quinta-feira, 18 de junho de 2020

A maior aventura psíquica de que se tem notícia (Sir William Crookes)


Florence Cook

William Crookes


A maior aventura psíquica de que se tem notícia 
(Sir William Crookes)
Ney da Silva Pinheiro
Reformador (FEB) Julho 1986

            “Aqueles cujo espírito não se eleva acima das coisas vulgares sigam o seu caminho, não é a eles que se dirigem estas considerações", são palavras que liamos alhures e que fizemos nossas.

            Neste 4 de abril de 1985 (*) assinalamos o 66º aniversário da desencarnação, em Londres, no nº 7 de Kesington Park Gardens do eminente sábio Sir William Crookes. Nascido em Londres, em Regent Street, a 17 de junho de 1832, foi o primeiro cientista de alto gabarito que, na Europa, com surpreendente desassombro e admirável coragem, estudou, com severas e incomuns precauções científicas, o fenômeno mediúnico, concluindo, sem vacilações ou receios, com esta memorável profissão de fé raciocinada: “O Espiritismo está cientificamente demonstrado e seria covardia moral negar-lhe o meu testemunho.”

            (*) Apesar do tempo decorrido, julgamos oportuna a divulgação deste artigo, transcrito do jornal “A Luz de Damasco", de maio de 1985. (Nota de “Reformador”).

            Para apresentação desse nome venerando, verdadeiro missionário da ciência, demos a palavra ao insigne e insuspeito doutor Josef Lapponi, escritor, clínico, professor de Antropologia, protomédico de dois Papas (Leão XIII e Pio X) que, em estudo médico-crítico publicado sob o título de "Hipnotismo e Espiritismo" (1ª ed. FEB, págs. 138 a 143), desfazendo as ridículas agressões com que pretendiam nodoar a reputação científica de Crookes, declara, do alto de sua cátedra, com corajosa lealdade:

            “Físico igual aos maiores do mundo inteiro; que, aos vinte anos de idade, já havia apresentado importantes trabalhos sobre a polarização da luz; que, mais tarde, publicou trabalhos magníficos sobre os espectros luminosos dos corpos celestes; que inventou o fotômetro de polarização e o microspectroscópio; que escreveu obras notáveis sobre a química, e. especialmente, um trabalho de análise que se tornou clássico; que fez descobertas preciosas em astronomia e que contribuiu, grandemente, para o progresso da fotografia celeste; que foi enviado pelo Governo inglês a Orã para estudar um eclipse do Sol; que se distinguiu nos estudos da medicina, da higiene pública e das ciências naturais; que inventou um processo de amalgamação metálica por meio do sódio, empregado comumente, hoje, para extração do ouro, que descobriu um novo metal, o “talium”; e que, enfim, revelando à ciência o estado radiante da matéria, entrevista por Faraday, abriu caminho para a descoberta dos raios Roentgen, que se emprega para fotografar o invisível a olho nu.”
            “Esse homem, de inteligência tão alta e de ciência tão vasta, que passou sua vida a interrogar, com vigor extremo, os segredos da Natureza, foi quem submeteu a exame minucioso os fenômenos espíritas sob crítica severa da experimentação moderna, assistido, nessas pesquisas, de dois outros físicos de valor, William Huggins e Edmundo W. Cox.”
            "Com auxílio de instrumentos de precisão e de registradores automáticos, Crookes examinou, nos seus mínimos detalhes, os fenômenos produzidos sob os seus olhos. Ele experimentou, alternativamente, nas trevas e em pleno dia; fora e dentro das salas por ele escolhidas à luz elétrica e à luz fosfórica." E assim conclui o Dr. Lapponí: “Ora, depois de ter estudado os fenômenos espíritas, através de todo esse aparelhamento de precauções e com o maior ceticismo científico, Crookes se viu obrigado a repetir lealmente, o que, antes dele, Alfred Russel Wallace, o inventor da célebre hipótese da seleção natural, já havia dito:
            “Adquiri a prova certa da realidade dos fenômenos espíritas.”
            Charles Richet, Prêmio Nobel de Fisiologia, em conferência pronunciada na Faculdade de Medicina de Paris, em 24 de junho de 1925, com sua inconteste e respeitável autoridade, perante severo auditório, classificando William Crookes, textualmente, como “um dos maiores sábios do nosso tempo e de todos os tempos”, assim se referiu às suas célebres experiências e à sua obra científica (“Ciência Metapsíquica” de Carlos Imbassahy, ed. Mundo Espirita, 1949 págs. 14 a 40): “As experiências de Crookes são graníticas. Se tiverdes alguma curiosidade e alguns vagares, eu vos aconselharia que lêsseis, com cuidado, a detalhada exposição das experiências desse sábio, e ficaríeis convencidos da realidade
dos fatos, a menos que vos resigneis a encarar Crookes como um imbecil, o que seria mais imbecil ainda.”    
            “Crookes viu, em plena luz, mesas e cadeiras se deslocarem, flores aparecerem e se
moverem, um acordeão passar sobre a sua cabeça e tocar; ruídos retumbantes se produzirem, diante de sábios honestos e experimentados.”
            “Crookes viu Florence Cook (a médium) desdobrar-se em um fantasma; observou
com o auxílio de uma lâmpada de fósforo em seu próprio laboratório, e por muitas vezes, o fantasma de Katie King conversando com Florence."
            “Como se explica que esses fatos não tenham sido admitidos, e que se tenha inventado, para explicá-los, toda a sorte de inépcia caluniosa? Certo é porque os homens e os sábios, talvez, ainda mais que todos, têm medo das coisas novas."
            "Assim, quando Crookes lhes trouxe provas formidáveis riram-se. E eu, também,
ri, com os outros. Mas, hoje (penitencia-se Richet), depois de ter visto o que vi reconheço, enfim, que Crookes tinha razão.”

