“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira
1941
1941
0 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
P R E F A C I O
... À
Lei e ao Testemunho,
que se Eles não falarem segundo esta palavra,
que se Eles não falarem segundo esta palavra,
(1) Se as comunicações obtidas de além túmulo não estiverem de acordo com as
verdades ensinadas pelos Espíritos do Senhor, pela boca dos seus profetas,
devem ser rejeitadas como falsas e mentirosas, e os Espíritos dos mortos que as
ditarem serão responsáveis pelas consequências.
Quando peguei na pena para dar resposta a uma carta, pensava poder acomodar em
três ou quatro páginas de papel algumas palavras a fim de responder aos
quesitos formulados pelo Rev. Pastor da Igreja da Liberdade, na Capital.
Entretanto, como o assunto era vasto, foi preciso estender-me em considerações,
atendendo à inspiração que surgia abundante em meu pensamento. A cada quesito que ia
responder, eu não podia apanhar rapidamente e escrever com agilidade tudo
quanto ia recebendo intuitivamente, e assim, sem ser taquígrafo, escrevi nas
horas vagas este folheto, resumindo tanto quanto me permitiu o esforço que fiz
para isso.
É provável que nele se encontrem alguns erros gramaticais, pois escrevendo
apenas algumas horas por dia, gastei uma semana na produção deste livrinho. O
leitor inteligente irá corrigindo, à medida que forem aparecendo esses
erros, próprios do homem. Errare humanum est.
Eu disse erros gramaticais, porém, jamais erros doutrinais.
Os acérrimos adversários da doutrina nele defendida, dirão que tudo está
errado! Eu já espero pela guerra e pelas maldições que trovejarão sobre mim,
mas estou certo de que a semente não cairá somente em terreno estéril...
Quem sabe se este livrinho será o som de uma das trombetas que anunciam por
toda a parte do mundo o juízo final que o Messias prenunciou no sermão
profético?
Os tempos são chegados e nós estamos presenciando os sinais previstos há vinte
séculos, pelo profeta de Nazaré da Galileia. Estamos no princípio
das dores (1).
(1) S. Mateus, XXIV. 8-9.
Não sou o primeiro que escreve, combatendo as teorias dos inimigos da doutrina.
As questões aqui discutidas, já de longa data se vêm discutindo em linguagem
diferente e de maneiras diversas, por pessoas preparadíssimas, cujos
conhecimentos não posso comparar aos meus.
No decurso dos argumentos não fui procurar testemunho de escritores profanos;
não fiz citação de obra alguma a não ser da Bíblia; recorri unicamente à lei e
ao testemunho; não sai fora da Escritura sagrada para contrastar as ideias do
folheto "O Evangelho e o Espiritismo", que o seu autor supôs um golpe
mortal na doutrina espírita.
De fato, a doutrina espírita é mais vasta que o oceano: abrange o espaço
infinito, o tempo e a eternidade; há nela muito o que estudar! O que eu escrevi
neste opúsculo não representa senão a gota de orvalho caindo de uma folha de
árvore que se balouça ao sopro da viração, sopro que move milhares de
árvores no meio de imensa floresta; e a queda de cada gota de orvalho é medida
e notada pela providência divina. - É uma pedrinha como as tantas que milhares
de braços levam para construção do grande edifício da verdade, que tem
como pedra fundamental - o Cristo, infelizmente tão pouco conhecido pelas
seitas religiosas!..
Em virtude do livre arbítrio, que o Criador outorga indistintamente a todos, o
Rev. Pastor escreveu o seu folheto.
Ninguém o censurará por isso; é um direito que lhe assiste o escrever e falar o
que quiser; para isso, temos a garantia das nossas leis que estabelecem a
liberdade de pensamento pela tribuna e pela imprensa; mas, também ninguém está
isento de contestações. Relevar-me-á ele o fato de discordar da sua opinião. O
senhor Ernesto de Oliveira, que foi em outros tempos meu íntimo amigo, também
não me quererá mal pelo fato de comentar neste opúsculo as notícias publicadas
pelo seu jornal de Curitiba, citadas pelo Sr. Antônio Ernesto da Silva.
Um e outro concorreram para a divulgação da doutrina espírita, de maneira que,
sem o quererem, auxiliaram a sua propagação. Se este opúsculo lograr resposta
dos senhores protestantes, haverá ainda mais estímulo ao desejo de estudar a
questão. Protestantes e indiferentes terão oportunidade de acordar dessa
sonolência e verificar de que lado está a verdade ... Dentre os milhares
que lerem, muitos aceitarão o Deus espírita que salva a todos, e
rejeitarão o deus vingativo que põe no tanque de fogo a maioria da humanidade!
Todos trabalham para a divulgação do Espiritismo. Os seus amigos e os seus adversários.
Estes falam e escrevem combatendo-o, aqueles falam e escrevem explicando-o e
interpretando a Bíblia em harmonia com a ciência e a religião. De sorte que o
povo que os lê e ouve e se interessa pela causa, tira algum proveito. O
Espiritismo sai ganhando e os seus inimigos se tornam amigos e defensores. Do
meio de todos eles, saem muitos Saulos de Tarso e dessa forma vai-se apressando
o fim dos tempos.
Há ainda muita luta a vencer, pois grande parte da humanidade não se preocupa
com assuntos religiosos. Cada qual trabalha por adquirir posição social e
elevar-se acima dos seus pares; a ambição de domínio e riquezas materiais faz a
maioria da humanidade esquecer-se de que tem uma alma, que terá de partir
daqui e nada levará para o outro lado do véu.
Incrédulos, ateus, materialistas e indiferentes, não se preocupam de crenças
religiosas: acham que é uma importunação embaraçante ao desenvolvimento dos
seus negócios, prejudicial aos seus interesses. Deixam à margem as questões
religiosas (1). Pouco
importa: Diremos, também nós, com o Mestre: "Deixa aos mortos o cuidado de
enterrar os seus mortos" (2). E sigamos o Mestre, procurando fora das seitas religiosas,
apaixonadas, compreender os seus ensinos em espírito e em verdade, para não ficarmos
sepultados com aqueles mortos que andaram a sepultar os seus mortos, de que nos
fala o Evangelho.
