Modos de interpretar – Parte 1
por Geminiano Barboza Reformador (FEB) Junho 1914
Pondo de parte as minúcias
complementares, temos ali resumida a opinião de um espírita, dada como ponto de
doutrina escutada por mais de duzentos assistentes.
Ora, é muito natural que aqueles assistentes,
ou pelo menos muitos deles, necessitassem sem exame a opinião do orador e passem
a transmiti-la a outros como ponto de doutrina.
E exatamente isso que sinto pesar
sobre minha consciência, como se fora um crime por mim praticado, deixar passar
em silêncio uma ideia errônea, embora emitida de boa-fé e com os melhores
intuitos, porquanto o que nos ensina a Revelação não autoriza, antes exclui,
opinião tal.
Se os espíritos partem todos de um
mesmo princípio, dotados todos dos mesmos recursos, que são os seus atributos individuais,
postos em pé de igualdade no momento inicial da vida consciente, onde começa
para todos a responsabilidade própria; os desvios que se dão e as orientações
diversas derivam dos próprios... espíritos, segundo suas inclinações, suas tendências,
seus gostos particulares e o modo de usar a energia moral de que dispõe cada um.
Há
os que aspiram, no primeiro surto da vida de espírito emancipado, as regiões
siderais e procuram haurir energia no próprio almejo, a fim de conquistar as
alturas, e, no justo anseio de conhecer as belezas celestes, que de longe pressentem,
empregam todo o esforço de que se sentem capazes; e o Pai, Misericordioso e Bom,
apreciando com a devida Justiça o heroísmo e a nobreza que se revelam nos
primeiros atos do iniciado, olha-o desde logo com a complacência de pai
extremoso, e esse olhar sacrossanto incute no espírito assim encaminhado maior
soma de energia e força de vontade.
Devemos compreender aí, como em todos
os outros casos de ordem geral e comum, a ação das leis naturais, como sejam: a
de simpatia, a de atração, a de evolução, a de progresso, etc., etc.
Essa classe de espíritos, entregues
por completo a uma única preocupação, conservam-se impregnado dela e isto
constitui para eles um verdadeiro preservativo, razão porque os sentimentos inferiores
neles não se desenvolvem: abortam, extinguem-se, e ei-los vencedores, heróis.
Aí está, meus amigos, a classe de
espíritos onde devemos procurar Jesus, nosso divino Redentor.
Vejamos agora porque a maioria dos
espíritos desvia-se da linha espiritual e condena-se à luta alternada das existências
materiais.
Cheios de alegria e satisfação pela
liberdade que passam a usufruir quando entregues ao seu livre-arbítrio, nossos
pobres espíritos, inexperientes ainda, fazem quase sempre mau uso do livre-arbítrio
e deixam de acatar os conselhos de seus guias para obedecerem às próprias vontades,
que nem sempre são exequíveis e convenientes, pois obedecem às vezes as tendências
más, derivadas da própria índole, e que o espírito tem o dever de corrigir e
apurar, por isso que é dever de todos trabalhar pelo seu aperfeiçoamento.
Entretanto, empolgados pela ideia de
gozos fáceis, descuidam-se da orientação que deviam procurar e manter com
firmeza.
De aventura em aventura, de experiência
em experiência, de leviandade em leviandade, de erro em erro, chegam às últimas
consequências e condenam-se à materialização.
Não se pode divisar aí nenhuma parcialidade,
quando cada um seguiu livre e espontaneamente a direção que escolheu.
Na vida prática da humanidade há um
caso experimental que dá ideia de um perfeito símile:
“Retira-se de um pombal uma dúzia de
pombos, leva-se os à grande distância em condições discretas e, em dado
momento, solta-se os conjuntamente.
Alegres pela liberdade inesperada,
as meigas avezinhas evoluem em torno do ponto de partida, tomando depois
direções diversas, seguindo cada uma a orientação que lhe apraz.
