terça-feira, 2 de abril de 2019

O espectro de Jesus






O espectro de Jesus
Redação 
Reformador (FEB) 16 de Agosto de 1925

            A propósito de um dos episódios verificados no Congresso Espírita que recentemente se celebrou em Lisboa, com o objetivo de congregar os elementos esparsos, embora de valor, com que conta o Espiritismo em Portugal e de imprimir orientação eficiente ali à prática e a propaganda da Doutrina dos Espíritos. A Asa, revista que como órgão do Centro Espiritualista “Luz e Amor”, se publica na capital portuguesa, inseriu na primeira página do seu número de Julho e sob o título acima, o artigo que. Data vênia, aqui transcrevemos e de cuja particular significação para nós diremos num Eco de nossa presente edição.

            Não fui ao 1º Congresso Espírita Português devido a causa que fiz saber a uma pessoa por mim deveras estimada. Todavia, pelo relato dos jornais, 
eu soube da marcha dos trabalhos.

            Por uma leal franqueza, própria de meu temperamento e educação positiva, direi que, o que ali mais me interessou foi a afirmação do Sr. Garcia, 
pessoa que não conheço, mas cuja coragem me satisfez.

            Não terá ele defendido com brilho o seu asserto, mas pelo menos saiu-se com uma ideia com a qual plenamente concordo e que deve ser discutida com serenidade e sem fanatismo. Sim, sem esse fanatismo dogmático que foi, é e está sendo a ruína da seita que tem por chefe o Bispo de Roma.

            Custa, bem sei, ver cair ideias antigas; a época, porém, é de verdades e é com as verdades que ao constrói o edifício, o templo augusto da razão.

            O Sr. Garcia disse uma verdade eterna: Jesus, o Cristo, 
o Apóstolo imenso da verdade, não teve vida corpórea.

            Estou vendo daqui o sobrancenho carregado dos críticos e ouvindo 
o anátema lançado com celeuma por confrades meus.

            Venho, porém, aqui, não com a atitude de sábio, ou com a filáucia (amor desmedido por si mesmo) soberba de magister, mas argumentar com a razão, a lógica, com fatos apoiados na insuspeita opinião de apóstolos e evangelistas.

            Não aceito nunca, a olhos fechados, tudo quanto leio ou me dizem. 
O meu sensorial é ávido de Razão e jamais escravo das opiniões alheias.

            A minha opinião sobre a não corporeidade de Jesus não é antiga. Pressentia há poucos lindos anos depois que fui espectador de um caso que para aqui não tem cabida. Vi-a confirmada depois de ter tomado umas notas pessoais.

            Comecei então a estudar encarniçada e afincadamente o assunto, analisando-o sob todas as formas da Lógica. Não é branda a tarefa, que nem em meio vai ainda; porém, é tal o meu desejo de saber a verdade, que tenho consultado não só a tradução mais completa da Bíblia, que é a de Osterwald, teólogo suíço de grande qualidade, mas aquela que passa por ser também uma das mais corretas: a grega, 
de que há uma magnífica tradução francesa anotada.

            Não convém aos homens que gostam do maravilhoso que se descubra a verdade. Assim procederam sempre aqueles que uniram as religiões de qualquer espécie... Apesar das mutilações que os fariseus da nova era fizeram 
no Velho e no Novo Testamento, o véu não cobriu a verdade...

            Assim, sem quererem talvez, 
deixaram aos vindouros os meios de descobrirem tudo!

            Sabemos todos muito bem que grandes foram as diligências dos fariseus e
príncipes dos sacerdotes hebraicos para haver às mãos a pessoa que eles consideravam  sediciosa, irritante, equivocada e herética...

            Nunca conseguiram (enquanto Jesus o julgou preciso) por lhe a mão. Quando iam apedreja-lo ou colhe-lo pela túnica, ele - effugit velut umbra (fugia como a sombra...)

            Ora eu, funcionário policial, não acredito que de uma casa cercada e guardada até ao telhado, possa fugir alguém sem cumplicidade, a não ser que tenha asas como Ícaro, com mil recomendações para não voar muito alto por causa do sol que lhe derretia a cera com que as pegara...

            Eu não invento isto. Veja-se o Evangelho de João (o mais claro, terminante e melhor redigido), cap. VII, v. 44; cap. VIII, v. 59; cap. X, v. 39).