Mombuca,
Outubro de 1922.
Benedito A. da Fonseca
(1) Scio opera tua: quia
neque frigidus es, neque calidus: utinan frigidus esses, aut calidus! sed quia
tepidus es, et nec frigidus, nec calidus, incipiam te evomere ex ore meo , (Apocalipse
- II:15-16).
(2) S. Lucas, IX: 60. S. Mateus VIII: 21-22.
1
“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Introdução à Primeira Parte
Igne Natura renovatur integra.
A MISSÃO DO ESPIRITISMO
É pelo Evangelho que cumpre anunciar o Espiritismo. A igreja espírita há de ser
a igreja cristã em sua simplicidade primitiva, em sua pureza, em sua verdade
tal como a estabeleceu Jesus e entenderam os apóstolos.
Paulo, o doutor das gentes, discorrendo sobre a personalidade do Mestre,
disse: "- Não podemos por outro fundamento além daquele que já
está posto, a saber: Jesus Cristo".
No entanto, continua o converso de Damasco, conquanto seja um só o fundamento,
muitas são as edificações levantadas sobre o mesmo: uns constroem obras de
prata, outros de ouro, outros de pedras preciosas, outros de madeira, de ferro
e até de palha. Tais obras, conclui ele, hão de ser provadas no fogo; aí, umas
permanecerão, outras serão desfeitas.
Estas judiciosas considerações do iluminado apóstolo referem-se claramente às
várias igrejas, que, através dos tempos surgiram no cenário terreno sob a égide
do Cristianismo. Todas seriam erguidas sobre os mesmos alicerces, sobre as
mesmas bases, porém, a despeito mesmo disso, nem todas permaneceriam, pois no
tempo da prova, na hora de serem submetidas ao fogo das paixões, as obras
de madeira, feno e palha fatalmente pereceriam.
A época da prova chegou: são estes dias calamitosos que ora atravessamos.
Ao Espiritismo cabe a gloriosa tarefa de restaurar o Cristianismo levantando
uma obra imperecível. Cumpre que uma edificação sólida, inabalável, seja
construída sobre o fundamento santo, sobre aquela base imutável que há XX
séculos foi lançada como sendo a rocha inamovível, como o traço de união entre
o Céu e a Terra, entre Deus e a humanidade.
A derrocada dos credos dogmáticos, dessas construções de palha e feno, acha-se
patente para os que têm olhos de ver. A sociedade atual se debate num
verdadeiro caos. A fé convencional, as religiões dos rituais e cerimonias
mostram-se impotentes para conter a onda invasora das paixões desenfreadas. Não
resistiram à prova do fogo predita por Paulo. Um egoísmo feroz, brutal, nunca
visto, campeia infrene, verificando-se com a máxima clareza o cumprimento da
profecia de Daniel: "A abominação que causa desolação atingindo as
coisas santas."
É tempo, portanto, de pensarmos seriamente no desempenho do mister que o céu
nos quer confiar: construirmos sobre os escombros dos templos desfeitos pelo
fogo da prova, o templo vivo da fé, dessa fé que consola, regenera, purifica e
salva.
Erguermos, cooperando cada um com seu contingente, por mais modesto que seja, a
igreja rediviva de Jesus Cristo, a igreja sem dogmas, sem liturgia, sem casta
sacerdotal; essa igreja que se levanta no interior do homem, que tem seu altar
nos corações, que exerce influência incoercível nos hábitos, nos costumes,
reformando e consolidando os caracteres; essa igreja poderosa, forte, contra
cujo poder não prevalecerão as portas do Hades; essa igreja que é luz, que é
virtude, que é paz, que é bênção e consolação porque é o reino de Deus
dominando nossos espíritos.
Vinícius
Do
"Clarim"
2 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Meu bom Primo,
Saúde.
Recebi tua carta acompanhada de um folheto escrito pelo Sr. Antônio Ernesto da
Silva, intitulado "O Evangelho e o Espiritismo".
Em virtude da amizade que mantemos há algumas dezenas de anos, pedes-me que o
leia com atenção, acrescentando que o folheto é um aviso para me pôr ao abrigo
dos erros e perigos do Espiritismo.
Em tua carta fazes-me recordar os estudos das sagradas letras, que juntos
fazíamos noutros tempos, quando ainda principiantes ou neófitos da religião
cristã. Dizes que o folheto do Pastor da Igreja da Liberdade é uma obra que
desmascara o Espiritismo, mostrando a incompatibilidade existente entre o
Evangelho e a religião de Allan Kardec.
Fico muito agradecido pelos fraternais conselhos que me deste em tua carta; sei
que eles foram ditados pela estima e amizade que me dedicas e sempre me
dedicaste.
Li o folheto e achei-o muito bom. Deus faz tudo muito bem feito, pois se não mo
tivesses mandado eu não teria incentivo para escrever alguma coisa que servisse
para despertar a atenção e boa vontade de muitos estudiosos, para conhecimento
da verdade.
Peço-te pois, meu caro primo, me desculpes se porventura esta resposta for
contrariar-te, pois, pelo que vejo, és muito amigo do Rev. ministro, autor do
aludido folheto. Admiro-me entretanto, de ver um senhor que se diz ministro da
Palavra de Deus usar de uma linguagem dura contra pessoas filiadas a outros
credos religiosos, visto a caridade tão proclamada por Jesus e tão bem
apregoada e explicada por Paulo aos Coríntios (I cap. XIII, 4-7) ser contrária
aos insultos que ele assacou contra os prosélitos da doutrina espírita.
Disse ele que os crentes do Evangelho de Allan Kardec são vítimas de torpes
explorações por parte dos mais ladinos e logo depois, disse que existem
comunicações de Satanás, que iludem tanto aos ladinos exploradores, como também
aos imbecis, vítimas da exploração... E por aí adiante, seguem-se as
contradições do bom-senso do Rev. Pastor.
O espírito santo que guiou o escritor do folheto, o arrastou a um caminho
errado, visto que, desde o começo dos seus argumentos, já o enfronhou em
confusão.
Não pretendo ofender ao digno pastor, porque todos nós temos direito ao
respeito dos nossos semelhantes, aos quais também temos o dever de respeitar;
mas ele que tenha paciência e lembre-se de que o protestantismo ressente-se das
acusações que lhe faz o catolicismo, de seguir a religião do evangelho de
Lutero.
Que juízo se poderia fazer do Espiritismo se julgasse o Protestantismo sem
conhece-lo?!
Como pode o Protestantismo julgar o Espiritismo sem ter estudado as suas obras
fundamentais!?
Os protestantes, pelo motivo de desconhecerem os planos de salvação que Jesus
trouxe a Terra, supõem que alguém pode perder a alma. Do ponto de vista da
unidade da vida e de ser somente a Terra o planeta habitado, eles não podem
mesmo, e nunca poderão compreender as verdades contidas na Bíblia, sob o véu da
alegoria, e supõem haja alguém suscetível de perder eterna ou perpetuamente a
alma..!
3 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPITULO II
Torpes explorações por parte dos mais ladinos....
Não é verdade.
Camilo Flammarion, Wiliam Crookes, Karl Du Prel, A. Aksacoff,
Léon Denis, Gabriel Delanne, Wan der Naillen, Elias Sauvage, Dr. Gyel (Geley),
Alfred Erny, De Rochas, Louis de Figuier, R. D. Owen, Epes Sargent, Stainton
Moses, Arthur Conan Doyle, Paul Gibier, Zõllner, Windt, Weber Fechner, Henry
Durvílle e muitos outros que seria fastidioso enumerar, sem falar dos ilustres
brasileiros, médicos, engenheiros, jornalistas, advogados, professores,
farmacêuticos, homens sábios que estudaram e publicaram livros dando conta do
resultado dos seus estudos e investigações, convictos da procedência divina do
Espiritismo; não são torpes exploradores, nem explorados. Os que se
dedicam à propaganda das verdades espiritas não exploram ninguém. Os lucros que
colhem são a perseguição, a calúnia; a maledicência, por parte dos seus
gratuitos inimigos, e despesas sem resultado material. Eles não recebem
ordenados, não têm igrejas com gazofilácios onde deitem moedas com que
se locupletam os que soem explorar o próximo!
............................
O Rev. Pastor começa as suas citações da Escritura chamando atenção para o
Capítulo XVIII do Deuteronomio, 10-12, e já de ânimo prevenido, não
transcreveu os versículos integralmente.
Vamos copiar os mesmos versículos:
"Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua
filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem
encantador de encantamentos, nem quem pergunte a um espírito adivinhante, nem
mágico, nem quem pergunte aos mortos: Pois todo aquele que faz tal coisa é
abominação ao Senhor, e por estas abominações o Senhor teu Deus as lançará fora
de diante dele." Deut. XVIII, 10-12 confirmado em Êxodo XXII, 18; Levítico
XIX, 31 e XX, 27.
Essas proibições do Velho Testamento tem aplicação à repressão dos feiticeiros
e quantos praticam a baixa magia (magia negra), que se compõe de charlatães
ignorantes ou de exploradores sem escrúpulos, em cujas reuniões tratam de
indagar o número premiado de loteria; de tesouros escondidos; de jogo do bicho,
muito procurado pelos viciados; da descoberta de particularidades da vida
alheia para comentários escandalosos.
Homens doutos já têm explicado em jornais e em livros publicados, os motivos
das severas proibições de Moisés. Com a devida vênia transcrevo abaixo o artigo
do ilustrado escritor e orador Dr. Viana de Carvalho,
intitulado:
“Argumento Falho”
De vez em vez, corre pela imprensa a surrada afirmação de que os espiritistas
se contrapõem a uma ordem prescrita no Deuteronômio e segundo a qual é
abominável, condenado por Deus, o intercâmbio intelectual com as almas dos
impropria e erroneamente chamados mortos.
A Bíblia proibiu, mui judiciosamente, as evocações em tempos de absoluta
ignorância do assunto.
Moisés previra que os hebreus seriam mal sucedidos travando comunicação
ostensiva com as entidades do mundo invisível.
Povo dominado pelas paixões inferiores, de índole tendenciosa à superstição e à
feitiçaria, não se achava em condições de merecer contato direto com os
habitantes do plano astral.
"A proibição de Moisés, diz Allan Kardec à página 161, do "Céu e o
Inferno", era assaz justa, porque a evocação dos mortos não se originava
nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes
recurso para adivinhações, tal como os agouros ou presságios explorados pelo
charlatanismo e pela superstição.
Essas práticas, ao que parece, também eram objeto de negócio e Moisés, por mais
que fizesse, não conseguiu desentranhá-las dos costumes populares".
Daí se não infere que, muitos séculos depois, deva prevalecer o mesmo
dispositivo de legislação ditada a, uma raça atrasada, que carecia de
habilitações morais para se ocupar de fenômenos ligados á manifestação dos
espíritos (1).
(1) Veja o Cap. Vil da 2". Parte desta obra (apend.)
O caso mudou completamente de aspecto. As gerações atuais suportam vivas
claridades, compreendem o que há de grave e religioso nos processos de comunhão
entre os dois mundos, inaugurados com o advento do Espiritismo, de maneira
sistemática.
O chamamento dirigido aos desencarnados reveste-se agora de intenções
humanitárias; tem objetivo de caráter puro e sublimando-se, cada vez mais, nos
fraternos laços que se estreitam assim entre criaturas da terra e suas irmãs de
além fronteira planetárias.
A citação da Bíblia é ótima para os contemporâneos de Moisés, aos quais foi
ministrada exclusivamente, como se verifica ao examinar sem parcialidade o
capítulo XVIII do Deuteronômio versículos 9-10-11 e 12. Aplicá-la aos nossos
dias, redunda em negar eficiência do progresso acumulado ao longo da história
humana.
Ao demais, se Deus entendesse vedar-nos o conhecimento desses fatos, por que
permite a multiplicação deles, exuberantemente, à nossa vista? Não seria
razoável conter em seus limites de afastamento absoluto as populações do além
que nos visitam e atuam sobre os médiuns, transmitindo por eles pensamentos
proveitosos, conselhos, advertências altamente reformadoras de nossa conduta
nesta vida?
Estas interrogações têm como consequência a convicção de que nos é lícito
receber os testemunhos de solidariedade provindos da outra margem, colocada no
plano hiperfísico e para o qual marchamos também, cumprindo os desígnios da
Providência.
O erro não está em convivermos amorosamente com os que nos precederam na
liberdade maior trazida pela morte, mas sim em deixarmos no olvido as doces
insinuações de suas mensagens estimulando-nos à execução de todos os atos de
bondade consagrados nos divinos princípios do cristianismo."
(Artigo
publicado na "Aurora").
4 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Mais um artigo copiado do "Clarim”, assinado por Vinicius, com
o título:
"NÃO CONSULTES AOS MORTOS"
É veso (próprio) dos nossos irmãos protestantes alegarem contra as
manifestações psíquicas (fenômeno que o Espiritismo não criou nem inventou, mas
constatou)- os versículos 10 e 11 do capítulo XVIII do Deuteronômio, onde,
segundo pretendem, encontra-se formal condenação a todo e qualquer comércio com
os espíritos.
Não
procedem com lealdade os que invocam as proibições aliás categóricas, daqueles
versículos ao costume então vigente, de consultar os desencanados,
pretendendo aplicar as ditas proibições às doutrinas expendidas pelo Neo
Espiritualismo com respeito às comunicações com o Além.
Aos protestantes que investigam, estudam e até guardam de memória as passagens
bíblicas, não deve ser estranha, nem passar despercebida a razão que determinou
as restrições impostas pelo Deuteronômio às constantes e injustificadas
consultas que o povo costumava fazer aos espíritos, a propósito e fora de
propósito. Se os nossos irmãos reformistas quisessem agir com sinceridade, sem
ideia exclusivamente combativa, jamais invocariam aqueles versos
deslocados do conjunto, prejudicando propositadamente o sentido e, sobretudo,
deixando à margem o ponderoso motivo que determinou a proibição, ou melhor, a
restrição imposta às relações com os invisíveis. Sim, dizemos
restrição, porque, de fato, o preceito vertente não visava precisamente proibir
as comunicações do céu com a terra, porém restringi-las de modo que o povo de
Israel, havia pouco saído do cativeiro egípcio, não entrasse em contato com o
paganismo cujos adivinhos, pitonisas e oráculos difundiam doutrinas
subversivas, idólatras e politeístas. Ora, o objetivo do Alto era
exatamente implantar no seio do povo eleito os princípios do monoteísmo, da fé
num Deus único, Deus vivo, criador do Universo, que não podia ser representado
por imagem de escultura e que falava ao povo pela boca, não dos profetas
gentílicos, mas daqueles por ele mesmo escolhidos para intérpretes de suas
ordenanças. Daí todo o cuidado em conservar Israel isento de qualquer contato
donde pudesse advir ensinamentos opostos àqueles que o Alto ia ministrando
através da mentalidade humana. Para esclarecer este caso peremptoriamente
lançando sobre o mesmo um jato de luz límpida e forte, basta que os nossos
leitores atentem para os versos abaixo, transcritos do referido capitulo XVIII
do Deuteronômio:
"Quando
tiveres entrado na terra que o Senhor te dará, guarda-te, não queiras imitar as
abominações daquela gente. Nem se ache entre vós quem pretenda purificar seu
filho ou filha fazendo-os passar pelo fogo. (1) nem quem consulte adivinhos ou
observe sonhos e agouros, nem quem seja feiticeiro ou encantador, nem quem
consulte aos Pitões ou adivinhos, nem quem indague dos mortos a verdade. Porque
todas estas cousas as abomina o Senhor e por semelhantes maldades exterminará
este povo a tua entrada. Tu serás perfeito e sem mancha com o Senhor teu Deus.
Estas nações cujo pais possuirás, ouvem os agoureiros e os adivinhos; tu,
porém, foste instruído de outra sorte pelo Senhor teu Deus. O Senhor teu Deus
suscitará um profeta, como eu, da tua mesma gente e dentre teus irmãos: a este
então, ouvirás. Conforme pediste ao Senhor Deus em Horeb, onde todo o povo
estava junto, e disseste: Eu não ouvirei mais a voz do Senhor Deus, nem verei
este grandíssimo fogo, para que me não suceda morrer. E o Senhor me disse: Eles
falaram bem em tudo. Eu lhes suscitarei do meio dos seus irmãos um profeta
semelhante a ti: e porei na sua boca as minhas palavras, e ele lhes dirá tudo o
que eu mandar. E o que não quiser ouvir a sua palavra, que ele falar em meu
nome, eu me vingarei. Se um profeta, porém, se corromper em sua soberba e falar
em meu nome, e disser o que eu não lhe mandei dizer, ou se falar em nome de
deuses estranhos, será morto. E se tu disseres lá no teu coração: Como poderei
discernir qual é a palavra que o Senhor não disse? Terás este sinal: Se aquilo
que foi predito pelo profeta em nome do Senhor, não su ceder
tal qual disse, é falso, não foi o Senhor quem predisse, mas o profeta por
soberba do seu ânimo o fingiu, e, por isso, não temerás". Deut. XVIII, 10-12.
(1) Veja cap. VIl da 2ª parte (Apêndice).
É assim que a história deve ser escrita e não como querem, ou como convém aos
nossos irmãos reformistas". (O Clarim)
............................
Por tais motivos e pelos perigos a que estão sujeitos os audaciosos e
ignorantes, que se arriscam a fazer experiências sem estarem preparados para
evitar os prejuízos que advém do emprego mal dirigido dessas práticas e do seu
uso para fins inconvenientes, é que Moisés e os governadores daqueles tempos
proibiram o mesmo que as nossas leis atuais também proíbem (1).
(1) Vd. “Verdade e Luz’ nº 17 de 3-1-1923, artigo de Francisco do Nascimento.
O Código Penal brasileiro assim se exprime no capitulo III - título 3°, Artigo
157 (2):
"Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismã e
cartomancia para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar curas de
moléstias curáveis, ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a
credulidade pública. Pena: Prisão, multa etc."
