A Salvação
Editorial
Reformador
(FEB) Junho 1948
As Igrejas chamadas
cristãs, crentes na encarnação única, segundo a qual a alma seria criada ao
mesmo tempo que o corpo e teria a sua sorte fixada depois da morte para todo o
sempre, fosse a vida de algumas horas ou de um século, ensinam o bem viver como
processo de salvar cada um sua própria alma e nada mais, porque o tempo
realmente seria demasiado curto para tarefa maior. A essa salvação
milagrosamente repentina, pois que o homem disporia apenas de uma curta vida
para realizar toda a sua formação espiritual, o Espiritismo opõe outra
infinitamente mais longa, mais real e menos egoísta. Ensina que a formação
espiritual completa exige milênios de trabalho e que o homem não pode salvar somente
a sua alma, porque sente a solidariedade de toda a família humana e percebe que
ele é apenas parte de um todo que tem de ser salvo com ele, por mais longo que
seja o tempo necessário. Percebe a solidariedade universal e, dando-lhe o nome
de caridade ou de amor ou mesmo de solidariedade, trabalha igualmente para
salvar o mundo, melhorando-lhe as condições de habitabilidade e instruindo e
educando a si mesmo e aos seus companheiros terrícolas.
Os membros das
Igrejas, depois de desencarnados e quando são Espíritos adiantados, não perdem
ensejo de voltar à Terra e ensinar a nova doutrina em oposição à velha, Vamos
transcrever aqui algumas frases do Cardeal Marlot, publicadas por Allan Kardec
no "Evangelho segundo o Espiritismo" pág. 94 da 31ª edição
brasileira:
“Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra
esteja destinada para sempre a ser uma penitenciaria: Não, certamente! Dos
progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os progressos futuros e,
dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos.
Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova doutrina que os Espíritos vos
revelaram ...
“Todos os vossos corações aspirem a esse grandioso
objetivo de preparar, para as gerações porvindouras um mundo onde já não seja
vã a palavra- felicidade."
A tarefa imensa do
Espiritismo não é somente de salvar almas e mandá-las para o céu, como
pretendem fazer as Igrejas. Não é somente uma forma de culto, adoração ou
religião, porque toca também as coisas materiais em todos os seus aspectos,
trata da vida social. Não cogita de nos livrar do mundo e nos abrir as portas de estados mais felizes na espiritualidade,
mas nos dá a tarefa lenta, milenária, de elevar também o mundo na escala
planetária.
Já não se trata de
fugir para o reino do céu, mas em construir o reino do céu entre nós sobre a
Terra.
Melhor do que as
Igrejas cristãs, os judeus sabiam que o Reino de Deus tem que vir à Terra,
embora o imaginassem vindo milagrosamente, o que Jesus corrigiu, como vemos
desta passagem de Lucas, 17 :20:
“Tendo os fariseus perguntado a Jesus quando
viria o Reino de Deus, ele respondeu: O reino de Deus não vem visivelmente, nem
dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo acolá! porque o reino de Deus está no meio de vós.”
Nota-se da pergunta
que os fariseus do tempo de Jesus não localizavam o reino de Deus num mundo
fora do nosso e que ele confirmou a convicção existente de que o reino de Deus
não é num mundo à parte. Todas essas ideias, porém, eram vagas e só ficaram
perfeitamente claras com o ensino dos Espíritos.
Com as novas luzes
trazidas à Terra pelos Espíritos, a obra de salvação compreende todas as
atividades humanas, espirituais, sentimentais, científicas, técnicas,
industriais, tudo quanto promova progresso e melhore as condições de habitabilidade
do planeta. Fica abolida a ideia de que o mundo é um dos inimigos da alma, e
todos os serviços prestados ao mundo passam a ser de origem tão divina como o
culto, a adoração. Ficamos sabendo que os Missionários que promovem o progresso
em todas as suas modalidades, são outros tantos profetas de Deus, Assim
passamos a listar Edison, Marconi, Santos Dumont, Zamenhof, Bellamy, Pasteur,
com Isaias, Paulo de Tarso, AlIan Kardec. O mundo os distribui, conforme suas
missões, em gênios, descobridores, heróis, santos, benfeitores da Humanidade,
mas na verdade todos são Missionários e não podemos julgar com acerto a
significação de cada missão, pois que muitas delas só em remoto futuro poderão
ser integralmente compreendidas. Quem hoje poderá imaginar todas as consequências
futuras do Esperanto nas organizações sociais do ano 3.000? Se uma descoberta
muito menor a Imprensa, em alguns séculos transformou o mundo, é provável que a
obra de Zamenhof, a serviço da Nova Revelação, transforme toda a mentalidade
humana em poucos séculos.
Na doutrina
espírita não existe a mesma concepção teológica de salvação, como a ensinam as
Igrejas cristãs, porém outra muito mais divina, por isso que universal: portanto,
os espíritas são ativos, operosos, serviçais, mas não místicos e contemplativos.
Não temem a promiscuidade social nem a evitam; não receiam contaminar-se ao contato com o mundo, nem
contaminar o mundo com o seu contato. Essa ideia de contaminar-se ao contato
com lugares ímpios fica expressivamente exemplificada por João (18:28 a 31):
"Conduziram a Jesus da casa de Caifás para o
Pretório. Era de manhã cedo. Eles não entraram no Pretória para não se “contaminarem”,
mas para poderem comer a Páscoa. Pilatos saiu para ir ter com eles e perguntou-lhes:
Que acusação trazeis contra esse homem? Responderam-lhe: Se ele não fosse
malfeitor não to entregaríamos. Replicou-lhes Pilatos: Tomai-o vós mesmos e
julgai-o segundo a vossa Lei. Disseram-lhe os judeus: A nós não nos é permitido
tirar a vida a ninguém."
Entrar no palácio
de um gentio seria contaminação, mas exigir que esse gentio matasse um filho do
povo eleito, contra os dispositivos da Lei de Moisés, isso lhes parecia a coisa
mais inocente do mundo. O mesmo fanatismo religioso teve a Igreja Católica
Romana que nos processos da Inquisição nunca executou um só dos condenados, mas
os entregou sempre ao poder civil para executá-los segundo seu ritual, isto é,
para serem queimados vivos.
Tais perversões
nunca se poderão dar com o Espiritismo, porque ele nos ensina a lei das afinidades
espirituais, e demonstra que somente os Espíritos afins podem influenciar-se
reciprocamente, logo, que o mau não tem ascendente nem influência sobre os bons
nem pode contaminá-los. Assim, os espíritas nunca virão a formar uma casta
religiosa fora da Humanidade, mas terão de cumprir suas missões em todos
os meios humanos.
Nossa concepção de
salvação é universalista e não exclusivista.
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