Eutanásia
Weimar
Muniz de Oliveira
Reformador (FEB) Outubro 1994
A vida, que subsiste e se perpetua para sempre, é lei natural e
irrevogável em todo o Universo.
Deus, o Pai, criou-nos com vida e para a vida abundante e sempiterna.
Poderia nos ter criados perfeitos, mas por motivos imperscrutáveis, criou-nos
perfectíveis.
Para que pudéssemos atingir a perfeição, por nosso próprio trabalho,
esforço e merecimento, ordenou que fôssemos colocados em mundos físicos
adversos à indolência e à apatia intelectual, garantindo-nos a movimentação
para a frente e para o alto.
Esses mundos físicos - todos transitórios, porque constituídos de
energia concentrada, que poderá dispersar-se com o perpassar dos milênios -,
oferecem-nos os meios indispensáveis ao exercício das nossas faculdades
intelectuais e morais.
Tais mundos, de escala variada, representam pousadas dos Espíritos em
evolução planetária, onde são submetidos às experiências de toda sorte, até que
atinjam o grau de aperfeiçoamento que os habilite a ficar definitivamente
domiciliados nas esferas espirituais, seu habitat natural.
Nos mundos de provas e expiações, como o nosso, as adversidades de toda
monta são uma constante, representando a medicação indispensável às almas
impuras e inexperientes.
Toda essa gama de miséria humana faz parte do Plano Divino, tendo em
vista o burilamento das almas.
Entre as misérias que assolam a humanidade espiritualmente necessitada
da Terra estão as insidiosas moléstias, do corpo e do espírito, que prendem no
leito de dor e de sofrimento inúmeras criaturas.
Dois são os fatores essenciais que levam as almas ao sofrimento dessa
natureza: primeiro, a necessidade de crescimento intelecto-moral-espiritual, tal
como, por exemplo, a conquista da fé; segundo, a necessidade de quitação das
dívidas pretéritas, através de persistente expiação.
No que toca à fé, sabe-se que ela representa o acervo da conquista de
maior ou menor experiência, através das eras, transmudando-se em sensibilidade
no ser.
Não é temerário afirmar-se, pois, que pelo nível de fé ou de
religiosidade de alguém, torna-se possível medir-se-lhe o grau de longevidade e
de experiência.
Isso se pode afirmar, porque o verdadeiro sentimento de religião ou de
fé no Supremo Poder não se acha divorciado da Ciência (strictu sensu) e a
Filosofia, compreendendo que a Religião, a Ciência e a Filosofia acham-se
entrelaçadas, irremediavelmente, e apenas se desassociam por necessidade
didática.
*
Feita essa necessária digressão, torna-se mais fácil entender que os
humanos que ainda insistem na aplicação da Eutanásia fazem-no mais por
ignorância das leis da vida do que propriamente por maldade.
E esse fato humano, de todas as épocas, levou o Grande Mestre galileu a
dizer a Pedro, num certo diálogo:
“O homem do mundo, Pedro, é mais frágil do que perverso”
É justamente porque ignora o que há de
fundamental quanto ao ser e à vida, que assim procede.
Disso resulta a grande e premente necessidade da divulgação das verdades
espiritualistas, precipuamente das verdades espíritas embasadas nas experiências
científicas e nos pressupostos filosóficos.
Tendo em conta o destino, ou o determinismo, da alma humana, ignoram, ou
fingem ignorar que, nos últimos momentos de dor e de agonia, o Espírito,
prestes a libertar-se, redime-se, às vezes, de inúmeros débitos passados e
assume resoluções para o porvir de inapreciável importância para sua vida
imortal.
Sobre o assunto, leia-se em “Chico de Francisco” (Adelino da Silveira,
1ª Edição, Editora Cultural União, 1987, pág. 33), o seguinte fato:
“Um grupo de pessoas acompanhava o Chico numa de suas visitas a uma
senhora que trazia o corpo coberto de chagas. O quadro era tão chocante que um
dos médicos que o acompanhava lhe perguntou:
- Chico, a eutanásia não seria uma bênção para ela?
Emmanuel, sempre presente, diz ao Chico:
- “Diga ao nosso irmão que esta nossa irmã nunca esteve tão bem. Nas
três últimas encarnações ela se matou, e nesta, apesar de todo o seu
sofrimento, não pensou uma vez sequer em suicídio.”
