“Cruzada gloriosa” contra
os Espíritas
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Janeiro
1958
Quando dizemos da nossa convicção de que hoje, ainda mais
que no passado, os pretensos herdeiros de Jesus estão irremediavelmente afastados
do Cristianismo, afirmamos irretorquível verdade. E não é preciso esforço algum
para evidenciar essa convicção. O Espiritismo, que constitui expressão do verdadeiro
Cristianismo em sua forma primitiva, pois não tem sacerdotes, não tem rituais
nem dogmas ininteligíveis e não exige de seus profitentes uma fé cega e escravizante,
constitui a maior vítima da intolerância dos que não compreendem o reinado
sincero do Evangelho, pregado e exemplificado da melhor maneira possível pelos espíritos.
O Catolicismo, na impossibilidade de conter o crescimento
do Espiritismo, lança emissários para, faltando à fé do Evangelho, dizerem falsidades
dos espíritas, acirrando o ódio da ignorância contra nós, como sucedeu em Junho
último, na cidade de Aparecida, em São Paulo, quando o Centro Espírita Apóstolo
Paulo foi depredado. As paredes do humilde centro foram pichadas e na foto
estampada pelo jornal “Última Hora”, de S. Paulo, edição de 18 daquele mês,
está escrito na parede: “Viva Nossa Senhora da Aparecida. Rei.” A emissora de rádio local diariamente, em todas
as horas, desde que fora anunciada a inauguração do Centro, instigava os malfeitores
a uma atitude violenta. O jornal católico “Santuário de Aparecida”, órgão
oficial da basílica do mesmo nome, publicou, entre outras coisas, um trecho que
é, em síntese, o seguinte: “Não houve vítimas pessoais, e nem havia congregados
marianos participando das “manifestações”. É possível que houvesse alguns deles
no meio da multidão, mas, em absoluto, eles participaram das depredações. Aconselhamos as demais religiões que se
abstenham de tentar instalar-se em Aparecida, para que não haja outra manifestações
da mesma natureza.”
Depois do ataque referido, feito por assaltantes em
número superior a duzentas pessoas (a multidão a que se refere o jornal
católico), houve um banquete homenageando os atacantes pela “vitória
conquistada”, uma espécie de “cruzada”, a que não deve ter faltado o “Deus o
quer!” das lutas sangrentas contra os... ímpios. Conceituada família local
comemorava, assim, festivamente, essa prova dolorosa de desconhecimento dos
deveres cristãos, de desrespeito ao princípio de liberdade religiosa
determinado pela Constituição Brasileira.
Os argumentos sugeridos pelo clero local baseiam na
presunção de que Aparecida é uma cidade inteiramente católica. Se isso fosse
realidade, o Centro Espírita “Apóstolo Paulo” não teria adeptos. O que exacerbou os sentimentos anticristãos
desses cristãos sem Cristo foi o acolhimento simpático e a solidariedade que o
Centro encontrou em Aparecida. Esse triste episódio de intolerância, que não
foi o primeiro e desgraçadamente não será o último, deve chegar ao conhecimento
das autoridades da ONU, para que se verifique que, no Brasil, apesar das
franquias constitucionais, ainda prevalece, em certas cidades, graças à
influência do clero católico, a sombria mentalidade medieval.
Um outro jornal católico - “Fátima Paulista” -, do mesmo
citado mês, referindo-se a centros de Umbanda, disse que são “casos de
polícia”. Aludiu à adoração de “deuses de pau, feitos pela mão do homem”, como
se as imagens, também de madeira ou de barro, usadas em certos templos de uma religião
decaída, que todos conhecemos, não fossem também feitas pela mão do homem, a
fim de satisfazerem a preceitos e conveniências herdadas do Paganismo...
A incongruência é grande. Nós, no entanto, sabemos
encará-la com o espírito de tolerância que o Evangelho de Jesus recomenda. No
Espiritismo, legado por Allan Kardec, como mandatário do Espírito de Verdade,
não temos igrejas, sacerdotes, liturgia, nem construímos templos inacabados,
que são fontes inexauríveis de renda. Lemos, não faz muito tempo, que as torres
da Catedral de S. Paulo, estão neste caso. Foram arrecadados cinquenta e cinco
milhões para atender a essas obras, numa época em que tanta gente vive morrendo
de fome pelas ruas... E ainda são pedidas contribuições, como em anúncio
publicado sobre uma “novena”, onde se diz que, para uma alma subir mais
depressa aos céus, os interessados devem contribuir com alguma coisa de
tangível...
Ó Jesus! Ó Jesus! Derramai, sobre esses pobres irmãos
perturbados pela cegueira sectária, mais um pouco de luz, a fim de que eles,
pelo menos honrem o vosso Evangelho, respeitando os ensinamentos nele contidos!
Que lhes seja dada essa Boaventura um dia!
Quanto ao que tem feito contra o Espiritismo e os
Espíritos, “perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”!..
Nenhum comentário:
Postar um comentário