Finados
por Thiago
Reformador (FEB) Novembro 1980
Aos 2 de novembro, todos os anos e
em toda parte, cultuam os homens a memória dos seres amados que partiram para o
outro lado da vida. Induzidos por esse hábito do culto aos chamados mortos, vão
em romaria aos cemitérios, levando flores, e lá se quedam em orações junto aos
túmulos dos seus finados, nem sempre isentos de amargurada tristeza.
Piedosa tradição de todos os povos,
nenhum reparo há que fazer a esse culto, em dia e lugar consagrados, enquanto
manifestação sincera de amor e de saudade, ao mesmo tempo que de respeito e
veneração aos entes queridos que se foram.
O espírita, contudo, que no dia
universalmente consagrado aos chamados mortos - ou finados - não comparecer a necrópoles majestosas para orar junto aos túmulos, que sabem vazios de qualquer
traço do que foram as individualidades reais daqueles que amaram e amam e onde
apenas foram inumados os seus despojos perecíveis, não peca contra qualquer
sentimento de amor e de saudade, nem falta com o respeito e a veneração que
lhes são devidos. Ele - o espírita verdadeiro e sincero - sabe que esses
sentimentos, essas lembranças, essas saudades podem, dirigindo-se a Espíritos
libertos, legitimamente manifestar-se em simples e puros pensamentos, através
de preces despidas de quaisquer objetivações exteriores, partidas do fundo dos
seus corações e que serão recolhidas pelos entes queridos também em seus
corações, mas como Espíritos, que prescindem, para recolhê-las, de locais
determinados e dias consagrados.
Respeitáveis são as tradições e
respeitados devem ser os atos piedosos dos que ainda têm apenas vagas noções do
que seja realmente um morto - assim chamado -, que é, entretanto, o verdadeiro
vivo, e de como ele vive no plano espiritual que a todos nós espera quando
libertos da prisão e dos grilhões carnais.
Não existe a morte, sabe-o hoje de
modo cabal todo verdadeiro espírita. Morto é apenas o corpo, simples veste
passageira do Espírito que, em realidade, é o verdadeiro ser, na sua
individualidade consciente e imortal, eterno desde a sua criação e destinado
pelo Criador a progredir sempre, até a Perfeição - seu alvo supremo -, e,
então, será Espírito puro.
Pode, então, o Espírita, em sã
consciência, substituir o culto tradicional - em outros respeitáveis e, para
muitos, indispensáveis, pela simples lembrança, em pensamento e oração, que
sempre pode ser feita, em qualquer momento ou em qualquer parte, quer no templo
da natureza, sob a abóbada de um céu matinal, azul e límpido, ou quando, à
noite, já recamado de estrelas, quer no recesso do lar, no santuário doméstico,
a sós e recolhido, ou em reunião com os outros seres amados, que ainda vivam
neste mundo.
O de que, porém, o verdadeiro
espírita não mais duvida, o de que ele tem, ao contrário, absoluta certeza é
que os mortos vivem e, na verdadeira vida, lhes apraz serem lembrados com amor
e tranquila saudade, serena e terna, que comunica aos caros invisíveis a
certeza de que ainda são amados, venerados. Isto lhes propicia verdadeira
felicidade, ao contemplarem os seres queridos, que aqui deixaram, resignados
com os desígnios divinos, animosos trabalhando pelo progresso próprio e da
Humanidade e mais do isso, certos do futuro reencontro na verdadeira pátria que
está no Além.
Esqueces, pois - se já o podes -,
os túmulos em terra rasa ou erigidos em suntuosos mausoléus, mas consagra
sempre, aos teus finados, pensamentos de amor e tranquila saudade, porque, cada
vez que o fizeres e onde quer que seja, Espíritos felizes te contemplarão
sorrindo do outro mundo e, numa reciprocidade onde o verdadeiro amor e a
gratidão estarão reunidos, também por ti dirigirão preces ao Eterno,
recomendando-te à sua bênção e à sua proteção e divino amparo, fortalecendo-te
o espírito nas lutas e provações necessárias desta vida na Terra transitórias,
enquanto aguardas, na resignação ativa e no trabalho que aperfeiçoa, o futuro
reingresso na Vida verdadeira e eterna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário