Allan
Kardec - Biografia
Apresentamos, a seguir, extratos da
biografia de Allan Kardec, como apresentada na introdução do livro
“O Principiante Espírita,” do mesmo autor.
A biografia foi terminada em São Paulo, em dezembro de 1955 e escrita por
Júlio Abreu Filho.
“À
3 de Outubro de 1804, às 19 horas, a casa do magistrado Jean-Baptiste-Antoine Rivail,
na cidade de Lyon, rue Sala 76, ouvia os primeiros vagidos
de uma criança destinada a influir poderosamente nos destinos da humanidade...
O registro civil, feito no dia
seguinte, indicava o nascimento supra de Denizard-Hippolyte-Léon Rivail, sendo seus pais o magistrado acima
mencionado e sua esposa Jeanne Duhamel...
Até hoje são escassos os dados
biográficos daquele que mais conhecido se tornou sob o pseudônimo de Allan
Kardec...
Antes, porém, de entrar no estudo do
seu ambiente, vejamos a razão de ser do pseudônimo Allan Kardec, que vira
apagar o nome de Hippolyte-Léon-Denizard Rivail.
Um dos
princípios fundamentais do Espiritismo, na Codificação Kardeciana, é a
reencarnação, isto é, o das vidas sucessivas e interdependentes. No início de
seu trabalho filosófico, um Espírito revelou ao Codificador que o conhecia de
remotas existências, uma das quais passada no mesmo solo da França, onde a sua
individualidade tinha revestido a personalidade de um druida, chamado Allan
Kardec. Sabe-se a posição
social desses sacerdotes, sorteados entre a juventude da nobreza; mas, também,
é sabido que os druidas proibiam a construção de templos e a representação
figurada dos Deuses ou Espíritos...
...é de
notar-se a coincidência entre certos princípios do Druidismo e a obstinação de Allan Kardec em subtrair o Espiritismo à tendência
das massas menos cultas em transformá-lo numa religião...
Kardec era um altruísta na mais alta
acepção do vocábulo, porque não esperava adquirir muito para dar as sobras:
tinha um sentido prático da solidariedade humana - dessa
solidariedade feita de
companheirismo, de camaradagem fraterna, de simpatia pelo alheio esforço, de
boa disposição para ajudar os outros com a própria experiência, de bom ânimo
para ensinar - principalmente de graça ...
Por
outras palavras: foi um espírito altamente cônscio de sua função social. E a
realizou magnificamente, sem estardalhaço, sereno e compenetrado...
Entre os anos de 1824 e 1849
publicou o Sr. Rivail, entre outras, as seguintes obras:
-Curso Prático e Teórico de
Aritmética;-Gramática Clássica da Língua Francesa; -Catecismo Gramatical da
Língua Francesa; -Programa dos Cursos Ordinários de Química. Física, Astronomia
e Fisiologia; -Instruções
sobre as dificuldades ortográficas.
Na sua folha de serviços à mocidade
de seu tempo está a regência das seguintes matérias, em cursos parcialmente
gratuitos - repetimo-lo - onde de par com os seus conhecimentos enciclopédicos,
patenteia-se o esforço em bem servir os seus semelhantes: matemática, física,
química, astronomia, retórica, anatomia comparada, fisiologia e língua
francesa. Falava corretamente inglês, alemão, holandês, espanhol e italiano e
era grande conhecedor do grego e do latim.
Cabe aqui destacar, em poucas
linhas, um aspecto da cultura do Sr. Allan Kardec - os seus estudos sobre
magnetismo e hipnotismo, matérias que lhe foram de valioso auxílio nos estudos
iniciais do Espiritismo ...
À época, a França, cognominada a filha primogênita da Igreja, assistia ao naufrágio da fé,
resultante do choque entre a Ciência e a Religião. Dona de um mais largo e
profundo conhecimento das leis da natureza, a humanidade estava preparada para
passar da fé imposta à fé raciocinada, isto é, da crença para a certeza. A
ciência oficial desdenhava tudo quanto pudesse, direta ou indiretamente,
conduzir a um postulado da religião; em contrapartida a religião, fechada numa
filosofia apriorística, verberava toda tentativa intelectual que pudesse atuar
como um sopro sobre o castelo de cartas do dogmatismo...
O
único homem que teve a visão da importância moral; e sociológica da
fenomenologia espírita foi o Dr. Rivail. Por isso mesmo deveria ele apagar-se no mundo
oficial da instrução pública, onde se fizera respeitado e querido, para se dar
a uma nova obra - a da construção de toda uma filosofia derivada - que importa
? - dos golpes que os chamados mortos vibravam sobre mesas, paredes e móveis.
