai dando explicações e lhe descreve o que se passa até que recebe ordens de voltar à Terra, com a recomendação de lembrar-se do que via, ou de tudo esquecer.

            Acorda. Sensação desagradável. Ansiedade, saudade, um não sei que lhe faz lamentar o haver voltado ao corpo.

            Dias depois, ou mesmo alguns anos, recebe ordem para concentrar-se. Obedece. O Guia se aproxima e lhe fala: “Vais escrever sobre o que te foi mostrado em, tal época”.

            Lápis, papel, e inicia-se o trabalho sem que ela mesma saiba como começar. O lápis corre, vai correndo. Para. O Guia lhe recorda que não foi bem assim. Risca o que escreveu.  Escreve de novo. E assim, sem que uma vírgula deva ser mudada, as frases e os períodos vão se sucedendo, tudo perfeito, tudo concatenado, numa sequência admirável, prendendo o leitor, instruindo-o, espiritualizando-o, elevando-o e... doutrinando-o.

            De colégio, a Senhorita Y só conheceu o curso primário, todavia, sua instrução, conseguida por esforço próprio e pelo convívio com Espíritos de grande cultura, como o grande Camilo e o inolvidável Léon Denis, é bem acima da classe primária.

            Ao professor Paulo de 0liveira Ludka, que já me telefonou algumas vezes, curioso por saber o nome da Senhorita Y, aqui fica uma informação que ela me deu:

            - Há muitos e muitos anos, os Espíritos me aconselharam a estudar o Esperanto para

que eles me pudessem utilizar no setor. Nunca pude satisfazer-lhes o pedido. No meu segundo livro, porém, o senhor encontrará referências ao Esperanto.

            Que o meu companheiro Ludka fique também na fila, agora mais zangado comigo, porque não lhe contarei sequer o titulo desse segundo livro, que igualmente já tive a satisfação de ler.

            É possível que eu volte para o mês e, então, quem sabe ?, lhes direi todo o nome da Senhorita Y. A. P..


 Aconteceu na FEB - 3

João Repórter (Antonio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Novembro 1955

 

            Porque me meti eu nesta reportagem referente à mediunidade da Senhorita Y? Porquê? - Não sei. O certo, porém, é que venho pagando caro por haver abusado da paciência dos leitores da nossa querida revista. Já fui censurado inúmeras vezes, já vi muito nariz torcido por me negar a oferecer logo de vez, todas as informações exigidas pela   ansiedade desses milhares e milhares de leitores de “Reformador”. Visitas de amigos, telefonemas, cartas, telegramas e até cabogramas me deixam um pouco atrapalhado.

Todos querem porque querem saber o nome todo do médium, os títulos dos livros e muita coisa mais.  

            Devagar, meus amigos... Se ela, a médium, a autora dessa alegria que todo o meio espírita irá sentir, esperou tantos meses, não há razão de nos “revoltarmos” contra a “maldade” do repórter.

            O primeiro livro – “Nas Telas do Infinito” – consta de “Uma História Triste”, contada pelo nosso querido Bezerra, e de uma novela. – “O Tesouro do Castelo” do grande escritor português, Camilo Castelo Branco. Dentro em pouco estará nas livrarias.

            O segundo, mais volumoso, foi organizado por Léon Denis, baseando-se em notas  fornecidas por um suicida cujo nome nos é muito querido.  

            O terceiro, esse, só em 1957 virá a público. Dele falaremos mais tarde.

            A médium nasceu em Santa Teresa de Valença, no Estado do Rio, residiu, em várias cidades mineiras (Brasópolis, S. João D’EL Rei, Belo Horizonte, Itajubá, Lavras e Juiz de Fora) e há onze anos mora aqui, no Rio de Janeiro. Chama-se Yvonne A. Pereira.

            Sob muitos pontos de vista, assemelha-se ao nosso queridíssimo Chico: - simples, humilde, sem nenhuma vaidade, solteira e desprendida dos bens materiais.

            Creio haver satisfeito grande parte da curiosidade dos meus amigos. Que não me peçam mais. Esperem pelos livros. Tenham paciência.

 






     

 

 

 

 

 

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