quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Inspirações - 17



Inspirações – 17
por Angel Aquarod
Reformador (FEB)  Fevereiro 1924

                                O ESPIRITISMO E AS FORÇAS ARMADAS

Prossigamos na nossa tarefa.

Dizei-me: se se conseguisse que o Espiritismo exercesse influência nos meios a que nos temos referido nos ditados anteriores e não fizesse o mesmo no seio dos exércitos, poder-se-ia considerar resolvido o problema da ordem, da paz e do progresso regular da humanidade? Certamente que não. Ao menos, assim me parece. Julgo, pois, de igual modo indispensável que ele penetre também no seio das instituições armadas, de todas as naturezas. Talvez mesmo seja mais necessário que o Espiritismo influa nos meios militares do que em qualquer outra classe social.

Ante o que acabo de dizer, já estou vendo a cara de poucos amigos que fazem os espíritas pacifistas a todo transe, que tomam ao pé da letra as palavras de Jesus profligando a violência.  A sentença –“quem com ferro fere com ferro será ferido” - virá a exemplo como uma condenação explícita do divino Mestre ao uso de toda e qualquer ama.

E não será descabida essa alegação porque o futuro há de ser de paz e pela paz deverá esta conquistar-se, ou, melhor, pela paz a todo transe é que se há de consolidar a paz. Esta expressão é mais apropriada do que a primeira, porque se bem que a paz se haja de consolidar por meio da paz, ela irá sendo conquistada, ainda que de modo indireto, por meio da guerra.

Bem é que quem sinta horror invencível por toda violência firme o propósito de jamais esgrimir qualquer arma fratricida e de negar em absoluto seu concurso a toda empresa, ação ou intento que não se inspirem na paz e à paz não conduzam. Bem aventurado aquele que já alcançou tal estado de consciência e nele se pode manter contra tudo o que porventura o assedie e assalte.

Preciso é, porém, que esse tenha em conta que não se acham no mesmo nível todos os Espíritos encarnados na Terra; que, portanto, não se pode exigir, daquele cujo estado de consciência é outro, que proceda do mesmo modo.

Quando o inspiram o amor do bem e um desejo elevado, o sentimento guerreiro não é sinônimo de crueldade. É, em tal caso, um sentimento cuja expressão leva aquele que o possui a atos de alta nobreza e heroicidade.

Um espírita pode ser soldado e adepto fiel, porque o homem pode ser soldado e colimar o ideal espírita, como qualquer outro fervoroso crente, do mesmo modo que se pode ser cristão e militar. Duvidais? Notai quantos guerreiros ilustres, que demonstraram possuir um coração gigante e imenso amor à humanidade, a história vos dá a conhecer e quantos se acham incluídos no rol dos santos católicos.

Aí, tendes, para não citar mais que um; o ínclito mártir Sebastião, para quem o ser soldado não foi obstáculo a que se abraçasse à Cruz do Redentor e se submete-se ao martírio para manter sua fé. Ele se mostrou sempre fiel, até aos próprios inimigos da sua crença, sem renegar a profissão das armas.

Não sabeis também de muitos militares que hão professado o Espiritismo e outros não conheceis que o professam atualmente, que honram o exército e o credo em que militam? Eu de mim conheço muitos.

Digo isto para mostrar não ser a profissão das armas incompatível com a crença espírita.

Até entre os grandes Enviados, fundadores de religiões, se contam guerreiros. E eles não foram repudiados pelos Espíritos mais excelsos que hão descido à Terra. Não ignorais que Jesus não negou autoridade aos ensinos de Moisés, não obstante haver sido este um guerreiro. Porque hão de Espíritos nobilíssimos e até enviados celestes achar-se impedidos de pertencer às corporações armadas?

Os diretores da evolução a tudo atendem, dando a cada época, a cada situação e a cada circunstância o que lhe corresponde. Quando são precisos Espíritos de grande elevação e pureza no seio de uma instituição, seja ela qual for, aqueles diretores para lá os mandam e os enviados não desdenham de ocupar qualquer posto, conforme convenha aos elevados planos dos celestes mensageiros. Assim é que Moisés, sendo um grande Espírito, um profeta de Deus, desceu à Terra e foi guerreiro e fundador de religião. De igual modo, desceu Maomé e fez o mesmo. E, como esses, tantos e tantos outros que a história menciona.

Sendo assim e não tendo chegado ainda o tempo de se poderem suprimir as guerras nem as revoluções; não estando ainda a humanidade, em geral, preparada para caminhar pela estrada conveniente, se sobre ela não pesar a ameaça permanente da força armada, para chama-la a contas todas as vezes que se desmanda claro é que as instituições armadas, os exércitos, são necessários.

