sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Eutanásia



Eutanásia
Weimar Muniz de Oliveira
Reformador (FEB) Outubro 1994

            A vida, que subsiste e se perpetua para sempre, é lei natural e irrevogável em todo o Universo.
            Deus, o Pai, criou-nos com vida e para a vida abundante e sempiterna. Poderia nos ter criados perfeitos, mas por motivos imperscrutáveis, criou-nos perfectíveis.
            Para que pudéssemos atingir a perfeição, por nosso próprio trabalho, esforço e merecimento, ordenou que fôssemos colocados em mundos físicos adversos à indolência e à apatia intelectual, garantindo-nos a movimentação para a frente e para o alto.
            Esses mundos físicos - todos transitórios, porque constituídos de energia concentrada, que poderá dispersar-se com o perpassar dos milênios -, oferecem-nos os meios indispensáveis ao exercício das nossas faculdades intelectuais e morais.
            Tais mundos, de escala variada, representam pousadas dos Espíritos em evolução planetária, onde são submetidos às experiências de toda sorte, até que atinjam o grau de aperfeiçoamento que os habilite a ficar definitivamente domiciliados nas esferas espirituais, seu habitat natural.
            Nos mundos de provas e expiações, como o nosso, as adversidades de toda monta são uma constante, representando a medicação indispensável às almas impuras e inexperientes.
            Toda essa gama de miséria humana faz parte do Plano Divino, tendo em vista o burilamento das almas.
            Entre as misérias que assolam a humanidade espiritualmente necessitada da Terra estão as insidiosas moléstias, do corpo e do espírito, que prendem no leito de dor e de sofrimento inúmeras criaturas.
            Dois são os fatores essenciais que levam as almas ao sofrimento dessa natureza: primeiro, a necessidade de crescimento intelecto-moral-espiritual, tal como, por exemplo, a conquista da fé; segundo, a necessidade de quitação das dívidas pretéritas, através de persistente expiação.
            No que toca à fé, sabe-se que ela representa o acervo da conquista de maior ou menor experiência, através das eras, transmudando-se em sensibilidade no ser.
            Não é temerário afirmar-se, pois, que pelo nível de fé ou de religiosidade de alguém, torna-se possível medir-se-lhe o grau de longevidade e de experiência.
            Isso se pode afirmar, porque o verdadeiro sentimento de religião ou de fé no Supremo Poder não se acha divorciado da Ciência (strictu sensu) e a Filosofia, compreendendo que a Religião, a Ciência e a Filosofia acham-se entrelaçadas, irremediavelmente, e apenas se desassociam por necessidade didática.

