6,67 Então, Jesus perguntou aos doze: -Quereis vos também retirar-vos?”
6,68 Respondeu-Lhe Simão Pedro: -Senhor, para
quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna;
6,69 e nós cremos e sabemos que Tu és o Filho de
Deus!
6,70 Jesus acrescentou: “-Não vos
escolhi a vós, os doze? Contudo, um de vós é diabo!” 6,71 Ele se referia a Judas, filho de Simão
Iscariotis, porque era quem o havia de entregar, não obstante ser um dos doze.
“A medida que o Mestre revelava
novas características de sua doutrina de amor, os seguidores, então numerosos,
penetravam mais vastos círculos no domínio da responsabilidade. Muitos deles,
em razão disso, receosos do dever que lhes caberia, afastaram-se, discretos, do
cenáculo acolhedor de Cafarnaum.
O
Cristo, entretanto, consciente das obrigações de ordem divina, longe de violar
os princípios da liberdade, reuniu a pequena assembléia que restava e
interrogou aos discípulos:
-Também vós quereis retirar-vos?
Foi nessa circunstância que Pedro
emitiu a resposta sábia, para sempre gravada no edifício cristão.
Realmente, quem começa o serviço de
espiritualidade superior com Jesus jamais sentirá emoções idênticas, a
distância dEle. A sublime experiência, por vezes, pode ser interrompida, mas
nunca aniquilada. Compelido em várias ocasiões por impositivos da zona física,
o companheiro do Evangelho sofrerá acidentes espirituais submetendo-se a
ligeiro estacionamento, contudo, não perderá definitivamente o caminho.
Quem comunga efetivamente no
banquete da revelação cristã, em tempo algum olvidará o Mestre amoroso que lhe
endereçou o convite.
Por este motivo, Simão Pedro
perguntou com muita propriedade:
-Senhor, para quem iremos nós?
É que o mundo permanece repleto de
filósofos, cientistas e reformadores de toda espécie, sem dúvida respeitáveis
pelas concepções humanas avançadas de que se fazem pregoeiros; na maioria das
situações, todavia, não passam de meros expositores de palavras transitórias,
com reflexos em experiências efêmeras. Cristo, porém, é o Salvador das almas e
o Mestre dos corações e, com Ele, encontramos os roteiros da vida eterna.”
Para
Jo (6,70) -o diabo
- buscamos, na mesma fonte:
“Quando a teologia se reporta ao
diabo, o crente imagina, de imediato, o senhor absoluto do mal, dominando num
inferno sem fim.
Na concepção do aprendiz, a região
amaldiçoada localiza-se em esfera distante, no seio de tormentosas trevas...
Sim, as zonas purgatoriais são
inúmeras e sombrias, terríveis e dolorosas, entretanto, consoante a afirmativa
do próprio Jesus, o diabo partilhava os serviços apostólicos, permanecia junto
dos aprendizes e um deles se constituíra em representação do próprio gênio
infernal.
Basta
isso para que nos informemos de que o termo “diabo” não indicava, no conceito do Mestre, um gigante de perversidade,
poderoso e eterno, no espaço e no tempo. Designa o próprio homem, quando
algemado às torpitudes do sentimento inferior.
Daí
concluirmos que cada criatura humana apresenta certa percentagem de expressão
diabólica na parte inferior da personalidade.
Satanás simbolizará então a força
contrária ao bem.
Quando o homem o descobre, no vasto
mundo de si mesmo, compreende o mal, dá-lhe combate, evita o inferno íntimo e
desenvolve as qualidades divinas que o elevam à espiritualidade superior.
Grandes multidões mergulham em
desesperos seculares, porque não conseguiram ainda identificar semelhante
verdade.
E, comentando esta passagem de João,
somos compelidos a ponderar: -Se, entre
os doze apóstolos, um havia que se convertera em diabo, não obstante a missão
divina do círculo que se destinava à transformação do mundo, quantos existirão
em cada grupo de homens comuns na Terra?
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