Resultado: - Uma se apresenta primeiro
no pombal, em certa hora, outra meia hora depois, outra, duas horas mais tarde,
algumas no dia seguinte, e outras nunca mais são vistas.”
É justo atribuir parcialidade à pessoa
que as criou?..
Deve-se recriminar a Natureza por
lhes não haver dado igual força e igual orientação?
De modo
algum; porquanto, como sabeis, a Natureza é composta de variantes, que em tudo
se revelam. Do mesmo modo, nenhuma parcialidade se pode atribuir ao criador dos
pombos, que naturalmente, empregou iguais meios no tratamento de todos.
Entretanto, convém não olvidar uma circunstância
fundamental, que resulta entre os dois casos: é que os pombos agem instintivamente,
ao passo que os espíritos operam conscientemente, não no sentido geral, mas no
sentido restrito; que, não compreendendo a expressão clara e extensiva, compreende
o modo de distinguir; e os espíritos não são entregues ao domínio de si mesmos
senão quando em estado de distinguir os pensamentos e a vontade, por meio do
raciocínio.
Temos, porém, um ponto de doutrina
que exclui a possibilidade daquela parcialidade conjecturada e que nos oferece
margem para um largo estudo: é que o caso de Jesus não é singular, como parece
supor o nosso irmão, pois só pode ser compreendido como singular perante o nosso
mundo e seus habitantes. Mas o caso de Jesus é universal, por sua natureza e
por sua origem, razão porque só na Vida Universal poderemos encontrar entidades
similares à entidade de Jesus, o Messias; na órbita de um planeta não se pode
encontrar similar para o seu fundador, o mesmo que dirigiu e dirige o destino
de seus habitantes, função que iniciou já glorificado.
Façamos voar nosso pensamento de
mundo em mundo e descobriremos milhares de milhares de espíritos puríssimos iguais
ao de Jesus; - eis os seus pares, seus companheiros de classe.
Raciocinemos de conformidade com a
Revelação e veremos que não há similitude possível entre o espírito de Jesus,
que é infalido, e o espírito da humanidade terrena, falido em toda a linha.
Se a doutrina nos ensina e a Revelação confirma a existência de uma infinidade de mundos de categorias diversas, possuindo cada um o seu governador e protetor, que é o seu Messias, o seu Cristo; se nos explica ainda a Revelação que esses postos representam prêmios de mérito outorgados aos espíritos que conseguem atingir o grau de espírito perfeito... sem haver falido, isto é, sem haver cometido a menor falta, claro está que Jesus Cristo possui no Universo milhares de milhares de irmãos infalidos, espíritos imaculados, puríssimos.
Logo, Jesus não está só, não é único.
O que, infelizmente, é deveras
lamentável, é ser tão reduzido o número dos que sobem quão fabuloso o número
dos que descem.
É que, enquanto aqueles se esforçam
para aproximar-se do Criador, estes últimos atiram-se à colheita de gozos e prazeres,
Pois não é assim que procedemos
ainda hoje, mesmo depois da Revelação?
Se todos nós, que habitamos n Terra,
tivéssemos querido e sabido nos revestir de humildade e amor, como aqueles irmãos,
que souberam ser fortes para não atenderem às seduções materiais lobrigadas (percebidas) nos mundos inferiores; se, como
eles, houvéssemos impelido nosso pensamento para o Alto e com ele os nossos melhores
sentimentos, o olhar do Pai Celeste envolver-nos-ia e nós seríamos fortes, como
foram aqueles irmãos, e, como eles, teríamos subido, em vez de descer.
Mas a vaidade bem cedo nos empolgou,
e após ela o orgulho e depois a ambição e outros sentimentos impuros, até que
nos convertemos em espíritos rebeldes, voltando, voluntária, embora inconscientemente,
a nossa condenação ao suplício da vida material, na qual permanecemos ainda.
