sexta-feira, 17 de maio de 2019

A Miséria


A Miséria
por Augusto  José da Silva
Reformador (FEB) Janeiro 1920

            Nenhum poder humano valerá para extinguir a miséria, porque ela é o resultado da opulência e do fausto. Insensato seria quem tentasse apagar as cores conservando a luz, e não menos quem se propusesse acabar os vegetais espalhando sementes pelo solo.

            Farta sementeira de mendigos são os ricos!

            Serão desprezados porque desprezam, padecerão fome porque não abrem o coração às misérias da existência, passarão vexações porque não temem amargurar seus irmãos!

            Lá fulge no Evangelho a divina verdade, trazida a este planeta pelo Emissário de Deus - verdade mais tremenda que a sentença lavrada na parede do paço de Baltazar:

            “É mais fácil passar um cabo pelo fundo de uma agulha do que um rico se salvar .”

            Sim: sem voltar para ser um pobre, sem primeiro trocar pelo mandato adamantino da humildade os andrajos da soberba, sem abater abaixo dos que ele maltratou, sem estender mão súplice aos que espezinhou, certo não vingará soltar-se deste cárcere e alar-se às mansões fulgidas onde reinam a caridade e o Amor.

            Imagina-se no Evangelho um banquete onde se intromete uma personagem estranha. Descoberta entre convivas o anfitrião intima-lhe pronta saída, porque não estava com vestes nupciais.

            Esta personagem serei eu e serás tu, leitor, ei, depois da morte nos apresentarmos com os andrajos dos vícios: voltaremos às existências obscuras e trabalhosas, onde nos depuremos de nossas misérias.

            E se nos sondarmos, bendiremos Justiça Suma: pois iríamos ser anarquistas, viciosos e ladrões naquela sociedade de justos.

            Os mundos afortunados, esses mundos onde estanceiam as humanidades adiantadas, havemos de os conquistar, não por meio de superstições e bruxarias, ou pelas rabulices (imposturas) dos Santos perante o Altíssimo; lá chegaremos apoiados nas duas asas que se chamam: Virtude e Ciência.

Um comentário:

  1. Parabéns à equipe do Aron.

    Minha leitura diária desse site que resgata os editoriais do reformador.

    Continuem nesse lindo trabalho.

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