sempre estaremos no limiar de uma nova maneira de encarar a vida...
Desperta para a
Vida Nova!
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Janeiro 1951
Achamo-nos
no limiar de um novo ano. Precisamos, pois, descansar a bagagem que trazemos em
nossa consciência e meditar sobre o que fizemos até agora e o que ainda
poderemos fazer. A vida do homem comum é entretecida de mortes e ressurreições diárias. A
todo instante morremos pelos pensamentos pecaminosos, pelas palavras
desfraternas e pelos atos inamistosos que praticamos, mas, sempre que buscamos
resgatar nossas culpas pela exemplificação de ações meritórias, operamos a
nossa própria ressurreição ao olhos do Mestre.
Ano novo, vida nova - diz o adágio. Aparentemente, essas palavras pouco
significam. Todavia, penetremos o profundo sentido que elas têm. Vida nova pode significar a retificação
do nosso itinerário moral, pode valer por uma oportunidade de reabilitação, se
não insistirmos em seguir atalhos perigosos, por onde o nosso Espírito, confundido
e desorientado, vá perder-se em pântanos dissimulados pela ramaria verde da
superfície. Para realizar vida nova, tem o homem que despojar-se da personalidade
moral que marca a sua estagnação fora do Evangelho. Deverá
submeter a sua consciência ao banho
lustral do arrependimento construtivo, do arrependimento que possa fixar o
início da sua redenção espiritual.
Aquele
que procede em desacordo com os preceitos do Bem, que se afasta imprudentemente
do roteiro evangélico, não caminha: estaciona. Perde a visibilidade das coisas
morais e acabará envolto no espesso nevoeiro da incompreensão e do desespero,
se não realizar sincero esforço para evadir-se de tão periclitante posição
espiritual. Será o caso, então, de se lhe recomendar o versículo de João
(12:35): Andai enquanto tendes a luz, para
que as trevas não vos apanhem. Sim, porque, depois, como poderá
orientar-se, como poderá recuperar o bom caminho, se a escuridão lhe veda a
possibilidade de localizar-se? Através do pensamento, porém, poderá o homem
perdido nas trevas reconquistar a direção de si mesmo, entregando-se com fé à
discrição das forças do Alto, porque Deus é a bússola e o Evangelho, o
itinerário da salvação.
*
Que
fizemos de útil no ano que passou? Que semeamos para a boa colheita futura?
Quantas vezes sobrecarregamos o nosso débito pela inobservância do mais comezinho
espírito de fraternidade? Quantas pedras pusemos na estrada dos nossos
semelhantes? Quantas vezes permitimos que o egoísmo e o orgulho nos dominassem
o coração? Quantas vezes a vaidade fez que nos derramássemos em louvores
próprios? Quantas vezes morremos espiritualmente e quantas pudemos renascer em
Jesus, evitando reincidir em erros e aproveitando as lições das quedas anteriores?
Vida Nova... Bem
necessitamos de corrigir a nossa rota. Se todo aquele que sopesar suas ações
quotidianas compreender e decidir em definitivo levar vida nova, ameigando o
caráter na exemplificação dos princípios do Evangelho do Cristo, estará ao
mesmo tempo servindo à obra do Mestre e a si próprio. Todavia, ninguém estará
com o Cristo, se não estiver com os seus irmãos de provações terrenas, nas
horas de amargas aflições. No serviço cristão, só é certa a conduta inspirada
pelo desejo de servir com abnegação, amor, tolerância e desprendimento. “E se ninguém vos receber nem escutar as vossas
palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó de vossos pés"
(Mateus, 10:14). Que esse pó signifique uma exortação ao bem, um
incentivo, uma lembrança, a fim de que o indiferente de agora, quando chegar a
hora do esclarecimento, tenha no episódio um pretexto para começar a própria
iluminação.
*
Todos
quantos necessitam de iniciar vida nova não podem perder mais tempo. A lição soberba
de Emmanuel, nessa maravilhosa joia da literatura espírita, que é “Pão Nosso”, deve ser repetida: "Má vontade gera sombra. A sombra favorece a
estagnação. A estagnação conserva o mal. O mal entroniza a ociosidade. A ociosidade
cria a discórdia. A discórdia desperta o orgulho. O orgulho acorda a vaidade. A
vaidade atiça a paixão inferior. A paixão inferior provoca a indisciplina. A
indisciplina mantém a dureza de coração. A dureza de coração impõe a cegueira espiritual.
A cegueira espiritual conduz ao abismo. Entregue às obras infrutuosas da incompreensão,
pela simples má vontade pode o homem rolar indefinidamente ao precipício das
trevas."
Precisamos
morrer menos a cada instante, para alcançarmos a glorificação da aleluia
espiritual. Se ultrajamos Jesus com fementida solidariedade e continuamos a
negá-lo através de pensamentos e atos inferiores, semelhamo-nos a corpos sem vida, a simples féretros de
carne, sombrios condutores de cadáveres morais. Todavia, irmão, se apenas te
falta ânimo para acompanhar pegadas do Cristo, sacode o torpor que te adormece
o Espírito e vem iniciar também uma vida nova.
“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre
os mortos e o Cristo te esclarecerá!” (Paulo - Efésios. 5:14).
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