Tornamo-nos pois culpados e assim
passíveis de penas; adquirimos impurezas; forçoso era que fossemos provados até
que readquiríssemos a pureza perdida, e sob essa condição estamos e estaremos,
talvez por muito tempo ainda, porque continuamos a alimentar nossos ferozes
inimigos - a vaidade, o orgulho, a ambição, o egoísmo, a rebeldia, enfim.
Sim, meus amigos, são esses os nossos
maiores inimigos, de todos os tempos.
Contra eles devemos sustentar luta sem
tréguas, procurando haurir na doutrina de Jesus e na fé cristã a energia que
nos falta para tão útil empreendimento.
Firmemo-nos em franca e decidida
resolução; apliquemos nossos sentimentos bons ao serviço da eliminação dos
sentimentos maus e a Divina Misericórdia do Pai Celeste nos vir auxiliar,
tornando bem mais fácil nosso triunfo...
É assim que devemos trabalhar para a
nossa regeneração.
O nosso esforço, sustentado com
solicitude e perseverança, ganhará mérito diante de Deus e a sua santa indulgência
coroará nossos esforços, facilitando a ação progressiva da nossa reabilitação e
proporcionando-nos ensejo de melhor perscrutar a Verdade e compreender as
divinas sutilezas das coisas celestes, que as nossas imperfeições não nos
permitem por enquanto compreender.
Modos de interpretar – Parte 2
por Geminiano Barboza Reformador (FEB) 1º Julho 1914
Se o Divino Pastor declarou que “o Pai não quer que se perca uma só das suas ovelhas”, porque não se submetem essas ovelhas ao jugo desse mesmo Pastor, que deu a vida por elas, conforme havia prometido ?..
Em conclusão: - Os espíritos foram
criados puros; transviando-se, conspurcaram sua pureza e tornaram-se maus;
foram submetidos às provas materiais; incorporados, perderam a noção da sua origem
e desviaram-se da senda do dever. Mas nem por isso a Assistência Divina os
deixou abandonados.
A Misericórdia do Pai Celeste não os
desamparou jamais.
Se mais não havemos conseguido em nosso
benefício é devido à nossa rebeldia e às fraquezas a que nos entregamos, em vez
de lutar contra elas.
Agora, porém, que tudo está preparado
e disposto de modo a facilitar a nossa reabilitação, mostremo-nos dignos dos
favores do nosso Criador e retomemos o caminho perdido, sob a ação benéfica dessa
Luz Divina que é a Revelação e o poderoso auxilio que ora nos prestam os novos
Apóstolos do Divino Mestre.
Estudemos, trabalhemos e esforcemo-nos
por nos tornar melhores, porque já fomos muito maus.
Reabilitemo-nos.
Não é sem esforço que se consegue
reaver o perdido.
Temos, pois, que lutar e lutar
muito, contra nossas fraquezas.
Nosso
passado foi um acervo de erros e faltas, que não só nos desviaram da senda que
devíamos seguir, mas também nos criaram o futuro penoso e mortificante, que é o
presente que hoje suportamos, amargurados.
Mas não foi debalde que baixou à Terra
aquele espírito puríssimo, que foi chamado “Divino Modelo”.
Lancemos um olhar retrospectivo
sobre sua individualidade, seus atos e sua doutrina.
Inspiremo-nos em suas palavras e nos
seus exemplos e veremos operar-se esse grande milagre:-a conversão dos servos
rebeldes do passado e do presente em humildes e mansos discípulos e apóstolos
do futuro.
Jesus, espírito puríssimo e
perfeito, não estava de nenhum modo sujeito a provas materiais; entretanto, nós
sabemos por quão duras provas passou Ele na Terra: desde o insulto aviltante até
a morte ignominiosa que lhe foi aplicada, com todo o seu cortejo de horrores.
Jesus, porém, jamais se queixou; jamais
deixou transparecer sequer a menor indisposição contra os próprios algozes,
antes à última hora pedia ao Pai o perdão para eles.
