quinta-feira, 11 de junho de 2020

O sepultamento



O Sepultamento
A palavra de Mateus

27,57 À tardinha, um homem rico de Arimateia, chamado José, que era também discípulo de Jesus,
27,58 Foi procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos cedeu-o.
27,59 José tomou o corpo, envolveu-O num lençol branco 
27,60 E O depositou num sepulcro novo que tinha mandado talhar para si na rocha. Depois, rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e foi-se embora.
27,61   Maria Madalena e a outra Maria ficaram lá, sentadas defronte do túmulo.                                                                                                       

            Para Mt (27,57-61), -Sepultamento - encontramos em “Elucidações Evangélicas”, de Antônio Luiz Sayão, a orientação sobre essa passagem:

            “José de Arimatéia e Nicodemos tiraram da cruz o corpo de Jesus, embalsamaram-no com uma preparação de óleos e mirra e o depositaram num sepulcro que ainda a ninguém servira, aberto na rocha, num horto pertencente ao primeiro.
            “Destruí este templo e eu o reconstruirei em três dias”, dissera Jesus, respondendo aos Judeus, que lhe pediam um milagre, um sinal, com que provasse o seu poder (João 2,19). Falando nesses termos do seu corpo, que era o templo a que se referia, aludia o divino Mestre ao que viria a chamar-se a sua “ressurreição.” 
            Confrontem-se com essas palavras suas os fatos que ocorreram no cimo do Calvário, de modo tão frisante, para que impressionassem os homens daquela e de todas as épocas e não deixassem dúvida sobre a sua realidade; - confrontem-se as mesmas palavras com estas outras por Ele proferidas, em referência não só ao sacrifício do Gólgota, mas também ao desaparecimento do seu corpo de dentro do sepulcro, estando selada a pedra que o fechava, ao seu reaparecimento depois desse sacrifício, às suas desaparições durante o desempenho da sua missão pública, sempre que se ocultava aos olhares humanos: “Deixo a vida para a retomar; ninguém ma tira; sou Eu que a deixo por mim mesmo; tenho o poder de a deixar e tenho o poder de a retomar; é este um mandamento que recebi de meu Pai (João 10,17-18); confrontem-se as citadas com estas outras: “Vós sois aqui de baixo, Eu, porém, sou do Alto; vós sois deste mundo, mas Eu não sou deste mundo (João 8,23); desci do céu, não para fazer a minha vontade mas a  daquele que me enviou (João 6,38); ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho que está no céu (João 3,13)”; -confrontem-se todas essas proposições e ver-se-á que elas assinalam de modo evidente e tornam inquestionável a origem extra humana de Jesus; fazem certo, indiscutível que, sendo sempre Espírito, debaixo daquele envoltório fluídico, tangível, Ele lia por si mesmo o pensamento dos homens e lhes penetrava as intenções.
            Ora, sendo Ele sempre Espírito livre das constrições da matéria corporal humana, é claro que sua morte, que os homens consideraram real, foi meramente aparente e que o que se chamou a sua Ressurreição não foi mais que um reaparecimento que Ele levou a efeito, retomando o corpo de que estivera antes revestido, de natureza perispirítica, com a aparência do corpo humano ”. 
           
            Para Mt (27,57-61), encontramos em “A Gênese”, de Allan Kardec, no seu Cap. XV, a orientação:

            “O desaparecimento do corpo de Jesus após sua morte há sido objeto de inúmeros comentários. Atestam-no os quatro evangelistas, baseados nas narrativas das mulheres que foram ao sepulcro no terceiro dia depois da crucificação e lá não o encontraram. Viram alguns, nesse desaparecimento, um fato milagroso, atribuindo-o outros a uma subtração clandestina.
            Segundo outra opinião, Jesus não teria tido um corpo carnal, mas apenas um corpo fluídico; não teria sido, em toda a sua vida, mais que uma aparição tangível; numa palavra: uma espécie de agênere. Seu nascimento, sua morte e todos os atos materiais de sua vida teriam sido apenas aparentes. Assim foi que, dizem, seu corpo, voltado ao estado fluídico, pode desaparecer do sepulcro e com esse mesmo corpo é que ele se teria mostrado depois de sua morte.
            É fora de dúvida que semelhante fato não se pode considerar radicalmente impossível, dentro do que hoje se sabe acerca das propriedades dos fluidos; mas, seria, pelo menos, inteiramente excepcional e em formal oposição ao caráter dos agêneres. Trata-se, pois, de saber se tal hipótese é admissível, se os fatos a confirmam ou contradizem.
            A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida. Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas circunstâncias da sua vida, revela os caracteres inequívocos da corporeidade. São acidentais os fenômenos de ordem psíquica que nele se produzem e nada têm de anômalos, pois que se explicam pelas propriedades do perispírito e se dão, em graus diferentes, noutros indivíduos. Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele revela o ser fluídico. É tão marcada a diferença entre os dois estados, que não podem ser assimilados.
            O corpo carnal tem as propriedades inerentes à matéria propriamente dita, propriedades que diferem essencialmente das dos fluidos etéreos; naquela, a desorganização se opera pela ruptura da coesão molecular. Ao penetrar no corpo material, um instrumento cortante lhe divide os tecidos; se os órgãos essenciais à vida são atacados, cessa-lhes o funcionamento e sobrevêm a morte, isto é, a do corpo. Não existindo nos corpos fluídicos essa coesão, a vida aí já não repousa no jogo de órgãos especiais e não se podem produzir desordens análogas àquelas. Um instrumento cortante ou outro qualquer penetra num corpo fluídico como se penetrasse numa massa de vapor, sem lhe ocasionar qualquer lesão. Tal a razão por que não podem morrer os corpos dessa espécie e por que os seres fluídicos, designados pelo nome de agêneres, não podem ser mortos.
            Após o suplício de Jesus, seu corpo se conservou inerte e sem vida; foi sepultado como o são de ordinário os corpos e todos o puderam ver e tocar. Após a sua ressurreição, quando quis deixar a Terra, não morreu de novo; seu corpo se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer vestígio, prova evidente de que aquele corpo era de natureza diversa da do que pereceu na cruz; donde forçoso é concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que carnal era o seu corpo.
            Por virtude das suas propriedades materiais, o corpo carnal é a sede das sensações e das dores físicas, que repercutem no centro sensitivo ou Espírito. Quem sofre não é o corpo, é o Espírito recebendo o contragolpe das lesões ou alterações dos tecidos orgânicos. Num corpo sem Espírito, absolutamente nula é a sensação. Pela mesma razão, o Espírito, sem corpo material, não pode experimentar os sofrimentos, visto que estes resultam da alteração da matéria, donde também forçoso é se conclua que, se Jesus sofreu materialmente, do que não se pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de natureza semelhante ao de toda gente.
            Aos fatos materiais juntam-se fortíssimas considerações morais.
            Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplos de resignação. Se tudo nele fosse aparente, todos os atos de sua vida, a reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse dos lábios o cálice das amarguras, sua paixão, sua agonia, tudo, até ao último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria passado de vão simulacro, para enganar com relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra: ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem.
            Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.”

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