sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Profissão de Fé - Parte 10



Profissão de Fé – parte 10
por Gustavo Macedo
Fonte:  Reformador (FEB) a partir de 15 de Abril de 1905

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                A mãe que está no inferno, se tem um filho no paraíso, abomina-o, e ele a ela; se o tem no inferno, abomina-o também e é correspondida por igual, e, se o tem vivo no mundo a chorá-la, 
da mesma sorte o abomina. Filhos, pai, marido, irmãos e irmãs, amigos, 
tudo lhe é igualmente odioso. (Augusto Callet, O Inferno, págs. 132.)

            Sendo o céu destinado à suprema felicidade dos eleitos, e o inferno ao tormento dos condenados, fazia-se mister um lugar intermediário para onde fossem as criaturas que, pelas faltas praticadas, não merecessem entrar logo na posse da bem-aventurança, nem tampouco, pelas suas faltas, o ser submetidas aos tormentos infernais. No fim de seis séculos, no ano 593, admitiu a igreja o purgatório, que é o estágio das almas imperfeitas, que lá se vão purificar para terem ingresso na bem-aventurança.

            Certo, Jesus não pronunciou a palavra purgatório, porque não existia a ideia que a representasse. Usou do termo inferno, como mais genérico para designar as penas futuras, sem distinção. O purgatório era uma questão reservada ao futuro; a igreja, decretando a sua existência, provou que o Cristo não ensinara tudo; por isso supriu o seu silêncio. “E porque não se havia de dar sobre outros pontos o que com este se seu?”

            Sabe o leitor que o purgatório, como o céu e o inferno, não é um lugar circunscrito, e sim um modo de purificação que se opera através das reencarnações e provas, como já foi dito em capítulos anteriores.

*

            A doutrina da eternidade das penas, como a do inferno material, teve a sua razão de ser, enquanto o temor era o único freio capaz de conter os homens atrasados moral e intelectualmente.

            Fizeram os homens maus, vingativos, rancorosos e cruéis, um Deus à sua imagem e semelhança; por isso Moisés teve necessidade de uma legislação draconiana, para conter um povo indócil, que só podia compreender um Deus tirano. “Uma religião toda espiritual, toda amor e caridade não podia aliar-se à brutalidade dos costumes e das paixões.”

            Veio Jesus substituir o Deus ferocidade pelo Deus amor; ao invés do que nos mandava exigir “olho por olho”, dente por dente,”  nos recomendava amarmo-nos uns aos outros e fazermos o bem aos que nos odiassem.  No lugar de um Deus que condena, pôs um Deus que perdoa e salva.

            Mas o próprio Cristo não pode revelar aos seus contemporâneos todos os mistérios do futuro; por isso o disse:  “Muitas outras coisas vos diria, se estivésseis em estado de as compreenderdes; e eis porque vos falo em parábolas.”

            Jaziam semeados em forma de parábolas os germens das verdades que ao Espiritismo cumpria explicar. “Se Jesus ameaçou os culpados com o fogo eterno, também os ameaçou de serem lançados ma Geena.” Se esse lugar ouçamos Augusto Callet:

            “O nome Geena que lá dão às paragens das expiações futuras, não era estrangeiro; era o nome de um vale ao poente de Jerusalém, onde, desde a origem de sua história, iam os hebreus adorar Moloc, e sacrificar-lhe no fogo vítimas humanas e, ás vezes, seus próprios filhos.

            “Neste sítio, também denominado Trofet, ou ‘lugar horrendo’, eram lançados os cadáveres dos justiçados e os despojos dos animais.

            “Este vale maldito, consagrado pela superstição aos deuses sanguinários, juncado de carnes pútridas e ossadas alvejantes, assombrado de larvas sinistras, ressonante de gemidos e rugidos, converteu-se para os moradores da cidade santa, não já em um verdadeiro inferno, mas no símbolo exterior e sinônimo de inferno.”[1]

            Geena era, pois, uma figura enérgica, como o fogo eterno, para impressionar aos homens embrutecidos.
            Jesus uma das vezes chamou diabo a certo número de discípulos, querendo sem dúvida com isso significar maus sentimentos ou más ações. Lê-se com efeito em S. João, cap. VI, v. 71: “eu vos escolhi em número de doze, e contudo um de vós é o diabo.”

            É assim igualmente que, pregando no templo de Jerusalém, disse para os judeus: “Vós sois filhos do diabo.” (João, cap. VIII, v. 44). Quando o Divino Mestre, depois de se descobrir aos apóstolos, afirmando que era o Cristo, que importava sofrer o que d’ Ele fora predito pelos profetas:

            “Pedro tomando-o de parte, começou a repreende-lo. Mas Jesus, virando-se e olhando para seu discípulos, ameaçou a Pedro, dizendo: Tira-te de diante de mim, SATANÁS, que não tens gosto das coisas de Deus, mas sim das dos homens.” (Marcos, cap. VIII, vv. 32 e 33.)

