Valores morais
por Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Janeiro 1951
Conta
Lucas que uma grande multidão acompanhava o Mestre. Voltando-se para ela, disse
o Senhor: Se alguém vier a mim e não aborrecer pai, mãe, mulher, filhos e
irmãos, e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E também,
qualquer que não trouxer a sua cruz não pode seguir-me.
Aborrecer
a parentela toda, pode parecer expressão demasiadamente dura. O evangelista Mateus
faz luz sobre o caso empregando a seguinte variante: aquele que ama o pai ou a
mãe mais do que a mim, não é digno de mim, etc.
Querer
mais: eis a questão posta em seus verdadeiros termos. Aqueles que colocam os
interesses da carne e do sangue acima dos valores espirituais, não podem
pertencer à escola do divino Verbo. Não terão ali o que fazer nem o que
aprender, visto como o objetivo do Rabi da Galileia é precisamente educar os
homens, desenvolvendo lhes os poderes anímicos a fim de elevá-los acima da
esfera animal, a que ainda pertencem.
Em tal
se resume a sua missão redentora. Proferindo a assertiva em apreço, jamais
pretendeu subestimar a importância da família, célula que é da sociedade.
Deu-lhe, antes, subido relevo, tomando essa instituição como ponto de referência
para reportar-se ao que transcende a todos os valores terrenos e humanos: o
amor, o respeito e a veneração a Deus, mediante o culto da Verdade, da Justiça,
do Bem e do Belo.
*
A organização da família através dos liames frágeis e
perecíveis da carne é o meio de conduzir os homens à consumação da família
espiritual, cujos componentes estarão ligados pelos laços indissolúveis do
afeto mútuo, das afinidades eletivas e da compreensão e assimilação das leis
universais que regem os destinos dos sóis, dos mundos e dos seres. "Minha mãe, meus irmãos e minhas irmãs,
são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática".
Não há união que permaneça fora da verdade. Aquelas que
existem sem este requisito são de caráter provisório. Aos primeiros embates da
verdade, os que se acham no erro, se dividem. Mais tarde, já esclarecidos, a
verdade os irmanará para sempre. Uns vão primeiro, outros depois, porém todos
atingirão a verdade para se tomarem livres. Jesus é a Verdade.
O Mestre nasceu no seio de um povo visceralmente regionalista,
sectário, saturado de preconceito racial até a medula dos ossos. Os dois hemisférios
denominavam-se: Judeus e Gentios.
O conceito de Divindade era, a seu turno, particularista.
Veneravam o Deus de Abraão, Isaac e Jacó.
Nada obstante, o Messias encarnava a fé universalista por
excelência, anunciando o reino do
espírito que paira sobre todos os sistemas separatistas em expressão de raça,
pátria, nacionalidades e credos. Daí a razão por que, até hoje,
Judá. não lhe reconheceu o messianato e
continua repudiando a sua moral.
Como,
porém, a palavra do Profeta de Nazaré é de vida eterna, os fatos vão
ratificando os enunciados e as disciplinas de sua escola. O velho mundo
agoniza. Debalde buscam sustê-lo em seus fundamentos. Todas as organizações inspiradas
no materialismo egoísta estão irremediavelmente condenadas. O Conservantismo,
nos setores político, social, econômico e religioso debate-se nos seus últimos
estertores. A época é dos reformistas. A liderança caberá ao NOVO Mundo. É a
hora da América. Em seu solo bendito não medra o racismo irredutível. O sangue
que circula nas artérias de seus filhos é cosmopolita. A Nova Era que vai
surgir, emerge do Espírito. O regime de César, fundado no prestígio da matéria,
será, em breve, substituído pela escola espiritualista inspirada nos valores morais.
Quanto
à maneira pela qual se operará essa transmutação, depende dos homens.
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