O Suicídio
por A Redação / Bitencourt Sampaio (Espírito)
Reformador (FEB) Junho 1924
Se algum livro, folheto ou opúsculo há que mereça amplíssima divulgação, sucessivas e intermináveis edições, é esse que há anos publicou sob o título acima, o nosso devotado e saudoso confrade Francisco Chaves, que hoje frui no mundo espiritual o prêmio do seu esforço por afastar da senda do maior dos crimes os seus irmãos da terra.
Abrindo com o incomparável ditado do Espírito de Camillo Castello Branco, dirigido ao seu amigo Silva Pinto que pensava em suicidar-se, o volumezinho de Francisco Chaves contém, ora resumida, ora desenvolvidamente, o que a doutrina espírita ensina, com relação a esse ato de fraqueza, de desespero e, sobretudo, de incredulidade, que se chama - suicídio, cujas consequências, no mundo da verdade, são as mais horríveis e dolorosas a que se pode condenar o ser humano. De par com o que a doutrina expõe a cerca de tão nefando atentado, o maior de todos, contra as leis divinas, emanadas do amor infinito, o folheto a que nos referimos corrobora os ensinos doutrinários com o testemunho dos que, como o grande escritor cujo nome vimos de citar, puderam verificar a realidade da desgraça imensa que é o suicídio.
A
obrinha de Francisco Chaves (1) é, pois, também, como se vê desde logo, excelente
repositório do que de melhor se pode responder em breves palavras aos que, no
insano propósito de combater o Espiritismo, vivem a alegar, por ignorância, ou
por felonia (crueldade), que ele é caminho franco para o suicídio, quando a
realidade é que ainda nenhuma doutrina, filosofia ou credo religioso conseguiu
fundam entrar a condenação desse ato funestíssimo pela maneira irretorquível
por que o faz o Espiritismo, que apoia a sua profligação (derrota) na mais
eloquente das provas - a dos fatos.
(1) Do blog: Não encontramos a obra citada em nenhuma
de nossas fontes. Caso o leitor disponha de um exemplar em sua biblioteca
solicitamos contato pela gentileza de uma cópia. Grato.
Bem
compreendendo tudo isso e sentindo viva a necessidade de colocar em todas as
mãos um livrinho tão útil e tão benéfico, nesta época em que, entre nós como por
toda a parte, se observa o que se poderia chamar a epidemia do suicídio, o
nosso prezado companheiro Frederico Fígner teve a feliz e generosa inspiração de
mandar fazer, por sua conta, larga reedição do precioso volume, para distribui-lo
copiosamente.
Querendo,
porém, que a nova edição trouxesse alguma coisa de novo e, mais ainda, alguma
coisa que aumentasse o valor já não pequeno da caridosa obra de Francisco Chaves
lembrou-se aquele companheiro de pedir ao bondoso Espírito de Bittencourt Sampaio,
esteio dos mais fortes da Federação no mundo espiritual, um prefácio ou prólogo
para o volume que se está reimprimindo. Aquiescendo, como era de esperar, a
essa justificada solicitação, Bittencourt Sampaio prometeu que daria o que
desejava Fígner e com ele os seus companheiros desta casa. Cumprindo a
promessa, ditou a página que adiante se vai ler e que, antes de realçar o valor
da obra a que se destina, dará às colunas desta revista um brilho e um relevo que
lhe não são habituais.
Eis o
que disse o luminoso Espírito, a quem tantos benefícios e tão caridosa assistência
devem os que mourejam nesta oficina de trabalho espiritual, que é a Federação:
Palmilha, passo a passo, a via dolorosa da expiação para limpares
teu Espírito das manchas que o cobrem. Eis a exortação que ao Espírito fazem os
que velam pelo seu progresso, quando a lei das existências várias o arroja a
tomar a libré da terra.
E porque vez o Espírito à masmorra da carne? Será por um
capricho da Divindade? Será por uma manifestação da cólera divina, que os
pretensos representantes de Deus lhe atribuem para manterem, em seu proveito,
presa a humanidade ao terror supersticioso? Não, o Espírito delinquente, aquele
que um dia olvidou a lei do amor que esqueceu a sua origem, que fez tábua rasa (esqueceu) da
humildade, esse sim, é condenado à estação de cura, pelas paragens da dor. E
nada, que não ela, o pode libertar dessa lei, que é a manifestação mais lídima
do amor do Deus.
