Do
“Livro de um Sonhador”
Lux
Reformador
(FEB) Janeiro 1920
Contemplo-te, Ó homem, e as tuas
incertezas, os teus cismas, as tuas queixas, as tuas investidas, as tuas renúncias,
as tuas quedas e as tuas dores, me causam dor - porque também sou homem!
Considero, no luto, as tuas mágoas; na
indigência, experimento o rigor de teu castigo, participando de tuas penas; na
tua opulência, compulso a arrogância pueril de tua vaidade; e, nas tuas mágoas,
nas tuas penas, na estulticie de tua vaidade, penalizado, embebo a minha pena,
para dizer-te que me causas pena!
Compadeço-me de ti, e meu grande pesar
se aprofunda e cresce à proporção que desces, que te degradas à ascendência
vaidosa do orgulho e no falso terreno da incredulidade te deixas conduzir ao
sorvedouro das ingratidões para com Aquele que no mundo veio ensinar o amor,
dizendo compassivamente: “Amai-vos uns nos outros e a Deus sobre todas as
coisas”, pois, sendo Deus a Vida de todas as vidas, é Ele o autor máximo de
tudo quanto existe e o único que, justiceiro e bom, distribui a graça dos bens
eternos que enriquecem a vida na imortalidade!
Oro por ti, quando, desprezado pelo
desdém de teus lábios, que me repelem por vezes, no silêncio da noite e no
ignorado aposento de minha transitória residência terrena, elevo o pensamento
no “Senhor dos Mundos”.
Nesses momentos de concentração, em
que me afasto das coisas materiais, fugindo-lhes ao predomínio esmagador e às ameaças
de credores que me recusam a direito do pão, por que os “sonhadores” não vivem
neste mundo... sinto que me causas maior compaixão, pois, em troca das flores
que te ofereço, abençoadas pelo Divino Pastor que me pastoreia o rebanho dos sentimentos,
porque lhe suplico a proteção bendita; em troca da aromal coroa com que te
quero ornamentar a fronte e falar ao teu coração, recebo, unicamente, os
espinhos de tua indiferença que me retalham a alma e embaraçam o pensamento...
Vejo, então, que o mundo, pelos companheiros
de jornada que conheço, é companheiro da formiga mandando a pobre cigarra viver
da própria canção...
E te lamento, ó homem, porque minha alma
não vibra nos departamentos do
egoísmo,
do orgulho e da luxúria; vibra por afeto e não por ambicionar mundanas glórias;
ambiciona a felicidade que lhe provenha da ventura de concorrer para a fortuna moral
do homem ; não vive para si, nem se movimenta por si: vive movimentada pelo Cristo
de Deus que a impulsiona e ativa, fornecendo-lhe a meiguice de seus ensinamentos,
a ternura infinita de seu amor imenso, reprovando-a, com suavidade, nos erros a
que se deixe arrastar; apontando-lhe o caminho da Justiça e do Dever perante o Tribunal
Divino; norteando-a na paz, confortando-a na guerra para que se compadeça dos
elementos conturbados...
E minha alma,
retalhada,
Que em
prantos faz a jornada
Desta jornada
de dor;
Tem pena de
ti, Ó homem,
Ante as lutas
que consomem
Teus
sentimentos de amor!
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