Ia desaparecer o cientista Rivail
para surgir o filósofo Allan Kardec.
Era
aquele renascimento espiritual de que falava
Jesus Cristo a Nicodemos,
Jo(14,26),“a quem o Pai enviará em meu nome” e que “ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar
de tudo o que vos tenho dito.”
Se
nos adentrarmos no texto e em outras passagens correlatas, veremos que se trata
de um ser despersonalizado, O Consolador, o qual figura nas
versões evangélicas que nos chegaram com o Espírito Santo. Cabe, entretanto, notar que não se trata de uma individualização,
nem da suposta terceira pessoa da trindade católica: estamos em frente a uma
expressão genérica, onde o vocábulo santo
é apenas um adjetivo qualificativo muito respeitoso e, por isso mesmo,
historicamente respeitável, posto que sem a necessária força para, com o dogma,
sobrepor-se à razão.
O
escolhido foi Allan Kardec e não o Dr. Rivail, para significar uma
individualidade eterna e não uma personalidade transitória e, ainda, para a
ligar a uma etapa em que os valores espirituais eram mais expressivos do que as
formas exteriores do culto.
Foi em 1854 que o Sr.
Allan Kardec tomou conhecimento das mesas girantes e falantes, através
de uma conversa com o Sr. Fortier, seu colega na Sociedade dos
Magnetistas. Ao ser informado de que, magnetizada, as mesas podiam mover-se e
davam respostas às nossas perguntas, a resposta do Sr. Kardec foi de absoluta descrença, desde que a mesa
não possuía nervos nem cérebro, nem podia tornar-se sonâmbula.
Pouco depois, um outro magnetista, o
Sr. Carlotti,
lhe fez minuciosos relatos de experiência a que assistira. Em conseqüência do
que pode ele dispor-se a assistir às primeiras sessões práticas, em maio de
1855, em casa da Sra. Roger, em presença do já citado Fortier e da Sra. Plainemaison. Deste
último cavalheiro ouviu relatos num tom diferente, frio e grave, cheio de
argumentos que se acomodavam aos princípios científicos.
Surgiu
daí a possibilidade de assistir a reuniões regulares, em casa da Sra. Plainemaison, à rua Grange-Batelière, 18, ainda no mês de
maio já referido.
Repetiam-se as sessões, numa das
quais conheceu ele a família Baudin, residente à rua Rochechouart.
Convidado para as sessões hebdomadárias da família Baudin - é o Sr. Allan Kardec quem o diz - “ aí fiz os primeiros estudos sérios em Espiritismo, mais por observação
do que por efeito de revelações”. E prossegue: “A essa nova ciência apliquei, como tinha feito até então, o método
experimental; jamais formulei teorias preconcebidas”. E logo mais adiante:
“Nesses fenômenos entrevi a chave do tão obscuro e
controvertido problema do passado e do futuro e a solução que, durante toda a
vida, tinha buscado. Numa palavra, era uma revolução completa nas idéias e nas crenças, sendo, pois, necessário
proceder com circunspecção, e não com leviandade, ser positivista em vez de
idealista, para não ser arrastado por ilusões.”
Eis a evidenciação do homem de
ciência.
O Sr. Allan Kardec vira nessas
manifestações uma prova da existência da alma e de sua sobrevivência ao transe
da morte. Mas, também, percebera que cada Espírito possuía um grau de
conhecimento e de moralidade, pelo que esse mundo invisível, que nos envolve,
oferecia uma gradação infinita.
O Sr. Allan Kardec contou com a
cooperação de amigos para levar adiante a sua obra. Entre esses amigos cabe uma
referência particular ao Sr. Carlotti, já citado; ao editor Didier,
médium e ao seu filho, também médium; ao lexicógrafo Antoine-Lêandre Sardou e
seu filho, o médico, escritor e dramaturgo Victorien Sardou, também médium, que
prestou relevantes serviços à doutrina, no papel de interprete dos Espíritos
que ofereciam minuciosas descrições e belíssimos desenhos...; o Sr. René Taillandier, membro da Academia de Ciências e
outros...
A
primeira edição de O LIVRO DOS ESPÍRITOS data de 18 de Abril de 1857.
A 1º de Janeiro de 1858 lança a REVUE SPIRITE, pequena revista de 32
páginas, em média, destinada não só a propaganda mas - e principalmente - à
provocação da opinião pública e ao estudo da fenomenologia espírita e à
discussão das hipóteses provisórias, até que, bem verificados os fatos, se lhes
pudesse dar uma explicação científica e uma posição no quadro geral da
filosofia espírita.