            Jesus largava a sua corporeidade quando queria (cap. X, v. 18).

            Só um Espírito de grade poder e de larga envergadura operaria assim! 
E o que é a vinda do Mestre sobre a Terra senão uma série imensa de prodígios?

            Poderemos atribuir a um homem tantos poderes de incorporação, 
dissociação,  telepatia, visão a distância, previsão, etc., etc.?  

            Os médiuns mais completos que têm vindo ao mundo não fizeram a milésima parte do que fez Jesus (Jeanne d'Arc - Antônio de Lisboa, 
conhecido por santo Antônio de Pádua - etc.)

            Um Espírito de luz poderá fazer 
o que em linguagem vulgar se chama prodígios: um homem não, nunca! 

            Mas de que se espantam os espíritas?

            Acaso não conhecem as assombrosas experiências do Doutor William Crookes? Não conseguia ele materializar até ao ponto de ouvir 
as pulsações de miocárdio do espectro dede Mistress Katie King? 
Não teve o grande sábio inglês, durante longos minutos, nos seus braços, 
arfando e respondendo, o Espírito materializado que se compunha, 
desfazia e recompunha a pedido do ínclito físico britânico, 
para convencer-se e convencer os inúmeros assistentes a essas memoráveis sessões?

            Então se o Espírito de Mistress Katie King, muito longe da perfeição, pode conseguir isso, porque o não faria um dos mais ilustres e altíssimos Espíritos da Eternidade como é Jesus, nosso grande e ínclito Irmão?

            Já o dogma romano dele nascer de uma virgem (que virgem ficou!) 
dá a perceber que há uma extraordinária razão do asserto.

            Se Mistress Katie King apareceu com a sua deslumbrante c esplêndida beleza indo-europeia e se prestou a todas as experiências até aquela que demonstrava o seu sexo (o que se fez com toda compostura, recato e cortesia); se ela permitiu que várias senhoras lhe metessem a mão no seio para verificarem e darem mais essa prova testemunhal honrada, leal e franca, para que admiramo-nos de Jesus materializar-se?

            O ato de coragem do Sr. Garcia é simpático, nobre e digno. 
Se ele falou, é porque alguém do Além o determinou.
Fiquemos certos disto. Falou porque é chegado o tempo.

            A apoteose que lhe fizeram foi uma pateada, dizem os jornais... (I)

            Pois eu se lá estivesse abundava nas suas ideias, defendia-o, amparava-o, animava-o,  por que gosto dos homens de ânimo e de coragem. 
Disse em voz alta o que muitos pensam... a medo.

            Deus manda sempre que a verdade refulja, (brilhe) de repente, 
no meio da treva e pela boca do humilde.  

            É de todos os tempos, é de todas as religiões, de todas as filosofias, e princípios

            Leiamos S. Paulo, os Evangelistas, os Atos dos Apóstolos 
e veremos todos que Jesus não era deste mundo...

            É forte atirar com os ídolos abaixo, é; mas é uma necessidade repor o Mestre no pedestal que lhe é devido e não andar com ele, inventando dogmas como a religião católica de Roma, que dele se apropriou como tabuleta para suas habilidades.

            Para a Humanidade basta saber que foi um Espírito de luz que baixou à Terra.

Estávamos no Congresso, presenciamos o incidente a que o nosso prezado colaborador se refere e que muito nos contristou; mas devemos dizer que nos passou inteiramente despercebida essa manifestação “pateal”(ruído que se faz com os pés), a que os jornais se referiram, e que, pelos modos, só existiu na imaginação dos repórteres.        N. da D.

Continuação

Noutra pagina deste número do Reformador transcrevemos o artigo que na revista “A Asa”, de Lisboa, publicou o nosso confrade Júlio Costa, propósito de ideias expendidas no Congresso Espírita que recentemente se reuniu na capital portuguesa. Nas linhas com que encabeçamos a transcrição, 
dizemos que num “Eco” especial nos ocuparíamos do artigo transcrito.

   Reportando-nos aqui ao escrito de Júlio Costa, de acordo com a promessa formulada, fazemo-lo, não para comentar as ponderações e comentários do distinto confrade português, mas apenas par sublinhar um fato, ou, melhor, uma circunstância que, do ponto de vista em que nos achamos colocados, com relação ao assunto versado, apresenta para nós importância capital.

