sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Croniqueta - 7



Croniqueta – 7
Manuel Quintão
Reformador (FEB) Agosto 1923

            “L’home qui veut aborder les choses superieures, doit Ie faire impersonellement pour l’amour même de Ia justice, et en laisser les resultats entre les mains de ceux qui détiennent les hauts pouvoirs.” LEADBEATER: L'autre côté de la mort, pag. 571


Colorida de belas imagens literárias, quanto dos profundos conceitos filosóficos, recebemos do Centro de Estudos Psíquicos “Cezar Lombroso”, de S. Paulo, uma mensagem de reconhecimento e congratulações, por motivo da palestra que realizamos na sede da Federação Espírita Brasileira, a propósito dos fenômenos que tivemos a fortuna de observar com o notável e polimorfo médium patrício, nosso prezado irmão Carlos Mirabelli. O êxito e a repercussão logrados pelo nosso modesto trabalho devemo-lo, já o dissemos algures e nunca é demais repeti-lo, à assistência dos nossos Guias espirituais, em primeiro lugar, e, em segundo, à natureza interessante do assunto, como à benevolência do auditório.

Sem credenciais outras para ferir um tema de tanta relevância, ao demais observado, explanado e também controvertido por mentalidades de escol no plano cientifico, cumpria-nos ressarcir pela sinceridade da palavra a deficiência
de predicados capazes de majorar a verdade, em 81 mesma idônea, mas de melhormente emoldura-la.

Esta ressalva aqui se nos impunha preliminarmente, uma vez que, havendo por bem publicar a comunicação psicográfica do ilustre patrono daquele “Centro”, bem como as que se lhe seguiram em idiomas estranhos ao médium, a título de instrução não só, mas para que fiquem registradas nos anais do Reformador, omitiremos as referências à nossa individualidade, que nada é e nada significa, de confronto à majestade da causa espirita.

Que o eminente e lúcido espírito do que entre os homens foi Lombroso, nos perdoe a restrição, como princípio de coerência, que não de falsa modéstia.

Aliás, ele bem o sabe: relatando da tribuna doutrinária quanto vimos e ouvimos, com calor equivalente à sinceridade das próprias convicções, apenas
cumprimos comezinho dever e nunca, para o espírita-cristão, o cumprimento de um dever pode traduzir-se por virtude. Entre céticos, vacilantes, acomodatícios e convencionais da Verdade o dize-la sem ambages (evasivas, rodeios) será facultativo; ao espírita convicto, jamais, em caso algum, pois ele sabe nada haver oculto que não possa ser revelado.

Isto posto, transcrevamos a ata em que os nossos irmãos registraram o acontecimento:

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“Aos 20 de Julho de 1923, às 8 1/2 da noite, achavam-se reunidos em sessão de estudo na sede do “Centro” as pessoas abaixo declaradas, quando, em dado momento, o médium Carlos Mirabelli foi tomado pelo sábio espírito do Dr. Cezar Lombroso, o qual disse desejar escrever uma mensagem de agradecimentos ao confrade Manoel Quintão, membro da Federação Espírita Brasileira, e cuja mensagem foi escrita em 45 minutos, em 14 páginas de papel, convindo notar que após retirar-se o Dr. Lombroso ainda se manifestaram respectiva e seguidamente os espíritos de William Crookes, Dante Alighieri, Augusto Comte e Schiller, cada qual escrevendo em seu idioma, como consta da dita mensagens.

Assinam essa ata os seguintes senhores: Dr. Fausto de Moraes, médico; Coronel Augusto Cabra!, comerciante; Benedicto Barroso, auxiliar da S. P. Railway; Dr. Vidor Cuche, advogado; Major Antonio Amaral, capitalista; Augusto Aguiar, farmacêutico; Octaviano Cavalcante, engenheiro; Dr. Nestor Assumpção; advogado; Coronel José Oliveira, industrial; Dr. Edmundo de Vasconcellos, médico; Dr. Roberto Cavalheiro, advogado; Annibal Sampaio, professor; Segismundo de Freitas, professor; Dr. Nestor Bastos, advogado; Cezar da Cunha, comerciante; Dr. Dario de Campos, advogado; Alvaro Silva, advogado; Major Osorio de Barros, farmacêutico; José de Freitas Tinoco, industrial.

*

A comunicação do acatado criminalista italiano em suas 14 páginas, contém, como de princípio dissemos, conceitos doutrinários do mais subido valor e comparações felicíssimas implicando algumas delas a posse de sólido lastro científico.  

A linguagem, o estilo, por vezes fulgurante, são de uma espontaneidade só concebível nos homens afeitos a rigorosos estudos e elucubrações, a disciplinas mentais e a imaginativas trabalhadas na incude (termo poético que significa: ¨bigorna¨) das ideias.

Sem desfazer nos méritos intelectuais do médium, com franqueza, não era preciso que ele de acréscimo escrevesse de improviso em idiomas estrangeiros, para que lhe não atribuíssemos exclusivamente essa facundia (expressar-se bem) e facilidade de raciocínios, comumente vazados de jato em tão belos moldes literários.

