Deus no Vaticano
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Janeiro 1956
Rejubila-se
o mundo católico com mais um "'milagre", do atual Papa, nosso irmão
Pacelli, que viu Deus, isto é, Jesus-Cristo, que a Igreja Católica, como se
sabe, considera Deus. Portanto, mais uma legítima manifestação espírita se
verifica entre católicos de alto coturno, alvoroçando os corações de todos os
membros da Santa Madre. Nós, os espíritas, a quem os padres atribuem relações
com o demo, porque também vemos Espíritos desencarnados, ainda que não sejamos
Papas, não podemos, é claro, ter a pretensão de ver Deus. Isto é privilégio do Pontífice e não de pobres
cristãos sem credenciais papalinas. Ver Deus é algo de extraordinário e
excepcional. Caísse algum espírita na tolice de ver Deus... Seria imediatamente
excomungado, tido como o pior dos hereges, dado como mistificador e, se outros fossem
os tempos, conduzido às câmaras de tortura de ferozes inquisidores, antes de
serem torrados e reduzidos a cinzas em crepitantes fogueiras como nos tenebrosos
espetáculos que enegreceram à Idade Média.
Muito embora Jesus houvesse
reiteradamente demonstrado não ser Deus, intitulando-se Filho do Homem e
chamando Pai a Deus, a Igreja católica, mais sábia, sobrepôs-se à palavra do
Mestre, promovendo-o Pai, ele, que é o Filho... Encontramos, no Evangelho,
inúmeras passagens que abonam o que dissemos: "Credes em Deus, crede também
em mim”; "Se perdoardes aos homens as faltas que cometerem contra vós, também
vosso Pai celestial os perdoará os pecados", "Aquele que me confessar
e me reconhecer diante dos homens eu também o reconhecerei e confessarei diante
de Deus Pai que está nos céus”. Ao dizer-lhe Simão Pedro que ele era "o
Cristo, Filho de Deus vivo" Jesus replicou : "Bem-aventurado és,
Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue que isso te
revelaram mas Meu Pai, que está nos céus."
Nós, que procuramos aprender as
lições do Evangelho de Jesus, sem espalhafato, realizando vida simples e
humilde, não temos a estultície de ver Deus. Essa graça é para quem pode. Contentamo-nos em ver, quando possível,
Espíritos familiares, Espíritos amigos,
Espíritos protetores. Não obstante, nossos "voos" modestos, a Igreja
nos estigmatiza, condena e persegue, às vezes, até com diabólica sutileza...
Mesmo muito antes da Terceira
Revelação, já se sabia, embora de modo vago e nebuloso, que o suicídio é pecado
mortal para a alma. As igrejas consideravam irremissivelmente perdida a alma do
suicida; mas só a Terceira Revelação nos vem mostrando todos os horrores a que
conduz esse ato de orgulho rebelde contra a Justiça Divina.
Ver Deus. Ver Jesus. Milagres... O
"Osservatore Romano" apareceu embandeirado em arco, segundo os
telegramas, festejando o acontecimento, o grande "milagre" do Papa Pio
XII, que viu Deusl
Pode ser até que o piedoso Pacelli
tenha visto apenas um Espírito luminoso em manifestação comum, que nada tem de
extraordinária e muito menos de milagrosa, e supusesse, maravilhado com o fato,
ter visto o próprio Mestre. Houve talvez um caso de Teopsia (suposta
aparição súbita de uma divindade), a aceitar-se a hipótese da
aparição de Jesus. O fenômeno é comum, repetimos. Vem confirmar, uma vez mais,
a realidade espirita, a procedência das afirmativas do Espiritismo, a verdade
da Doutrina de Kardec, pois os fenômenos chamados espiritas não são exclusivos
do ambiente espiritista porquanto podem ocorrer em qualquer ambiente, com
qualquer pessoa, espírita ou não, crente ou não, rico eu pobre, branco ou
preto, vacinado ou não vacinado. Evidentemente, não pomos a menor dúvida na
realidade do fenômeno. Os padres sabem perfeitamente que tudo quanto o
Espiritismo prega é verdadeiro mas não lhes convêm aos interesses confessar a
verdade, porque, então, teriam de confessar também a
inconsistência do edifício doutrinário católico, que vai desmoronando aos
poucos, à medida que se ilumina o espírito do povo, operando-se a natural
destruição de fantasias erigidas em dogmas, como o absurdo da ascensão de Maria
em corpo material.