          Quem conhece, de leitura atenta e não somente por ouvir dizer, a Revelação da revelação, de Roustaing, e lança os olhos sobre o artigo de que vimos tratando, deduz naturalmente, ao chegar às últimas linhas, que o articulista, conhecedor bastante daquela obra, é um dos muitos em cujo Espírito calou fundo a revelação, com que ali se depara, feita pelos Evangelistas, quando a ditaram do plano espiritual, acerca da aparição do Cristo na terra, ou, para dizermos a coisa segundo a única forma de linguagem de que os antagonistas da aludida obra -  acerca da natureza do corpo com que Jesus desempenhou entre os homens a sua missão messiânica.

          Entretanto, ao artigo se segue uma nota escrita pela própria pena 
que o traçou e que reza assim:

Já tinha composto esse artigo, quando uma ilustre pessoa amiga me fez saber que a matéria está discutida em Roustaing, por maneira semelhante ou quase...
           Empenho a minha palavra de honra de homem de bem e de espírita que nunca li esse autor.

Essa a circunstância relevante que queríamos assinalar. Que nos mostra ela? Que, estudando os Evangelhos à luz da doutrina espírita, meditando os ensinamentos e os atos do SaIvador, apreendendo, através desse estudo e dessa meditação, a grandeza, a excelsitude, a sublimidade desse Espírito ultra luminoso e de pureza absoluta, 
o autor do artigo teve, por intuição, como outros a têm tido, 
a revelação que colhemos na obra roustainguiniana.

            E porque a teve? Porque estudou e meditou realmente os Evangelhos, guiado pela doutrina dos Espíritos, não se limitando a lê-los perfunctoriamente. Porque, buscando sinceramente a verdade, os estudou e meditou 
sem ideias preconcebidas ou sem haver antes esposado, 
às pressas, opiniões que se não formaram pelo estudo e pela meditação.

Porque assim fez, recebeu a iluminação interior, que lhe facultou encontrar a verdade procurada. E, pois que isso não constitui privilégio seu, nem o é de qualquer outro, visto que nos olhos de Deus não há privilegiados, não estando nenhum de seus filhos excluído das graças e misericórdias que Ele a alguns concede, todos, seguindo a mesma trilha, poderão chegar a idêntico resultado e reconhecer também que menos distantes da verdade estão as seitas regalistas, quando divinizam o Cristo, do que quantos o amesquinham com o reduzi-lo, em sua natureza, à misérrima condição de um homem qual os que perambulam neste obscuro e ínfimo planeta.

            Nem só, porém, pela boca do congressista a quem Júlio Costa se refere no seu interessante artigo, a racionalidade e, portanto, a veracidade da revelação roustaingniana foi proclamada no seio do Congresso Espírita de Lisboa.

            Um outro de seus membros. se apresentou sustentando a mesma corrente de ideias: o Dr. Antônio Freire, de quem diz “A Asa” que “se revelou orador empolgante e fluentíssimo, acrescentando que, de todas as vezes que se fez ouvir a ao palavra arrebatadora, foi escutado como um apóstolo 
e no meio da uma atenção profunda, mesmo religiosa.

            Segundo a revista, donde extraímos esta notícia, o Dr. Antônio Freire afirmou que a base da doutrina espírita se encontra perfeitamente compendiada nos Quatro Evangelhos, de Roustaing, e nas “Novas Elucidações” publicadas pelo Centro “Luz e Caridade”, de Braga,  afirmação esta, assinala a citada revista, que o Congresso acolheu entusiasticamente.

Voltaremos a apreciar as orações pronunciadas pelos dois ilustres confrades, quando compulsarmos o volume em que vão ser publicados os trabalhos do 
Congresso Espírita Português de 1925.

            Por enquanto, limitemo-nos, para encerrar este Eco, a repetir estas palavras que se leem do artigo que José Augusto T. Romero publicou no último número do Reformador:

“O futuro, não muito longínquo, fará ruir com fragor os argumentos, destituídos de lógica, que ainda se opõem aos indestrutíveis ensinamentos da “Revelação da Revelação”, os quais, à proporção que forem estudados e meditados, 
melhor compreendidos serão.”

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