Eutanásia
Editorial
Reformador (FEB) Maio 1994
Que dizer de alguém que obriga uma pessoa a empreender, sem qualquer
aviso ou concordância, uma viagem imprevisível, rumo ao desconhecido, sem o
preparo indispensável para tanto?
E a morte corporal, não será a maior e a mais importante das viagens que
o Espírito encarnado é forçado a empreender, e para a qual deve preparar-se com
o máximo cuidado?
Nas longas viagens pela crosta planetária, o excursionista prevenido
mune-se da bagagem necessária, para enfrentar tão bem quanto possível as
exigências e os imprevistos da jornada, de modo a evitar ou minimizar possíveis
contratempos.
Na viagem desencarnatória, de regresso aos planos invisíveis, o Espírito
não pode levar consigo bens materiais, alimentos, roupagens, recursos
financeiros, privilégios, titulações ou serviçais... Deve devolver ao mundo
material, imediatamente e por completo, tudo o que é próprio dele, a começar
pelo seu próprio corpo físico e a terminar por todos os seus pretensos direitos
sociais, familiares ou sentimentais.
A única bagagem que o Espírito levará obrigatoriamente para essa magna
viagem é a dos seus conhecimentos e sentimentos verdadeiros, acrescidos das
vibrações de simpatia, amor e gratidão dos seus afeiçoados, ou das terríveis
emissões de ódio dos desafetos que teve a desventura de semear.
Cada dia e cada minuto de vida, antes do hausto final, são
preciosíssimos para o Espírito prestes a abandonar a roupagem material, no rumo
do Infinito, porque é exatamente nas vascas da agonia corporal, quando se
afrouxam os laços físicos que prendem a alma e o enfermo pressente a
aproximação do grande desenlace, que a visão da realidade espiritual se aclara
como nunca, propiciando condições inusitadas de reajustamento moral, na
preparação do desprendimento inevitável.
Mesmo o coma físico, que atinge o cérebro carnal, não significa
inconsciência da mente espiritual, que, ao contrário disso, na maioria dos
casos, desfruta, nessa oportunidade, de alto grau de lucidez, capacitando o
Espírito, geralmente assistido por amigos invisíveis, para importantes
reajustamentos emocionais na hora próxima.
Agredir violentamente alguém neste instante supremo, decretando-lhe a
morte antecipada, não passa, portanto, de cruel assassinato, das mais funestas
consequências, porque, sob a falsa aparência de misericórdia, não somente
subtrai ao desencarnante preciosos ensejos de mais tranquilo traspasse, como,
além disso, desorganiza-lhe as estruturas perispirituais, mergulhando-o num
choque de perturbação indesejável.
A chamada “morte piedosa” não é, portanto, nada piedosa. É sobretudo um
crime.
Nenhum comentário:
Postar um comentário