Inspiremo-nos, pois, nos exemplos do
Divino Mestre; estudemos com critério e meditação a sua santa doutrina, a fim
de aprendermos a pratica-la; apliquemo-nos
com
dedicação e boa vontade à causa do Bem e seremos auxiliados pelos espíritos
bons, postos ao serviço do Bem; veremos assim esclarecerem-se a nossa razão e a
nossa consciência e crescer e consolidar-se nossa fé, que tão vacilante
sentimos ainda hoje.
Não fosse fraca e vacilante a fé que
supomos possuir e não passaríamos pela triste decepção de ver surgir do próprio
seio dos que estudam o Espiritismo a dúvida escabrosa e pertinaz acerca da Nova
Revelação assinada pelos próprios Evangelistas com assistência dos Apóstolos,
como é o caso a que me referi no princípio deste estudo, com relação à essência,
origem e especialidade do espírito de Jesus Cristo.
Penitenciemo-nos, pois, para que nos
alcance a indulgência do Pai Celeste e esforcemo-nos por alcançar a Luz, porque
só a Luz vinda de Deus nos permitirá compreender a Verdade, para não mais
estarmos sujeitos à dúvida e vacilações, porque então teremos penetração de
vistas através do mundo espiritual.
Então compreenderemos a evolução dos
espíritos infalidos, na senda do Progresso Universal, como compreendemos hoje a
evolução do mundo físico, segundo o progresso material; compreenderemos a ordem
universal dos mundos em geral e a razão porque não deve ser considerado “único”
espírito infalido - Jesus, quando nos dizem os arautos de Deus que, cada mundo
tem o seu Cristo, isto é, seu fundador, seu protetor e governador.
Além disto, não repugna crer que
existam em disponibilidade muitos espíritos infalidos, que, não sendo
fundadores nem governadores de mundo algum, bem podem ser os principais
auxiliares do Criador e grandes colaboradores do Progresso Universal,
verdadeiros anjos de Deus.
Os portadores da Nova Revelação não
podiam vir da parte do Divino Mestre sugerir-nos ideias falsas e criminosas e o
nosso irmão Roustaing, homem material como nós, jamais seria capaz de conseguir
levar a termo, com a perfeição que ressalta do próprio conjunto, a obra
transcendente que é a Revelação, sem o auxílio do mundo invisível, a cuja ordem
se submeteu com docilidade, resignação e perseverança.
Impõe-se nos a necessidade de sermos mais confiantes na
Misericórdia de Deus e mais crédulos ante as promessas do Messias, se de fato
desejamos ser espíritas e compreender os ensinamentos que nos são enviados por
intermédio do Espiritismo para alimentar
e robustecer nosso espírito e liberta-lo das trevas da ignorância em que ainda
permanecem acerca das coisas divinas e do mundo invisível.
Não nos devemos esquecer, meus
amigos, da grande lição que nos legou Jesus no fato da incredulidade de Tomé.
Aquele Apóstolo não se mostraria incrédulo se tal lição não fosse necessária; se
a divina perspicácia do Ressuscitado não descobrisse nela grande utilidade
futura.
Porque duvidara Tomé da Ressurreição
de Jesus?..
Não havia ele, como os demais discípulos,
acompanhado o Rabino e assistido aos atos maravilhosos que Este praticara e às
afirmativas que fizera, embora veladamente, de ser ele o Messias, o Cristo, o Filho
de Deus?..
Porque, pois, duvidava da Ressurreição
do Mestre?..
Porque precisava ser punido pela sua
distração, talvez pelo pouco amor à causa que abraçara, por não se haver
aplicado, com a constância devida, à criteriosa meditação, a fim de descobrir a
razão lógica que encerravam as palavras do Nazareno, analisando-as em confronto
com os atos que testemunhara, para tirar daí a consubstanciação da sua fé... Eis porque foi Tomé punido com a descrença,
duvidando da Ressurreição do Cristo.
