domingo, 25 de março de 2018

Saudades



S a u d a d e s
por Vinícius
Pág. 199 Ano 1934 Reformador (FEB)

               Sentimos, por vezes, necessidade de render culto aos nossos queridos que nos precederam na jornada para o Além. É o reconhecimento das qualidades que os distinguem; qualidades essas que nem sempre soubemos apreciar devidamente, quando os tivemos ao nosso lado.

             Os maus, quando partem, deixam no meio em que viveram uma impressão de alívio; os bons, uma sensação de vácuo.

              Esse vácuo é a saudade.

              A saudade tem gamas e tonalidades como o som, nuanças como a cores refletidas pela luz.

              A saudade é um sentimento agridoce, isto é, um misto de doçura e amargor. Entre essas duas propriedades, ela oscila como o fiel da balança.

              A saudade pode compor-se de amargor e doçura nas mesmas proporções. Isto se dá, quando jamais ofendemos aqueles que ora se encontram no Além.

             A saudade é mais amarga que doce, sempre que a consciência nos acusa de termos sido injustos com aqueles que hoje se acham separados de nós, no outro plano da vida.

             A saudade, finalmente, será muito mais cheia de doçura que de amargor, quando fizermos todo o bem ao nosso alcance aos seres ora ausentes; quando, em suma, realmente, lhes dermos o nosso amor, reconhecendo suas aptidões e relevando seus senões.

                                                                        ***

             Por que havemos de reservar o melhor do nosso afeto àqueles que o destino colocou ao nosso lado, para depois de sua partida?

             Membros das famílias terrenas - estes ou aqueles - amai-vos uns aos outros, desde já, aqui na terra, para que o vosso amor continue no céu.

              Assim procedendo, a saudade que vierdes a experimentar um dia, será doce e suave; será um sentimento que contribuirá para aumentar a vossa ventura quando, de novo, vos reunirdes aqueles que vos são caros e cuja ausência tanto lamentais.

              Jamais alguém se arrependeu de amar e de haver perdoado. Das injustiças e do desamor resultam as lágrimas que se choram na Terra e os lamentos que ecoam nos profundos recôncavos do espaço.

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