A filosofia e a ciência do Espiritismo estão muito longe de ser magia,
feitiçaria, cartomancia, encantamentos, sortilégios ou uso de talismãs; ou
adivinhações, como dizem o texto sagrado e o código brasileiro. O que as leis
em todos os tempos profligaram tem sido o abuso do charlatanismo praticado para
fins ilícitos e inconfessáveis. Vide Atos dos Apóstolos; Cap. XIII, 6-8 o de
Elimas, o encantador e falso profeta.
Hoje há muitos que operam com o rótulo de espíritas, assim como também há
muitos protestantes com rótulo de cristãos e que só servem para envergonhar os
ministros do Evangelho. A doutrina codificada por Kardec não é responsável por
esses charlatães, assim como a igreja protestante não é responsável pelos atos
dos seus crentes boçais, viciados ou mal comportados, bem como a medicina pelos
crimes dos curandeiros ignorantes.
Eu nunca assisti a trabalhos de feiticeiros, mas sei que eles usam copos
(taças) e outros objetos prescritos em rituais especiais dessa prática
abominável, coisas em uso no tempo do Antigo Testamento. Para provar, citarei
os seguintes versículos:
"A taça que furtastes é a mesma pela qual bebe o meu Senhor e da qual se
serve para as suas adivinhações: Vós obrastes uma péssima coisa. (Gênesis XLIV,
5) - Não foi por esse meio que José interpretava os sonhos de Faraó?! (1)
(1) José do Egito não era feiticeiro, apenas usava o costume de
adivinhar por mediunidade intuitiva ou pela revelação divina, para a prática da
caridade e não para malefícios.
Para praticar a religião cristã, o Espiritismo não precisa de taça nem de
objeto algum para sortilégios, adivinhações ou encantamentos. O sacerdócio
romano é que faz sortilégios com a taça onde põe o vinho e a pastilha de trigo,
e por encantamentos de magia misteriosa os faz transformar em carne e sangue do
Cristo, o qual comem e bebem como teantropófagos! (1)
(1) Vide Críticas e Réplicas nas Rimas de Além Túmulo, de Guerra
Junqueiro. Pág. VI
5 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPITULO
III
Perguntar aos mortos.
Isso é absurdo inqualificável, é coisa impossível! Quem teria a lembrança de ir
ao cemitério e, por meio de esconjuros, obrigar a sair da sepultura um defunto,
ou um esqueleto de caveira descarnada, a fim de fazê-lo falar e responder a
perguntas? O defunto não sairia da cova para responder ao idiota ou imbecil que
se dirigisse a um cadáver! Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, disse
Jesus, referindo-se a Abraão, Isaac e Jacó. (S. Mateus, XXII, 32) (1).
(1) Leia-se ‘Amor lmortal’ do Dr. J. A. Nogueira.
A resposta é, pois, dada por quem não está morto. Jesus Cristo mesmo,
interpelou os Espíritos, (S. Marcos V; 9). Se são Espíritos de mortos, não são
exclusivamente demônios, Na sessão espírita que Saul pediu à Pitonisa de Endor,
a Bíblia não diz que foi Satanás quem respondeu a Saul. A Bíblia diz que foi
Samuel.
"Então disse Samuel: Por que pois a mim me perguntas?.. Porque o Senhor
tem feito contigo como pela minha boca te disse." (I Reis ou Samuel
XXVIII, 15-16-17 e seguintes.) Samuel foi quem falou pela boca da pitonisa
(médium) (1).
(1) Vide Capítulos IV-V e VI da 2ª parte (apêndice).
O Senhor tinha falado a Saul pela boca de Samuel e Samuel confirma as mesmas
palavras pela boca do médium de Endor. Não foi, portanto, Satanás. O Diabo não
teria dado a Saul conselhos bons, os quais não foram atendidos e por isso mesmo
o reino dele foi dado a Davi. (2)
(2) Diabo: - As más inclinações ou malignidade humana.
Se eram exclusivamente demônios que falavam pelos médiuns, as palavras dos
Deuteronômio XVIII 10-12 deveriam ser: "Entre ti não se achará quem
pergunte a Satanás porque isso é abominação, e os versículos acima citados
deveriam dizer: "E Satanás disse a Saul". Mas, a Bíblia não diz
isso. O Senhor ministro torce as Escrituras.
O espírito santo que inspirou ao legislador a proibição, certamente não era de
Deus, porque recomendou o contrário de sua lei, porque só o diabo é que
contraria a vontade de Deus.
Em Êxodo (XX: 13) na lei de Deus, recebida por Moisés no Sinai, diz: "Não
matarás". Como poderia Deus ter inspirado outra lei que diz:
"Apedreja lo ão para que morra de morte e o seu sangue recaia sobre
eles?" (Levítico XX, 27). Como podem harmonizar-se duas leis de Deus,
contraditórias? Uma há de ser do diabo (3) e não de Deus. O bom senso
concordará com Jesus, em Mateus, V: 21, que a lei inspirada divinamente é a
que proíbe matar, e a que é inspirada diabolicamente é a que manda
matar.
(3) Da malícia humana.
Se os governos de todos os países fossem protestantes, com certeza fariam
prevalecer a lei do Levítico XX; 27 decretariam a matança de todos os médiuns
que existissem no mundo.
"Jerusalém, Jerusalém que matas os profetas e apedrejas os que te são
enviados... Eis que a vossa casa irá ficar vos deserta" - disse Jesus
(Mateus, XXIII, 34 a 37) (1).
(1) Vide cap. VII da 2ª parte (apêndice) .
Os governos de Jerusalém matavam os médiuns que apareciam em sua cidade... e
Jesus também não escapou à fúria sanguinária dos matadores!
***
Se Deus permite que os maus Espíritos se comuniquem com os homens, por que
razão não consentirá se comuniquem também os bons? Por que, pois, consente a
manifestação dos primeiros com a exclusão dos segundos? Não se move a folha de
uma árvore sem a sua vontade, e sabendo que há um grande perigo, por que, pois,
permite que o diabo se apresente para perder a alma de suas criaturas?