                                                                                      *

            Feita essa necessária digressão, torna-se mais fácil entender que os humanos que ainda insistem na aplicação da Eutanásia fazem-no mais por ignorância das leis da vida do que propriamente por maldade.
            E esse fato humano, de todas as épocas, levou o Grande Mestre galileu a dizer a Pedro, num certo diálogo:
            “O homem do mundo, Pedro, é mais frágil do que perverso”
            É justamente porque ignora o que há de fundamental quanto ao ser e à vida, que assim procede.
            Disso resulta a grande e premente necessidade da divulgação das verdades espiritualistas, precipuamente das verdades espíritas embasadas nas experiências científicas e nos pressupostos filosóficos.
            Tendo em conta o destino, ou o determinismo, da alma humana, ignoram, ou fingem ignorar que, nos últimos momentos de dor e de agonia, o Espírito, prestes a libertar-se, redime-se, às vezes, de inúmeros débitos passados e assume resoluções para o porvir de inapreciável importância para sua vida imortal.
            Sobre o assunto, leia-se em “Chico de Francisco” (Adelino da Silveira, 1ª Edição, Editora Cultural União, 1987, pág. 33), o seguinte fato:
            “Um grupo de pessoas acompanhava o Chico numa de suas visitas a uma senhora que trazia o corpo coberto de chagas. O quadro era tão chocante que um dos médicos que o acompanhava lhe perguntou:
            - Chico, a eutanásia não seria uma bênção para ela?
            Emmanuel, sempre presente, diz ao Chico:
            - “Diga ao nosso irmão que esta nossa irmã nunca esteve tão bem. Nas três últimas encarnações ela se matou, e nesta, apesar de todo o seu sofrimento, não pensou uma vez sequer em suicídio.”
            Considerando que a vida no corpo só se justifica para o Espírito se se levar em conta a necessidade que tem de evoluir, até ao ponto de não mais estar sujeito à esteira extensa das reencarnações, é de boa oportunidade transcrever-se também o caso em frente, narrado no mesmo livro de Adelino (págs. 54/55)
            Ei-lo: “Chico visitou durante muitos anos um jovem que tinha o corpo totalmente deformado e que morava num barraco à beira de uma mata. O estado de alienado mental era completo. A mãe deste jovem era também muito doente e o Chico a ajudava a banhá-lo, alimentá-lo e a fazer a limpeza do pequeno cômodo em que moravam.
            O quadro era tão estarrecedor que, numa de suas visitas em que um grupo de pessoas o acompanhava, um médico perguntou ao Chico:
            - Nem mesmo neste caso a eutanásia seria perdoável?
            - Não creio, doutor, respondeu-lhe o Chico. Este nosso irmão, em sua última encarnação, tinha muito poder. Perseguiu, prejudicou e com torturas desumanas tirou a vida de muitas pessoas. Algumas o perdoaram, outras não e o perseguiam durante a toda a sua vida. Aguardaram o seu desencarne (sic) e, assim que ele deixou o corpo, eles o agarraram e o torturaram de todas as maneiras durante muito anos. Este corpo disforme e mutilado representa uma bênção para ele. Foi o único jeito que a Providência Divina encontrou para escondê-lo de seus inimigos. Quanto mais tempo aguentar, melhor será. Com o passar dos anos, muitos de seus inimigos o terão perdoado. Outros terão reencarnado. Aplicar a eutanásia seria devolvê-lo para que continuassem a torturá-lo.
            - E como resgatará ele seus crimes? - Inquiriu o médico.
            - O Irmão X costuma dizer que Deus usa o tempo e não a violência.”

                                                                           *

            Somente a Deus, doador da vida, assiste o direito de tirá-la. Trata-se de direito indelegável.
            À pergunta 106, de “O Consolador”, (pág. 70, 16ª edição - FEB), que indaga se a eutanásia poderá constituir-se num bem nos casos de moléstia incurável, Emmanuel, o autor da obra, responde:
            - “O homem não tem o direito de praticar a eutanásia, em caso algum, ainda que a mesma seja a demonstração aparente de medida benfazeja.
            A agonia prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a moléstia incurável pode ser um bem, como a única válvula de escape das imperfeições do Espírito em marcha para a sublime aquisição de seus patrimônios da vida imortal. Além do mais, os desígnios divinos são insondáveis e a ciência precária dos homens não pode decidir nos problemas transcendentes das necessidades do Espírito”.

                                                                                *

            A desesperança e a descrença pregam, muitas vezes, as suas peças. Paga-se muito caro, às vezes, pela falta de confiança e fé numa força superior.
            É o que aconteceu com famoso médico francês, conforme está narrado no livro “Da Eutanásia” (Livraria Três Poderes, 1991, págs. 40/41), de autoria do Desembargador Pedro Soares Correia, meu colega e amigo:
            Eis o fato:

            “Adoece, de uma feita, a vários quilômetros de Paris, formosa criança. Seu pai, médico, desvela-se em cuidados. Era, porém, temerosa a moléstia, difteria. Ascendiam os óbitos naquela época, da terrível doença, à cifra espantosa de 99%.  O pai valeu-se de tudo que possível para salvar a filha. Vieram os fenômenos asfíxidos. A cianose da face era, então, o sinal precursor da morte! Consultara, em desespero de causa, os colegas de Paris. Nenhuma resposta. Doía-lhe, ao infinito, o espetáculo da ansiedade sem cura da pobrezinha. Pensa, nesse instante, em abreviar o desfecho. Injeção de ópio muito forte que aliviasse tudo... Pensou e fez! Não falhou o tóxico. Vê, cedo, a serenidade definitiva...
            Depois, o enterro, a volta do cemitério, o pranto, a saudade imensa e a sensação de um cruel dever cumprido... É quando, de súbito, lhe anunciaram um telegrama que dizia:
            “Roux acaba de descobrir o soro antidiftérico, aplicando-o com êxito. Aguarde remessa...”
            O exemplo é de uma realidade flagrante...


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