quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O Nascimento das Grandes Coisas



O Nascimento das Grandes Coisas
por Antônio Túlio
Reformador (FEB) Fevereiro 1948

Em sua “Conclusão” do "Livro dos Espíritos", Allan Kardec faz as seguintes considerações:        

“Quem, de magnetismo terrestre, apenas conhecesse o brinquedo dos patinhos imantados que, sob a ação do imã, se movimentam em todas as direções numa bacia com agua, dificilmente poderia compreender que ali está o segredo do mecanismo do universo e da marcha dos mundos. O mesmo se dá com quem, do Espiritismo, apenas conhece o movimento das mesas, no qual só vê um divertimento, um passatempo, sem compreender que esse fenômeno tão simples e vulgar, que a antiguidade e até os povos semi-selvagens, conheceram, possa ter ligação com as mais graves questões de ordem social. Efetivamente, para o observador superficial, que relação pode ter com a moral e o futuro da humanidade uma mesa que se move? Quem quer, porém, que reflita se lembrará de que uma simples panela a ferver e cuja tampa se erguia continuamente, fato que também ocorre de toda a antiguidade, saiu o possante motor com, que o homem transpõe o espaço e suprime as distâncias.

“Pois bem! sabei vós que não credes senão no que pertence ao mundo material, que dessa mesa que gira e vos faz sorrir desdenhosamente saiu uma ciência, assim como a solução dos problemas que nenhuma filosofia pudera ainda resolver.”

Os contemporâneos do Mestre só viam no Espiritismo a mesinha girante e a inteligência deles não lhes permitia refletir sobre coisa tão banal. Os tempos já mudaram. Muita gente hoje vê no Espiritismo um meio de curar suas mazelas. Lembram-se dos médiuns receitistas ou curadores, quando sofrem uma enfermidade, e mandam então procurar uma receita ou pedir passes nalgum grupo espírita. Nenhuma outra finalidade alcançam além dessa, tão terra-a-terra, de obter remédios e conselhos médicos, nem podem conceber as finalidades de associações espíritas que não dão receitas, nem aplicam passes.

Desprezam por incompreensão tudo o que há de grande e belo no Espiritismo, para confundi-lo com uma das múltiplas escolas que disputam entre si o direito de curar enfermos: alopatia, homeopatia, naturismo, etc.

De modo semelhante, os contemporâneos de Jesus preferiam ver nele o homem que multiplicava os pães e curava enfermos, a reconhecê-lo como portador de uma doutrina que os libertaria de todos os seus males morais. Essa mentalidade inferior ficou registrada em João, 6:26, nos seguintes termos;

“Jesus respondeu-lhes e disse: Na. verdade, na verdade, vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes.”

A inteligência do homem é demasiado curta para prever o futuro, mesmo o mais lógico. Pouquíssimos possuem logica bastante para se entusiasmarem pelas grandes coisas em seu nascimento e por elas trabalhar. Todas as grandes descobertas, todas as grandes invenções, todas as grandes reformas tiveram que lutar contra o espírito de rotina, que pretende modelar o futuro pelo passado e toma armas contra quem ouse prever um porvir diverso do presente.

O Espiritismo ainda se acha, para a imensa maioria dos homens, no rol das coisas novas e incompreendidas. Seu caminho vai sendo aberto penosamente pela floresta virgem da indiferença, esbarrando a cada passo com os espinheiros da oposição violenta. No entanto, é inegável que progride e interessa a um número de pensadores sérios, que aumenta dia a dia. Como índice disso, vemos a divulgação das obras doutrinárias, sempre melhores, sempre mais procuradas. O público ledor já se interessa pelo estudo da doutrina, já vê no Espiritismo muito mais do que um passatempo ou um processo de curar doenças.

No entanto, a reforma moral que o Espiritismo exige dos homens é muito grande, talvez demasiado grande para se efetuar sem uma remodelação, completa da atual sociedade. Só podemos conceber a moral espírita em ação, num mundo confraternizado, onde reine a lei de Deus.

Mas, não tenhamos dúvida de que esse mundo novo está em formação. O mundo velho se esboroa com todas as suas pirâmides multi seculares de injustiças e crimes. Depois dele virá o mundo ideal. Paradoxalmente, é o desenvolvimento do egoísmo que produz o altruísmo. A insegurança, a angustia, a febre, o inferno que o egoísmo produz, forçam o homem a apoiar-se em seus irmãos, a solidarizar-se com eles para sua própria felicidade. O homem será levado à fraternidade e ao altruísmo por amor à sua própria segurança, à sua felicidade.

Só a incompreensão de seus mais altos interesses pode fazer dele um egoísta a criar para si um inferno de ódios e sofrimentos. A compreensão o libertará e essa compreensão se vai estabelecendo a pouco e pouco. Em vez de lutar para construir a sua felicidade à custa da ventura alheia, o homem chegará a compreender que só será feliz quando trabalhar pela felicidade de todos, pensando menos em sua minúscula pessoa.

Nesse mundo, em que todos se esforcem pela felicidade de todos, em que o homem veja e sinta que sua felicidade é uma parcela da felicidade de sua pátria e da humanidade, que fica sacrificada toda vez que a pátria ou a humanidade sofram, haverá o clima necessário ao pleno desenvolvimento da moral espírita, ou, antes, da moral cristã eterna, agora renovada pelos ensinos dos Espíritos de luz que estão baixando a Terra.

Segundo repetidas mensagens do Além, já estão a postos os prepostos de Jesus para prepararem esse mundo novo, em que reinará a lei de Deus nas consciências. Num futuro talvez bem próximo, portanto, a moral espírita encontrará na face da terra as condições necessárias ao seu pleno vigor, à sua compreensão e prática. Nesse tempo, o Espiritismo terá entrado em todas as consciências, não como um passatempo, não como processa terapêutico, mas, na verdade, como regra de conduta para todos os homens.  

Trabalhemos e esperemos, ajudando por todos os meios ao nosso alcance a marcha do progresso em todas as suas múItiplas modalidades.


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