Se as religiões radicadas nas massas ensinassem ao homem
a razão de ser da dor, se lhe mostrassem a dupla significação das lágrimas, que
tanto podem ser a expressão de um sofrimento horrível, como a cristalização da
alegria mais pura do Espírito cheio de gratidão, por certo, livros como este
não precisariam ser espalhados em nossos dias. Mas... não é aqui o lugar próprio
para grafar em letras candentes a responsabilidade que pesa sobre os ombros dos
primeiros convidados para o banquete do Pai de Família.
A
amizade de um irmão dedicado quis colocar o meu nome no frontispício desta
obra. Esse desejo traduz mais uma prova de afeto, a que prazerosamente
correspondo, do que necessidade de valorizar a obra, já de si mesma tão valiosa,
pelo seu contexto. Quero, apenas, dizer o que meu Espírito sabe destas coisas;
quero bradar aos incautos, que caminham na vida conduzidos por cegos, que o fosso
os espera, se não se precaverem da companhia. Isto tenho de o dizer com o
Evangelho na mão, porque só esse é o roteiro capaz de levar a porto seguro a nau
da vida.
Não valem sofismas, não colhem subterfúgios, nem há
ritos, nem dogmas, nem fórmulas, nem aberrações que evitem o exato cumprimento
da lei. A vida do homem é divina, porque é criação e desígnio do Ser Supremo.
Ele no-la dá, Ele no-la mantém e quer somente com ela e por ela a purificação
do delinquente. Como, pois, fugir à dor física, ao opróbio (vexame), a
desonra, se esse foi o ferrete que nodoou o nosso Espírito, marcando-o, até que
a purificação apague o estigma? Como evitar a chaga, quando o sentimento destila
veneno que empeçonha a alma?
Insensatos, que desprezam o único meio de regeneração que
a misericórdia lhes concede em meio de sua desdita! Cegos, que têm o remédio
nas mãos e o deixam escapar ofuscados pela tentação da liberdade, uma liberdade
que a falta de fé mal lhes deixa vislumbrar!
Eu, porém, digo a quem me ler: só há uma saída para o
prisioneiro da dor; só há uma chave para abrir a porta do cárcere expiatório -
é a resignação; é aceitar a vida terrena tal qual seja, dolorosa, rude, cheia
de pesares e desilusões.
Poderia eu dizer mais? Não, nem creio mesmo que alguém
pudesse faze-lo, de modo a melhor calar no ânimo dos que aí são levados à
tentação, pelo peso do fardo que não sabem tornar leve.
Mas, e não posso tornar mais tétrico o quadro, permite,
no entanto, o Senhor eu Deus que o servo possa tornar mais suave as tintas da
paisagem triste, que leva o Espírito inclinado ao máximo crime a descrer da própria
salvação. Permite o meu Senhor que eu diga ao peregrino da dor: Sofreia as tuas
cogitações pessimistas e olha para as aves que te cercam, para a vegetação que
te rodeia, para esse ar festivo que a Natureza ostenta, É a mão do Criador que aí
se patenteia! Nesse ritmo perfeito, que tudo move e tudo regula, está a ação da
invisível Vontade que domina sobre tudo quanto é criado.
Detém-te, pois, nas tuas cogitações pessimistas, mísero
pecador; dá novo rumo ao teu pensamento. Leva-o para o seio de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Aí, aguarda a voz do teu guia e ele te dirá: “Será possível que a mão que veste de galas a
erva do prado e põe na garganta dos pássaros o gorjeio de alegria possa ferir-te,
a ti criatura dotada de livre arbítrio? Dirá mais essa voz amiga: “Penetra, sofredor,
no âmago de ti mesmo e procura no teu sentimento pecaminoso a causa do teu sofrer.
Então, sim, poderás compreender a dor, bendize-la mesmo, porque só ela será
capaz de fazer brotar no teu Espírito alvoradas sem fim.”
Posso ainda dizer: Olha para a frente caminheiro: na
estrada a percorrer há caminhos íngremes e carreiros suaves, numa promiscuidade
que assombra o teu olhar; mas, fita ao longe e verás, embora distante, o oásis
reparador, onde poderás restaurar as forças combalidas, para recomeçares a
jornada, já agora, por trilhas menos ásperas.
Toma o teu bordão e segue.
Eis o que posso dizer aos que me lerem. Só esse caminho
liberta o Espírito das urzes da viagem terrena. O outro, de que fala o Camilo,
é o atalho que leva à montanha escarpada do desespero.
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