Palavras
de Ocasião
Editorial
Reformador
(FEB) Setembro 1919
Há manifesto engano em Supor-se que
do conjunto de regras ditadas pelos Espíritos, formando um corpo de Doutrina
que se denomina A Terceira Revelação, possa originar-se um sectarismo religioso
na acepção vulgar do conceito, reivindicando para si exclusivamente a posse da
Verdade Absoluta e, por ela e com ela, o absoluto domínio das consciências.
Esse conceito é tanto menos
autorizado quanto, o caráter da Revelação Espírita já aplicado ao aclaramento
do passado, já adstrito à observação do presente, já pressuposto à sequência do
futuro e afirmou desde logo indefinidamente progressivo e capaz, portanto, de
satisfazer sem limites de tempo e condição ás consciências mais exigentes e
perquiridoras.
Ao espírito evoluído que, porventura
houvesse atingido a meta dos conhecimentos possíveis, no estado desta nossa
humanidade, não faltariam intuições perceptivas de mais dilatados planos sem
infirmação das leis básicas que decalcam a vida universal, expostas na Doutrina
Espírita.
Em outros termos dizendo: com os
elementos de ponderação e experimentação que lhe oferece o Espiritismo, o homem
pode realizar todas as aspirações da inteligência e do coração, sem necessidade
de teorias novas que, todas por bizarras e minudentes, por complicadas e sibilinas,
não teriam a única vantagem que as poderia justificar o entendimento e
melhoramento das massas.
Porque o ascendente da Verdade não
está, pensamos nós, na sua individualização como património de inteligências
privilegiadas regredindo à meia luz dos Templos com iniciações
misteriosas e difíceis, mas na sua singeleza e naturalidade, no seu poder de
generalização, ao alcance relativo de todos os homens de boa vontade.
Assim, aquilo que se justificaria no
passado, formando a parte esotérica de todos os cultos, já se não casa com o
espírito da nossa época de universalidade e comunismo de
ideias.
O Espiritismo veio justamente
combater e abrogar privilégios dogmáticos, ensinando a todos os homens que eles
podem e devem ser por si os artífices da sua evolução para Deus e que essa
evolução se faz com amor e por amor, à revelia de quaisquer doutrinas, cultos e
teogonias.
Na sua doutrina se encontra a razão
de todos esses cultos, que o espirita consciencioso lastima quando inutilmente
praticados e tem obrigação de tolerar quando, devocionalmente seguidos, fazem a
relativa felicidade dos seus sectários.
Não vemos, destarte, razão para
assinalados esmorecimentos e defecções apadrinhados ao conceito de que a nossa
doutrina não tem progredido, produzindo maior derrama de luz nas consciências,
e, de modo geral, aquela elevação de nível moral que é o seu mais legítimo apanágio.
Os que assim pensam, esquecem que
essa elevação só pode ser feita parcelada e seriadamente dentro da lei de
afinidade, e, portanto, também só deve ser julgada de conjunto, com vistas ao
plano de evolução planetária, que não de individualidades ou grupos subsidiários
esparsos, e, - porque não dize-lo? -muitas vezes desviados do seu objetivo,
por efeito dessa outra lei de liberdade, que é licito esclarecer antes que
malsinar, por isso que as suas aberrações, parecendo maléficas, tem a virtude
de melhor contrastar a Verdade, como a sombra que melhor realça os efeitos da
Iuz.
Revelações novas, ampliações das
existentes também quereriam aqueles que estão julgando improfícua a fórmula espírita
para o progresso das almas...
Mas,
perguntamos: que novos problemas se defrontam à consciência humana que não
possam ser resolvidos por essa fórmula? A existência de Deus, acaso a Teosofia
melhor a define?
A Vida, o Cosmos, através dos atuais
conhecimentos científicos serão acaso e alhures melhor definidos do que na
cosmogonia espírita?
E que o fossem, perguntaríamos
ainda: conhece a humanidade na sua maioria a Revelação Espírita e, conhecendo-a,
está apta para tirar dela os proveitos de ordem intelectual e moral que lhe são
consentâneos?
Pensamos que não, absolutamente e o
que se verifica é que há um pouco por toda parte, incompreensão dos superiores
desígnios doutrinários.
A isto poder-se-ia objetar que os
Espíritos desencarnados deveriam corrigir anomalias e deturpações, suprindo e
completando as deficiências humanas.
É verdade e eles o fazem, mas dentro
da ordem natural, sem violentar jamais as consciências.
Nem o Espiritismo se resume na
manifestação singular de Espíritos sapientes e bons, mas na de todos os
Espíritos no plano de evolução planetária, para que cada qual tire dela o
melhor partido compatível com a sua inteligência.
Antes, portanto, de atribuir lacunas
ao Espiritismo, importa investigar até que limite de critério são levados o seu
estudo e a sua prática.
A nós, em que pesem todos os desvios
de um empirismo apaixonado, não nos chegou, nem chegará - esperamos em Deus - a
vez de trocar os seus ensinamentos lógicos, simples e claros, a manifestação
dos Espíritos concorde com a tradição de todos os tempos, a
perspectiva consoladora de uma ascenção indefinida mas reta, a afirmação
ostensiva de uma solidariedade original e final pelas tortuosidades de sistemas
filosóficos outros que, afora a confirmação do fato espírita, velho quanto o
mundo, nada mais nos oferecem de sólido com a só engenhosa textura de hipóteses
sobre hipóteses.
Se a Doutrina Espírita tão clara,
tão simples, tão lógica, ao demais comprovada por fatos, não tem produzido
benefícios de ordem moral-social mais intensivos, quer isto apenas
dizer que a maior parte dos espíritas ainda permanece incapaz de praticá-lo
estreme (limitado
por) de
seus pessoais prejuízos e terrenas convenções.
O mal, a falha, o defeito, estão no
homem e não na doutrina.
Melhora-lo a ele - homem – pela difusão
dos verdadeiros princípios dela -Doutrina, é o que compete aos legionários
esclarecidos, opondo sólido dique a essa avalanche de personalismo a cuja
sombra o espírito das trevas edita e lança a semente da separatividade com
o rótulo fulgurante de novas escolas filosóficas, cheias de presunções científicas,
mas, em tese, baldas de amor.
Estas simples considerações são de
molde a provar que o ideal espírita ainda está por concretizar-se na prática,
prática essa que, para corresponder ao espírito superior da Revelação,
corroborado constantemente pelos nossos Guias, depende da reforma moral do
homem...
Esta reforma, nós a propugnamos aqui
em moldes que não podem ser excedidos, por vazado nos Evangelhos de Jesus.
Havendo-O por Único Mestre e Senhor,
sentimo-nos bem para ficar onde estamos e aplaudir quantos não importa sob que
bandeira, o buscarem com sinceridade.
O nosso lugar, porém, queremo-lo definido
com todas as responsabilidades decorrentes da consciência felicitada pelo
cumprimento de um dever sagrado, no máximo esforço da Fé, da Esperança e da
Caridade.
Estudantes do Evangelho em espírito
e verdade, não nos surpreendem nem alarmam essas flutuações da consciência
humana, até que chegue o dia de seu pleno advento para este mundículo que
habitamos.
É que lá, naquelas páginas do Mestre Incomparável,
encontramos estas significativas palavras: haverá profetas e falsos profetas, e
mais - felizes dos que perseverarem até o fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário