O Espírito cristão do Espiritismo
por Luiz
Monteiro de Barros
(Presidente da USE, de
S. Paulo.)
Reformador
(FEB) Agosto 1955
Desde “O Livro dos Espíritos" se nota
a orientação cristã que o Espiritismo tomaria.
Com efeito, no livro básico da Doutrina já
se deparam as seguintes expressões: “Estamos
incumbidos de preparar o reino do Bem que Jesus anunciou.” "Qual o tipo mais
perfeito que Deus tem oferecido ao homem para lhe servir de guia e modelo?'' "Jesus”.
"Qual
seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?” “O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus,
porquanto praticaria também o amor do próximo e a caridade, sem os quais não há
verdadeira justiça."
Pensamos que os Espíritos não falavam muito
mais claro a esse respeito para evitar o ataque imediato do clero, o que
poderia ter feito perecer no seu berço a Doutrina dos Espíritos. A presença,
porém, do Espírito Verdade como orientador supremo do novo movimento não poderia
deixar de assegurar que, desde o seu primeiro instante, o Espiritismo não era
senão o Cristianismo que voltava na forma do consolador prometido por Jesus.
Kardec assenhoreou-se positivamente dessa alvissareira
realidade, pois, no decorrer de toda a codificação, primou por ressaltar essa
característica do Espiritismo.
Com efeito. Em "O Livro dos Médiuns” ele
afirma: “O verdadeiro espírita é o espírita
cristão!” Daí podemos deduzir que o verdadeiro Espiritismo é o Espiritismo
cristão.
Elabora depois “O Evangelho segundo o
Espiritismo", obra cujo título fala por si mesmo acerca de seu conteúdo, e
do sentido que Kardec dava, sempre de acordo com o Espírito Verdade, ao Espiritismo.
Nesse livro, que marcou para sempre o rumo que tomaria a Doutrina, declara Kardec
que o Espiritismo "representa a obra do Cristo, por ele mesmo presidida".
A seguir temos "O Céu e o Inferno”, outra
obra doutrinária profundamente cristã, pois nela Kardec faz aprofundado estudo no
sentido de revelar o absurdo filosófico da existência de penas eternas, no sentido
de penas sem fim, ora, esse sentido falso que o Catolicismo e o Protestantismo
tem dado a essas expressões evangélicas é talvez o tema filosófico que mais tem
levado ao descrédito os Evangelhos. O Espiritismo, na qualidade de neo-cristianismo,
não poderia deixar de esclarecer meridianamente assunto ou tema tão básico para
a aceitação dos ensinamentos de Jesus. Kardec libertava assim os Evangelhos de uma
terrível funesta falsidade, falsidade essa que perseverasse em nossos dias de
pleno racionalismo filosófico, teria levado para o túmulo a doutrina do Cristo.
Ainda uma vez, o Espiritismo vivificava a letra do Evangelho!
Por fim vem “A Gênese", trabalho esse
em que Kardec levanta de novo o Crédito dos Evangelhos “aplicando miraculosos” fatos
ali narrados em um cunho profundamente científico demonstrando, com os novos e
não menos "miraculosos" fenômenos chamados “espíritas”, a realidade
palpitante de muitas daquelas passagens extraordinárias. Enveredando pelo mesmo
caminho, os atuais protestantes da Inglaterra e dos Estados Unidos tem tomado novo
e poderoso alento na sua fé evangélica. Nesse livro declara Kardec que "o
Espiritismo encerra, como já ficou demonstrado, todas as condições do
Consolador prometido por Jesus” e que "o Espiritismo, partindo das próprias
palavras do Cristo, como este partiu, das de Moisés, é consequência direta
dessa doutrina.
Eis aí, com a coorte do Espírito Verdade, e
com Kardec, o que é o Espiritismo: O Consolador, o novo Paracleto, o novo movimento
cristão que vem esclarecer novamente a Humanidade a fim de prosseguir na obra ingente
e divina de sua libertação espiritual ou de sua redenção.
Em “A Caminho da Luz", Emmanuel nos
afiança que Kardec era um dos "mais lúcidos discípulos de Jesus e que
viera designado pelo próprio Mestre para codificar o novo movimento cristão que
passaria a se chamar Espiritismo.
Vê-se, pois, que Kardec, orientando toda a
Doutrina Espírita para o sentido do Cristianismo, não falhou na sua missão, não
claudicou na tarefa, por todos os motivos ingente e universalmente grandiosa, de
que o incumbiu Jesus. (Ext.. de
"Unificação" de Março de 1954.)
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