            O doutor Paul Gibier, Diretor do Instituto Bacteriológico (Instituto Pasteur) de Nova Iorque; ex-interno dos Hospitais de Paris; ex-Assistente de Patologia Comparada do Museu Histórico Natural de Paris; Membro da Academia de Ciências de Nova Iorque e da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres, e Cavalheiro da Legião de Honra da França, em seu livro “O Espiritismo”, 2ª ed. FEB; pág. 158, pronunciando-se sobre o assombroso trabalho de Crookes, escreve: “Até aqui, vimos escritores, poetas e filósofos, sem autoridade em matéria científica, opinando em favor dos fenômenos espíritas, isso, como se diz, não traz consequências. Mas eis que um fato grave se produziu: Um dos primeiros sábios do mundo, William Crookes, um experimentador, cujas obras suportam, sem desvantagem, comparação com as de Dumas, Wurtz, Berthelot, Frémy, pronunciou-se de modo mais afirmativo, baseado em provas experimentais, em apoio dessas coisas tenebrosas que se supunham sepultadas na noite da Idade Média. Que devemos concluir? Por que ousou dar como certos esses fatos extraordinários?”
            “Será acaso um impostor que tenha querido zombar do público? Mas com que interesse? Pelo contrário, não ignorava que qualquer fraude, se fraude tivesse havido, seria prontamente descoberta! E então seria a vergonha, seria a ruína, seria o desastre, o desabamento de uma vida honrosa de homem honesto e sábio reputado. Seria possível, no fim de uma vida tão bem preenchida, tornada gloriosa por tantas descobertas, uma só das quais bastaria para imortalizar um homem, que ele desceria do seu pedestal para revolver-se, miseravelmente, na lama! Não, não seria possível” concluiu Gibier.
            Como vemos, Crookes não é um homem comum, capaz de ser liquidado na voragem do tempo ou obscurecido pela insensatez da mediocridade. O seu exemplo e a sua obra imortal são um farol iluminando as consciências, uma página aberta à civilização, descortinando uma assombrosa realidade, um espetáculo inenarrável da grandeza divina. Enquanto a ciência e o homem não houverem destruído em sua frenética ignorância, as conquistas vivas da civilização, a memória desse sábio, desse benfeitor da Humanidade será lembrada como um dos propulsores do progresso.
            Não obstante, quando anunciou, depois de trinta anos de observações, que fora vencido pela evidência dos fatos, a Real Sociedade de Ciências de Londres, de que fora Presidente, se voltou contra ele, e o Secretário dessa Instituição, Stokes, protótipo da mentalidade retrógada da época, negou-se a aceitar o convite, que lhe fez Crookes, para presenciar os fatos, pois era daqueles piores cegos, que mesmo que visse não acreditaria. A publicação dos seus trabalhos, em 1874, produziu tal efeito que, por pouco: o fanatismo mais reacionário não eliminou Crookes da referida Sociedade, não fosse a imensa autoridade do sábio e a necessidade de justificarem a medida, demonstrando estarem erradas as suas deduções, corroboradas por vultos eminentes do cenário científico da época.
            A Verdade, porém, não deixará de ser Verdade, por força alguma, muito menos pela esdrúxula negação dos que nada entendem.
            Oscar d'Argonnel, no prefácio do livro “Fatos Espíritas”, de sua tradução, registra: “A existência da alma, que era apresentada como um dogma de fé por todas as religiões e que a filosofia nos mostrava por palavras, é hoje, graças ao Espiritismo, uma verdade científica.” E conclui: “A prova científica da existência da alma e da sua comunicação conosco é o legado mais brilhante que o século passado legou ao presente” e, acrescentamos nós, aos vindouros, principalmente pelos trabalhos de Crookes.

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