Anna Prado
Editorial
Reformador (FEB) Maio 1923
Foi, e não podia deixar de ser, com
dolorosa surpresa que, no seio da família espírita, repercutiu a notícia da súbita
desencarnação ocorrida a 23 de Abril último, dessa distintíssima irmã nossa, a
notável médium que, na capital do Pará, servia, desde alguns anos, de instrumento aos mais
admiráveis fenômenos espíritas de ordem física já observados em nosso país.
Ocasional acidente, cortando o fio de
uma existência cheia já e que prometia cada vez mais fecunda tornar-se de obras
proveitosas, abriu num lar ditoso grande vácuo, com o lhe arrebatar o anjo
tutelar que a animava e felicitava sob a forma de esposa virtuosíssima e de extremosa
mãe.
Nada mais fora preciso para que, ao
recebermos a inesperada nova, a nossa alma, irmanada como nunca a do nosso
confrade Eurípedes Prado, se sentisse invadida pela amargura que lhe afoga o coração.
E o dever se nos antolhou imprescritível de lhe darmos nestas linhas o
testemunho da nossa fraternal solidariedade na pungente prova a que, de um momento
para outro, se viu submetido o seu espírito, repentinamente privado do
eficiente auxilio que lhe prestava, no galgar das árduas etapas da trajetória terrena,
aquele outro espírito que se lhe associara para juntos fazerem-na.
Cumprido esse dever e exprimindo aqui
os nossos ardentes votos de paz e felicidade espiritual ao trabalhador que
regressou à vida livre do espaço, a receber o prêmio da sua operosidade e
aparelhar-se das forças e da luz necessárias a maiores empreendimentos, e que
de lá saberá lenir as feridas da saudade nos corações amigos que deixou na
terra, mais não acrescentamos, pois que fazemos nosso o que o prezado
companheiro M. Quintão, páginas atrás, diz na sua “Croniqueta”, traduzindo com
verdade o nosso pensar e o nosso sentir coletivo.
Por isso mesmo, também nos eximimos de
falar do desaparecimento da médium que era Dna. Anna Prado. “Das próprias pedras
pode Deus fazer que nasçam filhos a Abraão”, escreveu ele, com felicidade, por
fecho do seu artigo.
Invocando essa sentença do divino Mestre, lembrou-nos
oportunamente, a insensatez das nossas lamentações, em face da sabedoria
infinita e do poder absoluto de Deus, a cuja vontade omnipotente e onisciente,
expressa nas suas leis perfeitas, não escapa sequer o mais mínimo fio dos
nossos cabelos.
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