Porém, sendo necessárias essas instituições, que ainda o serão por alguns séculos dadas a sua natureza e os elementos de força de que dispõem; considerando-se os resultados funestos que podem originar-se da má aplicação desses elementos, as crueldades que essa força, manejadas por sentimentos perversos, pode cometer; atento o perigo que há em que exerçam a profissão das armas seres desalmados, homens degenerados, vede-se não é conveniente que as fileiras dos exércitos e de todas as instituições militares sejam invadidas por homens que professem o Espiritismo, sobretudo nos lugares de chefes.

Em verdade, concebe-se que um Espírito que já alcançou a perfeição moral não se alistará em exército algum. Esse, sim, se acha incompatibilizado com a carreira das armas, como com as do comércio, da advocacia, da magistratura e mesmo com a função de governante, nas condições em que presentemente se encontra a humanidade. Por isso, dizia Jesus que seu reino não era deste mundo.

Mas, entre os que perlustram o caminho do aperfeiçoamento, entre os que buscam com afinco aperfeiçoar-se, que se esforçam por ser cada dia melhores e por melhor servir, em todas as ocasiões a Deus e à humanidade, os há de todos os graus e esses, sem abdicarem de suas ideias, sem delinquirem perante Deus, antes servindo-o fielmente, se sentirem vocação pela carreira militar farão bem seguindo-a, impondo a si mesmos uma missão de sacrifício.

Talvez não haja outra carreira em que o homem bom encontre mais ocasiões de sacrificar-se pelo bem alheio e de fazer maior soma de bem, como a carreira das armas.

Figurai um militar, sobretudo de alta graduação, dotado de nobres sentimentos, como os há muitos, e professando o Espiritismo cristão. Quantas oportunidades se lhe não apresentarão de praticar o bem! Contemplai-o nas culminâncias do poder, no desempenho de uma missão diplomática, ou na direção das forças armadas; observai-o na vida de quartel, na vida de campanha, onde quer que lhe possais seguir os passos; observai-o, esquadrinhai lhe os mínimos detalhes do viver e notai as ocasiões que se lhe oferecem de beneficiar, pela sua ação, os povos, os soldados e mesmo os seus companheiros de graduação inferior à sua. Mas, para que prosseguir?

E quando, por motivo de disciplina e por obediência às leis, se vê obrigado a exercer a função de juiz, ao militar espírita não será mais fácil do que a qualquer outro fazer que a balança da justiça penda para o lado da equidade?

São tantas as circunstâncias possíveis de invocar-se, que favorecem ao militar a prática do bem e nas quais, igualmente, pode ele fazer o contrário, com grave dano para os indivíduos e para as sociedades, que isto basta a tornar palpável a necessidade de que o Espiritismo penetre nos exércitos e se assenhoreie da consciência de chefes, oficiais e soldados.

Quando se haja conseguido esse desideratum, poderá considerar-se extinta a guerra. Se alguma vez as hostilidades se romperem entre bandos adversos, as lutas serão mais humanas.

Em contraposição, atentai por um instante no que tem acontecido em todos os tempos e acontece ainda hoje com os corpos armados de onde se acha proscrito o Espiritismo, sobretudo com aqueles cujos chefes carecem de tão bendita crença.

Ainda se não vos apagou certamente da vista a recente hecatombe mundial, a guerra de há poucos anos. Se os ministros da guerra das diferentes nações beligerantes fossem espíritas, teria a guerra tomado as proporções de crueldade que assumiu? Se a oficialidade dos diversos exércitos fosse espírita, ter-se-iam dado tantos casos de brutal selvageria, como se deram? Professassem uns e outros o Espiritismo e, seguramente, se a guerra houvesse estalado, menos funestas teriam sido suas consequências e, feita a paz, um espírito de mais justiça e de maior equidade teria animado os vencedores para com os vencidos.

Estudai bem o problema e vereis ser de suma conveniência, de absoluta necessidade que o exército e todas as corporações armadas se achem bem abastecidas de espíritas. Ora, sendo isto uma condição essencial ao bem estar dos povos, é certo que se dará. Portanto, não vos alarmeis se, não obstante as vossas doutrinas de paz, virdes surgir nas vossas fileiras muitos candidatos à carreira das armas. Tal coisa terá que suceder. Esses, sem que eles mesmos o saibam, serão delegados e submissos servidores dos diretores da evolução, os quais do plano invisível dispõem as coisas da maneira mais conveniente e não de conformidade com os vossos gostos e tendências.

Não vos alarmeis, pois, quando tal fato se der, porque será o sinal do próximo reinado da fraternidade universal, da paz mundial que nunca se mostrará mais firme do que quando os exércitos se componham, na sua maioria, de fervorosos cristãos, iluminados pela luz radiosa do Espiritismo.


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