Mas não devemos ver naquele ato a punição
exclusivamente; mas principalmente o ato providencial, a lição perene e eterna
legada à humanidade, para que aprenda ela a precaver-se contra as fraquezas
inerentes à matéria, que dão ensejo à vacilação e à dúvida, fazendo oscilar e às
vezes baquear a nossa fé.
Inspiremo-nos nessa lição e sejamos
vigilantes e prudentes para não sermos colhidos de surpresa, por incautos e
negligentes.
Jesus havia prometido o Consolador,
alegando que este falaria d'Ele, como Ele falava do Pai; mas teve o cuidado de
envolver no mistério o Consolador, como os profetas haviam envolvido no mistério
o Messias anunciado.
Assim, o Messias veio e os que o esperavam
não o receberam, porque não o reconheceram.
Do mesmo modo, veio o Consolador,
que é a Revelação da Revelação, e é combatido por muitos dos que o deviam
receber com acatamento e respeito, por ser a maior prova do Amor de Deus para
com os homens, o cumprimento da promessa de Jesus e poderoso elemento no
cultivo do espírito humano, no preparo da reabilitação do espírito, para que
possa alcançar a Luz, e com ela a Verdade e tornar-se livre.
Jesus declarou não vir destruir a Lei nem os profetas,
mas dar-lhes cumprimento; e nós bem sabemos que Jesus disse a verdade e cumpriu
o que disse. A Revelação afirma não vir destruir a Igreja, mas restabelecer a
Verdade.
Ora, a Igreja aludida é naturalmente
a católica, cognominada Igreja de Jesus, a qual tem como fundamento a doutrina
do Cristo, embora não a cumpra (não entremos nessas indagações; não é essa a
nossa missão); ruas vamos ao nosso fim; - O Espiritismo apresenta-se em nome de
Deus, baseado nos Evangelhos cristãos; constitui-se no seio da humanidade uma
força propulsora e simpática, fazendo prosélitos por toda parte e avassalando
os sentimentos humanos, porque prega e pratica a doutrina de Jesus convidando a
humanidade a praticar o verdadeiro Cristianismo e eis que se torna desde logo suspeito
na opinião da Igreja Católica e por isso mesmo combatido por ela; mas vem logo
após a Revelação Nova, baseada igualmente nos textos dos Evangelhos cristãos,
explicando-os em Espírito e Verdade; eis que se torna também suspeita, não somente
aos adversários do Espiritismo, mas também no seio da “Família Espírita”, tal
qual a Ressurreição no seio dos discípulos do Messias!
Valha-nos Deus! Valha-nos o Divino
Mostre! Valha-nos a Misericórdia Celeste!
Os escribas e fariseus desconheceram o Messias na
pessoa do Nazareno e o guerrearam.
Tomé duvidara da Ressurreição do
Mestre e recusara-se acreditar sem lhe tocar as chagas; a Igreja Católica
desconhece Jesus na Revelação Espírita e oferece-lhe combate sem trégua;
finalmente, toma a palavra o Espiritismo para condenar a Revelação da Revelação!
Pobre humanidade! Sempre precavida
para não ser iludida, e sempre iludida nas suas precauções l
Valha-nos Deus!
Modos de
interpretar
– Parte 3 e final
por Geminiano Barboza Reformador (FEB) 16 Julho 1914
No argumento anterior tratava-se do
espirito; na presente meditação trata-se do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo,
o Messias, o Filho de Deus, nosso Divino Mestre, Redentor da humanidade e seu
Divino Modelo.
O nosso irmão, o dedicado orador de
que nos vimos ocupando, encheu com a sua palavra toda uma sessão, no infeliz
propósito de demonstrar a natureza material do Corpo de Jesus Cristo.
