Inspirações
– 8
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Agosto 1923
COMO SE DEVE ESTUDAR
Bem fazem em estudar os que querem desenvolver
a inteligência e adquirir todos os conhecimentos que exige uma bem aproveitada
peregrinação pela Terra. Bem fazem em estudar, porque o conhecimento não
chove do céu, à maneira de maná, sobre os que, para alcança-lo, não o procuram
pelo próprio esforço. Pelo estudo se adquirem conhecimentos do plano físico e
se prepara a alma, com a iluminação da mente, para desenvolver em si as
qualidades superiores que lhe são próprias.
Não fazem mal, por conseguinte os espíritas,
recomendando todos os dias a seus irmãos que estudem, porque o estudo é necessário
para o perfeito conhecimento da doutrina, para limar a inteligência,
preservando-a de obstáculos que poderiam entorpecer a aquisição de maior ciência,
e para destruir erros e preconceitos, que lhe aderiram à natureza, desde
passadas existências.
Porém, nisto, como em tudo, é preciso por em jogo
o discernimento, pois, quem o não fizer pode vir a padecer de terríveis
enfermidades mentais, provenientes de demasiados estudos, de indigestão de
leitura, como a muitos tem acontecido.
Ler! É bom, muito bom; porém, com critério,
procurando aproveitar o que se lê. Ler, como se costuma fazer, sobrecarrega a
mente e pouco aproveita; chega-se, por fim, a ter acumulada na mente uma porção
de ideias, estranhas umas às outras e que, por não terem sido devidamente coordenadas
e classificadas, postas cada uma em seu lugar, convertem o cérebro em depósito
de um conglomerado de pensamentos, que travam entre si rude batalha, com
prejuízo para a alma, que não poderá dispor, desde então, de uma mente sã, para
exteriorizar-se. As manifestações do Ego sofrem eclipse, entorpece-se o natural
desenvolvimento psíquico e com ele se perturba o funcionamento normal das
faculdades mentais, resultando tornar-se o indivíduo, colocado nesta situação,
um ser normal, incapaz de acertar nos assuntos de pura intelectualidade e,
menos ainda, nos de natureza superior.
Para conhecer a doutrina espírita, faz-se preciso
a quem quer que seja estuda-la. Tem razão os que tal coisa afirmam; porém, para
estudar a doutrina espírita verdadeiramente e profundamente, não se precisa ler
muitos livros, basta se leiam os essenciais e, nessa leitura, se procure
penetrar até ao íntimo do pensamento estampado no livro. Deve-se, para isso,
segundo conselho dado por algumas almas experimentadas, de meditar dez minutos,
após cada cinco de leitura, sobre o que se leu. Deste modo se aprende, deste
modo se bate à porta da intuição, para que ela facilite não só a compreensão do
que o autor exprimiu no livro, como também alguma coisa mais do que disse o
autor sobre a matéria desenvolvida, coisa que vem do Alto, desse Alto que está
no íntimo de cada ser, que só espera se lhe toque na mola correspondente, para
que chova copiosamente sobre a inteligência do estudioso, enchendo-lhe a alma
de resplendores divinos. Não fazendo assim, lendo e lendo, sem parar para
meditar, sem intentar aprofundar a matéria lida, com o telescópio da própria
razão, apelando para o sublime mentor que há em cada ser, muito pouca coisa se
consegue. Daí vem que pessoas, que têm lido muitíssimos livros e revistas de
toda espécie, que têm ouvido uma infinidade de discursos sobre uma ideia, no
nosso caso, sobre o Espiritismo - conhecem desta doutrina muito pouca coisa,
não se elevando jamais do nível da terra. Em compensação, outras, que seguiram
o conselho acima indicado, aproveitaram enormemente dos poucos livros que hão
lido e dos discursos que têm ouvido.
Por isso, se bem seja prudente aconselhar o
estudo, não o é se, ao mesmo tempo, não se explica como deve fazer-se esse
estudo e não se aconselha que ele comece pelo mais elementar, seguindo-se, no
desenvolver dos conhecimentos, um método verdadeiramente didático.
0 espírita tem diante de si um horizonte imenso
de conhecimentos, que chegarão a ser seu patrimônio, mas patrimônio que lhe
cumpre adquirir por seu próprio esforço. Porém, para chegar ao extremo do horizonte
que se lhe abre a vista, se não empreender a marcha pelos melhores caminhos,
pelos mais diretos e menos pontilhados de espinhos e abrolhos, ele se expõe a
perder muito tempo, ou a seguir uma marcha penosa e a extraviar-se inúmeras
vezes pelos desvios que for encontrando.
Em compensação, se se lhe indicar bem o caminho
e o advertir dos precipícios que possa encontrar a sua passagem, para evita-los,
e todos os acidentes capazes de lhe entorpecerem a marcha e torna-la mais
penosa, conseguir-se-á, que o estudante, a menos que seja um verdadeiro díscolo,
falho de raciocínio, atenda e siga a rota traçada para aproveitamento dos seus
estudos.
É, pois, de rigor, aconselhar aos que estão nos preliminares do estudo da matéria, que não se metam em estudos superiores ao grau em que se acham, o que quer dizer que todo aquele que não aprofundou ainda bastante a doutrina espírita deve limitar-se, nos seus estudos, às obras fundamentais do Espiritismo, procurando penetrar até ao mais profundo de seus ensinamentos; que, se procurarem depois de cinco minutos de leitura, meditar dez, conseguirão isso; e que, pela intuição, que deste modo se desenvolve prodigiosamente, lhe virão conhecimentos superiores aos do livro que leu, sobre a matéria do estudo.
Não deve o espírita abalançar-se a outra classe
de estudos antes de conhecer perfeitamente sua doutrina, estudada pelo método
que deixo consignado; depois quando já tenha chegado às alturas a que um
profundo estudo doutrinário conduz, então, sem temor, poderá abordar quantos
estudos queira, porque, com aquele fundamento e com a intuição bem
desenvolvida, de qualquer estudo que empreenda colherá ótimos frutos.
Por serem muitos os espíritas que se têm
extraviado, não seguindo em seus estudos o método que preconizo, convém
insistir nisto, para evitar o extravio de muitos outros e que haja tantos
desequilibrados, como há, que são alvo da risota de certas pessoas, pelas
extravagâncias a que se entregam e por não saberem coisa alguma, pretendendo
saber tudo.
Fareis bem a vossos irmãos e à vossa própria
crença, chamando a atenção para o que vos venho transmitindo, ampliando-o, certamente,
para que a lição seja mais completa e eficaz, o que muito bem podeis todos
fazer e, em particular, o meu amanuense, a quem não faltará, a minha inspiração
ou a de qualquer outro dos muitos protetores que por ele se interessam.
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