quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A pior das escravidões



A pior das escravidões
 Redação 
Reformador (FEB) 16 de Agosto de 1925

  Perguntara Sócrates um dia a Entidemo:

 - Dize-me: qual é a pior das escravidões?

 - A meu ver a que nos submete ao pior do senhores. (Xenofante, Memoráveis, IV, V.)

 Respondera com acerto o amigo do sábio grego, precisando o pensamento do mestre sobre as intemperanças de toda sorte. 
Quisera Sócrates combater no espírito da mocidade ateniense, 
os pendores à impureza, geradores dos vícios 
que degradam o sentimento de dignidade humana;
 daí o motivo da arguição.

            Comparou o vício, o pecado enfim, aos senhores despóticos, que requintam na perversidade dobrando os homens a seu talante, 
acorrentando-o ao tronco da escravidão.

            Ser escravo era a mais terrível das humilhações, 
nada o colocaria acima dos animais.
 Negava-se lhe o direito de possuir uma alma 
e os trabalhos tidos como aviltantes lhes eram destinados. 

            A ideia, pois, da escravidão física devia talar o espírito ateniense para a boa compreensão da escravidão moral, que excede em consequências àquela, bem mais
temível que é, em virtude da semente da corrupção que traz em si, capaz de se alastrar ameaçadoramente pela terra, destruindo as instituições 
mais veneráveis da humanidade.
           
            O filósofo grego, na visão superior de seu espírito, compreendendo a fraqueza do homem e a impetuosidade das paixões, lançou por isso o grito de liberdade, cujos ecos, unindo-se mais tarde à voz do Redentor do mundo, ainda nos chegam cada vez mais nítidos, mercê da luz que se difunde do Cristianismo.
           
            A pior das escravidões é a que nos submete ao pior dos senhores.


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