quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Pregar pelo exemplo




Pregar pelo exemplo
Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Outubro 1957

            Melhor que a cultura intelectual é a cultura do sentimento. Ninguém compreenderá verdadeiramente o sentido humano do Cristianismo sem cultivar profundamente o sentimento cuja linguagem fala diretamente a todos os corações e se expande sem as limitações forçadas pela diferenciação de idiomas. Pode alguém ser exímio na citação dos princípios evangélicos, mas esse conhecimento de nada valerá sem a exemplificação correspondente. O difícil não é aprender ou decorar textos, mas po-los em execução prática, demonstrar pelo exemplo que o aprendizado penetrou realmente o fundo da alma e a transformou. Nenhuma ideia terá vida sem que inspire o ato que lhe dará a desejada objetividade. O mesmo acontece no Espiritismo. Que valerá escrever e falar muito sobre os ensinamentos de Jesus no Evangelho, sobre as lições de Kardec, sobre os esclarecimentos de Roustaing, se continuarmos fechados ao exemplo, alheios à prática daquilo que recomendamos pela palavra escrita e pela palavra falada? O mundo anda cheio de pregadores inúteis, de homens que aconselham os demais a seguirem as pegadas do Cristo mas que permanecem, eles mesmos, à margem da estrada, contentes pelos aplausos que recebem por haverem escrito um belo artigo ou por haverem feito uma dissertação bonita e até comovente.

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            Nós, os espíritas, temos grande responsabilidade pelo que dizemos e escrevemos. Se agimos somente em função da vaidade estéril, que nos leva a proceder assim para angariar elogiosas referências, estamos perdendo a nossa encarnação e sofreremos no futuro as consequências da incompreensão daquilo que procuramos ensinar, mas que, verdadeiramente, não aprendemos ainda, porquanto não alcançamos o limiar da exemplificação. Se escrevemos ou falamos empenhados sinceramente em orientar os nossos semelhantes, não devemos nem podemos esquecer que somente o exemplo dará autoridade ao nosso trabalho em prol da difusão da Doutrina espírita e dos princípios evangélicos. Ou faremos assim ou estaremos dando pública demonstração de hipocrisia, de traição a nós mesmos, seguindo o mesmo caminho de pregadores de outras religiões, que adotam o lema – “faze o que eu digo e não o que eu faço”.

            É muito comum a intromissão de indivíduos amantes de novidades nos diferentes meios religiosos. Vão para um e depois de algum tempo procuram ingressar em outro, onde permanecem realizando o que pode haver de mais superficial e inócuo. Se algo os aborrece, desertam e aderem a outro movimento e prestam culto à novidade, buscando conhecer o máximo dentro do mínimo tempo, para se apresentarem com algum cabedal de leituras ante os profitentes da religião por eles recém-adotada. Isso tem acontecido sempre, de modo que o Espiritismo não poderia escapar a essa invasão lamentável. Aqueles que possuem legítimo sentimento espírita e que estão perfeitamente senhores das verdades doutrinárias, têm o dever de fazer frente a essa invasão, opondo ao intelectualismo supérfluo a força persuasiva da exemplificação. Pregar e fazer; dizer e realizar; aconselhar e seguir. O verdadeiro espírita é aquele que, fiel às lições de Kardec, fortalece-as com o espírito evangélico e prega-as pelo exemplo. Falar e escrever é fácil; exemplificar, porém, é muito difícil, mas, na realidade, é a única maneira positiva de demonstrar o verdadeiro Espiritismo, o Espiritismo cristão, o Espiritismo que ajuda, que ampara, que estimula, que orienta, que guia, que salva!

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