O Monismo - Concepção materialista
da alma
Haechel
e o Cristianismo
por Fernando Coelho
Reformador (FEB) Setembro 1918
“O puro monismo, disse Haechel n’Os Enigmas, não é
idêntico no materialismo teórico, que nega o espírito e reduz o mundo a uma
soma de átomos sem vida, nem tampouco, ao espiritualismo, também teórico
(recentemente denominado de energética por Ostwald) que nega a matéria
considera o mundo como um simples agrupamento de energias ou forças naturais,
imateriais, disseminadas pelo espaço. Estamos plenamente convencidos, com
Wolfgang Goethe, de a matéria nunca existiu é nem pode agir sem o espírito,
como este também não o pode sem o auxílio da matéria.” Haechel classifica o seu
monismo de “igual ao de Spinoza” e, mais adiante, professa:
“ O Deus supra terrestre do dualismo conduz ao teísmo.
O intra cósmico do monismo ao panteísmo.
O dualismo separa o Universo em duas substâncias: um
mundo material e um
Deus imaterial, seu criador, conservador e diretor.
O monismo não reconhece senão uma única substância: Deus
e a Natureza.
Para ele, o corpo e o espírito (ou a matéria e a energia)
estão íntima e estreitamente unidos.
Haechel reduzia os enigmas do Universo a um só (concepção
monística), enquanto Emile du Bois-Reynard distinguia sete: natureza da
matéria e da força; origem do movimento; primeira aparição da vida; finalidade
da natureza; aparição da simples sensação e da consciência; razão e pensamento,
com a origem da linguagem, que se lhes aproxima, e livre arbítrio.
Goethe, no princípio do século passado, reconhecia ser o método
científico do Monismo “o único conforme a natureza...”
Antes,
porém, de rebatermos, ponto a ponto, a síntese da teoria hacheliana, exporemos
a interessante concepção da alma do sábio professor.
Alma
é uma função de certas partes do cérebro, diz ele.
Argumento patológico: assim como a esfera visual e o
centro da linguagem não funcionam quando os ataca a moléstia, o corpo doente do
cérebro deixa de executar as funções próprias ao que chamamos alma.
A alma desaparece após a morte (tanatismo).
O espaço infinito está cheio de um éter irrespirável.
O mundo é eterno, infinito e ilimitado.
A substância que o compõe, com os seus dois atributos –
matéria e energia, enche o espaço infinito e se acha em estado de movimento
perpétuo (perspectiva como lógica do monismo).
Réplica: Sem recorrermos ao já serôdio (tardio), porém
irrefutável princípio – todo efeito supõe uma causa – contradiremos as teorias
do materialismo, acima expostas, baseados tão somente na força do raciocínio e
da lógica.
Alma é uma função do cérebro, disse Haechel, sem se
lembrar, todavia, que adiante afirmara não negar a sua doutrina, diferente do
que se chama teórico materialismo, a existência do ser espírita.
Ora, aí vai um contrassenso.
A existência de um espírito, inerente à matéria,
dirigindo-lhe os movimentos e as ideias, presidindo-lhe os atos, prova
simplesmente que esse espírito, força diretora, não é nem deve ser apenas uma
função da matéria que dirige.
E sim alguma coisa a mais.
Exatamente o que Haechel não pode, não tentou ... ou não
quis entender.
Logo, a alma não é uma simples função do cérebro.
Tem existência própria, sua, individual, que a torna
independente do corpo. Nem se concebe mesmo uma força diretora dependendo do
motor que dirige, isto é, do instrumento passivo da sua vontade.
Negar portanto a existência
independente e a hegemonia da alma sobre a matéria é negar a própria
matéria.
Além disso, os fenômenos manifestados em grande número de
médiuns e atestados por centenas de sábios, a maior parte dos quais
materialistas confessos, tem provado que o espírito age independente do corpo,
quer dizer, embora com a paralização do funcionamento dos seus órgãos.
A alma desaparece após a morte!
A prova da existência dos espíritos, de que mais adiante
nos ocuparemos, vem destruir essa arrogante e presunçosa teoria.
Quanto ao éter irrespirável de que está cheio o espaço
infinito, a mesma objeção.
O mundo é eterno, infinito e ilimitado.
A sua causa? Os materialistas fogem de explica-la, Razão
simples: temem falar em Deus.
Haechel, na sua obra principal, entre muitas outras
coisas espirituosas diz que a moral cristã se resume nestas seis coisas
hediondas:
1º
- O desprezo de si mesmo. O egoísmo é necessário. O altruísmo é egoísmo
raffiné.
2º - O desprezo do corpo. Jesus pregou o ódio contra a
higiene, a preguiça, o desleixo da carne.
3º - O desprezo da Natureza.
4º - O desprezo da civilização, consequência do desprezo
pelos bens terrestres.
5º - O desprezo da família.
6º - O desprezo da mulher.
Paulo disse “Il est bon pour l'homme de ne point toucher
une femme.”
Positivamente, Haechel era u ignorante completo do cristianismo puro.
Como
os padres, com certeza, leu mas não soube interpretar o simbolismo sublime do
Evangelho.
A religião que prega o aperfeiçoamento de si mesmo, o
progresso espiritual pelo trabalho incessante, não ensina está visto, esse
desprezo.
“Hours la charité point de salut.”
Desprezo da natureza prega a ciência que estabeleceu,
baseada nas falsas teorias de Darwin, o egoísmo – pedra angular da vida.
O desprezo do corpo. Jesus não cogitou do corpo. A sua
missão de reformador inibia-lhe o cogitar em assuntos tão banais e pueris. De
modo algum, porém, pregou o desprezo e o castigo da carne.
Pelo
contrário, disse: “Não é revestindo o cilicio que vencerás a carne.
É estando constantemente alerta contra os seus desmandos,
contra os seus excessos, Não vos martirizeis no intuito de agradar ao Senhor.
Vigiai e orai incessantemente, isto é; pensai
incessantemente.”
Não incitou o homem ao desprezo da família.
Apenas disse que, se esses laços materiais fossem um
empecilho à salvação, era mister que o homem os quebrasse, em benefício
próprio.
O que não é desprezo de si mesmo...
Quanto à mulher, basta lembrar que deprimente era a sua
condição antes da vinda do Messias.
Todos os historiadores são acordes em confirmar que Jesus
a levantou e a ergueu à face dos homens.
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