Com que
direito?
C.
Wagner
Reformador (FEB) Novembro
1923
-Se o escriba me
perguntar: Com que direito fazes isto? Que lhe responderei?
O AMIGO - Não te
preocupes com o escriba. Bem pode ser que também os escribas sejam necessários. “Es muss auch solche Käuse geben (1), disse
Goethe, falando de outra mui maliciosa personagem.
O escriba é o
gendarme do pensamento. Pode-se passar sem o gendarme? Concordo em que tem o
pulso pesado e que a tolice é a forma ordinária de sua ação. Para ele, todo
crente livre é um vagabundo. Pegaria pela gola o Espírito, se soprasse
transgredindo as ordens.
Mas, não te preocupes com o escriba e não o temas!
Responde-lhe, se te convier, porém não suponhas que te dê ouvidos - Responde-lhe:
Com que direito faço isto? - Com o direito que tem a ervinha de se tornar facho
luminoso sob os raios do sol matinal, com o direito que tem a fonte de ser múrmura (murmurante), com o que tem
o carvalho de rugir, com o direito que tem de cair a pedra, donde o pássaro
alça o voo.
Se com isto o escriba não ficar satisfeito, manda que vá
pedir à brisa seus documentos e os
passaportes ao furacão.
(1) “Também há necessidade
desses particulares.”
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