O
curioso é que haja sempre dois modos de encarar um fenômeno. Se este ocorre no
Espiritismo, é falso, é obra demoníaca, é embuste. Entretanto, se é no
Catolicismo que ele sobrevém, é milagre e todos os sinos repicam alegremente...
Nosso consolo é que, assim ou assado, a Razão vai ganhando terreno e dia virá
em que se falada justiça ao Espiritismo, hoje negado, amanhã reconhecido.
Seríamos
insinceros se afirmássemos não ter ficado contentes com a visão do Papa Pio XII.
Sempre nos alegramos quando há manifestações psíquicas fora do Espiritismo.
Elas podem ocorrer em qualquer tempo e em qualquer lugar, com qualquer pessoa.
Foi o que aconteceu em 1954 quando a agência telegráfica United Press divulgou
duas fotografias, reproduzidas em Agosto desse mesmo ano nesta revista, sob o título
"Dois fenômenos espíritas" (ver página 179 de "Reformador"
Agosto de 1954) . Numa, em desenho muito bem feito, vê-se, em Espírito, o Papa
Pio X ao lado da freira Marta Ludovica Scorcia, a quem curou de meningite.
Noutra, igualmente desenhada com capricho, acha-se o Espírito do referido Papa
ao lado do advogado Francesco Belsani, de Nápoles, curado igualmente por esse
Pontífice desencarnado, de uma moléstia pulmonar. Fatos tão corriqueiros no
Espiritismo, de bondosos Espíritos que socorrem enfermos, fazem curas, realizam
operações, significam milagres quando se verificam no meio católico. Em
"Reformador" de Julho de 1954, (ver págs. 165 e seguintes). reproduzimos,
sob o título "Pio X aparece a Pio XII", que foi o antigo Cardeal
Pacelli e Papa atual, minuciosa notícia divulgada na Itália, na qual se lê que Pio X anunciara
a Pacelli que este seria o novo Papa, o que efetivamente aconteceu. Em vista
disto, os católicos consideram o episódio como outro "milagre" na
vida de Pio XII!..
Diante
do que vimos de escrever, o Espiritismo anda desembaraçadamente no Vaticano. Não será surpresa se, algum dia, nos afirmarem
que ali se realizam magníficas sessões espíritas, com o mais absoluto sigilo,
como certas reuniões que se efetuavam no Rio, segundo soubemos, entre frades,
desejosos, não apenas de estudar os fenômenos, mas de se aprofundarem mais e
mais nos segredos da comunicação do mundo visível com o mundo invisível...
Agora, é o "Osservatore Romano", com a sua autoridade de órgão pontifício,
que confessa a vidência do Papa Pio XII, vidência prodigiosa, que lhe permitiu
ver Deus no Vaticano.
Nosso
desejo é que o Pai, com a sua infinita misericórdia, continue a obra de
esclarecimento dos que tem olhos e não querem ver senão quando lhes convém... A
mediunidade de Pio XII poderia até ser muito útil à Humanidade, se ele tivesse
liberdade de revelar ao mundo católico o que lhe é mandado do Além, tal como
faz o boníssimo e querido Francisco Cândido Xavier, psicografando ou
psicofonando (perdoem-nos frieza do neologismo) mensagens de Emmanuel, André
Luís, Irmão X e tantos outros abnegados trabalhadores invisíveis da Seara de
Jesus, na luta pelo esclarecimento evangélico dos homens.
Quanto
a nós, continuamos a cultivar a companhia desses bons Espíritos até que, por
misericórdia de acréscimo, possamos um dia ter a mesma graça que alcançou Pio XII,
e ver Deus... fora do Vaticano.
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