            A Jesus chamaram muitas vezes de demônio; os hebreus diziam: “tu és um samaritano, e que tens demônio.” (João VIII, v. 48). “Agora é que conhecemos que estás possesso do demônio” (idem, v. 52). “Ele está possesso do demônio e perdeu o juízo.” (João, X, v.20).

            Em verdade, o reino do diabo vai bem desacreditado; já não goza ele hoje do seu antigo prestígio, e não tarda ficarem os exorcizadores sem clientela.

            A eternidade de tormentos nem merece ser tomada a sério, porque é um sacrilégio irrogado à justiça de Deus. Em todas as legislações humanas, a tendência geral é para abolir a pena de morte e de galés perpétuas; como querem, pois, amesquinhar a grandeza de Deus, rebaixando-o a sentimentos vingativos, e tendo as suas leis mais dureza que a dos homens mesquinhos? Deus, a perfeição infinita, não pode ser atingido pelo ato, pela imperfeição humana; sem dúvida o pecador há de registrar a sua falta, sofrerá a punição do crime praticado; porém chegará o dia em que, pelos meios que o Criador pôs à sua disposição, deixará de ser mau, ou demônio, para ser bom, ou anjo.

            Paulo de Tarso, Agostinho de Hippona e Maria de Magdala não se converteriam de pecadores em santos, se tivessem morrido antes da conversão; esse tempo concedido pelo nosso Pai do Céu é ilimitado.

            No estado de encarnados e desencarnados, nos podemos converter, pois o Senhor o disse pelo profeta Ezequiel:

            “Eu juro por mim mesmo que não quero a morte do ímpio, mas que o ímpio se converta, que abandone o mau caminho e que viva.” (Ezequiel, cap. XXXIII, V.II).

            É inútil repetir aqui a doutrina sobre anjos, demônios, recompensas e castigos futuros, que o nosso mestre desenvolve com rigor filosófico na obra de que damos uma ideia, porque a tais pontos já nos referimos quando noticiamos o Livro dos Espíritos, no cap. XXVI.

                                                                                  *

            Nos capítulos XXIX e XXXI vimos que aparições são autenticadas pela Bíblia e pelos historiadores das vidas dos santos. A igreja não pode negá-las, e na recomendação de invocar os santos para as curas das enfermidades reconhece a veracidade da comunicação, o que de resto afirma no seu credo. No interesse próprio, no entanto, estribada em Moisés, proíbe as evocações e as sessões de espiritismo, porque ele proibia consulta aos ‘mágicos e adivinhos’ que se entregavam às abominações de ‘purificar os filhos passando-os pelo fogo’.

            “Sem prisões nem casas de correção no deserto, Moisés não podia graduar a penalidade, como se faz em nossos dias; além de que o seu povo não era de natureza a atemorizar-se com penas puramente disciplinares.

            Também a lei moisaica proibia ao sacerdote a posse de bens terrenos, e a participação em heranças, porque: “o Senhor era a sua própria herança.”

            Ora, o povo hebreu dava-se às práticas de evocação dos Espíritos, para fins secundários e reprováveis, e o abuso degeneraria em calamidade nacional, se o legislador hebreu não a proibisse cominando-lhe a pena máxima.

            Todas as leis e regulamentos eram dados como oriundos de Deus, para poderem ser obedecidos pelo povo bárbaro. A proibição era de feitiçarianecromancia e quejandas práticas maléficas.

            O Espiritismo verdadeiro também veda as consultas sobre negócios particulares, sobre predições futuras, concertos de vidas desarranjadas, separações e uniões amorosas, empresas lucrativas, satisfação de vaidades frívolas, e receitas por dinheiro. Veda também o uso de sinais cabalísticos, água benta, velas acesas, incenso, altares, registros e as abomináveis absurdas e ridículas missas espíritas. Em uma palavra: proíbe a superstição e o crime.

            As reuniões espíritas só devem ser feitas com recolhimento, fervor e preces, nas quais os Espíritos se manifestam para fins morais e superiores, dando bons conselhos, advertindo os errados, e mostrando-lhes o caminho reto da virtude.

            Acontece às vezes que espíritos sofredores também se apresentam, mostrando com o espetáculo dos seus sofrimentos a consequência triste dos vícios e crimes que retardam a felicidade para que a criatura foi criada.

            As verdadeiras sessões espíritas são reuniões puramente cristãs: escola filosófica e experimental, em que a criatura se purifica, progride moral e intelectualmente, pelos fluidos ambientes que recebe dos bons espíritos, e pelo bem que faz com as suas preces pelos desencarnados sofredores, que, como Paulo, precisam da luz da fé para se erguerem do caminho de Damasco.

            Moisés tinha razão, portanto, de proibir severamente a feitiçaria, como o Espiritismo a tem de fazer o mesmo com a velhacaria e a especulação de patoteiros sem escrúpulos.

