quarta-feira, 17 de junho de 2020

Com que direito?



Com que direito?
C. Wagner
Reformador (FEB) Novembro 1923

            -Se o escriba me perguntar: Com que direito fazes isto? Que lhe responderei?

            O AMIGO - Não te preocupes com o escriba. Bem pode ser que também os escribas sejam necessários. “Es muss auch solche Käuse geben (1), disse Goethe, falando de outra mui maliciosa personagem.
            O escriba é o gendarme do pensamento. Pode-se passar sem o gendarme? Concordo em que tem o pulso pesado e que a tolice é a forma ordinária de sua ação. Para ele, todo crente livre é um vagabundo. Pegaria pela gola o Espírito, se soprasse transgredindo as ordens.
            Mas, não te preocupes com o escriba e não o temas! Responde-lhe, se te convier, porém não suponhas que te dê ouvidos - Responde-lhe: Com que direito faço isto? - Com o direito que tem a ervinha de se tornar facho luminoso sob os raios do sol matinal, com o direito que tem a fonte de ser múrmura (murmurante), com o que tem o carvalho de rugir, com o direito que tem de cair a pedra, donde o pássaro alça o voo.
            Se com isto o escriba não ficar satisfeito, manda que vá pedir à brisa seus documentos e os passaportes ao furacão.

(1) “Também há necessidade desses particulares.”


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