Em abono do asserto, poderíamos repetir o que dissemos a respeito da mediunidade de Zilda Gama com as suas magníficas novelas, ditadas pelo vate (dom da poesia) da ‘Legende des siècles’.

Mas, para que? Os nossos leitores sabem, avaliam ou conjecturam todas as possibilidades da ação mediúnica em seus matizes e os negativistas sistemáticos, esses, exclamariam simplesmente: mentira! ou, então: farsa!

Outros recorreriam ao Subconsciente, esse mirabolante bric-à-brac (ferro-velho) que ninguém sabe onde fica e como opera, mas de que todos se valem como supremo e derradeiro baluarte do materialismo agonizante. Nós, porém, estamos escrevendo para espíritas e... ainda bem.

*

Da comunicação de Lombroso a que nos vimos referindo e cuja transcrição, mesmo parcial, por angústia de espaço deixamos de fazer aqui. talvez possamos extrair um resumo para o próximo número do Reformador, o que tanto mais desejamos quanto ela, a comunicação, se refere à nossa Federação de molde a colimar o máximo objetivo do seu programa social, que é o congraçamento de todas as atividades, de todas as energias sãs, para a reabilitação desta pobre humanidade, pelo Evangelho d'O Cristo em espírito e verdade.

*

Eis agora em original e com as competentes traduções e palavra conceituosa de quatro entidades que o mundo dos terrícolas tem colocado na categoria dos seus sábios:


Qu'est-ce que sont les pretendues beautés du positívisme, vis-à-vis de ces grandeurs qui éblouissent mon âme? Y-a-t-il plus de réalités frappantes dans ma doctrine que dans celle de Rivail ? Non, mes chers, il faut que vous ne suivez plus des theories sans base expérimentale, que l'on nomme le positivisme, pour ne suivre que Ia voie des esprits, puisque leurs enseignemenls recèllent seuls le secret de tout bonheur, Ia clèf de tous les mystères. Au revoir. A. COMTE.

Que são as pretensas belezas do Positivismo, em face destas grandezas que me deslumbram a alma? Haverá, na minha doutrina, mais realidades palpitantes do que na de Rivail? Não, meus caros. Preciso é deixeis de seguir teorias carentes de base experimental a que dão o nome de positivismo, para para trilhardes unicamente a senda dos Espíritos, pois que só os seus ensinos guardam o segredo de toda felicidade, a chave de todos os mistérios. Até à vista. A. COMTE.


Spiritismo! Spiritismo! Sacrosanta legge, chi potrà ancora negare Ia tua realtà? Soltanto coloro chi non vedono altro che tenebre nella loro anima, dove sempre è notte, senza nessuna vampa dei chiarore celestial, mai mattina. Venir dietro a me e lasciare dire Ia gente. ALIGHIERI.

Espiritismo! Espiritismo! Sacrossanta lei, a tua realidade quem ainda a poderá negar? Apenas os que só veem trevas nas suas almas onde é sempre noite, sem nenhum luzir do claror celeste, nunca manhã. Segui-me e deixar bradar a turba. ALIGHlERI.


lt is no longer possible the truth to remain hidden for religion and science In connection proclaim the exístence of Iaws and things which escape all research of the most wise men of earth and are clear only for those who lead themselves througb Spiritism.
Men! Don't seek consolation anywhere; the voices of the ghosts show you the true way. W. CROOKES.


Não é possível fique a verdade oculta por mais tempo, quando ciência e religião, unidas, proclamam a existência de leis e coisas que escapam à pesquisa de homens sábios e são, contudo, acessíveis aos que perlustram a senda do Espiritismo. Homens! não procureis consolação alhures; as vozes dos fantasmas vos indicam o verdadeiro caminho. W.CROOKES.


Das 20te Jahrhundert hat endlich der Menschelt die Wissenschaft der Geisterwelt, gegeben, und lhr, wenn euch die Wahrheit beliebt som endlich den Spiritismus Iernen, und alle falsch philosophien verlassen. Da ist die Wahrheit...
SCHILLER.

O século 20° abriu, finalmente, à Humanidade a ciência do mundo dos espíritos e vós, se amais a Verdade, deveis aprender no Espiritismo e abandonar todas as falsas filosofias. Aí está a Verdade. SCHILLER.

*

E já agora não encerraremos esta insulsa (desinteressante) notícia sem chamar a atenção do leitor para os nomes que firmam a ata supra.

Pelos cargos que exercem, pela posição que ocupam na sociedade, não são para aí assim quaisquer simplórios e basbaques, capazes de se deixarem iludir pelo primeiro bufão de pelotiquices (trocar favores com interesse pessoal) e tranquibernias (negócio de má fé) que tais.

Não são os homens que nobilitam as doutrinas e sim estas que nobilitam os homens, bem o sabemos; uma vez, porém, que os nossos adversários tanto timbram em chamar papalvos (indivíduo tolo), nulos e até imorais os adeptos da Revelação Espírita, bom é que saibam por que estalão (padrão, medida) social se pode aferir o seu proselitismo, se o quiserem tão somente encarar sob esse aspecto, para nós secundário.


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