Domingos e Dias
Santos
por Vinícius (Pedro de Camargo) Reformador (FEB) Maio 1951
Conheci, em minha mocidade, um rapaz
de temperamento jovial, sempre bem humorado, que viajava para uma grande casa
comercial, com sede em Santos.
Achando-se em certa cidade do
interior, indicaram-lhe que ali se organizara uma firma para explorar o gênero
de comércio que ele representava. Dirigiu-se, então, o aludido moço, aos
componentes da nova organização, a fim de oferecer-lhes as mercadorias próprias
do ramo a que se iam dedicar. Entrando em conhecimento direto com eles,
perguntou-lhes qual era a sua firma. Responderam-lhe: Domingos & Dias
Santos. Retruca de pronto o viajante: Nada feito. Sinto muito, mas não podemos
encetar transações. Sua firma não inspira confiança porque não conta com os
dias úteis!
Nos países latinos vigora o espírito daquela firma
comercial com quem o “cometa” faceto (brincalhão) não quis entrar em entendimento. Os feriados e dias
santos, impostos por força de decretos, quebram, a cada passo, o ritmo do
trabalho, reduzindo a produção, e, consequentemente, acoroçoando (incentivando) a malandrice e a majoração do custo
da vida.
O farisaísmo (hipocrisia) de antanho (do passado) censurou o Educador Excelso - porque não impunha aos
seus discípulos a guarda dos sábados. Revidando essa crítica, disse o Mestre: O sábado foi criado para o homem, e não o
homem para o sábado. Meu Pai age sempre, nunca cessa de agir, e eu também.
Nós, os cristãos novos, fazemos
outro conceito a propósito da santificação de tempo. De modo geral achamos que
todos os dias, em si mesmos, são santos, restando, por isso, serem santificados
pelas nossas obras. O dia mais santo, segundo o nosso credo, é aquele em que
praticamos espontaneamente um grande bem; em que conseguimos amparar um irmão
que sofre, mitigando, ou, se possível, afastando a causa da sua dor. Consideramos
também, como santo, aquele dia em que vencemos uma das nossas muitas
imperfeições, mantendo à distância os tentadores da Terra e do Espaço... Finalmente,
é um dia festivo e solene para o espiritista aquele em que lhe seja concedida a
graça de levar a alegria a um coração desesperado, a um lar que se encontre em
dificuldades.
A santificação deve partir de nós,
seres conscientes e responsáveis, e não de almanaques. Nossa fé não conta dias
especiais em que seja cultuada de modo particular. Não é uma espécie de vestido
novo para atos solenes e para festividades. Ela nos inspira os pensamentos e as
preocupações de todos os instantes, revelando-se em nosso comportamento
cotidiano, tanto no seio da família como no da sociedade. Não se restringe a
datas, estas ou aquelas: domina completamente as nossas almas.
Quando o Mestre inseriu, na oração
que nos legou, esta frase: santificado seja o teu nome - referindo-se ao nosso
Pai celestial - quis dizer, com isso, que a cada um de nós cumpre o dever de
santificar, em si próprio, o nome de Deus. Ele não pode ser mais santo do que
é, visto como é a perfeição única, infinita, porém, nós, seus filhos, temos
obrigação de santifica-lo, tornando-nos os reflexos, embora pálidos, da sua
santidade, de vez que fomos criados à sua imagem e semelhança.
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