Em julho de 1858 foi lançado um
pequeno volume com a doutrina condensada, sob o título
O QUE É O ESPIRITISMO?
Em janeiro de 1861, a casa Didier
& Cie lança o segundo livro básico - O LIVRO DOS MÉDIUNS.
Em 1862, lançou duas pequenas
brochuras de propaganda doutrinária, posteriormente abolidas, à vista da larga
aceitação da Revista Espírita. Eram elas
O ESPIRITISMO NA SUA EXPRESSÃO MAIS SIMPLES e REFUTAÇÃO ÀS CRÍTICAS AO
ESPIRITISMO.
Com um volume encerrando a filosofia
da Doutrina Espírita e outro a técnica para a utilização dessa nova ciência, em
breve a trilogia se completava pelo estudo da parte moral. Esse terceiro livro
fundamental teve a sua primeira edição em Abril de 1864, sob o nome Imitação do
Evangelho Segundo o Espiritismo. Refundindo em nova edição, que lhe deu caráter
definitivo, o nome primitivo foi substituído pelo atual - O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO.
Em começo de Agosto de 1865 as
livrarias exibiam O CÉU E O INFERNO
ou A
JUSTIÇA DIVINA SEGUNDO O ESPIRITISMO.
Em 6 de Janeiro de 1868 aparece A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES
SEGUNDO O ESPIRITISMO.
O Sr. Allan Kardec tinha vindo já
maduro para os trabalhos da Doutrina dos Espíritos. Contava cinqüenta e um anos e era portador de lesão grave no
coração.
Desencarna,
por ruptura de um aneurisma da aorta, na véspera de sua instalação em novo
endereço, em 31 de Março de 1869, aos 65 anos de idade.
Foi sepultado no cemitério do Père Lachaise.
Não deixou descendência.
Casara-se, em Paris, a 6 de
fevereiro de 1832, aos 28 anos de idade, com a Professora Amélie Gabrielle
Boudet, nascida a 23 de novembro de 1795, portanto, nove anos mais velha do que
ele...
Mme. Boudet desencarnou em 21 de
Janeiro de 1883, aos 89 anos de idade.”
Em “Veleiro de Luz” de Bezerra de
Menezes por Mª Cecília Paiva, lemos mensagem de D. Pedro II (espírito) sobre o
desencarne de
Allan Kardec:
“A Morte do Codificador”
“Corria
o ano de 1869.
Exatamente no dia 31 de março, o céu
de França recobriu-se de luzes.
Dos arcanos do infinito foram
tiradas as mais sublimes notas, os mais
leves harpejos e com eles adornada a residência do Codificador.
Ao som da música celeste e das
flores luminosas que atapetavam todo o caminho, desprendeu-se do casulo
terrestre o Codificador do Espiritismo.
Para os homens, uma simples morte,
para o Cristo de Deus, o regresso de um missionário vitorioso e por isso mesmo
homenageado com as honras da glória justa e merecida.
O túmulo de Kardec, significaria
para a Humanidade muito mais que o simples pedaço de terra do Père Lachaise.
Era a base sólida da Verdade que surgia triunfante para o Mundo.
Rasgara-se mais uma vez os véus dos
templos e, sob a égide do Cristo de Deus a seiva viva do Evangelho passava a
circular vitoriosa por todo o planeta, levando aos corações as flores do céu.
A
morte do Codificador não era simplesmente o tombar de um corpo humano na terra
fria e úmida, mas o renascimento glorioso do Cristianismo puro.
Irmãos, amigos que recebestes de
braços abertos a Revelação do Senhor, olhai o céu constelado de luzes, o vosso
Brasil, abençoado pelo cruzeiro magnífico e esplêndido, verificai a paz que
vibra em todos os recantos de vossa
Terra; silenciai diante da Majestade Divina que se vos demonstra com tanta
força, bendizei a vida jubilosa de cristãos voltados para o supremo ideal e
colocai estrelas de amor em vossos caminhos e espargir as luminosidades do
Espiritismo por todos os homens.
Arregimentai-vos sob a luz
esplendente do estandarte de Ismael e erguendo-vos com o Cristo, edificai um
Mundo de harmonia e felicidades.
Levantai a Humanidade ao som da
música divina do Evangelho, usai as armas da caridade, do amor e da paz.
Que os céus esplêndidos e belos, que
o esplendor de vossa Terra vos diga da promessa cumprida do Senhor,
nutrindo-vos do mel abençoado do cristianismo redivivo.
Que
a lembrança do Codificador seja para vós estímulo, luz e paz.”
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