Confissões
- a
I.
Pequeno (Antônio Wantuil)
Reformador
(FEB) Fevereiro 1946
Em continuação às transcrições que vimos fazendo de
trechos do livro – ‘Deus’ - da
autoria do Rev. Padre Huberto Rohden:
Partirei
daqui para mundos ignotos, mundos de que tanto falei e escrevi, mundos por que
tanto trabalhei e sofri, mundos que muitos dos meus ex-ouvintes e ex-leitores
já conhecem de vista, e que eu anseio por conhecer também...”
“Queriam alguns homens
que eu mesclasse de elementos humanos, incertos, as tuas revelações divinas,
infalíveis... Queriam que eu fizesse do teu Evangelho bandeira de interesses
subalternos e chave para tesouros profanos ...
“Mas,
o teu reino não é deste mundo, e o teu Evangelho é por demais espiritual para
não ser desespiritualizado pelo contato com as nossas materialidades cotidianas...
Preferi sofrer a incompreensão e hostilidade de muitos a ser infiel a teu
espírito e à minha consciência - e estou satisfeito com o que fiz.”
“Sei
que castigas o mal e premias o bem - mas não sei porque sofrem inocentes e
exultam culpados,..
“Sei
que grandes crimes merecem grande punição - mas porque punem para sempre um
verme da Terra? ...
“Que
glória ou prazer te podem dar os gemidos de Espíritos infelizes?”
“Se sabes e desde sempre sabias que tantas almas não atingiriam seu destino feliz - porque não as deixaste na noite benéfica do não-ser?..porque chamaste ao luminoso dia da existência esses convidados à noite eterna?..
“Disseram-me
que havias criado milhares e miríades de seres incorpóreos dotados de grande
poder, inteligência e beleza, destinados a serem felizes em tua companhia, mas
que muitos desses seres se haviam revoltado contra ti e que tu os havias punido
com penas eternas.
"Cheio
de pasmo e estupor ouvi deste primeiro fracasso do teu poder, da tua sabedoria
e bondade - e fiquei desnorteado.”
“Não sei como definir esse
indefinível quê, esse misterioso algo que infundiste à matéria do teu universo”.
Vejo que a matéria evolve, que progride, que procura subir de perfeição em
perfeição, ela, que não possui propriamente espírito, nem alma, nem
inteligência, nem vontade...”
“Cheguei
a compreender também que o teu céu não é algum lugar longínquo para onde deva a
alma viajar após a sua separação do corpo - mas que o teu céu é um estado
espiritual dessa mesma alma liberta, uma atitude moral, uma atmosfera divina
criada dentro da alma na vida presente e revelada na vida futura ...”
“No
dia, Senhor, em que os homens inventaram que eras “pessoa”, começou a grande
decadência...
“Decadência,
não tua, porque tu és eternamente forte, juvenil, indefectível; mas a grande
decadência da tua divindade no conceito dos homens.
“Modelaram-te
os homens à sua imagem e semelhança, personalizando-te. Chegaram mesmo ao ponto
de atribuir-te personalidade tríplice - e com isto correram enorme cortina de
fumaça por diante de tua divina natureza."
“Tu
castigarás esse homem “injusto” ou “desajustado”?
“Não,
ele mesmo se castigará, porque toda culpa, quando não devidamente cancelada,
leva no seio o germe da pena.”
De
acordo com o desejo dos nossos leitores, continuaremos no próximo número de ‘Reformador’
a transcrever as gotas filosóficas do Autor.
Confissões
-b
I. Pequeno (Antônio Wantuil)
Reformador (FEB) Março 1946
“Quem arremete com o crânio contra uma muralha de granito ofende mais a si mesmo do que ao granito.”
“Muitos chegam ao ponto de se
sentirem como que dispensados de serem bons pelo fato de serem abundantemente “religiosos”.
“Não, não posso crer, meu Deus, que
tu sejas tão cruel e insensato que crias um ser destinado a ser infeliz, que
chames à existência era a uma humanidade fadada a perecer longe de ti, em terra
estranha, faminta, no meio de animais imundos...”
“Que Deus tão pouco divino serias tu
se, no fim dos tempos, o teu adversário saísse mais vitorioso que tu? Se
levasse consigo a maior parte da tua humanidade?”
“O teu céu e o teu inferno não são lugares, no sentido comum do termo, são estados da alma, atitudes do espírito, perspectivas retas ou falsas do Eu.”
“Estou no teu céu, no teu inferno quando
estas coisas, divinas ou anti divinas, estiverem dentro de mim, em estado
latente, agora - em estado manifesto no mundo futuro.”
“O reino de Deus e o reino de Satã
estão dentro do homem. E, aonde quer que o homem vá, leva consigo o seu céu ou
o seu inferno.”
“A vida, ao menos a do nosso planeta,
é tua mortal inimiga, minha doce Caridade. Não penses que eu seja pessimista.
Não o sou, como também não sou otimista - sou apenas sincero e desassombrado
realista. E a realidade, aqui em nosso planeta, é esta: a vida que guerreia sem
tréguas, é filha primogênita da excelsa divindade.”
“Querem os homens fazer da religião
uma tal ou qual magia ritual, um complexo de fórmulas cabalísticas - quando o
teu Messias lhes disse que os teus cultores deviam cultuar-te no santuário da
verdade e da justiça, no templo da sinceridade e da pureza, na ara (alta) da
bondade e da caridade universal."
“Todos eles desejariam ser amigos
teus e discípulos do teu Cristo se encontrassem o Cristo genuíno e integral -
não o Cristo envolto em mortalhas e sudários fúnebres, mas o Cristo vivo, Rei
imortal dos século...
“Todos eles, fartos de religião sobre
Jesus, anseiam pela religião de Jesus."
“Desde que fizemos as pazes e somos
amigos, ó morte, compreendi que certas coisas que os homens tomam por miragem e
fatamorganas (miragem
que se deve a uma inversão térmica) são
mais reais que todas as supostas realidades dos homens.”
“Tu és, possivelmente, o único ser
que não me queira mal pelo que disse. As tuas criaturas, mesmo as que vivem com
o teu nome à flor dos lábios e com os teus símbolos nas vestes, me
considerarão, talvez, irreverente, blasfemo, herege, ateu, herege, ateus, luciferino,
porque algumas das coisas que eu disse de ti são grandes demais para caberem
nos estreitos moldes da nossa humana filosofia. Entretanto, basta-me saber que
tu me conheces e pões na balança o sincero amor que te consagro, no meio de todas
essas noites da inteligência.”
Na impossibilidade de continuarmos
com essas transcrições, porque acabaríamos por transcrever todo o livro do
notável e erudito sacerdote, aqui ficamos seguros de que agradáveis foram para
os nossos leitores essas pequenas pérolas que extraímos de tão magnífica obra
filosófica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário