domingo, 14 de junho de 2020

"Cruzada gloriosa" contra os Espíritas



E não faz tanto tempo assim... 
“Cruzada gloriosa” contra os Espíritas
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)  
Reformador (FEB) Janeiro 1958  

            Quando dizemos da nossa convicção de que hoje, ainda mais que no passado, os pretensos herdeiros de Jesus são irremediavelmente afastados do Cristianismo, afirmamos irretorquível verdade. E não é preciso esforço algum para evidenciar essa convicção. O Espiritismo constitui expressão do verdadeiro Cristianismo em sua forma primitiva pois não tem sacerdotes, não tem rituais nem dogmas ininteligíveis e não exige de seus profitentes uma fé cega e escravizante, constitui a maior vítima da intolerância dos que não compreendem o reinado sincero do Evangelho, pregado e exemplificado da melhor maneira possível pelos espíritas.

            O Catolicismo, na impossibilidade de conter o crescimento do Espiritismo, lança emissários para, faltando à fé do Evangelho, dizerem falsidades dos espíritas, acirrando o ódio da ignorância contra nós, como sucedeu, em Junho último, na cidade de Aparecida, em São Paulo, quando o Centro Espírita Apóstolo Paulo foi depredado. As paredes do humilde centro foram pichadas e na foto estampada pelo jornal “Última Hora”, de S. Pauto, edição de 18 daquele mês, está escrito na parede: “Viva Nossa Senhora da Aparecida Rei”. A emissora de rádio local diariamente, em todas as horas, desde que fora anunciada a inauguração do Centro, instigava os malfeitores a uma atitude violenta. O Jornal católico “Santuário de Aparecida”, órgão oficial da basílica do mesmo nome, publicou, entre outras coisas, um trecho que é, em síntese, o seguinte: “Não houve vítimas pessoais. e nem havia congregados marianos participando das “manifestações”. É possível que houvesse alguns deles no meio da multidão, mas, em absoluto, eles participaram das depredações. Aconselhamos às outras religiões que se abstenham de tentar instalar-se em Aparecida, para que haja outras manifestações da mesma natureza.”

            Depois do ataque referido, feito por assaltantes em número superior a duzentas pessoas (a multidão a que se refere o jornal católico), houve um banquete homenageando os atacantes pela “vitória alcançada,” uma espécie de “cruzada”, a que não deve ter faltado o “Deus o quer” das lutas sangrentas contra os... ímpios. Conceituada família local comemorava, assim, festivamente, essa prova dolorosa de desconhecimento dos deveres cristãos, de desrespeito ao princípio de liberdade religiosa determinado pela Constituição Brasileira.

            Os argumentos sugeridos pelo clero local, baseiam na presunção de que Aparecida é uma cidade inteiramente católica. Se isso fosse realidade, o Centro Espírita “Apóstolo Paulo” não teria adeptos. O que exacerbou os sentimentos anticristãos desses cristãos sem Cristo foi o acolhimento simpático e a solidariedade que o Centro encontrou em Aparecida. Esse triste episódio de intolerância, que não foi o primeiro e desgraçadamente não será o último, deve chegar ao conhecimento das autoridades da ONU, para que lá se verifique que, no Brasil, apesar das franquias constitucionais, ainda prevalece, em certas cidades, graças à influência do clero católico, a sombria mentalidade medieval.

            Um outro jornal católico – “Fátima Paulista”, do mesmo citado mês, referindo-se a centros de Umbanda, disse que são “casos de polícia”. Aludiu à adoração de “deuses de pau”, feitos pela mão do homem”, como se as imagens, também de madeira ou de barro, usadas em certos templos de uma religião decaída, que todos conhecemos, não fossem também feitas pela mão do homem, a fim de satisfazerem a p, a fim de satisfazerem a preceitos e conveniências herdadas do Paganismo.

            A incongruência é grande. Nós, no entanto, sabemos encará-la com o espírito de tolerância que o Evangelho de Jesus recomenda. No Espiritismo, legado por Allan Kardec, como mandatário do Espírito de Verdade, não temos igrejas, sacerdotes, liturgias, nem construímos templos inacabados, que são fontes inexauríveis de renda. Lemos, não faz muito tempo, que as torres da Catedral de São Paulo estão neste caso. Foram arrecadados cinquenta e cinco milhões para atender a essas obras, numa época em que tanta gente vive morrendo de fome pelas ruas... E ainda são pedidas contribuições, como em anúncio publicado sobre uma “novena”, onde se diz que, para uma alma subir mais depressa aos céus, os interessados devem contribuir com alguma coisa de tangível...

            Ó Jesus! Ó Jesus! Derramai sobre esses irmãos perturbados pela cegueira sectária, mais um pouco de luz, a fim de que eles pelo menos honrem o vosso Evangelho respeitando os ensinamentos nele contidos! Que lhes seja dada essa boa ventura um dia!

            Quanto ao que têm feito contra o Espiritismo e os espíritas, “perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!”
           


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