Sugestões Cristãs
Luiz de
Oliveira
Reformador
(FEB) Março 1924
Aos
que desanimam
A vida não nos pertence, não é nossa
propriedade; ela pertence à Fonte que a produz; nós somos o que ela é: originários
dessa mesma Fonte que lhe dá origem. Com ela nascemos, indivisivelmente com ela
estamos e estaremos onde ela estiver.
Que somos, pois? Se a vida é nossa e
não está sob nosso exclusivo critério; se é nossa inseparável companheira e,
indestrutivelmente, nos prende em seus tentáculos; se nos conduz para onde a
conduzam as energias ocultas que a alimentam e atraem; se, estando em nosso
domínio, não a podemos afastar, porque somos o que ela é, amamos o que ela ama,
detestamos o que ela detesta, sofremos o que ela sofre, rejeitamos o que ela
rejeita, seguimos o que ela segue e nos transportamos para onde ela se
transporta, sentindo as mesmas sensações que a empolguem; se somos, enfim,
oriundos de uma Vontade soberana e se por essa Vontade é que personalizamos a
vida, porque ela se identifica em nós e nós nos identificamos nela; certamente,
a existência que impulsiona o corpo de que nos servimos para o trabalho
material, é que nós somos. Entretanto, embora tenhamos a nosso cargo o invólucro
terreno, não nos assiste o direito de elimina-lo, porque não o adquirimos por nós
mesmos, isto é, pelo império de nosso desejo, a fim de fazermos uma travessia
mundial para satisfação da vaidade e do orgulho, até quando nos conviesse. Esse
direito não temos, pois, sendo o que realmente somos: emanações da Vida
Suprema, para realização do trabalho espiritual, estamos na dependência de quem
nos aparelhou para o existir.
Antes de sermos, que éramos? Não
estamos sujeitos ao império da sabedoria que nos despertou do sono da inconsciência?
Não está o aprendiz subordinado ao mestre que o dirige? Não se exige da infância
obediência a seus progenitores? Não depende o homem do sustento que o avigora
para exercício da atividade? Não depende o pão, que o sustenta, do trabalho?
Não depende o trabalho da saúde? Não depende a saúde da vida? Não depende a
vida de seu Criador?
Por conta de quem nos agitamos, se
não nos fizemos a nós mesmos? A quem nos devemos dirigir, se somos operários,
para prestar contas da tarefa de que nos incumbimos? A quem nos dá o pão ou o
salário para adquiri-lo, ou a quem no-lo quer roubar?
Quando alguém, fugindo às sugestões da
fé, trabalhado pelo desanimo, põe termo ao seu existir, precipita-se em trevas
e vai sofrer os horrores de tenebroso suplício, que se lhe afigura eterno, por
não ter atendido ao instinto de conservação, a que os próprios irracionais
obedecem, e haver, com rebeldia, recusado o alimento espiritual que a Providência
distribui por todos os seres da Criação.
Desse modo, o infeliz que procura a
morte, esquecendo-se da autoridade eterna, pretendendo, à semelhança do mau trabalhador,
libertar-se do dever de aguardar a hora da prestação de contas; torturado pela
decepção de não retornar ao sono da inconsciência, percebe, horrorizado e
confuso, que a sua falta de humildade e submissão à disciplina espiritual
exemplificada pelo Senhor Jesus, depois de o propelir à voragem do desespero,
entregou-o às emboscadas da ignorância que lhe roubara a crença e lhe armara o
braço, pretendendo adormece-lo, para todo o sempre, no silêncio da morte!
E o inditoso, sentindo-se vivo na
região espiritual com que não contara, experimenta, perplexo e aturdido, o
vigor e a agonia da própria existência que lhe sugerira a ideia do suicídio,
pois, unificado a ela para se livrar da condição terrena e fugir aos desenganos
e aflições que o desalentaram, por não se haver equilibrado nos esplendores da
fé, não tendo conseguido a eliminação que pretendera, percebe claramente que
também a vida não se faz por si mesma, não se pertence, mas sim à Força
Superior que lhe dá origem e propriedade sobre a Terra.
Por essa razão, quando a vida se
afasta do corpo material, remontando à sua origem, ingressa no mundo dos
Espíritos, onde conserva as impressões do que praticou e se mantém sob o
império e propriedade da inteligência suprema – fonte de luz que a distribui,
impulsiona e orienta, dando-lhe calor movimento, diretriz e ação.
A inteligência suprema, que se
designa com o nome de Deus, desenvolvendo e ativando a majestosa e incomparável
obra da criação, utiliza-se das existências que se formam em todos os
departamentos da atividade pelo infinito, com o predomínio paternal de sua
natureza criadora, conduzindo-as à execução de seus divinos planos, norteando-as
para o trabalho de ascendência sobre os elementos materiais, em que, dominando
instintos grosseiros, substituindo-os por sentimentos nobres e elevados,
aspirando a novas etapas, mais confortáveis e delicadas, realizam a trajetória
do progresso em demanda da perfeição.
Destarte, o homem que toma por modelo
o que nos legou, em sua passagem pela Terra, a orientação cristã; tendo, para
seu governo, perseverança e firmeza no desenvolvimento das faculdades pensantes,
coloca a vida, que por seu intermédio se ativa, sob proteção divina e,
caracterizando a função do Espírito, cujas aptidões se ampliam, aparelhado para
novos surtos, desvenda o prisma da imaterialidade em que culmina pelo exercício
da moral perfeita exemplificada pelo Cristo.
Desse raciocínio, por conseguinte, logicamente
se conclui, que a vida pertence a seu Criador e Pai espiritual, constituindo-se,
por isso, o sopro divino, dentro do qual nos havemos de agitar por toda a
eternidade.
Sugestões Cristãs
Luiz de
Oliveira
Reformador
(FEB) Junho 1924
-Trecho de uma
palestra sobre os deveres espirituais -
Agasalhando as instruções que do
Alto promanam e nos vêm incessantemente dizer: “Amai-vos uns aos outros” - alteando
o espírito para o Senhor, em procura de luz para nosso evoluir, ao colocarmos a
pena sobre o papel, a fim de transmitir, aos que nos distinguem com a sua
atenção, o que a misericórdia divina nos permita, sentimos a ação de um homem
novo, de um companheiro de outrora, que, das paragens espirituais,
associando-se nos nossos trabalhos, tocado pelos fulgores cristãos dos
sentimentos fraternos, envolvendo-nos a alma na centelha de compassivo afeto,
junto a nós se coloca e assim
nos fala:
“Meus amigos. Não vos descuideis.
Orai e vigiai, acautelando com prudência os vossos pensamentos e atos, porque
os mensageiros do divino Mestre, determinando que vos procuremos falar, investigam
o vosso foro íntimo, pois o momento predito já se faz sentir e os que desejam
aparelhar-se para a vitória espiritual, nas escaladas da existência pelo
Infinito, precisam de se levantar para o cumprimento do dever perante Deus.
A hora chega em que os trabalhadores
da Seara de Jesus deverão formar a frente das fileiras humanas, para exemplifica-la
e conduzi-las por meio de ações cristãs e não de palavras!..
Nessas fileiras, não se admitem
negligentes e relapsos que tudo prometem e nada fazem.
Elevado é o número dos que apregoam
a excelência da Terceira Revelação; multidões concorrem avidamente às sessões
espíritas e, apesar disso, doloroso é o espetáculo que observamos; a romaria
dos que se insinuam na hora da prece é grande mas... os trabalhadores são
poucos!
Que está escrito na lei? Para disciplina
da humanidade, não disse o Cristo que os últimos seriam os primeiros? Não afirmou
que os deserdados pelos homens terrenos teriam galardão na morada espiritual?
Não recomendou que nos amassemos uns aos outros e não fizéssemos a outrem o que
para nós não desejássemos? Preceituando a humildade, não a exemplificou,
deixando claramente expresso, em todos os seus ensinamentos, que o levantamento
moral, meritório perante Deus, exige tolerância e amor aos próprios inimigos?
Para que se não olvidassem estas admoestações e conselhos e se cumprissem os
dispositivos divinos, não se submeteu a obscuridade de deserdado da Terra,
nascendo numa manjedoura? Mais tarde, exemplificando a cordialidade fraterna,
não lavou os pés de seus discípulos e, significando amor aos inimigos, para que
o imitássemos, não perdoou, no suplício da cruz, a seus perseguidores?
Considerem os espíritas e
espiritualistas cristãos estas ocorrências, que a História registrou e os
séculos, através das gerações, vem conservando respeitosamente para edificação
dos povos.
Analisemos o alcance desses ensinamentos
e perguntemos a nós mesmos, perante o tribunal da consciência, se, na atividade
que empregamos para difusão do Evangelho, modelam-se os nossos atos pelas ações
do Cristo.
Consideremos isto, meus amigos, e
chegaremos à conclusão de não nos acharmos ainda suficientemente preparados para
os trabalhos da Seara!
Cumpre, pois, que os adeptos e
pregadores da Terceira Revelação se não descuidem, porque a hora vai adiantada
e na noite do túmulo não há repouso: há sono aparente...
Para quem se não alteia nos arroubos
da fé, em que a alma combate os arrastamentos da animalidade e do materialismo,
os que baixam à sepultura dormem profundamente... Mas, em verdade, os que, assim,
descem os soturnos degraus de um jazigo, no silêncio dessa noite deixam,
apenas, ficar os despojos terrenos que se transformam... Livres do corpo com
que palmilharam essa mesma terra aberta em cova para lhes receber o caixão,
despertos do sono que lhes paralisara os sentidos. sentem-se vivos para a
eternidade, onde os que não atendem ao chamamento do Alto, nesta hora em que as
revelações se estendem por todo o orbe, encontram perspectivas tenebrosas de
uma existência horrível, pejada de amargores, de aflições tremendas, piores que
todas as torturas da indigência que suplica nas desertas florestas deste mundo!
Em face deste arrazoado, facilmente
se percebe que a pedra tumular oculta somente, o invólucro terreno, em seu
regresso ao pó. A alma retoma as energias que lhe pertencem e, ingressando na pátria
espiritual, se para essa romagem não se habilitou nas travessias do mundo; se,
egoísta e ambiciosa, considerou de maior valia os bens que constituem as
riquezas materiais; se por estas se deixou dominar, indiferente e surda aos
incitamentos fraternos; se nessa lastimável ignorância e atraso se emancipa da
peregrinação terrena; se não possui, enfim, para seu equilíbrio e orientação,
na imensidade dos céus que se lhe defronte, as iluminações interiores que se
adquirem pelo exercício das virtudes cristãs, inteiramente nua dos atrativos da
bondade - que constituem a túnica nupcial --ao ter conhecimento de sua desencarnação,
desorientada e confusa, percebe lhe estar o ingresso vedado para o banquete
divino...
E, assim, os que desse modo se
apresentam e desejam tomar parte ao lado dos que trabalham no reino do Senhor,
atônitos reconhecem que a paz nessa região bendita não é permitida aos que na Terra
se fazem maiores, E, nessa confusão tremenda, de conformidade com o que nos
relata o Evangelho de Mateus, no cap. 18, v. 1 a 10, passam a compreender o
motivo por que Jesus, quando os discípulos lhe chegaram ao pé, perguntando-lhe
qual seria o maior do reino dos Céus, designando um menino, para simbolizar a
simplicidade, a inocência e a submissão, por esta forma lhes respondeu: - “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes
e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no
reino dos Céus; portanto, aquele que se humilhar como este menino, será maior
no reino dos Céus e o mesmo sucederá a qualquer que receber em meu nome um
menino tal como este que a mim recebe. Mas, qualquer que escandalizar um desses
pequeninos, que creem em mim, melhor ficara se ao pescoço lhe pendurassem uma
mó e o submergisse na profundeza do mar. - Ai do mundo por causa dos escândalos;
porque, é mister que estes venham; mas ai daquele homem por quem o escândalo
vem! Assim, se tua mão ou teu pé te escandalizar, corta-o e atira para longe de
ti: melhor te é entrar na vida coxo ou aleijado, do que com duas mãos ou dois
pés, para seres lançado ao fogo eterno! -Se tua vista te escandalizar,
arranca-a e atira-a para longe de ti. Melhor te é entrar na vida com uma vista
do que com a posse de duas e seres lançado ao fogo do inferno. “
E, de fato, a vida na erraticidade
transmite à alma do homem que no mundo se deixa arrastar pelas sugestões do vício
e da grandeza, desprezando, orgulhosamente, os que supõe pequenos, a sensação
de uma caldeira infernal em que se tenha precipitado para toda
a eternidade e onde, por forma alguma, poderá escapar à ação do corretivo
divino, pois, conforme ainda observa Mateus, referindo os ensinos do Mestre, no
cap. X, v. 26 e 27,-
“Nada
há encoberto que se não haja de descobrir e nada oculto que se não haja de
saber”, convindo por isso, que lhe acatemos a recomendação: - “O que vos digo em trevas, dizei-o em luz e o
que ouvirdes ao ouvido pregai sobre os telhados.”
Transmitamos, pois, os avisos do Alto,
porque através das ocorrências que, nestes últimos tempos, agitam e conturbam
as sociedades terrenas, claramente se verifica que algo de anormal está
passando. Colunas de fogo ameaçam devorar o homem retardatário nesta hora que
transcorre!
Oremos e vigiemos.
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