Dr. Bezerra de Menezes
Clama, não Cesses
Bezerra de
Menezes
Reformador (FEB) Agosto 1954
"Não são os que dizem Senhor,
Senhor que entrarão no reino do Céu, mas os que fazem a vontade daquele que
está no Céu...”
O sacerdócio hebreu mesclou o
culto divino de impurezas humanas, e foi esta a origem da sua condenação.
A Igreja romana fez outro tanto:
adora a Deus com os lábios e tem o coração cheio de Iniquidades.
O Espiritismo, Terceira Revelação,
complemento da Messiânica, precisa evitar o temeroso escolho.
O exemplo de suas antecessoras é
farol que deve guia-lo em sua rota para o desejado porto.
Se os espíritas não compreenderem,
melhor que o sacerdócio hebreu e melhor que a Igreja, a sagrada missão de
depositários das eternas verdades, do que servirá à Humanidade a Nova
Revelação, o orvalho do Céu, para acalmar a sede abrasadora dos filhos da
Terra?
Espiritismo não é ciência como
apregoam os que procuram, nos fenômenos por ele produzidos, antes o maravilhoso
do que ensinos de salvação.
Se o Espiritismo fosse ciência,
seria invenção ou descoberta dos homens, como têm sido todas as que são
conhecidas até hoje.
Se fosse ciência, fonte de luz
para a inteligência, seria, como todas as que são conhecidas até hoje, extremes
de ensinos religiosos.
Apontai uma sequer das ciências
humanas, cujos cultores, esses sábios que enobrecem a história da Humanidade,
procurem devassar-lhe os segredos indo pedir luz e inspiração ao Evangelho ou à
Bíblia.
Entretanto, qual é a pedra
fundamental do Espiritismo, em sua pura concepção? O Evangelho. O Evangelho, sim; porque o fim
da revelação espírita, clara e positivamente prescrito pelos seus reveladores,
únicos competentes para determiná-lo, é a interpretação do ensino divino em
espírito e verdade.
E, se este é o fim posto por Deus,
como no-lo ensinam seus emissários, donde os fundamentos para o considerarem
ciência?
Ciência é ele, porque altíssima
religião; e quem diz religião diz ciência, por ser religião a ciência das ciências.
Neste sentido, e só neste, pode-se
dizer que o Espiritismo é ciência e Religião científica.
Querer, porém, destacar os dois
elementos, dos quais um procede do outro, é desnaturar a Revelação, tal como
fizeram Jerusalém e Roma.
Qual tem sido a nova ciência
formada com os elementos emprestados ao Espiritismo? Que nome tem ela? Quais
são suas leis? Explica-nos ela seu objetivo?
Os homens da ciência estudam seus
fenômenos e procuram explicá-los pelas lei conhecidas da ciência, eis tudo; mas
já conseguiram fazer, dele e por ele, um corpo de doutrina científica? Nada têm
conseguido no sentido desse seu maior empenho.
Entretanto, aí está desafiando a
fúria da incredulidade o Espiritismo brilhantemente organizado em alta e
sublime doutrina religiosa!
Como, então, é ciência, se não dá
para a constituição de uma ciência? Como deixa de ser religião, se dá para a
constituição da mais elevada doutrina religiosa? Meditem, sobre estes nossos
mal esboçados conceitos, aqueles que quiserem colher frutos de vida na nova
árvore plantada pelo Redentor.
Meditem, e reconhecerão que os
Espíritos das trevas, no seu incessante mourejar contra a verdade e contra o
bem, é que insinuam essas distinções, no intuito de perturbarem as
inteligências e arrastarem os mais fracos, se não puderem arrastar todas, ao
redil de sua perdição.
Deixemos aos infelizes que se
deixam seduzir pelas vozes da serpente, as glórias de figurarem no meio dos que
se julgam iguais a Jesus, e procuremos merecer o glorioso título de servos de Jesus.
“Deus, Amor e Liberdade” é o seu
lema, com o qual procuram, sob a bandeira do Espiritismo, reunir em torno de si os que se deixam levar por
palavras, sem perscrutarem o fundo moral das obras.
Invocam o nome de Deus, os que não
seguem sistematicamente os ensinos de Jesus, que é o pensamento de Deus!
Falam em nome do amor, emanação do
próprio Deus, os que não o podem sentir, desde que não amam a Jesus, puríssima
encarnação do divino sentimento, como Verbo do Senhor!
E pregam liberdade; sabeis como e
para quê?
Como meio de se libertarem da lei
de Deus pregada por Jesus, e para abafarem os escrúpulos das almas timoratas, a
fim de subjugá-las ao seu modo de compreender o amor, de compreender a
liberdade, de compreender o Espiritismo!
Espíritas: O caráter essencial da
verdadeira fé, como no-lo ensina o divino Mestre, é a humildade no sentimento,
é a humildade nas ações.
Ao espírita, que desejar ser
discípulo de Jesus, diremos: o verdadeiro espírita deve procurar ocultar as
suas boas obras, como os maus ocultam as suas; e se o dever lhe impõe a
obrigação de fazê-las em público, como é hoje o da propaganda, deve portar-se
com a prudência e a modéstia com que os Apóstolos pregavam a Boa Nova.
Onde quer que vejais placas e
bandeiras, como anúncio permanente de sessões espíritas, crede: aí não está
nenhum espírito religioso, e se gostais de divertir-vos, entrai
e, se procurais o verdadeiro Espiritismo, fugi e orai pelos que o deturpam.
Os templos não têm placas, nem
flâmulas, nem arautos pregando pelas ruas e praças ao som de timbales (tamboretes).
Esses são meios empregados por empresas teatrais para atraírem concorrência.
Isto é próprio de festas mundanas, nunca de exercícios religiosos.
Se virdes os jornais profanos
pejados todos os dias de notícias de trabalhos espíritas, com os nomes dos eméritos
trabalhadores, concluí, de tais manifestações aparatosas, que não há espírito
religioso em quem as fez; e o príncipe do mundo que as insinua no ânimo dos que
as fazem.
O Espiritismo é a Revelação divina
e, como tal, com os homens ou sem os homens, há de propagar-se por toda a Terra,
como no-lo prova a Revelação messiânica.
Felizes os que concorrem com seu
fraco esforço para que seja feita na Terra a vontade do Senhor; desgraçados os
que, sob falsas aparências, arrastarem seus irmãos a falsas concepções da santa
lei.
E concorre-se para a execução da
obra de Deus, trabalhando com o maior respeito e humildade como o que trabalha
à vista do Senhor da vinha.
Talvez haja severidade nestes
nossos dizeres, mas, além de que não se arranca o cancro, sem dor, acresce que
está acima de todas as considerações humanas o amor do próximo, que nos impõe o
dever de tentar o maior esforço por abrir os olhos aos que dormem nas trevas da
morte e de prevenir os incautos do abismo que se lhes cava debaixo dos pés.
(*) Artigo editorial do Dr.
Bezerra de Menezes, no ‘Reformador’ de Setembro de 1896.
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