Considerando que a vida no corpo só se justifica para o Espírito se se
levar em conta a necessidade que tem de evoluir, até ao ponto de não mais estar
sujeito à esteira extensa das reencarnações, é de boa oportunidade transcrever-se
também o caso em frente, narrado no mesmo livro de Adelino (págs. 54/55)
Ei-lo: “Chico visitou durante muitos anos um jovem que tinha o corpo
totalmente deformado e que morava num barraco à beira de uma mata. O estado de
alienado mental era completo. A mãe deste jovem era também muito doente e o
Chico a ajudava a banhá-lo, alimentá-lo e a fazer a limpeza do pequeno cômodo
em que moravam.
O quadro era tão estarrecedor que, numa de suas visitas em que um grupo
de pessoas o acompanhava, um médico perguntou ao Chico:
- Nem mesmo neste caso a eutanásia seria perdoável?
- Não creio, doutor, respondeu-lhe o Chico. Este nosso irmão, em sua
última encarnação, tinha muito poder. Perseguiu, prejudicou e com torturas
desumanas tirou a vida de muitas pessoas. Algumas o perdoaram, outras não e o
perseguiam durante a toda a sua vida. Aguardaram o seu desencarne (sic) e,
assim que ele deixou o corpo, eles o agarraram e o torturaram de todas as
maneiras durante muito anos. Este corpo disforme e mutilado representa uma
bênção para ele. Foi o único jeito que a Providência Divina encontrou para
escondê-lo de seus inimigos. Quanto mais tempo aguentar, melhor será. Com o
passar dos anos, muitos de seus inimigos o terão perdoado. Outros terão
reencarnado. Aplicar a eutanásia seria devolvê-lo para que continuassem a
torturá-lo.
- E como resgatará ele seus crimes? - Inquiriu o médico.
- O Irmão X costuma dizer que Deus usa o tempo e não a violência.”
*
Somente a Deus, doador da vida, assiste o direito de tirá-la. Trata-se
de direito indelegável.
À pergunta 106, de “O Consolador”, (pág. 70, 16ª edição - FEB), que
indaga se a eutanásia poderá constituir-se num bem nos casos de moléstia
incurável, Emmanuel, o autor da obra, responde:
- “O homem não tem o direito de praticar a eutanásia, em caso algum,
ainda que a mesma seja a demonstração aparente de medida benfazeja.
A agonia prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a
moléstia incurável pode ser um bem, como a única válvula de escape das
imperfeições do Espírito em marcha para a sublime aquisição de seus patrimônios
da vida imortal. Além do mais, os desígnios divinos são insondáveis e a ciência
precária dos homens não pode decidir nos problemas transcendentes das
necessidades do Espírito”.
*
A desesperança e a descrença pregam,
muitas vezes, as suas peças. Paga-se muito caro, às vezes, pela falta de
confiança e fé numa força superior.
É o que aconteceu com famoso médico francês, conforme está narrado no
livro “Da Eutanásia” (Livraria Três Poderes, 1991, págs. 40/41), de autoria do
Desembargador Pedro Soares Correia, meu colega e amigo:
Eis o fato:
“Adoece, de uma feita, a vários quilômetros de Paris, formosa criança.
Seu pai, médico, desvela-se em cuidados. Era, porém, temerosa a moléstia,
difteria. Ascendiam os óbitos naquela época, da terrível doença, à cifra
espantosa de 99%. O pai valeu-se de tudo
que possível para salvar a filha. Vieram os fenômenos asfíxidos. A cianose da
face era, então, o sinal precursor da morte! Consultara, em desespero de causa,
os colegas de Paris. Nenhuma resposta. Doía-lhe, ao infinito, o espetáculo da
ansiedade sem cura da pobrezinha. Pensa, nesse instante, em abreviar o
desfecho. Injeção de ópio muito forte que aliviasse tudo... Pensou e fez! Não
falhou o tóxico. Vê, cedo, a serenidade definitiva...
Depois, o enterro, a volta do cemitério, o pranto, a saudade imensa e a
sensação de um cruel dever cumprido... É quando, de súbito, lhe anunciaram um
telegrama que dizia:
“Roux acaba de descobrir o soro antidiftérico, aplicando-o com êxito.
Aguarde remessa...”
O exemplo é de uma realidade flagrante...
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