Qualquer pai por mais ignorante que seja, sabendo que existe em tal lugar,
presa em uma jaula, uma fera que, se escapar poderá dilacerar seus filhos, não
deixará que ninguém abra a porta dessa jaula, a fim de evitar a desgraça. Será
Deus pior que qualquer mortal, que exponha seus filhos ao pior dos perigos?
Teoria esta análoga à alegoria de Satã, em figura de serpente, no paraíso...
Deus colocou no Éden dois filhos e soltou ali a serpente ou Satã para
perdê-los! ...
A Bíblia interpreta ao pé da letra, faz de Deus um pai que não se importa com a
desgraça de suas criaturas! (1)
(1) Vide "Cristianismo e Espiritismo" fim ( Notas) .
O Senhor ministro fala dos que não querem aceitar o Evangelho na
sua simplicidade.
Ele exige a fé cega, sem raciocínio, sem exame... É a fé do fanático, a fé
imposta, o dogma de que os seus crentes não podem discordar sob pena de serem
excomungados. O que discordar e não aceitar as suas imposições, estará
amaldiçoado: vai para o inferno!
Diz ainda o Pastor que, pregou aqueles sermões e os publicou a fim de prevenir
as ovelhas do seu rebanho, evitando que caiam nos embustes de Satã. Pois Jesus
disse que aqueles que são dele, não os lançará fora: os que são dele (Jesus)
estão, portanto, ao abrigo da proteção divina e não seria necessário prevenção
alguma por parte do autor do folheto. Por que, então, se incomoda com o
Espiritismo? Não diz o Evangelho que as ovelhas de Jesus ouvem a sua voz e o
seguem? (2) Elas ouvirão a voz de Jesus e não a de Satã; dispensável, nesses
casos, as suas advertências.
(2) S, João X, ,16.
O Evangelho nos conta o caso da cura que Jesus fez a um cego de nascença. Diz o
narrador que os fariseus faziam ao ex cego reiteradas perguntas, de como e por
que forma fora curado por Jesus; ele explicava-lhes que tinha mandado por lodo
nos olhos e mandado lavar, - tornavam a perguntar a mesma coisa e assim foi,
até que o homem que fora cego lhes disse: "Já vo-lo disse e não ouvistes;
para que o quereis tornar a ouvir? Quereis vós, porventura, fazer-vos também
seus discípulos?" Então o injuriaram e disseram: "Discípulo dele
sejas tu: nós, porém, somos discípulos de Moisés". (S. João IX: 10-29).
Os pastores se incomodam tanto com o Espiritismo como os fariseus se
incomodavam com as doutrinas de Jesus.
É o caso dos espíritas perguntarem também aos Senhores pastores protestantes se
querem também fazer-se discípulos de Kardec! Mas, eles provavelmente
responderão injuriando-os: "Discípulos de Kardec sejais vós: nós, porém,
somos discípulos de Lutero!"
***
A fama das curas pelo Espiritismo corre por toda a parte, como outrora a de
Jesus corria por toda a província da Galileia, a ponto de toda gente se admirar
e dizer: "Que nova doutrina é esta que até com autoridade manda
aos maus Espíritos e estes lhe obedecem!" (S. Marcos 1, 27).
A nova doutrina, de Jesus, o Espiritismo, assusta aos sacerdotes católicos e
protestantes, e eles estão prevendo o desmoronamento de suas igrejas... (1)
(1) Na Rússia, as igrejas estão sendo derrubadas e na Inglaterra
estão sendo vendidas. (Vd. os jornais).
Já vêm tremer os seus alicerces! A doutrina do Espírito da Verdade está
solapando os seus fundamentos. A queda é tremenda e infalível!
Ninguém mais tem medo de Satanás, que tem sido a principal coluna das
igrejas... o prestígio de Satanás está principiando a dissolver-se... está
caindo no descrédito geral - está se tornando um moribundo... Mas os sacerdotes
romanos e protestantes não querem deixá-lo morrer: dão-lhe de vez em quando uma
injeção fortificante, ou algumas gotas do Elixir de longa-vida!... (2).
(2) Esta página foi escrita no ano de
1922, há 16 anos, e já estamos em 1941. Hoje, os pastores presbiterianos da
Igreja independente de São Paulo já estão deixando morrer o pobre diabo! Em vez
de lhe darem Elixir de Longa-Vida, estão resolvidos a lhe aplicar
injeções para apressar o fim do moribundo... umas injeções de Sucumbina para
dar cabo do velho Mefistofeles!..
Eis o que publicou "O Clarim" em seu número de 28 de Maio de 1938:
"O DIABO EM DECADÊNCIA"
Segundo nos informam o Supremo Concilio da Igreja Presbiteriana Independente
(Sínodo), realizou há pouco seus trabalhos em São Paulo. Neles tomaram parte 40
pastores e 50 presbíteros.
Na magna assembleia o rev. Otoniel Mota e mais sete pastores trataram da
questão doutrinária da eternidade das penas e se declararam francamente contra
o inferno.
Para eles o inferno não existe como lugar, senão como um estado
da alma.
Como se vê, a teoria é espiritista.
Felizmente para o Sínodo, a dissidência ficou reduzida àqueles oito.
Parece que eles estão querendo andar muito depressa. Ora, se continuam nesse
"andar", acabam aposentando o diabo, o que, aliás, já não é sem
tempo, dados os bons serviços que ele tem prestado às igrejas! (Do
‘Reformador’).
Continuando a chamar a atenção do leitor para os dizeres desta
página escrita há 16 anos, eis aqui o que escreveu o Snr. Dr. Souza Ribeiro, no
fim do seu XXº artigo, esmagando os surrados argumentos do
Padre Gonzalez:
O
povo está de fato debandando das igrejas dos padres e isto no mundo todo,
porque os tempos são chegados.
São os próprios graduados da Igreja de Roma que o
confessam publicamente. Quer o leitor a prova? Ei-la: A catedral de São
Paulo está em construção desde 1912, portanto há 26 anos e não está concluída,
apesar do auxílio dado pelo governo do Estado no valor de Rs.
4.000:000$000!
