Todos os Santos
por Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Novembro 1940
Os povos gentílicos não amavam, temiam os seus deuses. Supunham que todos os prazeres que fruíam, como todos os males que os atormentavam, procediam diretamente das divindades. Daí os festejos pomposos que lhes tributavam em determinadas datas do ano. Honravam-nas do mesmo modo que os vassalos honram seus monarcas e autoridades, de quem esperam, favores e distinções.
Era tal o cuidado, o zelo, a preocupação em render culto aparatoso às potestades celestes que, em certo templo de Atenas, havia além dos altares destinados às várias divindades conhecidas e veneradas, um, especial, consagrado "Ao deus desconhecido".
Assim agiam temendo desagradar a algum "ser" invisível e misterioso, que, ofendido por não ser homenageado condignamente, poderia vingar-se, castigando-os com severidade.
Todas as relações entre aqueles povos e os seus deuses imaginários fundavam-se no egoísmo: evitar punições e alcançar mercês.
"Mutatis mutandis", é o que se passa em nossos dias com relação ao culto externo rendido aos "chamados santos".
Santo é aquele que está isento de culpas, manchas e imperfeições. Santo é o justo, o puro, o imaculado, cuja única preocupação é o bem do seu próximo. Ora, uma individualidade em tais condições não se deixa impressionar por exterioridades e aparatos. Pairando sobre as fraquezas e misérias humanas, estende sua proteção a todos, indistintamente, maxime sobre os que mais se esforçam por viver segundo a justiça. Os que mais sofrem, os mais simples, humildes e desprotegidos do mundo são os de sua preferência, ainda que nada peçam e nenhuma homenagem lhe tributem.
O Espiritismo respeita e venera todos os "Santos" - quer estes tenham procedido do seu seio, como do de qualquer credo ou doutrina. Estudando a vida dessas entidades, apresenta aos seus adeptos os ensinamentos e os exemplos que encerram, aconselhando-os a imitá-los.
Existem "santos" dentro de todas as religiões e mesmo fora de todas elas. Há grandes "Santos" ignorados, por isso que a santificação independe das instituições humanas, portanto, dos calendários. O "santo" não procura as glórias terrenas, ele tem em si mesmo aquela glória íntima que procede da satisfação de haver praticado o bem, merecendo o aplauso da própria consciência, que é o aplauso de Deus.
O "dia de todos os santos" tem perfeita analogia com a citada ara que, no templo da velha Atenas, ostentava o dístico: "Ao deus desconhecido". Nesse altar como no "dia de todos os santos", está prevenido e assegurado o tributo de veneração, sem reservas, nem restrições. Assim como nenhum deus da gentilidade, nenhum santo da época atual terá motivos de queixa e, muito menos, de ressentimento.
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