terça-feira, 27 de agosto de 2019

Inspirações - 16



Inspirações – 16
por Angel Aquarod
Reformador (FEB)  Fevereiro 1924


O ESPIRITISMO E AS ALTURAS HUMANAS


Cumpre-me, na presente ocasião, levar o Espiritismo às alturas humanas, as cumiadas do poder deste mundo, pois não devem ser unicamente as classes chamadas deserdadas as que mereçam a nossa simpatia e atenção, já no meu último ditado meti-me com a Magistratura, com essa instituição social tão temida por alguns e encarada sem receio por muitos, delinquentes, que supõem encontrar nela uma capa com que cobrir seus delitos.

Cabe, pois, a vez aos poderes constituídos e muito principalmente aos de
maior categoria.

Se nas classes mais inferiores exerce o Espiritismo imensa influência, que há de refletir-se na ordem social, podeis imaginar quanto mais de notar-se não será, em todas as ordens de relações, a influência benéfica que ele exercerá nas culminâncias do Poder, isto é, nos indivíduos que ocupam os postos de maior categoria no governo dos povos e que atuam nas diferentes esferas em que se desdobram as coisas de ordem governamental.

Se escabrosa é a missão do magistrado, se perigoso é o ofício do juiz, não
menos difícil é a missão do governante e não menos arriscado o ofício dos que se acham investidos de autoridade, seja esta qual for.

Deve-se, pois, procurar, com verdadeiro empenho que o Espiritismo penetra no palácio dos reis, na consciência de todo chefe de Estado e de todo governante, qualquer que seja sua denominação e hierarquia.

Difícil é, não que o Espiritismo penetre onde acabo de indicar, porém que os homens que ocupam tais alturas lhe prestem atenção. Mas, não suponhais que seja por má vontade, nem porque eles sejam refratários a admitir novas doutrinas, não. Deve-se, mais do que a qualquer outra causa, o fracasso que se sofre no intento de levar o Espiritismo às alturas mencionadas, à dificuldade que encontram os homens públicos em distrair sua atenção dos assuntos que lhes estão confiados e em furtar-se às exigências partidárias que os distanciam muito do objetivo que tendes, vós, os espíritas.

Verdadeiramente, os homens que se entregam de corpo e alma à política e, principalmente, os que chegaram aos mais elevados postos carecem do tempo e, ainda mais, de inclinação para estudos como os vossos. Não os recrimineis pelos desvios em que incorram com respeito aos vossos ideais. Credes que as doutrinas que professais, como vos interessam, devam interessar aos demais e que, com a mesma facilidade com que as abraçastes, têm os outros que as abraçar. Nisto, andais equivocados. Nem sempre os indivíduos que chegam a ouvir falar de Espiritismo estão em condições de prestar a atenção devida ao que significa esse nome glorioso. Muitas vezes, não é porque os indivíduos não possuam a inteligência e o descortino moral suficientes para compreender a redentora doutrina e honra-la com sua exemplar conduta, mas porque muitos dos que ocupam os altos postos governamentais, ou aspiram ocupa-los a seu turno, cabem missões a que o estudo e a aceitação de vossas ideias os impediriam de dar cumprimento satisfatório, acordemente com os compromissos assumidos não só com a própria consciência, como também com os diretores da evolução humana, os quais distribuem pelos espíritos encarnados, suficientemente capazes, os encargos de ordem pública que hão de desempenhar na Terra. A muitos desses homens o conhecimento e a aceitação da doutrina espírita levariam a abandonar os postos que ocupam. Não insistem por isso seus guias espirituais em lhes inspirar a ideia de se dedicarem a tais estudos.

Mas, que importa isso?

Não desempenha o homem público, honesto, uma função social de importância e benéfica, ainda que não seja espírita? Se a desempenha, se cumpre bem o seu dever, deixai que continue, pois assim também progride e contribui para o progresso geral.

São em grande número os homens públicos de primeira ordem que se aceitassem o Espiritismo, abandonariam seus postos, por muito espinhosos e porque certas funções inerentes aos cargos que ocupam, eles não quereriam exerce-las. Nada se perde e o que não se aproveita hoje será utilizado amanhã. Não compete aos adeptos do Espiritismo saber quais as consequências que terá o que lhes seja dado fazer na divulgação da doutrina.
           
Divulgando-a, terão cumprido seu dever e poderão ficar satisfeitos.

Não obstante o que venho de dizer com respeito aos homens públicos que não podem, ou aqueles a quem não é conveniente se tornem atualmente espíritas, bom é lhes dirijais muito especialmente a vossa ação de propagandistas, porque se aproximam os tempos em que será uma vergonha que entre eles não haja muitos que professem as novas ideias. Aproxima-se o dia em que para quem quer que ocupe as alturas mencionadas, será um vexame ignorar quanto se refere ao Espiritismo, mormente quando se generalizam por toda parte os progressos da ciência no sentido dos vossos ideais, com a penetração do estudo de sua fenomenologia nas esferas científicas. Assim, nem a politica nem a religião poderão deixar de interessar-se pelos vossos estudos, dando-lhes a importância que merecem.
           
Refleti um pouco sobre o enorme passo que terá dado a humanidade, quando o Espiritismo seja aceito e professado pelos mais altos poderes do Estado, pelas personalidades mais eminentes da política e seguramente as conclusões a que chegareis vos decidirão a dar um grande impulso à propaganda, a toda manifestação espírita, dirigindo-a às altitudes indicadas.

Quando a vossa doutrina encontre aí um forte baluarte, podeis considerar que o triunfo do Espiritismo é fato consumado. Preparai o terreno aos espíritos encarnados, que hão de ocupar os elevados postos governamentais e de banhar-se no espírito puro das vossas doutrinas. Sede seus precursores.
           
            A invasão deverá começar pelos partidos oposicionistas de assinalada feição progressista. Seus homens contrairão compromissos solenes na oposição, que se verão obrigados a cumprir quando cheguem ao poder. Daí também o motivo por que vos deve interessar manter muito boas relações com os elementos adiantados da política, que são os que amanhã governarão e introduzirão, nas leis e nos atos do governo, o espírito dos vossos ideais, com o que já vos podereis dar por satisfeitos, porque o espírito é tudo.

À obra, pois! Ao labor, para que o mais breve possível, desde o alto do Capitólio se proclame a bondade e o triunfo do Espiritismo.



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