Fonte única
A Redação
Reformador (FEB) 16 Agosto 1929
Porque quereis confundir o mensageiro com a mensagem?
Porque persistis em associar o que é divino ao veículo que o transporta? ‘Ensinamentos espiritualistas’ - S. Moses
pag. 179
O Espiritismo é doutrina dos Espíritos e não dos homens.
Temo-lo dito destas colunas, bastas vezes, e nunca
julgamos demasiado nem ocioso repeti-lo.
Allan Kardec, missionário a seu tempo e para o seu tempo,
compilou-a em moldes insofismáveis, que não comportam dogmatismos nem
exclusivismos sectários.
Se uma regra e uma disciplina podemos adotar em seu
cultivo, são elas a da moral cristã tal como decorre dos Evangelhos de Nosso
Senhor Jesus Cristo em sua essência postos como fulcro de toda a evolução, a
dentro da qual tem que progredir a humanidade em conhecimento e sentimento.
Em sotopor (preterir) a revelação de Kardec à revelação de Jesus, em nada
fraudamos nem diminuímos a sua obra, antes nos integramos em sua índole, pois
que ele o afirmou - ela, a doutrina dos Espíritos, é progressiva no tempo e no
espaço.
Mas, há mais e há melhor a considerar: e vem a ser que,
antes de Kardec, como antes de Jesus, Deus nunca deixou de enviar à Terra os
seus missionários, cada qual trazendo um contingente de luz à trajetória ascensional
e indefinida das massas terrenas.
Dos anteriores ao Rabi da Galileia nenhum deixou de afirmar;
implícita ou explicitamente o advento (1);
e dos posteriores nenhum, também, lhe infirmou o ascendente único e inconfundível
de paradigma divino, arquétipo universal, ou seja - O Cristo de Deus.
Trocar, pois, a teoria ou teorias de um Espírito pela
tradição firmada no consenso universal e nunca, jamais, universalmente
desmentida, é presunção estulta (estúpida), só justificável pela inopia (penúria) dos
homens, assaz explorada pelos impenitentes do Espaço, que procuram lançar
confusão e dissídio aos penitentes da Terra.
Aliás, temos visto como essas tentativas personalíssimas
e isoladas se anulam e frustram de si mesmas, com o só prejuízo de seus
incautos e inconsequentes patronos.
Mas, por isso mesmo, em Deus esperamos, não têm tido nem
terão elas a força de abalar as nossas convicções para desviar de uma linha a
rota que aqui nos traçamos, impessoal e extreme de sectarismos.
Porque, sectarismo não é arvorar em princípio o Evangelho
de Cristo em padrão inconfundível e único da evolução espírita com Kardec, e
sim fazer de Kardec o depositário único e único responsável pelos destinos
humanos, a focar, só ele a Verdade, que é Deus, e vem de Deus por muitas e
múltiplas facetas.
Se assim pensássemos, se de público - horresco referens (- tremo ao referir) - viéssemos afirmar que o sábio de Lyon aí está de novo para completar a
sua obra, chegaríamos ao precioso ilogismo (contrário
a racionalidade) de que no interstício de
suas encarnações a obra de comunhão com os Espíritos, lei substancial, lei
divina e por isso mesmo ininterrupta e inestanque (sem limites), de consolação e progresso, ficou prejudicada.
Não teríamos, assim, dado um passo na senda do Amor e da
Verdade, sob o olhar entristado (entristecido) dos nossos Guias, desses mesmos Guias cuja atividade é imanente, e de
Jesus, o Palinuro (guia) da redenção de
todas as horas!
Mas, ainda bem que por honra de Allan Kardec nenhuma de
tais presunções se integra na sua obra, tão vozeirada quão mofinamente (infelizmente) entendida e peiormente (mais gravemente) exemplificada.
De fato, essa obra não é dele, mas dos Espíritos e há que
atender que os Espíritos nem tudo sabem, nem tudo podem, nem tudo devem dizer.
O mérito do Mestre, o seu grande mérito, está no critério com que discerniu
entre milhares de testemunhos, os que se prestavam à
confirmação da verdade imanente do Cristianismo como revelação divina, formando
um corpo de doutrinas capaz de levantar a Fé no espírito da humanidade,
esquecida e transviada nas veredas de dezenove séculos.
Porque o fenômeno espírita, a comunicação dos
desencarnados e - por que não dizer- a própria ideia da reencarnação, nunca
deixaram de ser mais ou menos conhecidos em todos os tempos.
Nem jamais deixaram de baixar ao mundo espíritos
prepostos à sustentação de providenciais desígnios que transparecem até, “grosso
modo”, nos fastos (anais) da história de
todos os povos, de todos os lares, de todos os indivíduos com olhos de ver.
Em conspecionar (inspecionar?), em conformar essa obra sem se deixar iludir por
interesses e preconceitos mundanos, imparcial em si e consigo mesmo; na superioridade de vistas do seu tempo e
do seu meio, dócil às sugestões do seu Guia, Allan Kardec tira o seu melhor
quinhão de merecimentos e não pode, por suas opiniões pessoais, reivindicar
proselitismos estáticos, dogmáticos e infalíveis.
Transformar os seus conceitos de homem em postulados
definitivos e incontroversos, vale por infirmar lhe a doutrina que ele
consignou evolutiva e progressiva no tempo e no espaço; e
vale mais, ainda, por colocá-lo acima d' Aquele a quem ele, Kardec e os
Espíritos conspícuos chamam - O Mestre
- o qual também disse que era - o caminho,
a verdade e a vida.
Assim, pois, o caminho só pode ser o Evangelho; a verdade
só pode ser o Evangelho; a verdade só pode ser gradativa nesse caminho e a
vida, por eterna, aleatória ao infinito, em conhecimentos e sentimentos.
Isto, a menos que se pretenda, em nome da ciência, da
pobre ciência humana, extirpar Deus das consciências, para submete-lo a ações e
reações de laboratórios científicos!
Não mil vezes não! A Revelação dos Espíritos, de todos e para
todos os tempos, transcende a esses impasses da filáucia (amor desmedido
de si próprio) humana, que tudo pretende subordinar
ao seu egotismo (amor exagerado pela própria personalidade).
É preciso fugir desses perigos e arrastamentos tendentes
a uma escolástica esdrúxula quanto estéril importa ater se a princípios que não
a individualidades nem grupos; generalizar e não particularizar, porque a doutrina
dos Espíritos e a verdade absoluta só a Deus pertence.
(1) Todas as Teogonias do passado falam de um Messias.
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