            O amado mestre Allan Kardec termina a obra O Céu e o Inferno com o estudo de comunicações importantíssimas, recebidas de espíritos de todas as condições, desde os felizes, aos de situação mediana, sofredores, suicidas, arrependidos, endurecidos, até os que estão em expiações terrestres - exemplos ilustrativos e autênticos da “Justiça divina segundo o Espiritismo” por ele exposta na primeira parte.

[1]  Augusto Callet, O Inferno, págs. 113.
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            E para crer num braço, autor de tudo, que recompensa os bons, que os maus castiga,
Não só da fé, mas da razão me ajudo. (Bocage).

                               Eu sou que ao homem ensino a ciência, e aos pequenos dou clara compreensão do que pode dar o ensino dos homens. (Imitação de Cristo, Livro III, cap. XLIII).

            O progresso do Espiritismo custou ao nosso mestre inúmeras inimizades. O grande missionário, guiado do alto, não esmorecia contudo na tarefa que lhe fora confiada; tinha uma vontade de ferro e um poder de combatividade extraordinário: de pé às 4 horas da madrugada, qualquer que fosse a estação, respondia a sua correspondência universal, satisfazia a todas as consultas que lhe dirigiam, dava resposta às polêmicas veementes arremetidas contra o Espiritismo, além da sábia e criteriosa direção que imprimiu à Revista Espírita e à Sociedade Parisiense dos Estudos Espíritas e ao preparo de suas obras.

            Comunicações diversas preveniram-no de que não teria vida além de dez anos, “e que sua tarefa não seria concluída senão em uma nova existência, que sucederia a breve trecho à sua próxima desencarnação; por isso ele não quis perder ocasião alguma se dar ao Espiritismo tudo o que pode, em força e em vitalidade.”

            Depois de viagens missionárias em 1867 a Bordeaux, Tours e Orleans publicou o nosso mestre, em janeiro de 1868, A Gênese, os Milagres e as predições segundo o Espiritismo. “É das mais importantes esta obra, porque constitui, do ponto de vista científico, a síntese dos quatro primeiros volumes já publicados.”

*

            Por isso nos julgamos dispensado de dar uma notícia circunstanciada dessa obra, por have-mo-lo feito em relação às quatro anteriores.

            Como já o dissemos em outro lugar, a Gênese é a parte científica da obra de Allan Kardec. Ora, este modesto trabalho não tem pretensões científicas: são simples notas analíticas das filosofias, das religiões preparatórias da terceira revelação que é o Espiritismo.

            Para assinalarmos, entretanto, o valor doutrinário da Gênese segundo o Espiritismo, passamos a referir as matérias de que trata essa obra.

I           Caráter da Revelação Espírita.

II         Deus, sua existência e visibilidade, natureza providência.

III        O bem e o mal; fonte do bem e do mal; instinto e inteligência; destruição dos seres uns pelos outros.

IV        Papel da ciência na gênese.

V         Sistemas do mundo, antigos e modernos.

VI        Uranografia geral; o espaço e o tempo. A matéria, as leis e as forças. A criação primária e a criação universal. Os sóis e os planetas. Os satélites. Os cometas. A via láctea. As estrelas fixas. Os desertos do espaço. Sucessão eterna dos mundos. A vida universal. Diversidade de mundos.

VII       Esboço geológico da Terra. Períodos geológicos. Estado primitivo do globo. Período primário. Período de transição, secundário, terciário, diluviano, pós-diluviano ou atual e nascimento do homem.

VIII     Teoria da terra: teoria da projeção, condensação e incrustação; alma da terra.

IX        Revoluções do Globo, gerais e parciais. Idade das montanhas; dilúvio bíblico. Revoluções periódicas. Cataclismos futuros. Aumento ou diminuição do volume da terra.

X         Gênese orgânica. Primeira formação dos seres. Princípio vital. Geração espontânea. Escala dos seres orgânicos. O homem corporal.                           

XI        Gênese espiritual. Princípio espiritual, união entre este princípio e a matéria. Hipótese sobre a origem do corpo humano. Encarnação dos espíritos; reencarnação, emigrações e imigrações dos espíritos. Raça adâmica. Doutrina dos anjos decaídos e do Paraíso perdido.

XII       Gênese Moisaico. Neste ponto o querido mestre Allan Kardec passa a tratar dos milagres segundo o Espiritismo, com que termina a segunda e última parte da obra, da qual trataremos no próximo número.

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                Mas vieram outros tempos, nasceram ciências novas que os antigos tinham ignorado,
 a que o ensino eclesiástico não oferecia nem base nem método,  estabeleceu-se logo o  antagonismo entre elas e a doutrina católica!... Nos primeiros tempos, a igreja ainda tentou suprimi-las pela perseguição, a masmorra, o fogo!
 (Eça de Queiroz, 'O crime do Padre Amaro', pág. 676.)