O Sr. Arcebispo de São Paulo fez, publicamente, esta declaração:
"Lá está ela ao fundo da praça majestosa e coalhada de automóveis de luxo,
como edifício em ruínas, espécie de casa
mal-assombrada a que ninguém quer, nem mesmo lançar um olhar, quanto mais
visitar e tornar padrão digno de um povo culto e piedoso, obra prima de
arquitetura."
(Ver o "Estado de São Paulo" nº. 20.956, de 28 de Janeiro de 1938,
pág. 9, 5ª coluna.).
Viu o leitor a que ponto já chegou? Que se tirem desta confissão pública as
devidas conclusões (1).
(1) Leia-se o CAP. VII de "O Crime do Rio das Pedras, -
"O Espiritismo e o padre" no final da notícia do apedrejamento do
Centro Espírita, em 1918.
6 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPÍTULO IV
É' impossível a manifestação das almas que estão no céu
e também das que estão no inferno.
O senhor ministro apoia as suas afirmações na comunicação somente de Satanás,
na parábola do rico e de Lazaro, dizendo que é impossível a manifestação dos
que estão no inferno e também dos que estão no céu; portanto, as comunicações
das sessões espiritas não são senão de Satanás, que se transforma em anjo de
luz para enganar aos que se entregam ao Espiritismo (1).
(1) Vide "Verdade e Luz", nº 8, de 18-8-1922, os artigos "Rico e
Lázaro" e "Estudos Bíblicos", do Padre Manoel Deirrada.
De modo que, a luz que resplandeceu na prisão onde estava Pedro, amarrado com
corrente entre dois soldados, era luz de Satã que se transformou em anjo e lhe
fez cair das mãos as cadeias e depois o levou para fora da prisão. (Atos, Xll;
7-10). Se S. Pedro fosse protestante, ficaria com medo daquele clarão e não
acreditaria no que lhe disse o anjo e lhe responderia: "Tu és Satanás que
te transformaste em anjo de luz para me iludir, vai-te que eu fico aqui mesmo e
não aceito os teus embustes".
Quando Jesus falou a Ananias, dando-lhe instruções a cerca de Saulo, era ainda
embuste de Satã? (Atos, IX, 10-16).
Filipe não teve medo de Satã, quando um anjo o mandou para a banda do sul, ao
caminho que desce de Jerusalém a Gaza. (Atos; VIII, 26). Ele não temeu quando
aquele Espírito lhe disse: "Chega-te e ajunta-te
a este coche". Se Filipe fosse pastor protestante, ficaria
desconfiado; teria medo das mentiras de Satã. (Atos, 8, 29). Se o centurião
Cornélio fosse adepto do evangelho de Lutero, desconfiaria do anjo que lhe
mandou chamasse a Pedro; e diria: "Não! Tu és Satã transformado em anjo,
eu não te atendo! (Atos, X, 1-6). Quando Pedro duvidou da visão que tivera
(versículo 17) e quando o Espírito disse: Não duvides,
porque eu os enviei, (versículo 20), Pedro foi com os enviados de Cornélio;
foi, porque não era pastor protestante, que não acredita senão na manifestação
do diabo. Quando Pedro foi a Jerusalém, os protestantes daquela cidade lhe
censuraram o procedimento por entrar em casa de espíritas e comer com eles.
(Atos; XI, 2-3) . - Pedro não se envergonhou de lhes contar o que
o Espírito lhe disse. (Atos, XI, 12). Os protestantes de Jerusalém eram
mais razoáveis do que os de hoje, porque ouvindo estas coisas, se
apaziguaram (versículo 18). Se Josué fosse protestante, teria medo
quando um Espírito lhe disse: Eu venho como o príncipe dos exércitos do
Senhor. (Josué; V, 13-15). O anjo que apareceu à direita do altar de
Zacarias disse a este: Não temas. Teria Zacarias pensado que era
Satanás transformado em anjo? (Lucas; I, 11-13). Se o anjo ou
Espirito Gabriel aparecer hoje a qualquer pastor protestante, pregador do
evangelho de Lutero, ele lhe dirá; "Retira-te, Satã! hoje não precisamos que
os anjos falem conosco; nós temos a Bíblia i- tu queres enganar-me".
Nunca mais eu acabaria se me propusesse provar, pela Bíblia, desde o Gênesis
até ao Apocalipse, as comunicações dos Espíritos. Se os homens daqueles tempos
fossem da mesma teoria dos senhores ministros, nós hoje não teríamos a Bíblia,
porque não a escreveriam.
Vejamos:
Gênesis (XVIII, 2-3 - XIX; I e
seguintes e XXII; 11-12, e XXXII; 24-29)
Êxodo (III, 1 e seguintes);
Números (I, 1 e seguintes);
Levítico (I, 1 e seguintes);
Deuteronômio (V, 4-6);
Juízes (II, 1-4 e VI, 11-12 e XIII,
13-25 e XIV, 5-6);
S. Mateus (XXVIII, 5);
S. Marcos (XVI 5-6);
S. Lucas (XXIV, 4-6);
Atos (I, 10-11);
Atos (XXI, 4 e XXVII, 23);
Mateus (XVI, 17),
Daniel, (11, 2-19 e X, 5-14 e VIII,
16);
Apocalipse ((I, 10, e V, 2-11; e
VIII, 2; e X, 1; e XIV, 6-8-9; e XXII, 6 e versículos 16-17) (1)
(1) Deixo de mencionar Tobias V. 7 e vers. 18 e XII, 15-21
porque os protestantes rejeitam autoridade divina a este livro e o excluem da
Bíblia.
É pena que os escritores da Bíblia tivessem cometido o lamentável descuido de
escreverem-na antes de pedir conselho aos discípulos de Lutero! Coitados! Como
estarão arrependidos de haver deixado a Bíblia inteira, cheia de comunicações
espíritas! Hão de dizer, entre eles, que foram na Terra vítimas das velhacarias
de diabos transfigurados em, anjos de luz!...
A doutrina espiritista não diz que somente os bons Espíritos se comunicam; os
maus, ignorantes, atrasados, levianos, também se manifestam. A Bíblia mostra
exemplos de comunicações de maus espíritos. Vejamos:
Atos XIX, 13-16;
Mateus VIII,28-34;
Marcos V, 1;
Lucas VIII, 27-31; II
Crônicas ou Paralipomenos XVIII,
20-22;
Mateus XVI, 22-23;
Lucas XXII, 3;
Atos VIII, 9-23 e XIII, 8-12, e em
muitos outros lanços.
***
A parábola do rico e de Lázaro, longe de ser uma passagem bíblica contrária ao
Espiritismo, dá ainda mais força à sua confirmação. Abraão não disse que era
impossível a comunicação de Lazaro; se não fosse possível, o rico não teria
insistido, nem discutido com Abraão. Eis as suas palavras:
-
Rogo-te pois que mande a Lázaro na casa de meu pai, porque tenho cinco irmãos;
para que dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de
tormento. Pai Abraão respondeu: Têm Moisés e os profetas,
ouçam-nos. Insistiu o rico: Não, pai Abraão, mas se algum dos mortos fosse ter
com eles, arrepender-se-iam (1).
(1) "Verdade e Luz", nº 8: artigos do Pe. M.
Deirrada.
Pai Abraão não lhe combateu essa doutrina e se ela não fosse racional, Jesus
não se lembraria de a intercalar nesta parábola. Nem mesmo o Cristo combateu
esta ideia; apenas disse que, se a alma de Lázaro fosse falar aos seus
irmãos, eles não dariam crédito: (julgariam que era o demônio); e
ainda mais, se os irmãos do rico tivessem estudado o Velho Testamento, dariam
crédito aos médiuns (profetas) daquele tempo e, nesse caso, poderiam
acreditar; então Abraão poderia consentir que Lázaro lhes fosse falar pela boca
de algum médium ou profeta. Mas, se um médium, ou profeta, entrasse na casa do
pai do rico e dissesse aos irmãos deste: "Eu sou a alma de Lázaro que
venho a pedido do teu irmão para avisar-vos de que ele sofre"; estes,
não só não dariam crédito, mas, também chamariam o médium de "louco"
e até poderia suceder que o entregassem à prisão! É o que dizem hoje os
protestantes: - Os médiuns são uns loucos.
A alma do rico e a de Lázaro, estavam ambas num só lugar: o inferno ou o céu
estava com eles, em seu próprio Espírito. Jesus disse aos seus discípulos:
O reino do céu está dentro de vós (Lucas XVII, 21). O grande abismo que os
separava era a diferença da posição de seus Espíritos. O inferno do rico
consistia na separação da sua púrpura, do seu linho fino, dos seus banquetes,
do seu cofre de dinheiro; seu coração estava onde se achava o seu tesouro.
Lázaro só possuía de seu, no mundo, um corpo cheio de úlceras, pelo que deu
graças a Deus quando dele se desembaraçou: o rico sentia haver deixado os seus
tesouros e sofria horrivelmente por não mais poder gozá-los. O céu de Lázaro
consistia na satisfação de haver deixado o fardo insuportável, que lhe houvera
servido de instrumento de suplício: Lázaro nada tinha no mundo, por isso nada
nele deixou. Estava onde estava o seu tesouro - seio de Abraão -
mundo invisível, lugar imaterial.
Vemos, de fato, um grande abismo entre um rico coberto de pedrarias preciosas,
vestido luxuosamente, morando num imponente castelo, ricamente adornado e
passando a vida regalada e esplendidamente - e um mendigo miseravelmente
vestido, sem teto, sem leito e sem pão, jogado à soleira da porta, com as
chagas expostas ao olfato de cães esfaimados. O abismo que os separa na Terra
também os separará do outro lado do véu (1).
(1) Vide Despedida do Espírito de Alarico de Anteguera em "Espiritus
Maledictus". Págs. VI e VII.
Para destruir esse abismo e ficar um unido ao outro, é necessário a volta
do rico à Terra; porém, passar nela pelo mesmo caminho que Lázaro passou, sem
púrpura, sem linho sem teto, sem leito, sem pão, mendigo, miserável, coberto de
lepra e quando pagar o último centil, a dívida contraída e chegar a sua vez de
ir para o seio de Abraão, ele não tenha mais tesouro algum na Terra, para aí
não ficar mais seu coração, e será também levado pelos anjos aonde Lázaro se
achar - e ficará em igualdade de condições - Isso confirma-se pela Bíblia sobre
a reencarnação, nova existência que lhe facultará os meios de destruir o
mal que fez, como mau dispenseiro, e construir a ponte sobre o abismo, pelo
bem, pela paciência, pela caridade, como bom dispenseiro.
***
Quanto às informações que o senhor ministro colheu para o folheto "O
Espiritismo e o Evangelho", não discuto, porque não têm importância
alguma: é uma calúnia qualquer, como essas que os padres católicos costumam
inventar contra o protestantismo. O tal testemunho autêntico do
Sr. W. B. Laningue, tem tanta força quanto o fato de haver Josué feito parar o
sol...
A falsa compreensão das coisas faz ver tudo com olhos de vesgo. Outro fato que
se segue, do pastor que escreveu, sem querer, comunicações de Espíritos e
tornar-se adepto do Espiritismo. Ele sorriu das mentiras de Satanás! Eu faria o
mesmo, sorrir-me-ia também, porque tenho convicção do que digo e não tenho
medo. Já fui um tolo, acreditava também quando andava iludido. Quem sabe quem
é, de onde vem e para onde vai quando passar desta para outra vida, compreende
os planos do Cristo em relação à humanidade, não pode ter medo de coisa
alguma, nada o assusta.
Para os protestantes, o referido pastor está perdido, porque emprestou sua mão
para Satanás escrever e depois ficou espírita e sorriu-se das suas mentiras.
Não disse Jesus Cristo: "Aquele que vier a mim, de maneira nenhuma eu o
lançarei fora?" Por que consentiu Jesus que o diabo levasse o pastor? Os
padres não dizem dos seus colegas que deixam a batina e se fazem protestantes,
que o diabo os levou?
Os padres e os pastores destronam a Jesus e deificam Satanás, dando a este
maior poder do que a Jesus!
Nenhum comentário:
Postar um comentário