Eurípedes Barsanulpho
‘Creio’
por Emmanuel Darcey
Fonte:
Livro: “Eurípedes: o
homem e a missão” por Corina Novelino
Ed.: Instituto de
Difusão Espírita - 1979
“CREIO que não temos nossa causa em nós
mesmos; que existe acima do homem e superior à natureza um Ser Pensante,
Infinito, Eterno, Imutável, um Supremo Legislador; que a existência de um
Criador, de uma Razão primitiva, é um fato adquirido pela evidência material
dos fatos, que o Universo não é nem surdo, nem cego; que a vida não é uma
confusão sem fim, um caos informe; que tudo tem a sua razão de ser, seu alvo,
seu fim.
CREIO
que o Nada é uma palavra vã; que a morte não existe; que nada morre; que o ser
sobrevive ao seu invólucro; que a morte não é um termo, mas, uma metamorfose,
uma transformação necessária, um renovamento; que somos eternos pela base do
nosso ser; que nada do que existe pode ser aniquilado; que existiremos, porque
existimos.
CREIO que não há aniquilamento, mas
sempre estados sucedendo a outros estados, a eterna transmissão de uma ordem de
coisas a outra, de uma economia a outra, de um serviço a outro; que tudo
renasce; que tudo volta a sua hora, melhorado, aperfeiçoado pelo labor; que o nascimento
não é o verdadeiro começo; que nascer não é principiar, mas mudar de figura;
que nossas existências não são mais do que continuações, séries, consequências,
que sono ou despertar, morte ou nascimento, são uma e a mesma coisa; transição
semelhante, acidente previsto.
CREIO
que tudo evolui e tende para um estado superior; que tudo se transforma e
aperfeiçoa; que o homem marcha sempre e sempre se engrandece; que tudo rola,
prolonga-se e renova-se; que a morte não é o único teatro de nossas lutas e de
nossos progressos; que o universo é sem lacuna; que há mundos infinitos nesse
universo infinito; que o mundo é um ponto que conduz a outro e que os há para
todos os graus de crescimento.
CREIO que, saindo desta vida, não
entramos em um estado definitivo; que nada se acaba neste mundo; que enquanto
um destino humano tem alguma coisa a cumprir, isto é, um progresso a realizar,
não está para ele acabado; que a morte não deve ser tomada senão como um
descanso em nossa viagem; que a morte é feixe de caminhos, que irradiam em
todas as direções do universo e nos quais efetuamos nosso destino infinito.
CREIO
que DEUS não criou almas civilizadas; que a alma humana é o resultado do
trabalho da vida; que todos os homens são cidadãos da mesma pátria, membros da
mesma família, ramos da mesma árvore; que todos têm origem, destino e aspiração
comuns; que todos começaram a ascensão e que estão mais ou menos altos; que os
mais vis têm por lei alcançar os mais elevados.
CREIO que o homem não é o último anel
que une a criatura ao Criador; que não somos os primeiros depois de DEUS; que
temos ao menos tantos degraus sobre a cabeça como abaixo dos pés; que a vida
está em toda parte, que a alma está em toda parte, que a alma está em toda
coisa, que o corpo envolve um espírito; que o homem não é o único; que é
seguido de uma sombra; que todos, o próprio calhau miserável tem atrás de si
uma sombra, [têm] uma sombra diante deles; que todos são a alma que vive, que
viveu, que deve viver.
CREIO
que a harmonia do Universo se resume em uma só lei, que o progresso por toda
parte é para todos, para o animal como para a planta, para a planta como para o
mineral; que tudo segue a mesma rotação, que tudo morre da mesma maneira e
morre ultimamente; que a vida sorve todos os seus elementos da própria morte;
que cresce por série contínua de transformações infinitas, que parte do
infinitamente pequeno e marcha para o infinitamente grande.
CREIO que tudo o que vive é encarnação;
que toda evolução, toda transformação é encarnação; que as criaturas sobem no
crescimento d’alma como no dos invólucros; que o homem é o espírito encarnado;
que a alma não é criada ao mesmo tempo em que o corpo, que ela é apenas
incorporada; que a encarnação é uma lei da natureza, uma necessidade absoluta,
consequência lógica da lei do progresso; que todo homem é um resumo de
existências anteriores, que se compõem de numerosos personagens, formando um
só.
CREIO na pluralidade dos mundos, na
multiplicidade das existências, na universal ascensão dos seres, na progressão
contínua da alma, com os seus transportes, seus recuos, suas crises e as
sanções que daí decorrem.
CREIO
que neste Universo, obra da Infinita Sabedoria, nada acontece pelo jogo do
acaso, que nada se faz sem uma Soberana Justiça; que toda desordem não existe
senão em aparência; que não há acaso nem fatalidade; que há forças, leis, que
ninguém pode derrogar; que todas as coisas do mundo têm ligação entre si; que
nada é isolado; que o mundo material é solidário com o mundo espiritual e que
ambos se penetram reciprocamente; que tudo se mantém, se concorda, tudo se
encadeia, e se liga, sob o ponto de vista moral, como físico, que na ordem dos
fatos, do mais simples ao mais complexo, tudo é regulado por uma lei.
