O Verdadeiro Espírita
Irmão Job
Reformador (FEB) Fevereiro 1951
Todos aqueles que, bem
intencionados, ingressam na Seara Espírita, julgam, devido à falta de experiência
e de estudo doutrinário, existir entre todos os adeptos da Doutrina dos Espíritos
a mais perfeita compreensão, solidariedade e fraternidade; por isto, depois de
algum tempo, muitos ficam decepcionados, como se a Doutrina Cristã tivesse culpa dos erros dos homens e começam a fazer
insistentemente as seguintes perguntas: - Por que razão vivem os espíritas tão
dispersos, trabalham tão separados, possuem opiniões tão diferentes e adotam
métodos tão diversos uns dos outros? Não é a mesma a doutrina que servem e
defendem? Não possuem a mesma fé, segundo Kardec afirma, "capaz de encarar
a razão face a face em todas as épocas da Humanidade", a fé que enche o espírito e purifica o
coração? Não é a mesma Bandeira que segue à frente da Caravana Espírita? Não é
o mesmo programa de caridade que adotam e não são os mesmos ideais cristãos que
desejam objetivar? Porque, então, esta separação e desigualdade de opiniões e
de atitudes?
Esses neófitos não podem
compreender, dada a sua transparência, pureza de intenções e falta de conhecimentos
gerais, o motivo das atitudes e dos gestos de muitos que se distanciam dos
outros companheiros de labores espíritas, como se houvesse barreiras intransponíveis
que os estivessem separando, quando a Doutrina ensina a amar e manda que todos
se unam em nome do Cristo e trabalhem pelo bem coletivo.
A Doutrina Espírita não é
responsável, nem podia ser, uma vez que o espírito possui o livre arbítrio,
pelos desvios dos homens, pela sua desobediência e deslealdade aos Evangelhos
de Jesus.
Num educandário o regime adotado
e os ensinos ministrados são os mesmos para todos os alunos, entretanto,
enquanto uns são premiados e outros reprovados e, pior ainda, são expulsos como
indesejáveis, como nocivos aos seus colegas; enquanto uns estudam seriamente,
com todo o gosto e interesse, aprendendo realmente as lições, a fim de se
tornarem mestres e ensinarem depois, outros, preguiçosamente, não comparecem às
aulas e terminam abandonando os estudos por julgá-los aborrecidos e
desnecessários.
- Que culpa tem o educandário e
seus professores pelo descaso dos alunos para com os estudos e, também, do seu
mau comportamento?
Não se pode exigir, porque não é
possível conseguir-se, que, num colégio, todos os alunos estudem e progridam da
mesma forma, uma vez que cada um possui gênio diferente em virtude da
desigualdade de situação moral e intelectual, em consequência da posição espiritual.
Demais, não se pode esperar que
um aluno do jardim da infância e mesmo do curso primário tenha a mesma cultura
e alcance intelectual dos alunos do curso ginasial, como estes não podem ter os
mesmos conhecimentos daqueles que já estão nas faculdades superiores, salvo os
gênios, aqueles altamente evoluídos, que possuem as ideias inatas, enfim, os
missionários.
Entretanto, quando o educandário
é verdadeiramente cristão e obedece rigorosamente aos princípios evangélicos,
nos seus alunos encontramos desigualdade de inteligências e de gênios, mas, a
mesma disciplina celestial, a mesma educação moral e religiosa, muita união
entre si e amor uns aos outros e ao colégio que tantos benefícios lhes está
proporcionando.
O que faz um educandário cristão
e garante o bom êxito do seu empreendimento não é o seu nome e muito menos a
sua aparência suntuosa e confortável e sim os métodos sadios adotados pelos
seus dirigentes, a cultura intelectual, moral e evangélica dos seus
professores, aliada a uma exemplificação completa e perfeita dos ensinos
salvadores do Divino Mestre.
A garantia de um edifício está na
sua base. Se, esta base é sólida, se foi construída de acordo com todas as
exigências da Engenharia, o edifício estará livre de ruir, de ser derrubado
pela força do vento ou pela fúria da tempestade, tudo suportará fácil e
serenamente como os indestrutíveis rochedos diante da violência do mar sempre
revolto.
