Desobsessão Coletiva
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Dezembro
1999
“Qual é o teu nome?" - indaga Jesus. Responde-lhe: “O meu nome é Legião, porque somos muitos.” E lhe imploravam com
insistência que não os mandasse para fora daquela região (Gerasa). (Marcos
5:9-10).
Obsessão é o maior
flagelo da Humanidade. Os vínculos dolorosos estabelecidos na eternidade entre
as almas que vivem no Planeta surgiram e se perpetuam há milênios,
aprisionando-as entre si e caracterizando a massa de Espíritos que aqui reside
como primitiva. Com raízes no egoísmo desenfreado, vivemos ainda imersos em
sombras que atuam tanto nos indivíduos como nas coletividades, instituições,
famílias, cidades, povos, obstaculizando os anseios incipientes de redenção e
libertação.
Na Codificação, Kardec estuda a obsessão em “O Livro dos
Médiuns”, no capítulo XXIII, enfocando aqueles casos em que os médiuns eram obsidiados
e como se devia fazer para evitá-la ou combatê-la, fossem casos simples de
fascinação ou subjugação.
Em obras complementares, André Luiz estuda o assunto com
detalhes, publicando até mesmo uma obra específica, de título 'Desobsessão",
em 1946.
Por todo o Brasil, no Centro Espíritas, vão surgindo
reuniões mediúnicas voltadas para o seu tratamento, caracterizando-se pelo
diálogo fraterno e o esclarecimento dos obsessores trazidos pelos mentores
espirituais, que se manifestam através da psicofonia. Hermínio C. Miranda em “Diálogo
com as Sombras”, de 1979, aprofunda o tema valorizando ainda mais a doutrinação
e o atendimento individualizado.
Nas obras de André Luiz, pela mediunidade de Francisco
Cândido Xavier, bem como nas de autores espirituais como Manoel Philomeno de
Miranda, há referência às manifestações de grupos de Espíritos vinculados a
certos casos por eles narrados.
Durante sucessivos anos de experiência em reuniões e
desobsessão, notamos, em muitos casos, a presença de grupos maiores ou menores
de Espíritos que eram identificados pelo autor e por médiuns videntes como
sendo os responsáveis pela influência nociva sobre os doentes atendidos.
Em todos esses casos havia ou não a manifestação pela psicofonia
de uma das entidades que fazia parte do grupo e do processo obsessivo. A partir
dos primeiros casos fomos desenvolvendo algumas técnicas para atender não
apenas ao Espírito comunicante (quando este se manifestava, “representando” os
demais) mas a todo o grupo coletivamente. Estas foram sendo testadas e na
medida que podiam ser repetidas em situações semelhantes com resultados
igualmente positivos, foram sendo incorporadas como recursos de tratamento.
Passamos ao estudo de alguns casos ou situações que
exemplificam a necessidade de se atentar para o coletivo, multiplicando os
benefícios do atendimento.
Muitas vezes comparece ou é trazida entidade que
desencarnou violentamente como vítima de guerra. São Espíritos que, passado um
tempo maior ou menor desde o conflito, por vezes séculos, se apresentam como
mutilados, sentindo dores físicas intensas, em várias partes do corpo, com fome
e frio, muitas vezes desconhecendo que já desencarnaram. Através da oração, do
diálogo fraterno e consolador e da transferência de recursos fluídicos para
ele, apresenta profunda recuperação de seus males físicos e morais. Por ocasião
de seu atendimento, médiuns percebem o cenário da última batalha e a presença
de inúmeros Espírito dispersos pelo chão, “agonizantes”, andrajosos, com
uniformes rotos, esquálidos, amontoados entre gritos e gemidos, armas, espalhadas...
Este quadro é cheio de vida, independentemente de quando tenha sido o confronto
e aqueles que ali permaneceram lá se encontram desde então. Este contexto se
apresenta quando iniciamos o atendimento para uma pessoa encarnada, doente, com
as mais variadas patologias, físicas ou mentais, incluindo a depressão, síndrome
do pânico ou a esquizofrenia. Outras vezes este contexto é aberto pela espiritualidade
mesmo sem estarmos atendendo a algum encarnado identificado no início. Quase
sempre o encarnado foi um dos agressores e responsáveis por tudo aquilo que se
apresenta no cenário do conflito e é quando o contexto todo é tratado, com a
recuperação e encaminhamento de todas as vítimas é que ocorre, algum tempo
depois sua melhora clínica, independente do tratamento médico concomitante.
Outras vezes o paciente encarnado é uma das vítimas e, apesar de mergulhado em
nova existência corporal, algo de si, através de vínculos sutis, em fenomenologia de
ressonância, o mantém ainda atrelado àquela experiência dolorosa. E com
repercussões negativas em si próprio, contribuindo para ou mesmo gerando sua
doença atual. Só com a abordagem ampla e coletiva em que todos são
beneficiados, recuperados e conduzidos para hospitais e colônias espirituais é
que se dá a reversão moral de todo o drama e a libertação da vítima bem como de
todos os envolvidos. A isto se segue, comumente, significativa melhora clínica.
Todo o desenrolar das diversas etapas de tratamento é monitorado pelos médiuns
videntes. Situações análogas têm sido geradas por guerras, revoluções,
conflitos armados em geral e apesar do tempo que delas tenha decorrido, suas
consequências ainda se arrastam até que tudo efetivamente seja tratado e se harmonize.
São verdadeiros bolsões de Espíritos, que sem energia externa benéfica e por
ignorância quanto aos meios para sua libertação detêm-se estagnados, sofrendo e
fazendo sofrer, consciente ou inconscientemente, por ação direta ou por
fenômenos ressonantes psíquicos.
Alguns dos casos tratados foram de guerras ou batalhas
conhecidas da História, mas a maioria situava-se sob o véu da obscuridade. Uma
de que me recordo foi na região de Hiroshima, onde restavam milhares de
Espíritos vitimados pela radiação ionizante no final da Segunda Grande Guerra.
Outra recente reunião possibilitou o atendimento às
vítimas de conflitos étnicos entre minorias da África e no Kosovo. Levas de
Espíritos são resgatadas e encaminhadas aos hospitais da espiritualidade.
Outra situação é a dos Espíritos enfermos que
desencarnaram por enfermidades diversas mais ou menos longas, que são trazidas
à psicofonia, manifestando suas dores, limitações funcionais e com a impressão
de estarem ainda no leito de hospital, geralmente em enfermarias, onde
permaneceram por muito tempo até serem resgatados. Espontaneamente os questionados
por nós referem-se a inúmeros outros doentes que vivem em situações semelhantes
no mesmo ambiente hospitalar. Uma vez confirmada esta realidade pelos próprios
médiuns em tarefa, após o atendimento do caso inicial, dedicamos a etapa
seguinte aos demais e com as técnicas e recursos pertinentes, os benefícios
lhes são dirigidos, alcançando a todos, modificando suas condições
perispirituais no próprio ambiente em que se demoravam, sendo, após, levados
para os núcleos de assistência na espiritualidade. Já houve casos em que o
mentor propunha o atendimento a determinados hospitais de nossa cidade para o
encaminhamento dos Espíritos aí retidos. Tivemos oportunidade de atender
processos semelhantes, mas de enfermos vitimados por epidemias como a peste
bubônica na Europa, há vários séculos ou por suicídio coletivo de tribo
indígena na Amazônia em 1991. A distância não impede que possamos atendê-los,
bem como a defasagem de tempo entre o ocorrido e a data dos atendimentos.
Por vezes, são trazidas vítimas de acidentes de avião,
trens, terremotos, enchentes, incêndios, furacões. Tenham sido recentes ou
esquecidos nos registros humanos, permanecem juntas e em profundo sofrimento,
necessitando de energia externa para serem resgatados. Quando qualquer deste
tipo de vítima é trazido procuramos dedicar uma etapa seguinte na busca de
grupos de entidades com semelhante padecimento vinculados entre si e ao que foi
trazido inicialmente. Busca tratamento ainda na região onde se deu a catástrofe
e posterior encaminhamento.
Uma última situação comum que gostaríamos de lembrar é a
dos Espíritos aprisionados em regiões umbralinas ou trevosas por magos, gênios
do mal, “dragões” e outras criaturas maléficas que, em suas bases edificadas,
mantêm-se por séculos dominando e hostilizando aqueles mais enfraquecidos ou
doentes. São vistas em masmorras, cavernas, ambientes infectos, em meio a roedores,
morcegos, etc. Nesse caso, o coletivo se prende tanto às numerosas hostes dos
obsessores hierarquicamente organizados em verdadeiros impérios do mal, como às
de suas vítimas desencarnadas, sem falarmos do que atuam sobre pessoas e
instituições na crosta da Terra. A hierarquia das trevas, também na nossa
experiência, é algo impressionante e foi objeto de estudo por parte de Áureo no livro “Universo e Vida”, psicografia de Hernani T. Sant' Anna (edição da FEB). Para estas questões existem
recursos tanto para resgatar destas prisões coletivas aqueles que lá são
mantidos como para neutralizar a ação de seus algozes. Quando um de seus líderes é
encaminhado, um número apreciável de vítimas, dos dois lados da vida, é liberado
concomitantemente. Quanto maior seu poderio ou mais maléficos eles são, maior o
benefício e o número de criaturas que se libertam quando de sua capitulação e
afastamento definitivo, em relação aos que se lhes estavam subjugados.
Chama-nos a atenção a quantidade, o conjunto de Espíritos ligado a cada caso,
tanto no rol de seus asseclas como de suas vítimas encarnadas e desencarnadas.
À guisa de exemplo, lembro-me de que, recentemente, em uma de nossas reuniões,
compareceu pela psicofonia uma freira desejando falar-nos. Contava que ouvira
dizer que poderíamos ajudá-la e expôs seu problema. Havia um grupo de crianças
sob sua responsabilidade, mas que se detinha em região inferior sob influência
de certo Espíritos trevosos. Sem entrarmos no mérito causal e aplicando recursos
específicos, pudemos constatar a liberação e migração desse grupo de entidades
na direção de um jardim, em torno de um hospital na espiritualidade em colônia
próxima da crosta. A irmã acompanhou todo o atendimento até que a última
criança lá chegasse e, emocionada, agradeceu. A edificação das trevas foi vista
ruir ao impacto das vibrações de altíssima frequência dirigidas para lá.
“Na desobsessão coletiva não se preterem quaisquer dos cuidados
atinentes ao trabalho habitual de desobsessão como o preparo do médium, do
coordenador, a estruturação do grupo, o diálogo fraterno, a prece, a fluidoterapia...”
Como tratar as
situações coletivas? Na medida que o coordenador passa a verificar atentamente,
diante de cada caso que é trazido, a presença de outros Espíritos, como nos
exemplos citados, seja por sua sensibilidade seja pela dos médiuns videntes do
grupo, ele deve predispor-se a expandir o tratamento aos demais sem deixar de
cuidar daquele que, escolhido pelo Mundo Maior, exatamente propiciará que todos
se beneficiem. A frequência vibratória do comunicante, seja um enfermo, seja um
prisioneiro numa base ou edificação das sombras, é um registro de identidade
que ele irradia e que possui vínculos mente-fluido-magnéticos com todos aqueles
que viveram (e ainda vivem) tal drama, tanto vítimas quanto eventuais causadores.
Após a constatação e o diálogo iniciais, o coordenador deve projetar energia
mental, consciente do que se passa com o grupo em questão, de tal modo que suas
reais necessidades espirituais sejam atendidas, de forma a plasmar, por
exemplo, a recuperação, integridade e saúde de seus perispíritos ou sua
libertação dos liames que os mantinham cativo. Após esta etapa fundamental
faz-se necessária a condução de todo o grupo para as regiões astralinas, onde
estão os hospitais e zonas de triagem para que lá o tratamento tenha
continuidade e se conclua, sob a égide dos benfeitores do Alto. A condução
através de energia mental e vital emitida pelo doutrinador é acompanhada pelos
médiuns até que se complete, certificando-se de que todos foram beneficiados e
que efetivamente chegaram até lá. Cada grupo de trabalho conta com a cobertura
necessária destes núcleos de assistência e guardam relação “geográfica” com sua
localização na Terra.
Não se preterem
quaisquer dos cuidados atinentes ao trabalho habitual de desobsessão, como o
preparo dos médiuns, do coordenador, a estruturação do grupo, o diálogo
fraterno, a prece, a fluidoterapia... A energia vital do grupo, a coesão e
solidez da corrente e o monitoramento pela vidência são essenciais. Alguém
poderia questionar por que não se deixar para a Espiritualidade Superior
realizar estas coisas no mundo espiritual. Pelas mesmas razões que não esperamos
que eles façam e resolvam no mundo espiritual os atendimentos individuais,
trazendo-os através da psicofonia.
Lembramos ainda que esta abrangência que a atividade de
desobsessão pode alcançar surgiu da experiência no trato dos casos individuais
e foram acontecendo naturalmente na medida que notávamos o conjunto de
entidades vinculadas a cada caso e nos propúnhamos a beneficiá-las.
Queremos ressaltar
que: 1) Processos obsessivos envolvendo grande número de vítimas ou algozes são
comuns. 2) As situações pendentes, acumuladas na esteira do tempo abrangendo
questões morais e cármicas, vinculando os seres entre si, são graves, frequentes
e de enorme capacidade geradora de enfermidades e psicopatias humanas. 3) São,
por isso, incomparavelmente maiores os benefícios advindos do tratamento
coletivo. 4) Os recursos fundamentais para se estender o atendimento para
grupos de Espíritos são os mesmos dos trabalhos bem orientados de desobsessão,
acrescidos de alguns requisitos e condições. 5) Os recursos originados e
trazidos pela Espiritualidade para esta expansão quali-quantitativa vão sendo
acrescidos na medida que o grupo funcione com esta proposição. 6) É patente o
interesse do Mundo Maior no sentido de que novos grupos se preparem para estes
cometimentos, auxiliando na mais efetiva reversão de tão doloroso quadro moral
de nosso orbe.
Referências Bibliográficas:
l. SANT’ANNA, Hernani T.
pelo Espírito Áureo. ed. FEB, 1978.
2. MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as Sombras, ed. FEB. 1976.
3. AZEVEDO, José Lacerda,
Espírito e Matéria. Novos Horizontes para a Medicina, ed. Pallotti, 1988.
4. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, ed, FEB 1993.
5. XAVIER. Francisco
Cândido. Pelo Espírito André Luiz, ed. FEB 1946.
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