           
            Segundo a acepção vulgar, um milagre quer dizer um fato sobrenatural, ou uma derrogação às leis da natureza, pela qual Deus manifesta o seu poder. O mérito dos milagres repousa em sua inexplicabilidade: quem neles não creia ou os pretenda explicar, incorre nas penas de excomunhão e só evita a morte pelo fogo, porque as fogueiras inquisitoriais hoje apenas se limitam a queimar, carnavalescamente, na praça pública, bíblias sob a direção do Torquemada moderno do Recife - Frei Celestino.

            Os milagres que a ciência opera são diários: “se um homem só tiver aparências da morte, se nele existir um resto de vitalidade latente, e a ciência ou uma ação magnética conseguir reanimá-lo, será isso para as pessoas esclarecidas um fenômeno natural; mas aos olhos do vulgo ignorante o fato passará por miraculoso. Se no meio de certos campos, um físico lançar um papagaio elétrico e fizer cair o raio sobre uma árvore, esse novo Prometeu será por certo considerado como tendo um poder diabólico.[1]

            Os séculos de ignorância foram fecundos em milagres, porque tudo aquilo cuja causa fosse desconhecida passava por sobrenatural.

            Expulso do domínio da materialidade pela ciência, foi o maravilhoso acoitar-se na superstição e ignorância espiritual.       

            O Espiritismo integrou no domínio natural os fenômenos espirituais tidos até então como milagrosos, quando o seu agente espiritual é uma das forças vivas da natureza.

            Os milagres são ordinariamente muito rendosos para a igreja, e embora a clientela vá diminuindo, resta entre outros o bazar de Lourdes, onde há uma porção de hotéis para peregrinos, e o que é mais triste: há algumas pensões mantidas por damas de caridade e religiosas.

            Um escritor moderno[2]escreveu sobre aquela cidade milagrosa o seguinte: “Os lojistas, não contentes com os mostradores envidraçados, impedem o trânsito do passeio, com mesas e prateleiras onde se acumulam as relíquias. O visitante, por mais prevenido que esteja, não pode escapar ao assalto dos negociantes, que pedem, suplicam, seguram pela manga do casaco, impõem os seus horrores, declarando-os belezas nunca vistas.”

            Mais adiante diz o referido escritor:

            “O calhambeque roda: e ao entrar no boulevard, as mulheres cercam o estrangeiro, oferecendo velas, ameaçando com castigos se a gente recusa, bem-dizendo se aceita, pedindo, chorando, pondo as mãos em prece.”

            O Espiritismo não faz milagres.

            Conhecidos hoje os seus fenômenos entram na ordem natural, o que aconteceu com os fenômenos elétricos, acústicos, luminosos e outros, que também deram origem a uma multidão de crenças supersticiosas.
            Os fenômenos espíritas sempre existiram: por falta de elementos científicos ficaram até agora no domínio maravilhoso.

            “Longe de entender o domínio do sobrenatural, o Espiritismo restringe-o até os seus últimos limites, e tira-lhe o seu último refúgio.[3]”  

            Diz-se que Deus faz milagres para atestar o seu poder: no entanto, a sua onipotência é muito mais patente pelo conjunto grandioso das obras da criação e pela harmonia das leis que regem o universo, do que pelas pueris abrogações e derrogações as mais das vezes ridículas.

            A igreja morre, porque entre outras coisas assenta a sua existência no milagre. Ora, o edifício milagroso vai sendo desfalcado dia a dia; cada surto do pensamento, ou cada passo da ciência vai arrancando uma pedra. O edifício já está arruinado; mais algum progresso da ciência e filosofia racional, e as ruínas não mais resistirão ao sopro da verdade.
*

            No capítulo fluidos, é o mestre profundo; vai desde os seus elementos, onde estuda a solidificação da matéria, que é um estado transitório do fluido cósmico universal, até a sua essência, a formação e propriedade do corpo fluídico ou perispírito, a ação dos espíritos sobre os fluidos, o que produz muitas vezes a fotografia do pensamento. Estuda a catalepsia, as ressurreições e as curas que podem ser produzidas pelo fluido próprio do magnetizador, pelo fluido direto dos espíritos e pelos fluidos dos espíritos derramados pelos magnetizadores; analisa as obsessões, possessões e os meios de evitá-las.

            Estuda em seguida o nosso mestre os milagres do Evangelho, afirmando que Jesus curava diretamente em virtude do seu poder, e não como médium, isto é, intermediário de outros espíritos: ele só podia ser intermediário da Divindade, e por isso foi por um espírito denominado “médium de Deus”.

            José, fugindo para o Egito com o menino Jesus em obediência ao aviso recebido em sonhos, é um fato real, porque muitas vezes tem-se dado avisos autênticos por meio de sonhos, não se devendo daí contudo inferir que todos os sonhos sejam avisos. Do mesmo modo não se deve dar crédito às pretensas artes de interpretá-los.

            Na estrela que guiou os magos ao presépio de Belém devemos ver uma lenda oriunda da ignorância de então, mas que encerra uma verdade que hoje compreendemos: era um espírito luminoso em forma de estrela, que aparecera aos magos, o que não é de estranhar, visto como os espíritos podem tomar diversas formas de aparições.

            Pela faculdade da dupla vista, Jesus conhecia os pensamentos mais recônditos, e via lugares e coisas além do comum círculo visual; é assim que manda buscar a jumentinha que devia conduzi-lo à Jerusalém, sabendo que o dono do animal não ofereceria resistência ao pedido que lhe fora feito; levanta-se da oração no jardim das oliveiras, e sai ao encontro de Judas e da tropa que vinha prendê-lo; manda que Pedro e João lancem a rede em certo lugar no mar; e eles, obedecendo às suas ordens, colheram grande quantidade de peixe; observando as boas disposições dos discípulos Pedro, André, Tiago e João, convida-os a acompanhá-lo, e transforma-se em ‘pescadores de homens’.

            Na mulher que padecia, durante doze anos, ‘um fluxo de sangue’, e que só por tocar a orla da túnica de Jesus ficou instantaneamente curada, vemos a irradiação do fluido de Jesus que se encaminhava para essa mulher, porque, como matéria terapêutica que era, devia atingir os organismos enfermos.

            Na cura do cego de Betsaida, assistimos também o Cristo curar o órgão enfermo pela transmissão do fluido magnético.

            No restabelecimento do paralítico da cidade de Cafarnaum, convém não esquecer a lição moral que o fato encerra. Jesus ao curá-lo disse: “Os vossos pecados vos são perdoados”, quer dizer que ele sofria aquele mal em virtude de faltas cometidas em existência anterior, porque as existências são solidárias.

            Em uma aldeia da Galileia limpou de uma só vez dez leprosos, sendo que um só que era samaritano lhe agradeceu o benefício. Restituiu sã a mão seca de um devoto da Sinagoga, onde também restabeleceu a saúde a uma mulher que padecia curvada durante dezoito anos.

            Existia em Betsaida uma fonte termal, em cujas águas se vinham banhar os enfermos de toda espécie, atribuindo as curas a virtudes miraculosas que as águas adquiriam pela ação periódica de anjos que as revolviam. Certa vez, Jesus, ao contemplar a multidão de doentes que desejavam imergir no tanque, chegou-se a um paralítico, que o era há trinta e oito anos, e perguntou-lhe se queria ficar são: ao que respondeu o entrevado que não poderia atingir ao tanque a tempo de ser curado. O Cristo então lhe disse: - “Levanta-te, toma o teu leito e caminha”, o que o enfermo fez com espanto geral e muitas censuras dos fariseus.

            Há muitos outros casos, mas o que foram narrados, deste gênero, bastam.
*
          
             Um dos pontos mais interessantes da vida de Jesus é a série de curas de obsessões e possessões, que a ignorância de então atribuía ao demônio.

            O possesso é uma criatura subjugada por um espírito imperfeito, e por isso atrasado e mal, que se apossa do encarnado, tirando-lhe a liberdade e transformando-o em verdadeiro autômato ou manequim dos seus caprichos e sentimentos reprovados. O Cristo expelia tais espíritos dos homens possessos, como entre outros o fez com o mudo que, liberto do obsessor, falo à multidão.

            Hoje, como outrora, se atribui ao diabo o efeito de curas dessa natureza; e se o Divino Mestre foi acusado de ter pacto com o demônio e curar por sua virtude, não é de admirar, antes é lógico, que os fariseus do Cristianismo nos façam a mesma acusação com a diferença de que naqueles tempos havia a ignorância absoluta, e hoje há a mais refinada má fé.

            As curas de obsessões se multiplicam hoje pelos círculos espíritas, bastando as mais das vezes moralizar e doutrinar o obsessor, para se lograr a cura do obsedado.

*

            Nas ressurreições da filha de Jairo, do filho da viúva de Naim e de Lázaro, vemos apenas um grave erro de ignorância e atraso. A volta de um morto à vida corporal é contrária às leis da natureza.

            Num país onde os enterramentos eram quase imediatos, fatalmente se sepultariam pessoas vivas como se fossem mortas. Os fatos narrados devem ser atribuídos à síncope e letargia. O próprio Jesus o disse sobre a filha de Jairo: “essa menina não está morta, apenas dorme.”

            Verdade é, dizem, que Lázaro exalava mau cheiro, o que é sinal de decomposição; mas há decomposições parciais do corpo antes da morte, em certas enfermidades. “A morte só chega quando são atacados os órgãos essenciais à vida.”

            Marta, além disso, que alegou o mau cheiro, não sabia de nada; o irmão estava na tumba, ela apenas presumia que devia cheirar mal.

            Há muitos Lásaros morais, que jazem apodrecidos na corrupção dos seus vícios; as portas da perdição estão abertas como túmulo para ‘tragarem os libertinos’ e pecadores. Muitos já agonizam nos estertores da descrença; mas a voz de Jesus os chama à verdadeira vida espiritual pelo órgão da bendita revelação espírita. Orvalhados pelo rocio do Divino Evangelho, e dóceis à voz do ‘Bom Pastor’, surjamos também nós do sepulcro do pecado, para os esplendores da virtude cristã

[1]  A Gênese, os milagres e as predições, pág. 258.
[2]  Tomás Lopes.
[3]  Obr. Cit. , pág. 262.

