Pregar
pelo exemplo
Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Outubro 1957
Melhor que a
cultura intelectual é a cultura do sentimento. Ninguém compreenderá verdadeiramente
o sentido humano do Cristianismo sem cultivar profundamente o sentimento cuja linguagem
fala diretamente a todos os corações e se expande sem as limitações forçadas
pela diferenciação de idiomas. Pode alguém ser exímio na citação dos princípios
evangélicos, mas esse conhecimento de nada valerá sem a exemplificação
correspondente. O difícil não é aprender ou decorar textos, mas po-los em
execução prática, demonstrar pelo
exemplo que o aprendizado penetrou realmente o fundo da alma e a transformou.
Nenhuma ideia terá vida sem que inspire o ato que lhe dará a desejada objetividade.
O mesmo acontece no Espiritismo. Que valerá escrever e falar muito sobre os
ensinamentos de Jesus no Evangelho, sobre as lições de Kardec, sobre os esclarecimentos
de Roustaing, se continuarmos fechados ao exemplo, alheios à prática daquilo
que recomendamos pela palavra escrita e pela palavra falada? O mundo anda cheio
de pregadores inúteis, de homens que aconselham os demais a seguirem as pegadas
do Cristo mas que permanecem, eles mesmos, à margem da estrada, contentes pelos
aplausos que recebem por haverem escrito um belo artigo ou por haverem feito
uma dissertação bonita e até comovente.
*
Nós, os espíritas, temos grande responsabilidade pelo que
dizemos e escrevemos. Se agimos somente em função da vaidade estéril, que nos leva
a proceder assim para angariar elogiosas referências, estamos perdendo a nossa
encarnação e sofreremos no futuro as consequências da incompreensão daquilo que
procuramos ensinar, mas que, verdadeiramente, não aprendemos ainda, porquanto
não alcançamos o limiar da exemplificação. Se escrevemos ou falamos empenhados
sinceramente em orientar os nossos semelhantes, não devemos nem podemos
esquecer que somente o exemplo dará autoridade ao nosso trabalho em prol da
difusão da Doutrina espírita e dos princípios evangélicos. Ou faremos assim ou
estaremos dando pública demonstração de hipocrisia, de traição a nós mesmos,
seguindo o mesmo caminho de pregadores de outras religiões, que adotam o lema –
“faze o que eu digo e não o que eu faço”.
É muito comum a intromissão de indivíduos amantes de
novidades nos diferentes meios religiosos. Vão para um e depois de algum tempo procuram
ingressar em outro, onde permanecem realizando o que pode haver de mais
superficial e inócuo. Se algo os aborrece, desertam e aderem a outro movimento
e prestam culto à novidade, buscando conhecer o máximo dentro do mínimo tempo,
para se apresentarem com algum cabedal de leituras ante os profitentes da religião
por eles recém-adotada. Isso tem acontecido sempre, de modo que o Espiritismo
não poderia escapar a essa invasão lamentável. Aqueles que possuem legítimo
sentimento espírita e que estão perfeitamente senhores das verdades doutrinárias,
têm o dever de fazer frente a essa invasão, opondo ao intelectualismo supérfluo
a força persuasiva da exemplificação. Pregar e fazer; dizer e realizar; aconselhar
e seguir. O verdadeiro espírita é aquele que, fiel às lições de Kardec,
fortalece-as com o espírito evangélico e prega-as pelo exemplo. Falar e
escrever é fácil; exemplificar, porém, é muito difícil, mas, na realidade, é a
única maneira positiva de demonstrar o verdadeiro Espiritismo, o Espiritismo
cristão, o Espiritismo que ajuda, que ampara, que estimula, que orienta, que
guia, que salva!
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