Roteiro dos
Médiuns
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Janeiro 1956
Ninguém é realmente espírita se
não observa rigorosamente os princípios doutrinários do Espiritismo. Aceitar as
manifestações fenomênicas, frequentar sessões, tomar passes mediúnicos,
consultar irmãos desencarnados, não confere condição espírita a quem quer que
seja.
Falar e escrever sobre assuntos
espíritas, comentando trechos do Evangelho segundo o Espiritismo, sem, no
entanto, a imprescindível exemplificação, é dar falsa aparência de autoridade.
O legítimo doutrinador dá os exemplos de observância da Doutrina e do
Evangelho, haurindo de sua conduta os elementos para as dissertações e os
artigos. Bem difícil se torna seguir o caminho reto, mas íngreme, da exemplificação.
Mas nele é que está o verdadeiro mérito do doutrinador. O “faz o que eu digo e
não o que eu faço” é divisa dos acomodadores imersos nas trevas do farisaísmo.
O espírita prega o Espiritismo principalmente pelo exemplo.
Isto posto, observemos a enorme, a
imensa responsabilidade dos médiuns. Não se julgue que a mediunidade seja um
ornato espiritual. É, antes, uma sobrecarga, um compromisso muito sério. Para
uns, ela não tem o caráter de missão; para outros, é um encargo que dirá, no
futuro, da verdadeira personalidade do médium. Missão ou encargo, de qualquer
modo significa responsabilidade. Portanto, o médium que se exime do trabalho
mediúnico, falseando deveres que deve cumprir, assume uma posição muito grave
em face de Deus. A nenhum deles é licito esquivar-se ao trabalho, pois as
responsabilidades se multiplicam, acarretando-lhes, não raro, embaraços
suscetíveis de lhes causarem perturbações em toda uma existência. Quase todo médium possui uma
constituição nervosa muito delicada e sensível. O trabalho mediúnico bem orientado
e metódico lhe favorece o equilíbrio da economia nervosa o que se torna
benéfico à sua saúde e também ao seu futuro espiritual.
Fugir às obrigações decorrentes da
mediunidade representa um erro de consequências muitas vezes lamentáveis. Ninguém
é médium por acaso. O dom lhe é conferido pelo Alto para ser exercido na Terra.
Essa incumbência, se gera benefícios, produz também responsabilidade. Há médiuns
que ligam pouca ou nenhuma importância ao mediunismo. Preferem os passatempos agradáveis, os prazeres
mundanos, ao trabalho fatigante e benemérito numa sala de desenvolvimento mediúnico
ou no trabalho de as assistência aos semelhantes. Se quisessem meditar um pouco
e pensar acerca dos obstáculos que essa atitude imprevidente poderá criar-lhes
no futuro, certamente prefeririam a boa luta de todos os dias, em vez de o
enganador descanso das tarefas mediúnicas e a perniciosa perda de tempo em
conversas fúteis ou em encontros nada edificantes.
Mediunidade é trabalho.
Mediunidade é responsabilidade. Mediunidade é um meio de aferir a verdadeira
estatura moral do Espírito que, encarnado, se deixa iludir pela volubilidade
dos sentidos materiais, renunciando a compromissos de honra assumidos no Além.
Muitos casos de distúrbios nervosos, ante os quais a Medicina se confessa
impotente se originam do abandono do exercício da mediunidade. O acúmulo de
energia nervosa provoca perturbações graves, pois o indivíduo não encontra
meios de dar evasão a essa força sustada pelos fenômenos da retenção de mediunidades.
Se se entregar ao exercício da faculdade mediúnica, sob orientação segura e
metódica a pouco e pouco poderá restabelecer o equilíbrio nervoso e readquirir,
desta forma, a normalidade psíquica afetada justamente pela sobrecarga
mediúnica.
Se todo médium se dispusesse a
seguir, com inflexível rigor, o rumo certo, tomando como exemplo a vida limpa
de Francisco Cândido Xavier, o trabalho mediúnico seria de tal modo enriquecido
que belas revelações viriam juntar-se às que já nos chegam através do devotado irmão
de Pedro Leopoldo e de outros médiuns sinceramente dedicados ao Espiritismo. A
humildade é a primeira qualidade do espírita, principalmente do médium. A
pontualidade no cumprimento de seus deveres, assim como a elevação do espírito
a climas morais progressivamente mais altos, são pontos de indiscutível
vantagem para o aprimoramento de sua personalidade mediúnica... O médium que
estuda e vai para o campo de serviço com a mente adequadamente esclarecida,
terá maior franquia espiritual do que aquele que se mostra indiferente ao
estudo e desassizado. Entre um lavrador que não procura adaptar-se às
necessidades de sua época, utilizando meios mais práticos e inteligentes de trabalho
e outro que busca estudar o problema da fertilização da terra, da adubagem
conveniente a cada natureza de plantação recorrendo também aos processos
científicos de lavrar o terreno, não há dúvida de que este último obterá resultados
muito mais vantajosos, não só porque os processos por ele, empregados são mais
seguros e econômicos, como porque lhe será possível fazer cálculos de produção
mais amplos e garantidos do que os do lavrador apegado a princípios empíricos.
O médium estudioso e fiel observador da Doutrina é um lavrador progressista. Quer ir para a
frente, desenvolvendo sua capacidade produtiva. O outro, mais lento, menos
senhor de si, porque não se liberta dos hábitos adquiridos, poderá ter safras
satisfatórias, mas estará mais sujeito a desastres, por não saber como
defender-se da intempérie, das pragas, etc.
Quanto melhores forem os médiuns,
tanto mais elevado será o nível doutrinário do Espiritismo, que deve
assentar-se em duas pilastras mestras: Doutrina e Evangelho. A elevação moral
do médiuns terá de amparar-se nas lições evangélicas de Jesus e nos
ensinamentos doutrinários contidos nos livros de Kardec, complementados pela
obra de Roustaing - “Os Quatro Evangelhos”
e pela de Saião – “Elucidações Evangélicas", assim como de Emmanuel e André
Luiz, para somente mencionar as principais. Humildade, estudo, trabalho,
devotamento, renúncia e, sobretudo fidelidade aos princípios espíritas, eis o
roteiro aconselhável aos médiuns.
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