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                Porque, dar por certo um milagre falso nada menos é,  segundo S. Paulo, que dar testemunho falso contra Deus, como mui judiciosamente observa S. Pedro Damião. Assim, longe de ser ato de piedade crê-los de leve, é a própria piedade que nos obriga a averiguarmos com rigor as provas em que se fundam
.(A. Herculano, Opúsculos, vol. III, págs. 78.)

            A prece de Jesus era contínua; vivia ele em comunhão íntima com o Criador e Pai. Certa vez, quando o manto da noite caía sobre a terra, ele desce da montanha, onde se elevava em arroubos de oração, e vem presto acudir aos discípulos que no mar lutavam com a tempestade.

            Ia andando sobre as ondas, os discípulos se atemorizam e julgam-no um fantasma: Jesus sossega-os, dizendo: “Tende confiança: sou eu; não temais.” Pedro pede ao Divino Mestre que lhe permita ir ao seu encontro sobre as águas, o que faz, palmilhando o elemento salso. Há duas hipóteses para explicar o fato: ou o espírito de Jesus pode aparecer sobre a água de forma tangível; ou o corpo podia ser sustentado pela força fluídica, como o de Pedro.

            Na transfiguração de Jesus no monte Tabor, deu-se a irradiação fluídica, a que a pureza do perispírito do Cristo permitiu dar um brilho excepcional.

            Na tempestade aplacada, o dormir de Jesus a bordo da frágil embarcação dos discípulos prova que ele conhecia não haver perigo algum e que o temporal estava a ponto de acalmar-se.
            No milagre, que o evangelista João é o único a mencionar, da mudança da água em vinho, nas bodas de Canaã, não parece provável que o fato se desse como o evangelista o narra.

            É mais racional aceitar essa narração como uma dessas parábolas tão frequentes nos ensinos de Jesus, como por exemplo: a do filho pródigo, a do festim das núpcias, a do amo rico, a da figueira seca e tantas outras que têm, entretanto, o caráter de fatos realizados.” Provavelmente, durante o repasto, fez o Cristo referência ao vinho e à água, para tirar algum ensinamento.

            Na multiplicação dos pães admiramos a fascinação que a palavra de Jesus exercia na turba ávida de ouvi-la, e a sua potente ação magnética, que supria nos ouvintes a necessidade psicológica de alimentarem-se.

            Que a multiplicação dos pães não foi um ato material, prova-o a passagem em que ele se referiu ao fermento dos fariseus.

            Os discípulos em certa viagem esqueceram-se de levar pães; e o Divino Mestre lhes disse: “Guardai-vos do fermento dos fariseus e saduceus”; e como seus discípulos pensassem que se referia ele ao fermento material, retificou, advertindo: “Como não compreendeis que não é do pão que vos falava?” E o evangelista Mateus acrescenta: “Então compreenderam que ele não lhes havia falado de acautelarem-se do fermento, que se deita no pão, mas da doutrina dos fariseus e saduceus.” (Mateus XVI, 5 a 12.)

            Quanto a Jesus ser o pão do céu, significa que, como encarnação que era da doutrina de Deus, tornava-se o verdadeiro alimento do espírito.
            A tentação de Jesus é um dos maiores e ridículos absurdos que se impinge ao povo: é incrível que se pretenda dá-la como real; o espírito de luz, que era o Cristo, tentado e subjugado pelo espírito das trevas, que naturalmente o conduzia aos corcovos encarrapitado nos esgalhados chavelhos.

            “Jesus não foi arrebatado; mas queria fazer compreender aos homens que a humanidade, estando sujeita a errar, deve sempre por-se em guarda contra as más inspirações a que a sua natureza fraca induz a ceder.
            A tentação de Jesus é, portanto, uma figura, e seria preciso estar bem cego para tomá-la ao pé da letra. Como quereis que o Messias, o verbo de Deus encarnado, estivesse sujeito durante algum tempo, por mais curto que fosse, às sugestões do demônio e que, como diz o Evangelho de S. Lucas, o demônio o tivesse abandonado por determinado tempo, o que significaria estar ele sujeito ao seu poder?[1]  

                                                                                  *

            O evangelista Mateus, narrando a morte de Jesus, diz que o véu do templo rasgou-se em duas partes: a terra tremeu, as pedras partiram-se; os sepulcros abriram-se e mortos ressuscitaram, vieram à cidade e foram vistos.

            O tremor da terra não devia ser geral, e as trevas não podiam envolver a terra por durante três horas, num país onde o céu é sempre de uma perfeita limpidez. Além de que nenhum historiador a menciona. “O eclipse só se produz na lua nova, e a morte de Jesus teve lugar durante a lua cheia, a 14 do mês de nissan, dia da páscoa dos judeus.”

