quarta-feira, 31 de julho de 2019

Valores Morais

Vinícius


Valores morais
por Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Janeiro 1951

Conta Lucas que uma grande multidão acompanhava o Mestre. Voltando-se para ela, disse o Senhor: Se alguém vier a mim e não aborrecer pai, mãe, mulher, filhos e irmãos, e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E também, qualquer que não trouxer a sua cruz não pode seguir-me.

Aborrecer a parentela toda, pode parecer expressão demasiadamente dura. O evangelista Mateus faz luz sobre o caso empregando a seguinte variante: aquele que ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim, etc.

Querer mais: eis a questão posta em seus verdadeiros termos. Aqueles que colocam os interesses da carne e do sangue acima dos valores espirituais, não podem pertencer à escola do divino Verbo. Não terão ali o que fazer nem o que aprender, visto como o objetivo do Rabi da Galileia é precisamente educar os homens, desenvolvendo lhes os poderes anímicos a fim de elevá-los acima da esfera animal, a que ainda pertencem.

Em tal se resume a sua missão redentora. Proferindo a assertiva em apreço, jamais pretendeu subestimar a importância da família, célula que é da sociedade. Deu-lhe, antes, subido relevo, tomando essa instituição como ponto de referência para reportar-se ao que transcende a todos os valores terrenos e humanos: o amor, o respeito e a veneração a Deus, mediante o culto da Verdade, da Justiça, do Bem e do Belo.

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A organização da família através dos liames frágeis e perecíveis da carne é o meio de conduzir os homens à consumação da família espiritual, cujos componentes estarão ligados pelos laços indissolúveis do afeto mútuo, das afinidades eletivas e da compreensão e assimilação das leis universais que regem os destinos dos sóis, dos mundos e dos seres. "Minha mãe, meus irmãos e minhas irmãs, são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática".

Não há união que permaneça fora da verdade. Aquelas que existem sem este requisito são de caráter provisório. Aos primeiros embates da verdade, os que se acham no erro, se dividem. Mais tarde, já esclarecidos, a verdade os irmanará para sempre. Uns vão primeiro, outros depois, porém todos atingirão a verdade para se tomarem livres. Jesus é a Verdade.

O Mestre nasceu no seio de um povo visceralmente regionalista, sectário, saturado de preconceito racial até a medula dos ossos. Os dois hemisférios denominavam-se: Judeus e Gentios.

O conceito de Divindade era, a seu turno, particularista. Veneravam o Deus de Abraão, Isaac e Jacó.

Nada obstante, o Messias encarnava a fé universalista por excelência, anunciando o reino do espírito que paira sobre todos os sistemas separatistas em expressão de raça, pátria, nacionalidades e credos. Daí a razão por que, até hoje,
Judá. não lhe reconheceu o messianato e continua repudiando a sua moral.

Como, porém, a palavra do Profeta de Nazaré é de vida eterna, os fatos vão ratificando os enunciados e as disciplinas de sua escola. O velho mundo agoniza. Debalde buscam sustê-lo em seus fundamentos. Todas as organizações inspiradas no materialismo egoísta estão irremediavelmente condenadas. O Conservantismo, nos setores político, social, econômico e religioso debate-se nos seus últimos estertores. A época é dos reformistas. A liderança caberá ao NOVO Mundo. É a hora da América. Em seu solo bendito não medra o racismo irredutível. O sangue que circula nas artérias de seus filhos é cosmopolita. A Nova Era que vai surgir, emerge do Espírito. O regime de César, fundado no prestígio da matéria, será, em breve, substituído pela escola espiritualista inspirada nos valores morais.

Quanto à maneira pela qual se operará essa transmutação, depende dos homens.

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