CREIO que a lei moral é uma verdade
absoluta; que a Justiça, a Sabedoria, a Virtude, existem na marcha do mundo,
tanto quanto a realidade física; que não se pode transpor, sem trabalho e sem mérito,
um grau na iniciação humana; que o espírito deve chegar só, por si, à verdade,
e que tem de tornar-se merecedor de sua felicidade; que a felicidade para ter
tido o seu preço, deve ser adquirida e não concedida.
CREIO
que a vida não é um jogo, uma ilusão, que a verdadeira vida não é a que
multiplica gozos; que a felicidade tal qual a entendemos não pode existir; que
é preciso que o esforço subsista neste mundo; que não estamos aqui para gozar,
mas para lutar, trabalhar, combater; que a luta é necessária ao desenvolvimento
do espírito; que o verdadeiro fim da vida consiste no dever que incumbe a todo
ser humano de subjugar a matéria ao espírito.
CREIO que o homem é justificado não por
sua fé, mas por suas obras; que a prática do bem é a lei superior, a condição sine qua non de nosso futuro; que a
santidade é o alvo a que devemos chegar; que não se pode fazer tudo
impunemente; que a felicidade e a desgraça dos homens depende absolutamente da
observação da lei universal, que rege a ordem em a natureza.
CREIO
que existem um Inferno e um Paraíso filosóficos, isto é, um sistema natural que
liga entre si, intimamente, as causas além e aquém do tempo; que sempre nos
sucedemos a nós mesmos; que sempre determinamos, por nossa marcha presente, a
marcha que seguiremos mais tarde.
CREIO que o presente determina o
futuro; que cada homem tece em volta de si o seu destino; que se torna sem
cessar o que mereceu ser; que nenhum desvio do caminho reto fica impune; que os
que dele se afastam serão a ele levados fatalmente; que o progresso é uma lei
soberana a qual ninguém resiste; que não há um defeito, uma imperfeição moral,
uma ação má que não tenha a sua contradita e suas consequências naturais; que
não há ato útil sem proveito, falta sem sanção; que não há ação que possa
sonegar-se.
CREIO
que cada um deve a si mesmo a sua sorte; que cada um cria as suas alegrias como
as suas penas; que o homem é o seu próprio algoz; que se remunera e se pune a
si mesmo; que colhe o que semeia e nutre-se do que colhe, debilitado ou fortificado
pelos alimentos que ele próprio produziu; que a alma transporta em si mesma seu
próprio castigo, em todo lugar em que se possa encontrar; que o inferno não é
um lugar, mas uma condição de ser, um estado da alma; que pertence a cada de
nós sair dele ou aí nos manter.
CREIO que a pena não está senão na
falta; que é impossível que essas coisas possam separar-se; que o sofrimento
não é resultado do acaso; que toda lágrima lava alguma coisa; que dor e
culpabilidade são sinônimos; que o homem em evolução é tributário de seus erros
e de seus maus pensamentos; que somos nós os instrumentos de nosso próprio
suplício.
CREIO
que toda vida culposa deve ser resgatada; que toda falta cometida, todo mal
causado é uma dívida contraída, que deve ser paga no momento ou noutro, quer em
uma existência quer na outra; que a fatalidade aparente, que semeia de males o
caminho da vida, não é senão a consequência do nosso passado, o efeito
produzido pela causa; que a vida terrestre é ao mesmo tempo reparação e
preparação; que nenhum de nós é o que deve ser e que é preciso que a razão se
cumpra, que a justiça se faça e o bem seja.
CREIO que cada nova existência é um
novo ponto de partida, em que o homem é aquilo que se fez; que renasce com o
seu débito e com o seu crédito; que nada perde do que adquiriu; que o
esquecimento temporário do passado é a condição indispensável de toda provação
e de todo o progresso; que é preciso que o esforço seja livre e voluntário; que
o conhecimento dos fatos anteriores e das sanções inevitáveis embaraçaria o
homem, em lugar de ajudá-lo; que é justo e necessário que, em seu estado atual,
o passado e o futuro lhe sejam ocultos.
CREIO,
enfim, que a revelação é progressiva, que a verdade se desvenda sempre, segundo
os tempos e os lugares; que estamos na aurora da vida consciente e que
marchamos, todos, na solidariedade universal, através de vidas sucessivas para
a infinita perfeição; que o futuro encerra e que tudo foi criado tendo em vista
um bem final; que o Bem é a lei do universo e o Mal um estado transitório,
sempre reparável, uma das fases inferiores da evolução dos seres para o bem;
que nada de irremediável pesa sobre nós; que tudo se apaga; tudo se dissolve;
que a dor é libertadora; que nada é negro, nada é triste; que tudo acaba bem e
que não se tem senão de esperar a sua hora em um mundo ou em outro.”
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