            A luz solar podia ser também enfraquecida pelas manchas que se observam em sua superfície. Nunca, porém, a ponto de produzir trevas. Quanto à aparição dos mortos, são fenômenos de visão, que naquele momento os médiuns videntes acreditavam terem surgido dos túmulos.
            “Jesus era grande em sua obras, mas não pelos quadros fantásticos de que um entusiasmo pouco esclarecido entendeu rodeá-lo.”

            A aparições do Cristo, após a sua morte, quer à Madalena na sepultura, quer aos apóstolos em diversas ocasiões, em que se achavam fechados em casa, quer aos discípulos no caminho de Emaús, foram manifestações fluídicas. Madalena, e só ela, o viu no sepulcro com os olhos da alma, do contrário todos te-lo iam visto, se o corpo fosse carnal.
            Pela fluidez de seu corpo penetrou na sala dos discípulos hermeticamente fechada, o que é comum nas sessões espíritas acontecer com espíritos de qualquer ordem.

                                                                                  *

            No capítulo da teoria da presciência, mostra o nosso mestre como os homens podem receber, por sugestão dos espíritos, revelações, e transmiti-las maquinalmente, sem compreender o papel que representam.

            Em Jesus, porém, as predições têm outro diverso caráter: tinha ele consciência da missão que vinha desempenhar, era permanente nele a faculdade da vista dupla; por isso antevia com precisão rigorosa a ruína do templo de Jerusalém, sua morte e paixão, bem como a perseguição e o martírio dos apóstolos.

            Para nós, a mais bela e sublime das predições é o Espiritismo, anunciado como se lê no Evangelho de João, pelos termos seguintes: “Porém, o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar tudo quanto vos tenho dito.” Em outro lugar: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas vós não as podeis suportar agora. Quando vier, porém, aquele Espírito de Verdade, ele vos ensinará toda a verdade, pois ele não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos ensinará as coisas futuras.”

            Se o ensino de Jesus dado naquela ocasião fosse completo, desnecessário se tornaria a vinda do ‘Consolador’ para recordar e ensinar as coisas futuras.     

            “Quer a igreja, sempre apegada à letra quando lhe convém, que a descida do “Espírito Santo”  fosse o ‘Consolador Prometido’; mas não é verdade: no dia de Pentecostes os apóstolos, como médiuns que eram, desenvolveram apenas as suas mediunidades. Não consta que eles ensinassem alguma doutrina além da que lhes ensinara o Divino Mestre.
            É preciso notar, na passagem aludida, que Jesus não disse: “Eu voltarei”, e sim “Pedirei a meu Pai, e Ele vos enviará outro Consolador.

            Dir-se-á: mas o Espírito Santo é o próprio Cristo, como Jesus é o próprio Deus; absurdo, negado pelo Divino Mestre, que o disse no seu testamento referido pelo evangelista João: “O Pai é maior que eu.”
            Se os apóstolos não estavam preparados para compreender os segredos evangélicos então velados, quando lhes assistia em forma visível o próprio Cristo, não era em dez dias apenas que o ficariam.
            E depois, francamente, o Espírito Santo está aposentado pela igreja, por valetudinário; ninguém sabe por onde ele anda; substituíram-no pelas hipocrisias diplomáticas, alimentadas com os juros dos trinta dinheiros da venda de Jesus e pelas armas de precisão da casa Krupp.

            Também quando o Cristo em alegoria anunciava os sinais precursores do fim do mundo, disse: “Eu vos digo em verdade que esta raça não passará sem que se cumpram todas essas coisas.”  A raça passou, mas as palavras de Jesus não passarão; reencarnados os espíritos “daquela raça” hão de assim assistir aos fatos anunciados.

            Em uma palavra: os bons serão assuntos, pelas suas virtudes, aos planetas superiores, e os atrasados ou maus serão relegados para os planetas inferiores, de duras provas; porém a perfeitabilidade, que é a lei de todos os espíritos, lhes assegura, a seu tempo, o termo de todas as provações humanas e a recompensa reservada a todas as criaturas.

                                                                                                          *

            Sucumbindo à ruptura de um aneurisma, faleceu em Paris, a 31 de março de 1869, na idade de 65 anos, o grande missionário.

            Enorme concorrência acompanhou os restos mortais do nosso mestre ao Père Lachaise, onde à beira do túmulo foram proferidas quatro orações: a primeira pelo Sr. Levant, em nome da Sociedade Espírita de Paris; a segunda pelo grande astrônomo e companheiro de estudos Camille Flammarion, “que não fez somente um esboço do caráter de Allan Kardec e do papel que cabe aos seus trabalhos no movimento contemporâneo, mas ainda, e sobretudo, um exposto da situação das ciências físicas, no ponto de vista do mundo invisível, das forças naturais desconhecidas, da existência da alma e de sua indestrutibilidade.”