Como o Apóstolo Thomé, nosso irmão
padece de incredulidade, não aceita como verídicas as afirmativas da Revelação
referentes ao corpo de Jesus; acredita ver nelas a opinião pessoal do Sr. Roustaing
e acha que este sacrificou a verdade e está em contradição com os Evangelhos e
com os ensinamentos transmitidos por Allan Kardec, que destroem (afirma o
orador) a opinião que sustenta ser o corpo de Jesus - corpo fluídico.
Ora, primeiro que tudo temos a
atender a esta preliminar: a Revelação não é obra humana, não derivou da vontade
nem do senso do homem, porque é obra do próprio Jesus.
Os Evangelistas declaram transmiti-la
por vontade de Deus e ordem do Mestre, para restabelecer a Verdade, agora que “os
tempos são chegados”.
Em segundo legar, temos que atender ao que diz o próprio
Roustaing no prólogo da citada obra, quando confessa que tivera a princípio
suas prevenções contra o Espiritismo, só lhe dando credito depois de haver lido
os livros de Allan Kardec, o que fez instigado por um amigo. Entretanto, essa
leitura, conquanto lhe modificasse o modo de pensar, não lhe produziu a menor
sedução; conservou-se indiferente, se bem que respeitoso, perante o
Espiritismo.
Incidentes posteriores e
comunicações especiais determinaram sua conversão e submissão sob compromisso
formal. O Sr. Roustaing não foi, pois, um intruso, não foi um explorador da
boa-fé do próximo, não foi um charlatão; foi um escolhido, um predestinado, um
espírito de seleção, um instrumento de valor, um médium de alta capacidade, em
tudo tão respeitável quanto nosso mestre Allan Kardec.
Passando a outra ordem de ideias,
temos a considerar palavras e atos do próprio Jesus, predispondo a confirmação
da Verdade relativa à natureza essencial do seu corpo.
Se temos de solicitar o apoio
dos Evangelhos para nossas opiniões, façamo-lo com humildade e a devida coerência
e talvez possamos, com o auxílio das luzes divinas encerradas nas revelações
contemporâneas, penetrar os mistérios e reconhecer a verdade.
Os Evangelhos oferecem-nos muitas
passagens reveladoras do corpo fluídico de Jesus, conforme se depreende de algumas
parábolas e conforme atestam alguns atos do Rabino:
Depois temos ainda como fatos, aliás
importantes que comprovam a verdade do corpo fluídico do Cristo, a aparição do Mestre
a seus discípulos, que se mantinham de portas fechadas e mais o ato da Ascenção,
à vista do todos os Apóstolos.
Aí temos, pois, três fatos que por si
sós bastariam, como atestados que são da natureza fluídica do corpo de Jesus,
para destruir todo e qualquer argumento contrário; porém, importa que meditemos
também sobre algumas palavras do Divino Mestre e a autoridade dos Evangelistas,
emissários da Revelação Nova.
O desaparecimento do corpo de Jesus
do fundo do sepulcro muito contribuiu para a dúvida de Thomé, que não achava a explicação
para a ressurreição do corpo; e não eram de todo infundadas suas razões e sua dúvida,
porquanto Tomé via no Rabino um homem como ele. Entretanto, esse mesmo
desaparecimento é a prova mais robusta de que era fluídico e não material o
corpo de Jesus, tal como no-lo mostra a Revelação.
E não são os próprios Evangelistas
os signatários da Revelação que Roustaing?!.. Não afirmam eles haverem recebido
do Divino Mestre a missão da Revelação em Espírito e Verdade, por vontade de
Deus?.. Não confessam eles não poder revelar ainda toda a Verdade, mas somente
o que devia ser conhecido no momento da Revelação? ... Não há, pois, como
duvidar da Revelação de Roustaing, se ela se nos apresenta obra complementar à
Revelação de Allan-Kardec e o restabelecimento das verdades proclamadas pelo
Divino Mestre.
Não afirmara o Messias aos Apóstolos
que nada havia ignorado que não viesse a ser sabido e nada oculto que não
viesse a ser descoberto ?..