Pois bem, meus irmãos, é preciso
fazer da Seara Espírita um educandário verdadeiramente cristão, para que todos
os adeptos da Doutrina dos Espíritos se eduquem cristãmente e como os
verdadeiros cristãos pensem, falem e procedam. Mas, é preciso não esquecer jamais que um educandário para ser verdadeiramente
cristão é necessário que obedeça rigorosa e misericordiosamente aos Evangelhos
de Jesus.
Construí, portanto, o edifício
salvador do Cristianismo do Cristo dentro e fora de vós, lembrando-vos sempre
de que a garantia da felicidade individual e coletiva está na cristianização
perfeita de cada homem, principalmente de cada adepto da Doutrina Espírita-Cristã,
incumbida de irmanar e conduzir todas as almas para o Reino de Jesus.
O verdadeiro espírita não é o
médium que recebe comunicações de Espíritos e muito menos aqueles que abraçaram
o Espiritismo convencidos pelo fenômeno mediúnico, atraídos pelo interesse na
caridade material dispensada pelas criaturas benevolentes.
O verdadeiro espírita é aquele
que se converteu à moral espírita e a pratica rigorosamente, que é justo e
misericordioso, desinteressado e sincero, enfim, que concorre para o progresso
do Espiritismo ensinando e exemplificando os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus-Cristo.
O verdadeiro espírita não se
decepciona com o mau comportamento dos seus semelhantes, porque vê em cada
homem um espírito ignorante, falido, em trânsito por este mundo de provações
penosas para desenvolver os seus bons pendores e aprender a sufocar os maus até
extingui-los completamente.
Respondendo às indagações feitas
no princípio desta mensagem, dizemos o seguinte: muitos espíritas ainda vivem
dispersos porque ainda não se cristianizaram: trabalham separados porque, não
possuindo iluminação interior, não podem harmonizar-se com o exterior,
principalmente com o exterior sadio, por isto, só procuram os que, como eles,
também estão no escuro; possuem opiniões diferentes porque ainda não são do
Cristo de Deus; adotam métodos diversos porque ainda não compreenderam a
Verdade, por este motivo não pensam no bem coletivo e sim em si mesmos, nas perigosas e falsas honras temporárias do mundo.
Pelo exposto, pode-se bem compreender
que esses espíritas, homens infantis, aparentemente servem e defendem a mesma
Doutrina, mas, na realidade, estão desservindo a Santa Causa e prejudicando
fortemente o seu próprio progresso espiritual, pois quem com o Cristo não ajunta contra Ele espalha e
quem não põe o Azeite da Virtude na Candeia de seu coração, na Hora da chegada
do Senhor, não pode tomar parte nas Bodas da Verdade, porque esta desprevenido,
no escuro e condenado pela mentira e pela pobreza da sua alma ingrata, injusta,
desobediente e infiel.
Os maus espíritas creem
firmemente na existência dos Espíritos, possuem a fé inabalável no fenômeno mediúnico,
porém, não a fé cristã que purifica e diviniza os sentimentos; por isto,
aplaudem veementemente a passagem gloriosa da Caravana Espírita, mas, não a
acompanham para o Reino de Jesus; fazem, algumas vezes, a caridade material e utilizam-se dos seus benefícios, porém, não
ajudam os seus companheiros a socorrer os necessitados morais nem se sacrificam
pelo bem da Humanidade; a separação entre eles e a desigualdade; de opiniões e
de atitudes são motivadas pela diferença de situação espiritual, pois que se
encontram no mesmo mundo, podendo até morar na mesma casa, mas, moralmente, a
distância que os separa é infinita, porque estão em planos mentais
completamente opostos, por esta razão não se entendem nem se harmonizam. É o
resultado admirável das Leis de afinidade e de causa e efeito.
Compete aos mais esclarecidos, a
exemplo de Jesus de Nazaré, sacrificar-se em benefício dos ignorantes, e aos
responsáveis pela propaganda da Doutrina Espírita-Cristã, organizar os trabalhos
doutrinários, fazer a uniformização sistemática dos métodos adotados, a fim de
que todos aprendam pela mesma cartilha, cada coisa seja colocada no seu devido
lugar, para que os maus espíritos se tornem bons e os convencidos da Verdade se
convertam à Verdade e também se salvem e alcancem a vida eterna.
(Ext. do Boletim do Instituto Espírita “João Evangelista”, nº 38.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário