Nova Cruzada contra os Espíritas
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Maio 1957
Em Janeiro deste ano, terminou o Encontro Sacerdotal de
Confraternização e Estudos, com uma reunião no Seminário Central da Imaculada
Conceição do Ipiranga em S. Paulo. Um os temas, já se sabe, foi o Espiritismo
considerado “perigo grave”. Foram,
então, segundo a palavra de “piedoso”
frei, assentados planos para que a campanha de revivescência inquisitorial
iniciada e mantida contra o Espiritismo seja revigorada. Disse um jornal
paulista, noticiando o “acontecimento”; “Tal
campanha deverá atingir um máximo de intensidade este ano, quando a 18 de Abril,
data que coincide com a quinta feira santa, os espíritas comemorarão o primeiro
centenário da Codificação Kardecista. Em sua comunicação, frei Boaventura, traçou
algumas normas para essa campanha entre as quais citamos: o reconhecimento leal, pelos sacerdotes, do
Espiritismo como um perigo grave para a vida cristã no Brasil; que os padres se
dirijam aos católicos, excluindo os espiritas; que não tomem atitude de ataque
ao Espiritismo e sim de defesa do Cristianismo que está sendo atacado pelos espíritas;
que estudem o Espiritismo e, sobre ele, falem com o necessário conhecimento.
Considera ele, ainda, as manifestações espíritas como de puro paganismo, sem distinguir,
entre umbanda, quimbanda, alto ou baixo espiritismo, citando, a propósito,
sessões a que assistiu, por ocasião da passagem do ano, em praias do Rio, como
Leblon e Ipanema, com as conhecidas cerimônias da oferta de flores e prendas à
Iemanjá..” (“'Diário da Noite”, S.
Paulo, 7-1-57)
*
Tudo isso é monótono, enfadonho, soporífero. A falta de
argumentos sólidos e inteligentes, repisa o clero a mesma lengalenga. Ao dize
que o Espiritismo é um grave perigo para a Vida “Cristã”, houve um eufemismo
intencional: ele quis dizer “é um grave perigo para a vida católica”. Sim,
porque o Espiritismo, sendo o Cristianismo em sua pura forma primitiva, não
pode ser ameaça para a vida cristã, que ele estimula e esclarece. Mas, sendo o
Catolicismo uma deturpação clerical do Cristianismo, tem de temer o
Espiritismo, expressão moderna do Cristianismo do Cristo. Esta é a verdade.
Quem ouve O. F. M. dizer aos padres: “não tomem atitude de ataque ao
Espiritismo e sim de defesa do Cristianismo, que está sendo atacado pelos espíritas",
tem de sorrir, inevitavelmente. Os ataques aos espíritas são permanentes,
dissimulados ou ostensivos, conforme as circunstâncias. Ao mentir que os espíritas
atacam o Cristianismo, O.F.M. o que faz é atacar os espíritas... Nós não
atacamos o Cristianismo, porque porfiamos em ser verdadeiramente cristãos. Não
atacamos sequer o Catolicismo, mas nos defendemos de suas invencionices a nosso
respeito e restabelecemos a verdade, da qual eles procuram ausentar-se imperiosamente,
a todo momento.
Se os padres católicos fossem cristãos, os brasileiros não
estariam contemplando o espetáculo cotidiano de intolerância que eles dão nos
jornais, no rádio, na TV e no púlpito. Dizem-se cristãos, quando já não o são há
multo tempo. Um cristão ama a doutrina do Cristo e não a deturpa por cálculo,
ferindo o preceito “amai-vos uns aos outros". Consideram o Espiritismo “puro
paganismo”, quando não temos cultos, não idolatramos imagens, não inventamos
dogmas irracionais, não sujeitamos ninguém a crer no que não compreende. Jesus
não criou igrejas nem sacerdotes.
O Catolicismo copiou do paganismo a adoração de imagens,
a idolatria. Falseou o Cristianismo (veja-se a obra magnífica do Padre Alta - "O Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários”), usando Jesus como
bandeira, mas não lhe respeitando o Evangelho. E como prova do que afirmam aí está
a intolerância com que são tratados os espíritas, o ódio com que esses santíssimos
sacerdotes se referem ao Espiritismo, as afirmativas inverdadeiras que repetem,
absolutamente colidentes com a ética do Cristo.
Um outro livro que pode elucidar bem o leitor é “Cristianismo e Espiritismo”, de Léon Denis.
Em sua introdução, diz o famoso autor de “Depois
da Morte”: “Conhecemos tudo o que a doutrina
do Cristo encerra de sublime; sabemos que ela é por excelência a doutrina do
amor, a religião da piedade, da misericórdia, da fraternidade entre os homens.
Mas a doutrina de Jesus é a que ensina a Igreja Romana? A palavra do Nazareno
nos foi transmitida pura, sem mescla, e a interpretação que dela nos dá a
Igreja é isenta de todo elemento estranho ou parasita?”
Não pode haver comparação entre o Cristianismo dos
espíritas, fundado nos ensinamentos evangélicos, o Cristianismo primitivo, de
que o Espiritismo é a real expressão nos tempos atuais, e o “cristianismo” dos
que se intitulam “vigários de Cristo”, mas não se mantêm fiéis aos preceitos
divulgados por Jesus e por ele transmitidos aos apóstolos. Nosso desejo sincero
é que todos aqueles que se dizem cristãos respeitem os que também são cristãos.
Jesus não pregou a desarmonia entre os homens, mas o amor. Se o fez, querendo
que todos se amassem, com muito maior razão não aprova que a Igreja Católica,
que se diz cristã e constantemente se confunde, denominando-se Cristianismo,
falte aos mais elementares princípios da doutrina do Cristo. Como se pode ser
cristão cultivando a desarmonia, o ódio, a malquerença, a intriga, a mentira, a
calúnia, e desprezando o amor, a tolerância, a caridade? Não é possível. Ou se é
cristão com o Evangelho de Jesus ou não se é cristão. Os espíritas têm a consciência
tranquila porque são cristãos e procuram realizar o máximo para se conservarem
fiéis às lições evangélicas. E lamentam que haja tantos cristãos sem Cristo,
que amam a política, o poder, o fausto, preterindo tudo isso à humildade de que
Jesus foi o exemplo máximo.
Permaneçamos, ó espíritas, resguardados na serenidade da
nossa fé. Não podemos temer essa nova “cruzada” contra nós, porque nenhum mal
fazemos a quem quer que seja e só o bem procuramos praticar. Não usamos em vão
o nome de Deus e de Jesus. O nosso crime é mostrar ao povo as belezas morais do
Espiritismo cristão. A nossa culpa está em que o povo cada vez mais nos
compreende, cada vez mais nos apoia, cada vez mais busca no Espiritismo o
consolo e a esperança que a nossa Doutrina pode dar.
A Humanidade sabe de que lado está a boa causa.
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