Meia
Noite
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Dezembro
1942
“Era perto da meia noite; Paulo e Silas oravam e
cantavam hinos a Deus e os outros presos escutavam.” (Atos, 16:25)
Reveste-se de
profundo simbolismo aquela atitude de Paulo e Silas nas trevas da prisão.
Quando numerosos encarcerados ali permaneciam sem
esperança, eis que os herdeiros de Jesus, embora dilacerados de açoites,
começam a orar, entoando hinos de confiança.
O mundo atual, na esteira de transições angustiosas e
amargas, não parece mergulhado nas sombras que precedem a meia noite?
Conhecimentos generosos permanecem eclipsados. Noções de
justiça e direito, programas de paz e tratados de assistência mutua são
relegados a plano de esquecimento. Animais furiosos aproveitam a treva para se
evadirem dos recônditos escaninhos da alma humana, onde permaneciam guardados
pela cobertura da civilização, e tentam dominar as criaturas empregando o
terror, a perseguição, a violência. Quantos homens jazem no cárcere das
desilusões, da amargura, do remorso, do crime? Através de caminhos desolados,
ao longo de campos que as bombas devastaram, dentro de sombras frias, há mães que
choram, velhos desalentados, crianças perdidas.
Quem poderá contar as angustias da noite dolorosa? Os
aprendizes do Evangelho, igualmente, sofrem perseguições e calunias e, em quase
toda parte, são conduzidos a testemunhos ásperos. Muitos envolveram-se nas
nuvens pesadas, outros esconderam-se fugindo à hora de sofrimentos; mas, os
discípulos fiéis, esses suportam ainda açoites e pedradas e, não obstante as
trevas insondáveis da meia noite da civilização, oram nos santuários do
espírito eterno e cantam cânticos de esperança, alentando os companheiros.
Enquanto raras almas sabem perceber os primeiros rubores
da alvorada, em virtude da sombra extensa, recordemos os devotados obreiros do
Mestre e busquemos na prece ativa o refúgio consolador. Se o mundo experimenta
a tempestade, procuremos a oração e o trabalho, a fé e o otimismo, porque outro
dia glorioso está a nascer e em Jesus Cristo repousa nossa resistência
espiritual.
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