Sobre o ensino dos Espíritos
A Redação Reformador (FEB) 16 de Maio de 1917
Alguns anos depois da publicação d’O Livro dos Espíritos, em plena florescência do materialismo cientifico, distinto publicista escreveu a Allan Kardec uma carta, que ficou perpetuada nas páginas da Revue Spirite (1)
Dizia
o missivista, cujo nome não foi declinado, que, sem negar a existência das
revelações, parecia-lhe desnecessária a intervenção dos espíritos desencarnados
para estabelecer princípios, que já eram conhecidos desde a mais remota antiguidade;
que, ensinados pelas religiões e pela filosofia estavam incorporados no patrimônio
da humanidade.
Essa
velha objecção tem sido reproduzida por aqueles que, apesar dos anos decorridos
e da nossa opulenta literatura, ainda não conhecem o Espiritismo e ignoram, ou
fingem ignorar, a sua influência crescente, a sua indiscutível ação regeneradora,
Existem
espíritos desencarnados que se comunicam conosco. O simples fato da comunicação
que o Espiritismo sustenta, põe em evidência e propaga, entre as duas esferas
da existência constituiu um benéfico inestimável, um assinalado progresso,
quando o materialismo dominava nos centros científicos e as religiões, com dogmas
abstrusos e práticas inúteis, desciam para o ocaso.
O
Espiritismo foi uma obra providencial de reação e de reconstrução. Havia de
encontrar, como encontrou, antagonistas, que seriam seu indiretos propagadores,
como tem sido. Não serviu para propaga-lo a fogueira de Barcelona, onde foram
queimadas as obras de ALLAN KARDEC?
Não
o estão propagando as autoridades eclesiásticas, que lhe enumeram os fenômenos,
espontâneos ou provocados e os vulgarizam para atribuí-los a uma entidade mitológica?
Os
fatos ficam. Impõem-se. As teorias não os eliminam. Cada um de nós pode
raciocinar sobre as explicações...
Já
eram conhecidos os princípios adotados pelo Espiritismo ...
Não
podíamos invocar melhor exemplo do que o grande exemplo de N. S. Jesus Cristo.
Os
princípios da sua predica sublime existiam nas antigas religiões, nomeadamente
a hebraica, e em velhos sistemas de filosofia.
Ninguém
ousará dizer que foi inútil a sua mensagem à humanidade, porque Ele apareceu depois
de outros fundadores de religiões, depois de Moisés, de Confúcio, de Sócrates e
Platão.
Examinando
o tema sob outro aspecto, também podemos relembrar que a forma esférica da Terra
e os seus movimentos em torno do eixo e em roda do sol já eram conhecidos desde
remota antiguidade.
Entre
outras provas existe a oposição, que podemos ainda ler nos escritos dos padres
da igreja.
Esses antigos conhecimentos, contra os quais se
insurgiam a ciência oficial e a teologia, arrimada em interpretação literal de
textos bíblicos e em errôneas concepções dogmáticas, não fizeram esmaecer a glória
de Copérnico e Galileu, nem tornaram desnecessária a teoria, que sustentaram
contra a ideias reinantes, ora ensinada, como elementar, às crianças. A
doutrina secreta dos pitagóricos tornou-se conhecimento vulgar.
Qualquer pessoa do povo, que tenha noções de astronomia, não poderá impressionar-se, atualmente, com o argumento de Santo Agostinho, por exemplo, contra a existência dos antípodas (opostos).
As
revelações que dependem de um plano providencial, de uma direção Suprema, são
sucessivas. São gradativas, proporcionadas aos tempos e às inteligências. Estão
entre si ligadas. São progressivas. Vão sendo renovadas, explicadas, esclarecidas,
desenvolvidas à medida que a humanidade progride.
Havíamos
chegado a uma época em que, riscada a psicologia do quadro das ciências,
convinha demonstrar a existência da alma por novos métodos e processos. Os espíritos
reveladores se encarregaram dessa demonstração pelos fatos.
Foi
pelas revelações, em vários lugares em diferentes ocasiões que o Espiritismo constituiu
o seu corpo de doutrina.
Basta
atender, exemplificando, alguns pontos.
Foram
as revelações dos espíritos que nos fizeram conhecer:
-
o mediunismo, as suas modalidades e aplicações, como os meios de cultiva-lo e
desenvolve-lo:
-
o Perispírito, demonstrado por fatos e que explica a ação dos espíritos no
mundo material;
-
o desprendimento ou emancipação da alma, durante o sono e estados análogos, dando novas noções de psicologia e de fisiologia;
-
os fenômenos da encarnação e desencarnação, como permite o estado atual do nosso
desenvolvimento;
- o estado dos espíritos durante a
erraticidade e a sua ascensão a mundos superiores, dissipando as trevas da
antiga escatologia religiosa;
-
as provações, as penas e as expiações no espaço e na Terra;
-
as vidas sucessivas afim de ser cumprida a lei do progresso;
-
a influência dos espíritos livres sobre os encarnados; as possessões e
subjugações, suas causas, efeitos e os meios de evita-las.
Não
precisamos prosseguir nessa enumeração.
Renovando
os estudos religiosos, o Espiritismo vem restaurando os preceitos evangélicos e
os explicando em espírito e verdade.
Os
tempos atuais são para lágrimas – tempus flendi.
(um tempo
para matar)
Aí
está o Consolador.
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