S a u d a
d e s
por Vinícius
Pág. 199
Ano 1934 Reformador (FEB)
Sentimos, por vezes, necessidade
de render culto aos nossos queridos que nos precederam na jornada para o Além.
É o reconhecimento das qualidades que os distinguem; qualidades essas que nem
sempre soubemos apreciar devidamente, quando os tivemos ao nosso lado.
Os maus, quando partem, deixam no
meio em que viveram uma impressão de alívio; os bons, uma sensação de vácuo.
Esse vácuo é a saudade.
A saudade tem gamas e tonalidades
como o som, nuanças como a cores refletidas pela luz.
A saudade é um sentimento
agridoce, isto é, um misto de doçura e amargor. Entre essas duas propriedades,
ela oscila como o fiel da balança.
A saudade pode compor-se de
amargor e doçura nas mesmas proporções. Isto se dá, quando jamais ofendemos
aqueles que ora se encontram no Além.
A saudade é mais amarga que doce,
sempre que a consciência nos acusa de termos sido injustos com aqueles que hoje
se acham separados de nós, no outro plano da vida.
A saudade, finalmente, será muito
mais cheia de doçura que de amargor, quando fizermos todo o bem ao nosso alcance
aos seres ora ausentes; quando, em suma, realmente, lhes dermos o nosso amor,
reconhecendo suas aptidões e relevando seus senões.
***
Por que havemos de reservar o
melhor do nosso afeto àqueles que o destino colocou ao nosso lado, para depois
de sua partida?
Membros das famílias terrenas -
estes ou aqueles - amai-vos uns aos outros, desde já, aqui na terra, para que o
vosso amor continue no céu.
Assim procedendo, a saudade que
vierdes a experimentar um dia, será doce e suave; será um sentimento que
contribuirá para aumentar a vossa ventura quando, de novo, vos reunirdes aqueles
que vos são caros e cuja ausência tanto lamentais.
Jamais alguém se arrependeu de
amar e de haver perdoado. Das injustiças e do desamor resultam as lágrimas que
se choram na Terra e os lamentos que ecoam nos profundos recôncavos do espaço.
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