Não afirmou Jesus que em tempo mandaria
o Consolador e que este falaria d'Ele como Ele falava do Pai?..
Não afirmou igualmente haver descido
do Céu e ser o “Pão da Vida”?.. Não afirmou ainda Jesus que dos varões nascidos
de mulher nenhum era maior, na Terra, do que João Batista, sendo entretanto o
menor do Reino do Céu maior que ele ?.. Entretanto Jesus estava na Terra e era
tido como nascido Mulher.
Tudo, enfim, induz a crer e aceitar
como boas e verdadeiras as revelações contidas nos Quatro Evangelhos de
Roustaing, firmadas pelos Evangelistas, não somente por trazerem a assinatura
destes, mas pelo espírito elevado dos comentários, pela harmonia do conjunto,
pela lógica essencial na ligação dos fatos relatados, pela elevação e lucidez
dos conceitos emitidos, e sobretudo pela sabedoria transcendente e profunda,
revelando-nos assim a Sabedoria Divina.
Nem de outro modo se poderia compreender
a doutrina espírita como instituição filosófica, científica e doutrinária, que abriga
em seu seio promessas de tão elevado alcance e tamanhas responsabilidades e se
faz reconhecer doutrina ampliativa e progressiva, se tivéssemos de desprezar a
Revelação da Revelação, que é a sua confirmação e a sua maior garantia,
porquanto a Revelação está para a doutrina espírita como João Batista para o
Messias: - é quem lhe há de abrir, não veredas, mas vastas estradas de luz por
onde seguirá o Espiritismo em marcha triunfante, arrebanhando, uma a uma, as
ovelhas do Senhor.
Acho, pois, de bom aviso não levarmos
tão longe nossos receios, nossas dúvidas e nossas precauções, que nos poderiam
afastar dos bons princípios. Convém que não nos suceda o mesmo que sucedeu aos
que se sentaram na cadeira de Moisés e os que se fizeram herdeiros da cadeira
de Pedro.
Cuidado com o nosso zelo e nossas precauções;
se nos são úteis e necessários, são também bastante perigosos; cuidado com as
demasias (exageros?)!
Precisamos ser prudentes e criteriosos e sobretudo coerentes,
tanto no que respeita ao estudo como ainda nas adoções e exclusões.
Bem
sabemos que Jesus não tinha vaidades e não proferia palavras inúteis; e a
Revelação não é mais que a justificativa completa das suas palavras e dos seus
atos. Porque, pois, havemos de condená-la?..
Porque nos apresenta Jesus uma entidade
em tudo diferente da criatura humana, assim na ordem espiritual, como na ordem física?
Mas este é ainda um ponto perfeitamente
logico, que bem deve satisfazer a natural curiosidade dos que estudam e meditam,
porque nos fornece a chave dos mistérios até então impenetráveis e nos mostra o
nosso Redentor em toda a sua grandeza, em toda a sua divina majestade.
Jesus, espírito infalido, espírito
puríssimo e de seleção, de perfeição quase absoluta, possuindo a moral divina e
a ciência universal, tendo por sua divina piedade e por vontade do Pai, necessidade
de vir ao seio da humanidade semear a palavra de Deus, semente da regeneração
do espírito humano e base do progresso moral do nosso planeta; tendo enfim de
praticar esse ato de abnegação e Amor, fê-lo em Espirito, mas não se submeteu às
leis materiais a que somos sujeitos nós outros, espíritos falidos.
Ora, havendo Jesus presidido a elaboração,
a transição e desenvolvimento do nosso planeta; sendo, por seu valor e por sua ciência,
senhor do Elemento Universal, por mercê do Pai, que sobre Ele depusera toda a
sua complacência; sabendo dominar e dirigir os fluidos com a mesma facilidade
que nós dirigimos o olhar, o pensamento, etc.; a formação do corpo com que se
apresentava aos homens era simplesmente objeto de sua vontade e jamais precisou
de gestação.