            Em nome dos espíritas dos centros afastados, falou Alexandre Delanne, e, por último, E. Muller, em nome da família e dos seus amigos.

            Madame Kardec tinha então 74 anos; sobreviveu ao esposo até 21 de janeiro de 1883, desencarnando na idade de 88 anos.

            A mão esquerda de nosso mestre ignorou sempre a caridade constante que fazia a direita: era o tipo perfeito do discípulo de Jesus, a exemplificá-lo da caridade cristã.

            No Journal de Paris de 3 de abril de 1869, a propósito da morte do grande missionário, entre outras coisas escrevia Pagès de Noyez o seguinte:

            “Com ele terminou o prólogo de uma religião vivaz, que, irradiando todos os dias, cedo terá iluminado toda a humanidade.
            ..........................................

            “Seu nome, apreciado como o de um homem de bem, está há muito tempo vulgarizado pelos que creem e pelos que temem. É difícil praticar o bem sem chocar os interesses estabelecidos.

            O Espiritismo destrói muitos abusos, reanima muitas consciências doloridas, dando-lhes a certeza da prova e a consolação do futuro.”

            ..........................................

            “Esta morte, que o vulgo deixará passar indiferente, não é menos por isso um grande fato na humanidade. Não é mais o sepulcro de um homem, é a pedra tumular enchendo esse imenso vácuo que o materialismo cavara aos nossos pés, e sobre o qual o Espiritismo esparge as flores da esperança.”

                                                                                  *

            Não morreu com o mestre a sua filosofia, porque a sua obra não era humana.

            Dele bem se pode dizer “que por obras valorosas” se foi “da lei da morte libertando”.

            Sua obra não satisfez apenas a curiosidade científica e literária dos estudiosos; enche e tem enchido de esperanças milhares de corações, restituindo a crença a inúmeros náufragos da fé; banha do suavíssimo luar da resignação a corações despedaçados pela dor; tem eletrizado de alegria milhares de almas e restituído a saúde física e moral a uma multidão de enfermos que gemiam opressos de sofrimentos de todo o gênero.

            Sua efígie querida está gravada em caracteres indeléveis nos recessos mais íntimos do nosso coração. Seu nome é abençoado desde os esplendores dos palácios dos ricos e poderosos, até a choupana dos pobres e desgraçados.

            A auréola que cinge a sua fronde veneranda é formada do amor de corações agradecidos, que se erguem de todos os cantos da terra. As glórias da vaidade se desfazem como bolhas de sabão ou como a fumaça que mal se equilibra e dissipa-se no espaço. As glórias militares assentam sobre a peanha do sangue e dos gemidos; mas a glória dos que trabalham para a eternidade jamais perecerá.

            “Cesse tudo que a antiga musa canta:
            Que outro valor mais alto se alevanta.”

                                                                                  *
          
            Nascemos católico como podíamos ter nascido muçulmano ou mouro. Pensamos que éramos tido como um modelo de fiel devoto, mas o alimento bolorento do dogma romano produziu-nos as náuseas da descrença. Vimos a análise escalpelando as entranhas do dogma e mostrando a sua mentirosa hedionda. Vimos os pretensos representantes do Cristo batendo a moeda azinhavrada no comércio dos sacramentos. Vimos o fausto e a riqueza dos ministros da palavra desmentindo a simplicidade evangélica. Vimos o farisaísmo interesseiro substituindo o desinteresse tão recomendado por Jesus. Vimos a paz doméstica perturbada pela intervenção tantas vezes nefasta do padre. E o conhecimento da doutrina e o frequentar dos homens nos arrancaram uma a uma todas as ilusões.

            A nossa alma estiolada pela descrença sentia um vácuo profundo. Encontramos o protestantismo frio na sua letra que mata e gela pela secura.

            Deparamos com o positivismo, plágio do catolicismo, também amortalhado numa imobilidade dogmática, tendo um culto sem Deus e uma moral sem sanção.

            Mas quando, nesse matagal da dúvida e da desilusão, nos debatíamos nas vascas de uma descrença esterilizadora, eis que no firmamento do amor fulge a estrela que nos guia, como outrora conduziu os magos ao presépio de Belém.

            Cego como Paulo no caminho de Damasco, entramos, conduzido pelo Espiritismo, no templo augusto da caridade; os nossos olhos se abriram aos esplendores da verdade. Já penetramos, em capítulos anteriores, no soberbo edifício cuja estrutura interna e externa admiramos.

            O que fomos encontrar era para nós desconhecido -Jesus - Sim, Ele estava amarfanhado pelos detritos dogmáticos e farisaicos; descerrou-se a cortina, e nós o conhecemos. Queremos prega-lo como o apóstolo das gentes.

            É assim que procuramos as mãos de Allan Kardec - que são as suas obras - para conduzir os descrentes, como o fomos, à contemplação do amor desconhecido, que é Jesus.

[1]  Trecho de uma comunicação de João evangelista, dada em Bordeaux, em 1862. Vide Gênese, pág. 343.

FIM

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