Inspirações – 16
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Fevereiro 1924
O ESPIRITISMO E AS ALTURAS
HUMANAS
Cumpre-me, na presente ocasião,
levar o Espiritismo às alturas humanas, as cumiadas do poder deste mundo, pois
não devem ser unicamente as classes chamadas deserdadas as que mereçam a nossa
simpatia e atenção, já no meu último ditado meti-me com a Magistratura, com essa
instituição social tão temida por alguns e encarada sem receio por muitos,
delinquentes, que supõem encontrar nela uma capa com que cobrir seus delitos.
Cabe, pois, a vez aos
poderes constituídos e muito principalmente aos de
maior categoria.
Se nas classes mais
inferiores exerce o Espiritismo imensa influência, que há de refletir-se na ordem
social, podeis imaginar quanto mais de notar-se não será, em todas as ordens de
relações, a influência benéfica que ele exercerá nas culminâncias do Poder,
isto é, nos indivíduos que ocupam os postos de maior categoria no governo dos
povos e que atuam nas diferentes esferas em que se desdobram as coisas de ordem
governamental.
Se escabrosa é a missão do
magistrado, se perigoso é o ofício do juiz, não
menos difícil é a missão do
governante e não menos arriscado o ofício dos que se acham investidos de
autoridade, seja esta qual for.
Deve-se, pois, procurar, com
verdadeiro empenho que o Espiritismo penetra no palácio dos reis, na consciência
de todo chefe de Estado e de todo governante, qualquer que seja sua denominação
e hierarquia.
Difícil é, não que o
Espiritismo penetre onde acabo de indicar, porém que os homens que ocupam tais
alturas lhe prestem atenção. Mas, não suponhais que seja por má vontade, nem
porque eles sejam refratários a admitir novas doutrinas, não. Deve-se, mais do que
a qualquer outra causa, o fracasso que se sofre no intento de levar o Espiritismo
às alturas mencionadas, à dificuldade que encontram os homens públicos em
distrair sua atenção dos assuntos que lhes estão confiados e em furtar-se às
exigências partidárias que os distanciam muito do objetivo que tendes, vós, os
espíritas.
Verdadeiramente, os homens
que se entregam de corpo e alma à política e, principalmente, os que chegaram
aos mais elevados postos carecem do tempo e, ainda mais, de inclinação para
estudos como os vossos. Não os recrimineis pelos desvios em que incorram com
respeito aos vossos ideais. Credes que as doutrinas que professais, como vos
interessam, devam interessar aos demais e que, com a mesma facilidade com que
as abraçastes, têm os outros que as abraçar. Nisto, andais equivocados. Nem
sempre os indivíduos que chegam a ouvir falar de Espiritismo estão em condições
de prestar a atenção devida ao que significa esse nome glorioso. Muitas vezes, não
é porque os indivíduos não possuam a inteligência e o descortino moral suficientes
para compreender a redentora doutrina e honra-la com sua exemplar conduta, mas
porque muitos dos que ocupam os altos postos governamentais, ou aspiram ocupa-los
a seu turno, cabem missões a que o estudo e a aceitação de vossas ideias os
impediriam de dar cumprimento satisfatório, acordemente com os compromissos
assumidos não só com a própria consciência, como também com os diretores da
evolução humana, os quais distribuem pelos espíritos encarnados, suficientemente
capazes, os encargos de ordem pública que hão de desempenhar na Terra. A muitos
desses homens o conhecimento e a aceitação da doutrina espírita levariam a
abandonar os postos que ocupam. Não insistem por
isso seus guias espirituais em lhes inspirar a ideia de se dedicarem a tais
estudos.
Mas, que importa isso?
Não desempenha o homem público,
honesto, uma função social de importância e benéfica, ainda que não seja espírita?
Se a desempenha, se cumpre bem o seu dever, deixai que continue, pois assim
também progride e contribui para o progresso geral.
São em grande número os
homens públicos de primeira ordem que se aceitassem o Espiritismo, abandonariam
seus postos, por muito espinhosos e porque certas funções inerentes aos cargos
que ocupam, eles não quereriam exerce-las. Nada
se perde e o que não se aproveita hoje será utilizado amanhã. Não compete aos
adeptos do Espiritismo saber quais as consequências que terá o que lhes seja
dado fazer na divulgação da doutrina.
Divulgando-a, terão cumprido
seu dever e poderão ficar satisfeitos.
Não obstante o que venho de
dizer com respeito aos homens públicos que não podem, ou aqueles a quem não é conveniente
se tornem atualmente espíritas, bom é lhes dirijais muito especialmente a vossa
ação de propagandistas, porque se aproximam os tempos em que será uma vergonha
que entre eles não haja muitos que professem as novas ideias. Aproxima-se o dia
em que para quem quer que ocupe as alturas mencionadas, será um vexame ignorar
quanto se refere ao Espiritismo, mormente quando se generalizam por toda parte
os progressos da ciência no sentido dos vossos ideais, com a penetração do estudo
de sua fenomenologia nas esferas científicas. Assim, nem a politica nem a religião
poderão deixar de interessar-se pelos vossos estudos, dando-lhes a importância
que merecem.
Refleti um pouco sobre o
enorme passo que terá dado a humanidade, quando o Espiritismo seja aceito e
professado pelos mais altos poderes do Estado, pelas personalidades mais
eminentes da política e seguramente as conclusões a que chegareis vos decidirão
a dar um grande impulso à propaganda, a toda manifestação espírita, dirigindo-a
às altitudes indicadas.
Quando a vossa doutrina
encontre aí um forte baluarte, podeis considerar que o triunfo do Espiritismo é
fato consumado. Preparai o terreno aos espíritos
encarnados, que hão de ocupar os elevados postos governamentais e de banhar-se no
espírito puro das vossas doutrinas. Sede seus precursores.
A invasão deverá começar pelos partidos oposicionistas de
assinalada feição progressista. Seus homens contrairão compromissos solenes na
oposição, que se verão obrigados a cumprir quando cheguem ao poder. Daí também
o motivo por que vos deve interessar manter muito boas relações com os elementos
adiantados da política, que são os que amanhã governarão e introduzirão, nas
leis e nos atos do governo, o espírito dos vossos ideais, com o que já vos podereis
dar por satisfeitos, porque o espírito é tudo.
À obra, pois! Ao labor, para
que o mais breve possível, desde o alto do Capitólio se proclame a bondade e o triunfo
do Espiritismo.
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