O espírito do Messias, sendo de
origem puramente divina e já glorificado no seio do Pai; essência celeste que
é, não podia de modo algum suportar a fusão material a que se submetem os
espíritos que encarnam na Terra.
A necessidade das lições de fatos e exemplos,
assim como a ignorância e o transviamento dos espíritos em nosso mundo na época
da vinda do Messias, determinaram o Mistério da Encarnação e todo os mais que
lhe silo adstritos.
Pois
não estava escrito que o Messias descenderia da tribo de Israel, da geração de
David?
...Logo, o Messias devia ser um homem
aparentemente semelhante aos outros. Consequentemente, o Mistério da Encarnação
é um fato perfeitamente coerente.
Demais, nós sabemos hoje que não há
mistério eterno, como não há penas eternas.
O próprio Jesus afirmou:
“-Tudo será dado a seu tempo .”
Assim, creio que não temos o direito
de estranhar que, de longe em longe, uma nova revelação, mais ampla e mais lúcida
venha esclarecer, ampliar ou reformar os pontos deficientes de uma revelação
anterior, de conformidade com o progresso alcançado e o progresso a desenvolver.
Apurar a verdade, por todos os meios
a seu alcance, é dever de todos quantos se dedicam à propagação e difusão da doutrina
espírita. Duvidar, porém, das comunicações ou revelações trazidas por espíritos
superiores, quais os que assinam a Revelação de Roustaing, não é apurar a
verdade, mas atentar contra ela.
O Divino Mestre declarou que: - “-Não
é o discípulo mais que o mostre, nem o servo maior que seu Senhor!”
Como, pois, pretendermos nós corrigir
ensinamentos - dados pelos próprios Evangelistas em Espírito e Verdade?.. Ai de
nós!.. Como estamos atrasados!
A Revelação da Revelação (diz um dos
seus comentadores) “é a terceira explosão do Amor de Deus para com as suas criaturas
da Terra”.
Nosso espírito, porém, não está ainda
devidamente preparado para compreende-la integralmente; eis porque nos sentimos
abalados nas nossas crenças, em nossas convicções, quando de súbito deparamos
com as novidades sublimes que suas páginas encerram e que de algum modo nos
confundem.
O cego não pode de chofre encarar com
firmeza a luz no próprio instante em que lhe é restituída a vista; é o nosso caso
ante a Revelação.
Apelemos para a Misericórdia do Pai
Celeste; supliquemos a divina Graça de iluminar a nossa razão, esclarecer nossa
consciência e avigorar a nossa fé. Seja humilde e sincero nosso pedido e a luz
nos será facultada e nossa pobre inteligência alcançará a compreensão - não só
da Revelação de Roustaing, mas de todas as revelações. Assim haja aplicação e
boa-vontade.
Conclusão: - 0 corpo de Jesus Cristo,
em tudo semelhante ao nosso, não entretanto, igual ao nosso, porque era fluídico
e não material.
Se Jesus possuísse um corpo
material, teria sido indubitavelmente um grande profeta e grande doutrinador,
mas nunca poderia ser o Cristo Ressuscitado, o Salvador da humanidade,
porquanto, no momento histórico da sua Missão na Terra, bem poucos teria
conseguido salvar; mas os Evangelhos nos dizem que toda a humanidade deve ser
salva por Ele.
O corpo material está sujeito à
morte; mas os Evangelhos dizem haver Jesus afirmado em várias ocasiões que “sua
vida ninguém tirava: era Ele quem a deixava para a retomar de novo.”
Essa parábola, que naquela época não
pode ser compreendida, sabemo-lo hoje: - Jesus compunha e decompunha o seu
corpo à vontade, sempre que isso se fazia necessário, para apresentar-se ou
para se ausentar da presença do homem.
O
Messias nunca foi carne.
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