Três Respostas
Redação
Reformador (FEB) Março 1924
Durante o ministério público
de Jesus, um homem pertencente, segundo Mateus, à classe preponderante dos
escribas, achegando-se ao Senhor, lhe disse:
“Mestre, eu seguir-te-ei
para onde quer que fores.”
Quem destarte formulou a
promessa não estava em situação de lhe compreender o alcance, nem de sentir o
peso das responsabilidades decorrentes.
Iludia-se.
Os escribas, bem sabe o
leitor, eram “doutores que ensinavam a lei de Moisés e a explicavam ao povo.”
Os discípulos de Jesus, por
Ele chamados - espíritos descidos para acompanha-lo na missão terrena - eram
gente simples, humilde e pobre, sem posição social.
Celso os denominou
vagabundos e mendigos.
Ao fazer a espontânea
promessa, que os evangelistas nos transmitiram, o presunçoso letrado de Israel
supôs encontrar franco acolhimento.
Talvez visasse vantagens de
ordem material.
O discipulado era sacrifício
pessoal, dedicação e sofrimento.
Poderia aspira-lo o escriba,
seguindo o exemplo do divino Mestre?
“As raposas tem seus covis e
ninhos as aves do céu; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.”
Foi esta a resposta do
Senhor que, na frase evangélica, “não necessitava de que lhe dessem testemunho
de homem algum, pois Ele bem sabia por si mesmo o que havia no homem - ipse enim sciebat quid esset in homine.
(João, II, 25.)
*
Outra pessoa, segundo Lucas,
veio dizer a Jesus:
“Eu, Senhor seguir-te-ei,
mas dá licença que eu vá primeiro dispor dos bens que tenho em minha casa.”
Esse irmão preestabelece
condições para, em tempo futuro, satisfazer o compromisso. Precisa dispor dos
bens, liquidar os negócios. Pede adiamento. Qual o prazo para essa liquidação?
Como seria levada a efeito?
Durante o período dilatório,
manteria o pretendente a primitiva resolução?
Poderiam surgir imprevistas
dificuldades e chegar o momento do regresso à vida espiritual.
Jesus sentenciou:
“Nenhum, que mete a sua mão
no arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.”
Vamos transcrever, a propósito,
o seguinte ditado inserido na grande obra de ROUSTAlNG:
“É preciso que as condições
pessoais, egoísticas, não te façam olhar atrás e abandonar a obra que tens de
executar. Começaste a caminhar para a frente, segue teu caminho, pois parar é
recuar.” (1)
(1) Os Quatro Evangelhos
(trad. de Guillon Ribeiro) vol. II, pag. 54.
*
Tem sido objeto de muitos e
variados comentários a resposta de Jesus ao discípulo
(na versão do primeiro Evangelho) o qual lhe pedira permissão para ir enterrar
o pai:
“Segue-me, e deixa que os mortos
sepultem os seus mortos.”
A feição deste artigo não
nos permite acompanhar os comentadores.
O leitor poderá verificar,
com facilidade, as explicações perfeitamente harmônicas, de ALLAN KARDEC e
ROUSTAING. (1)
(1) A. KARDEC- O Evang. Seg.
o Espirit., cap. XXIII, ns. 7 e seg.; ROUSTAING “Obra e vol. cit. P. 50 e seg..
A lição de Jesus é toda
espiritual.
Observemos, de passagem, que
a lei mosaica vedava ao sumo pontífice assistir a enterro, embora fosse do pai
ou da mãe. (Levítico, XXI, 11)
Aos nazarenos ou nazireus
foi imposto o mesmo preceito. (Números, VI, 6, 7.)
*
Em Mateus, (VIII, 19-22) e
Lucas (IX, 57-62) encontram-se os textos citados acima.
Invocando-os, pretendemos
acentuar a concordância entre a lição evangélica e o ensino dos Espíritos,
conforme costumamos fazer nesta coluna.
O espírita, obreiro da seara,
deve compreender as suas responsabilidades de crente. Não lhe é lícito recuar. Cumpre-lhe,
ao contrário, executar de boa vontade a tarefa a que se obrigou.
A fé lhe não foi imposta.
Adquiriu-a pelo esforço próprio.
Adotando a doutrina com as
suas normas diretoras, sabe os resultados provenientes dos desvios nesta existência
e na outra post mortem.
A denominada morte é
passagem para a vida real - Janua vita.
A encarnação é descida do
Espírito à matéria, onde fica encarcerado.
O Espiritismo vem assim
explicar as palavras do Senhor, que de novo
esplendem pela voz dos seus
mensageiros.
Seja-nos permitido encerrar
este artigo com a lição de ALLAN KARDEC:
“A vida espiritual é a verdadeira, por ser a vida normal do
Espírito. A existência terrestre é apenas transitória e passageira, espécie de
morte, se a compararmos ao esplendor
e atividade da vida espiritual.
O corpo não passa de grosseira veste, envolvendo momentaneamente
o Espírito, qual cadeia que o prende ao solo terreno, e por cuja libertação
sente-se feliz. O respeito que se tem pelos mortos não se liga à matéria, mas
pela lembrança ao espírito ausente... Jesus ensinou aos homens, dizendo-lhes:
Não vos inquieteis com o corpo, mas pensai antes no Espírito; ide ensinar o
reino de Deus; ide dizer aos homens que a sua pátria não é a Terra, mas o céu,
onde somente está a verdadeira vida.”
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